SANTO DO DIA – 21 DE JUNHO – SÃO LUÍS GONZAGA
Religioso (1568-1591)
Filho primogênito de um príncipe da Itália, mas educado santamente, foi batizado apenas nascido, de maneira que pareceu mas ter nascido no céu, do que na terra. Essa primeira graça, guardou-a tão constantemente que se acreditou tivesse sido confirmado.
Desde o primeiro uso da razão, ofereceu-se a Deus, e levou uma vida cada vez mais santa. Com nove anos, estando em Florença, diante do altar da santa Virgem, que honra sempre como sua mãe, fez o voto de castidade perpétua; e, por uma graça especial de Deus, conservou-a sem necessidade de defender-se contra qualquer tentação do espírito ou do corpo. Quanto às outras perturbações da alma, reprimiu-as tão fortemente desde a primeira idade, que não se ressentiu nem de seus primeiros movimentos. Guardava tão bem os sentidos em particular o da vista, que não olhava jamais para o rosto da princesa Maria da Áustria, a quem saudava quase todos os dias durante vários anos, como pajem do príncipe da Espanha; não olhava jamais fixamente a própria mãe. Chamaram-no com justeza homem sem carne ou anjo encarnado.
À guarda dos sentidos, ajuntava as mortificações corporais. Jejuava três vezes por semana, o mais frequentemente a pão é água. Pode-se mesmo dizer que seu jejum era perpétuo, não passando o alimento de uma onça. Frequentemente, castigava-se até o sangue três vezes por dia, com cordas e correntes; algumas vezes substituía as cordas por grossas correias e o cilício por esporas de cavaleiros. Tinha um leito macio, mas tornou-o duro colocando pedaços de madeira, e isso também com o fito de acordá-lo mais cedo para orar: porque empregava grande parte da noite na contemplação das coisas celestes, vestido somente com uma camisa, de joelhos sobre o pavimento ou prostrado de fraqueza.
Aqueles que desejarem podem assistir um resumo da vida deste grande santo:
De dia, ali permanecia três, quatro e cinco horas imóvel. O preço dessa constância foi tal estabilidade de espírito na oração que não se afastava jamais de Deus, permanecendo como que em perpétuo êxtase. Para unir-se a Deus somente, após haver obtido a permissão de seu pai, em seguida a três anos de solicitações, transmitiu ao irmão direito ao principado da família e entrou, em Roma, na sociedade de Jesus, à qual uma voz celeste o havia chamado desde Madri.
No noviciado, revelou-se modelo de todas as virtudes. Observava com escrupulosa pontualidade as menores regras, mostrava grande desprezo do mundo e ódio de si mesmo. Mas um amor tão ardente, que o próprio corpo nele se consumia insensivelmente.
Tendo recebido ordem para distrair um pouco o espírito das coisas divinas, fazia vãos esforços para evitar Deus que se apresentava a ele de toda parte. Abrasado de maravilhosa caridade para com o próximo, servia com amor nos hospitais e contraiu uma moléstia contagiosa.
Consumindo-se lentamente, emigrou ao céu, no dia em havia predito, 21 de Junho de 1591, com a idade de 24 anos começados, após ter pedido para receber, pela última vez, a disciplina e morrer estendido sobre uma tábua.
Bento XIII canonizou-o e deu-o à juventude cristã por patrono e modelo de inocência e castidade. Sua mãe vivia ainda quando foi beatificado, em 1621, e pode invocá-lo sobre os altares. Feliz mãe! (Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XI, p. 83 à 85)
“Morrerei esta noite”
Altíssimo foi o grau de santidade por ele alcançado pela via da inocência. Nada de terreno o atraía, vivia em contemplação e todas as suas ações estavam em conformidade plena com os desígnios divinos
– Então, o que faremos, Irmão Luís? – perguntou o Padre Provincial, ao entrar no quarto do enfermo.
– Estamos a caminho, Padre.
– Para onde?
– Para o Céu… Se não impedirem meus pecados, espero, pela misericórdia de Deus, ir para lá.
Esta era a disposição de alma do jovem noviço da Companhia de Jesus, que interrompera seus estudos de Teologia por força de uma grave doença e há três meses jazia prostrado no leito. Oito dias antes, predissera que estes seriam para ele os últimos.
Já pela manhã, pediu o Viático, o qual só lhe foi trazido à tarde, por julgarem-no ainda com saúde. Passou o dia em atos de fé, petição e adoração. Os padres jesuítas não se consolavam por perder o santo irmão, e tentavam persuadi-lo de que sua hora ainda não chegara. Ele, inflexível, respondia:
– Morrerei esta noite. Morrerei esta noite.
Padres e noviços de todas as casas, tendo sabido da predição de sua morte, acorreram para despedir-se dele, encomendar-se às suas orações e pedir seus últimos conselhos. A doença minara-lhe a saúde do corpo, mas a alma a cada momento crescia em santidade. Assim, atendia a todos com afeto, prometendo lembrar-se deles no Céu.
Aqueles que desejarem podem assistir uma super aula com Padre Paulo Ricardo sobre a vida deste grande santo:
Tendo anoitecido e vendo o Padre Reitor que Luís ainda falava com facilidade, concluiu que não morreria nessa noite e deu ordem aos irmãos para se recolherem a dormir. Ficaram no quarto apenas dois sacerdotes para auxiliar o enfermo, além do seu confessor, São Roberto Belarmino.
Luís não escondia sua profunda alegria. Ir para o Céu, unir-se definitivamente com Deus: era o que mais almejara durante sua curta vida!
Passado algum tempo, disse ao confessor:
– Padre, podeis fazer a encomendação.
O sacerdote logo a fez, com muita compenetração e devoção. Recolhido, calmo e confiante, Luís aguardava o momento supremo, o qual não tardou: por volta das vinte horas, com os olhos fixos no crucifixo que segurava em suas mãos, entrou serenamente nas terríveis dores da agonia. Nenhum gemido lhe saiu dos lábios, seu olhar não se desviou um instante sequer d’Aquele que tanto sofrera por nós na Cruz. Pronunciando o Santíssimo Nome de Jesus, entregou sua alma a Deus na mais inteira paz.
O perfeito pensa constantemente em Deus
Luís Gonzaga era dessas almas diletas, sobre as quais Deus derrama graças e dons em superabundância para mantê-las na inocência. Altíssimo foi o grau de santidade alcançado por ele nessa via. Nada de terreno o atraía, vivia em contemplação e todas as suas ações estavam em conformidade plena com os desígnios divinos.
Eis como o famoso dominicano Padre Garrigou-Lagrange descreve uma alma nesse estado de perfeição:
“Depois da purificação passiva do espírito, os perfeitos conhecem a Deus de uma maneira quase experimental, não mais passageira, porém quase contínua. Não somente durante as horas da Missa, do Ofício Divino ou demais orações, mas também no meio das ocupações exteriores, sua alma permanece voltada para Deus. Por assim dizer, eles não perdem sua presença e guardam a união atual com Ele.
” C o m p r e e n d e r e m o s com facilidade a questão se a analisarmos em contraposição ao estado de alma do egoísta. Este pensa sempre em si mesmo e, naturalmente, refere tudo a si; entretém-se sem cessar consigo mesmo sobre suas veleidades, suas tristezas, ou suas superficiais alegrias; sua conversa íntima, por assim dizer, é incessante, mas vã, estéril e esterilizante para todos. O perfeito, ao contrário, em lugar de pensar em si, pensa constantemente em Deus, em Sua glória, na salvação das almas e, para isso, faz tudo convergir para este objetivo, como por instinto. Sua conversa íntima não é consigo mesmo, mas com Deus”.1
Vejamos alguns episódios da existência terrena, breve, mas pervadida de santidade, de São Luís Gonzaga, que refletem bem sua inocente alma.
Retidão desde a infância
Nasceu em 9 de março de 1568, no castelo de Castiglione, Itália. Foi o primeiro filho de Dom Fernando Gonzaga, Marquês de Castiglione e Príncipe do Sacro Império, e de Dona Marta Tana, dama da Rainha Isabel de Valois.
Muito agradava à marquesa ver quão bem seu filho assimilava, desde pequeno, suas maternais instruções de piedade. Seu pai, porém, se inquietava, pois temia que a devoção o desviasse da carreira das armas, à qual se destinavam os primogênitos.
Quando Luís tinha cinco anos de idade, o marquês recebeu ordem de partir para Túnis à frente de três mil homens da infantaria italiana e, devendo passar em revista as tropas na cidade de Casalmaior, levou-o consigo, para acostumá-lo ao sabor das armas. Passou o menino lá alguns meses e, na convivência com a soldadesca, aprendeu algumas palavras indecorosas, as quais passou a repetir, sem saber seu significado.
De volta a Castiglione, foi repreendido por seu preceptor, e não apenas nunca mais proferiu tais palavras, mas manifestava grande enfado quando ouvia alguém pronunciá-las. Muito se envergonhou por essa falta e, quando já religioso, costumava contá-la para “provar” como fora mau desde criança.
Quando Luís fez nove anos de idade, Dom Fernando o levou, juntamente com seu irmão Rodolfo, para a corte do Grão-duque da Toscana. A Providência Divina utilizou esses dois anos em que ele viveu em Florença para fazê-lo progredir nos caminhos da santidade. A leitura de um livro sobre os mistérios do Rosário fez desabrochar em sua alma a devoção a Maria Santíssima.
Devoção a Maria e virtudes exemplares
Contribuiu também para tal a fervorosa devoção a Nossa Senhora da Anunciata, venerada nessa cidade. Tanto se lhe inflamou o coração pela Virgem que quis oferecer a Ela seu voto de virgindade.
As diversas virtudes já eram robustas em sua alma. Adquirira uma completa guarda dos sentidos, uma obediência total aos superiores, além de um profundo recolhimento de alma e elevação de espírito.
Deus rapidamente construía a bela catedral da alma de Luís, o qual, com a simplicidade de uma criança, deixava-se conduzir pelo Pai celestial. Tendo passado para a corte de Mântua, não só conservou os hábitos de oração, mas sublimou-os pelas práticas de mortificação. Obrigado pelos médicos a seguir uma dieta alimentar, para curar-se de uma enfermidade, tomou tal gosto pela penitência que, ultrapassando as receitas indicadas, entregou-se aos mais rigorosos jejuns. Considerava ter feito uma lauta refeição quando comia um ovo inteiro!
Intensa vida sobrenatural
De volta ao solar paterno, foi cumulado de graças místicas extraordinárias. Quando se punha a considerar os atributos divinos, experimentava uma tão grande consolação que derramava lágrimas suficientes para empapar vários lenços. Algumas vezes ficava tão arrebatado que perdia completamente os sentidos exteriores. Sua mente estava toda posta no sobrenatural, e sobre as coisas de Deus versavam todas as suas palavras.
Em 1580, chegou a Castiglione o Cardeal Carlos Borromeu, Visitador Apostólico do Papa Gregório XIII. Muito se admirou o Cardeal por ver como aquele pequeno “anjo” discorria sobre os temas da Religião. No final de duas horas de conversa com ele, decidiu o Cardeal dar-lhe por primeira vez a Sagrada Eucaristia.
Aos treze anos de idade sentiu o chamado religioso. Por ser ainda muito jovem, nada comunicou a seus pais, mas redobrou suas austeridades. Aboliu o uso da lareira em seu quarto; levantava-se de madrugada e, de joelhos, rezava durante longo tempo, mesmo durante os rigores do inverno lombardo.
Cada vez mais inquieto à vista dos progressos do filho na trilha da piedade, o Marquês de Castiglione decidiu, para distraí-lo, dirigir-se com toda a família para Madri e colocá-lo como pajem do filho do rei Felipe II. Luís, entretanto, com a alma ancorada em Deus, permaneceu firme e resoluto em seus propósitos, no meio dos prazeres e honras da corte.
Conquista da permissão paterna
“Para qual ordem religiosa sou chamado?” – perguntava-se o jovem pajem. Optou pela Companhia de Jesus. Além da nobre função do ensino à qual esta se dedicava, motivou essa escolha o fato de os jesuítas serem proibidos, pela regra, de ascender a qualquer cargo, salvo se por ordem direta do Papa. Assim, renunciaria para sempre não só às honras do mundo, mas também às eclesiásticas.
Gritos de cólera e ameaças de açoites foi a resposta do marquês ao pedido de seu filho para entregar-se a Deus, na Ordem fundada por Santo Inácio. Usou de sua influência para conseguir que algumas altas dignidades eclesiásticas tentassem dissuadi-lo de sua vocação, ou ao menos fazê-lo entrar por um caminho que conduzisse às possíveis honras do cardinalato. Não tiveram sucesso
maior que o das ondas furiosas do mar sobre a rocha. Pediu-lhe o pai, então, que esperasse a volta à Itália para decidir. Não podia se conformar em perder aquele filho tão dotado, no qual pusera toda a esperança da principesca casa dos Gonzaga.
Começou, então, um período de dois árduos anos de luta para conquistar a permissão paterna de abandonar tudo e seguir a Cristo. Foi a mais dura – e talvez a mais gloriosa – fase de sua vida. Essa luta encerrou-se com um episódio comovedor: certo dia o marquês, olhando pelo buraco da fechadura do quarto de seu filho, viu-o ajoelhado e se flagelando. Só então dobrou-se e lhe deu a tão almejada autorização.
A alegria de entrar na casa do Senhor
“Que alegria quando me vieram dizer: vamos subir à casa do Senhor!” (Sl 121, 1). Chancelada pelo imperador a renúncia pública a seus direitos de filho primogênito, entrou Luís no noviciado da Companhia de Jesus, em Roma. Em todos os lugares por onde passou, o nobre religioso deixou atrás de si o suave aroma de suas virtudes. Despojou-se de tudo quanto podia lembrar sua antiga condição, buscando para si as humilhações e o último lugar. Chegava a enrubescer de vergonha ao ouvir elogios à nobreza de sua família.
Os noviços disputavam lugar a seu lado nas horas de recreação, pelo prazer de participar de suas elevadas conversas. E consideravam seus objetos pessoais como verdadeiras relíquias. No estudo de Filosofia e Teologia, mostrou-se tão sábio que defendeu, com aplausos, uma tese diante de três Cardeais e outras autoridades. Vendo seus superiores o valor da joia que tinham em mãos e, ao mesmo tempo, a fragilidade de sua saúde, multiplicaram os desvelos por ele. Recorreram em vão a uma mudança de ares, na esperança de que lhe faria bem. À vista do insucesso dessa terapêutica, o Padre Reitor deu-lhe ordem de, por um determinado período, não se deter em pensamentos elevados, pois talvez estes o estivessem prejudicando…
Permitiu a Providência esse equívoco para fazer brilhar mais ainda as qualidades de alma daquele “anjo”. Dessa vez a obediência, por ele tão amada, custou-lhe grandes esforços: sair de seu constante estado de oração – confessou a um de seus companheiros – era um enorme tormento, pois, mal se distraía, seu pensamento voava para a consideração dos mistérios divinos.
Em 1591, sua caridade para com o próximo encontrou uma ótima ocasião para expandir-se até o heroísmo: atender as pobres vítimas da peste que assolava a Cidade Eterna. Não tardou, porém, em ser ele próprio contagiado. Mas Deus, que decidira colher tão cedo este viçoso lírio, não quis levá-lo antes de ele espargir seus últimos perfumes. Três meses de uma febre ardente, aceita com total abnegação, encerraram os 23 anos de sua permanência na Terra.Vítima da caridade
Seu confessor, São Roberto Belarmino, afirmou que São Luís tinha levado uma vida perfeita e fora confirmado em graça.2 Mais tarde, declararia Santa Madalena de Pazzi, a propósito de uma visão que tivera da glória imensa da qual gozava no Céu este filho de Santo Inácio de Loyola: “Enquanto viveu, Luís manteve seu olhar sempre atento em direção ao Verbo, e é por isso que ele é tão grande. […] Oh! Quanto ele amou na terra! É por isso que hoje no Céu possui Deus numa soberana plenitude de amor”.3 Luís Gonzaga foi beatificado por Paulo V, em 1605, e canonizado a 13 de dezembro de 1726, por Bento XIII, quem o declarou padroeiro da juventude.
Modelo de santidade no amor
“No entardecer de nossa vida, seremos julgados segundo o amor”.4 É para esse amor, em uma entrega total, que Deus nos chama desde a juventude, tal qual o fez ao moço rico do Evangelho: “Vem e segue-Me!” (Mt 19, 21). Que a juventude atual – tão carente de modelos a seguir e tão confundida acerca do amor – não tome a atitude do moço rico, entristecendo-se por ter de desapegar-se das coisas do mundo, mas reencontre o exemplo de seu patrono, São Luís Gonzaga. A isso a incentivou o saudoso Papa João Paulo II, dirigindo-se aos jovens de Mântua: “São Luís é sem dúvida um santo a ser redescoberto em sua alta estatura cristã. É um modelo indicado também à juventude de nosso tempo, um mestre de perfeição e um experimentado guia no caminho da santidade. ‘O Deus que me chama é Amor, como posso circunscrever este amor, quando para isto seria pequeno demais o mundo inteiro?’- lê-se em uma de suas anotações”.5 (Revista Arautos do Evangelho, Junho/2010, n. 102, p. 34 à 37)