Na consagração a nosso Senhor Jesus Cristo e a Santíssima Virgem Maria, ou escravidão de amor, entregamos os nossos bens interiores, o valor de nossas boas obras passadas, presentes e futuras a Nossa Senhora. Ao saber disso muitos imaginam que ficarão desamparados, ou ainda pensam que consagrar o valor de todas as suas orações, mortificações e esmolas, impossibilitará de socorrer as almas de parentes, amigos e benfeitores. Leia esta formação para compreender melhor o significado dos Valores Meritório, Satisfatório e Impetratório e descubra como funciona a partir da consagração.
Quem está em estado de graça é como o ramo ligado à videira, que é Cristo (ler Jo 15,5). Pode dizer com São Paulo: “Já não sou em que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Quando faz uma boa obra, não age sozinho. Cristo age nele e faz com que essa obra tenha méritos sobrenaturais, ou seja, mereça um aumento da graça e a glória eterna.
Esse mérito é obtido por justiça e não pode ser transferido para outra pessoa. Chama-se mérito de condigno. Esse mérito é semelhante ao do operário que, por ter trabalhado, merece por justiça o seu salário.
Mas além dele, há um outro mérito que adquirimos quando praticamos uma boa obra. É chamado mérito de côngruo. Não o merecemos por estrita justiça, mas por conveniência. Convém, por exemplo, que a pessoa que nos fez um favor receba nossa recompensa agradecida. Convém que o soldado que lutou bravamente na guerra receba, além do seu soldo, uma condecoração. Convém que o empregado que se dedicou extraordinariamente a servir o patrão, receba, além do salário, uma gratificação. Convém que aquele que usa o seu livre arbítrio para cumprir a vontade de Deus, receba dele uma recompensa.
Antes de continuar a leitura, assista:
Esse mérito de conveniência, ou de côngruo, pode ser usado em nosso favor ou em favor de outra pessoa. Como?
Satisfazendo a pena devida pelos pecados cometidos por nós ou por outra pessoa (por exemplo, por uma alma do purgatório). Este é o valor satisfatório de nossas boas obras.
Impetrando de Deus algum favor. Por exemplo, pode-se dar uma esmola tendo em vista obter a cura de uma doença ou a vitória sobre um vício ou o aumento das vocações sacerdotais.
Esse é o valor impetratório de nossas boas obras. Você pode pedir a um padre ou a uma freira que reze um terço, oferecendo-o em sua intenção. E eles podem aceitar o seu pedido. Por quê? Porque o valor (impetratório) da recitação do terço pertence a eles. Eles podem aplicar o seu terço por quem quiserem, inclusive por você.
Você mesmo pode fazer um dia de jejum e oferecer a Deus para satisfazer as penas devidas pelas almas do purgatório. Pode comungar e oferecer a Santa Comunhão pela conversão dos pecadores.
Pode dar uma esmola e oferecer o valor dessa boa obra pelos governantes do país. Pode visitar algum doente e oferecer isso pela sua própria santificação.
Numa palavra: suas obras são suas, e o que você merece quando as pratica pertence a você. O mérito por justiça (de condigno) é intransferível, mas o mérito de conveniência (de côngruo) você pode aplicar como quiser, seja para obter de Deus algum favor (valor impetratório), seja para satisfazer a pena devida a um pecado seu ou alheio (valor satisfatório).
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Os religiosos, que renunciam a tanta coisa, não são obrigados a renunciar ao valor de suas boas obras. Mas aquele que se consagra a Maria na qualidade de escravo, como ensina São Luís, não pode mais dispor do valor de nenhuma de suas boas ações. “Tudo que sofre, tudo que pensa, diz e faz pertence a Maria, para que ela de tudo disponha conforme a vontade e para a maior glória de seu Filho” (TVD, nº 124).
Uma comparação
Suponhamos que você trabalhe numa confeitaria e saiba fazer bolos. Depois de prontos, você reparte os bolos para quem quiser. Cada qual recebe uma fatia segundo a sua vontade.
Você continuará fabricando seus bolos, mas os entregará todos a Maria. E será ela que vai decidir quem receberá as fatias e que tamanho cada fatia terá.
Em sua outra obra “O segredo de Maria”, São Luís explica:
“Deixa-se à sua inteira disposição todo o valor satisfatório e impetratório de todas as obras: assim, após a oblação que delas se fez, embora sem nenhum voto, não se é mais senhor do bem que se faz; mas a Santíssima Virgem pode aplicá-lo a uma alma do Purgatório, para aliviá-la ou livrá-la, ou a um pobre pecador para convertê-lo” .
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Um segredo: quando você entrega o bolo a ela, ela o faz crescer com suas mãos puríssimas. E assim as fatias aumentam de tamanho.
“É preciso notar ainda que nossas obras, passando pelas mãos de Maria, recebem um aumento de pureza, e, por conseguinte, de mérito e de valor satisfatório e impetratório; por isso elas se tornam muito mais capazes de aliviar as almas do purgatório e de converter os pecadores do que se não passassem pelas mãos virginais e liberais de Maria.
O pouco que damos pela Santíssima Virgem, sem vontade própria, e por uma desinteressada caridade, torna-se em verdade, bem mais potente para abrandar a cólera de Deus e atrair sua misericórdia; e há de verificar-se à hora da morte que uma pessoa fiel a esta prática terá, por este meio, libertado inúmeras almas do purgatório, e convertido muitos pecadores, conquanto só tenha feito as ações comuns e ordinárias do seu estado. Que alegria haverá em seu julgamento! Que glória na eternidade!” (TVD, nº 172).
E o que fazemos com os nossos méritos por justiça (de condigno)? Nós também entregamos a Maria não para que ela os comunique a outra pessoa (pois eles são intransferíveis), mas para que ela os conserve, aumente e embeleze. Em “O segredo de Maria” e no “Tratado”, São Luís explica:
“Põem-se, por esta devoção, os méritos próprios nas mãos da Santa Virgem; mas é para guardá-los, aumentá-los e embelezá-los, pois nós não podemos comunicar uns aos outros nem méritos da graça santificante nem da glória” (SM, n. 31).
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Fonte: Livro de Ouro