SANTO DO DIA – 13 DE AGOSTO – SÃO MAXIMO DE CONSTANTINOPLA
Nasceu em Constantinopla, pelo ano 580, de uma antiga nobreza e seus pais tinham poucas pessoas acima deles. Fizeram-no batizar ainda pequenino e educaram tão bem, que se tornou um dos homens mais sábios do século, Sua capacidade era tanto mais notável, quanto o cobria uma grande modéstia. O Imperador Heráclio, colocou-o contra vontade a seu serviço e o fez o primeiro de seus secretários. Mas o amor do retiro e também o início da nova heresia obrigaram-no a deixar a corte e a se encerrar no mosteiro de Crisópolis, perto de Calcedônia. Depois de aí ter praticado exatamente as regras, foi eleito abade. O temor dos bárbaros, isto é, dos persas e dos árabes, que mantinham o Oriente sempre alarmado, fê-lo passar ao Ocidente e ele se deteve na África.
Escreveu grande número de cartas, opúsculos e tratados sobre os principais artigos da fé e da piedade cristã, cinco diálogos, por muito tempo atribuídos a Santo Atanásio, os dois primeiros entre um ortodoxo e um anomeano, sobre a divindade consubstancial do Filho; o terceiro entre um ortodoxo e um macedônio, sobre a divindade do Espírito Santo, o quarto e o quinto, entre um ortodoxo e um apolinarista, sobre que o Filho de Deus realmente se fez homem, tomando uma alma racional de um corpo humano como os nossos.
Quanto à moral e à piedade cristãs, eis como lhe põe o fundo misterioso, numa carta ao Padre Talássio superior dos monges. Há três dias que atraem o homem, ou melhor, para os quais se dirige livremente: Deus, a natureza e o mundo. Cada um, atraindo-o, desliga-o, dos dois outros, transforma-o em si e o faz tornar-se por inclinação, o que ele mesmo é por natureza. Se é Deus que o leva, ele o faz tornar-se deus por participação, concede-lhe por sua graça uma deificação sobrenatural e o desliga assim perfeitamente da natureza e do mundo, Se é a natureza que o leva, ela mostra-o só homem da natureza, certo meio entre Deus e o mundo, que não participa voluntariamente, nem de um nem de outro. Se é o mundo que o arrasta, faz dele um bruto, isto é, da carne somente, inspirando-lhe ambições que o afastam da natureza e de Deus e o ensina a fazer coisas contra a natureza. Os dois extremos, isto é, deus e o mundo, desligam então um do outro, como também do meio ou da natureza. Se o meio ou a natureza somente o sobrepujam, ela afasta o homem igualmente dos dois extremos, não lhe permitindo bem se elevar até Deus, nem se abater até o mundo, Desde que o homem se prende voluntariamente a uma dessas três coisas, sua ação muda imediatamente com ele e ele mesmo chama-se diferentemente, ou carnal, ou animal ou espiritual. O caráter distintivo do homem carnal é só saber fazer o mal; do homem animal, não querer nem fazer o mal, sem o suportar. Do homem espiritual querer fazer só o bem e sofrer corajosamente, pela virtude, todas as espécies de males. A isso São Máximo induz o hegumeno Talássio.
Todas as suas obras de piedade e de moral tem por fim elevar assim o homem da vida carnal e brutal à vida humanamente racional e, da vida puramente humana à vida sobrenatural e divina. Esses são os setenta e um capítulos ou resumos, nos quais, sobre diversos assuntos de teologia, de filosofia, de moral, de literatura, reúne as sentenças mais notáveis da Escritura Santa, dos Padres da Igreja e mesmo dos personagens mais ilustres do paganismo. A sabedoria pagã serve-se disso, como de introdução para a sabedoria cristã. (…)
São Máximo, bem como o Papa São Martinho, foi perseguido, aprisionado, exilado e martirizado, pela fé católica, pelo imperador grego Constante II. Eis como terminaram os sofrimentos de São Máximo e de seus dois discípulos chamados ambos Anastácio dos quais um tinha sido apocrisiário ou núncio do Papa.
A 14 de Setembro de 656, depois de longo interrogatório, o cônsul Teodósio tomou São Máximo e o mandou com soldados a Selimbria. Aí ficaram dois dias, até que um dos soldados foi ao acampamento dizer a todo o exército que se insurgisse contra São Máximo. O monge que blasfema contra a Mãe de Deus vem aqui. Mas o comandante, tocado por Deus, mandou a ele os chefes das companhias, as insígnias, os padres e os diáconos. São Máximo, vendo-os, pôs-se de joelhos. Eles fizeram o mesmo; depois sentaram-se e o fizeram sentar. Então um venerável ancião disse-lhe com grande respeito: Meu pai, escandalizaram-nos, dizendo que vós não chamais de Mãe de Deus à Santa Virgem. Por isso, eu vos rogo, pela Santa Trindade, que nos digais a verdade, para que não sejamos escandalizados injustamente. São Máximo pôs-se de joelhos, ergueu0se e estendendo as mãos para o céu, disse com lágrimas: Todo aquele que não diz que Nossa Senhora, a mui santa Virgem, foi verdadeiramente Mãe de Deus, Criador do céu e da terra, seja anatematizado, pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo, e por todas as virtudes celestes, os apóstolos, os profetas, os mártires e todos os santos, agora e sempre, e em todos os séculos dos séculos, Amém.
Então os presentes disseram, chorando: “Meu Pai! Queira Deus dar-vos a força de terminar dignamente vossa carreira”. Depois, falaram com palavras tão edificantes, que os soldados se reuniam em massa para os ouvir. Mas um dos guardas do general, vendo que seu número crescia sempre e que censuravam a maneira como se tratava o santo velho, mandou retirá-lo e o colocar a duas milhas do acampamento, até que o levassem a Perbére. Os clérigos do exército seguiram-no a pé por duas milhas e tendo-se despedido dele, puseram-no a cavalo com suas próprias mãos. Levaram-no a Perbére, onde o colocaram numa prisão.
Algum tempo depois, levaram-no a Constantinopla com seu discípulo, o monge Anastácio e se reuniu contra ele um concílio onde eles foram anatematizados ambos, com o Papa São Martinho, São Sofrônio de Jerusalem e todos os seus partidários, isto é, os católicos. Levaram depois o outro Anastácio, que se anatematizou também. E o concílio, de acordo com o senado, pronunciou contra todos os três uma sentença, em que se dizia: Depois de ter levado contra vós o juízo canônico, restava que fosseis submetido à severidade das leis, por vossas impiedades, embora não haja pena proporcionada a tais crimes. Todavia, deixando ao justo juiz o maior castigo, nós vos damos a vida, dispensando-vos da exatidão das leis; e ordenamos que o prefeito, aqui presente, vos leve agora mesmo ai seu pretório. Que ele vos faça açoitar as costas com nervos de boi e cortar até à raiz, a língua, que foi instrumento de vossas blasfêmias e a mão direita que serviu para as escrever. Depois, sereis levados por doze quarteirões desta cidade e condenados ao exílio e à prisão perpétua, para lá chorar vossos pecados, o resto de vossos dias. Essa sentença foi logo executada; o prefeito levou São Máximo e os dois Anastácios, fê-los açoitar, cortar a língua a cada um deles, e a mão direita, e levou-os pela cidade de Constantinopla e os mandou ao exílio ao país dos Lazes.
Lá eles chegaram no dia 8 de Junho do ano 662 e foram imediatamente separados. Tiraram-lhes mesmo o pouco que tinham até o fio de uma agulha. Como São Máximo não se pudesse manter a cavalo, nem suportar carros comuns, foi preciso fazer uma padiola de vime para o levar, como um leito e o conduziram a uma fortaleza, chamada Schemari, perto do país dos Alanos. Os dois Anastácios foram encerrados em duas outras fortalezas, de onde poucos dias depois os tiraram e levaram o monge Anastácio a Sumas. Mas ele estava tão fraco pelos sofrimentos que suportara em Constantinopla e pelas longas fadigas da viagem, que morreu a 24 de Julho do mesmo ano, 662. São Máximo, tendo chegado a Schemari, predisse o dia de sua morte que foi o sábado, 13 de Agosto de 662, dia em que a Igreja lhe honra a memória.
Quanto a Santo Anastácio, o apocrisiário, tendo sido separado de seu mestre e do outro Santo Anastácio, foi levado a diversas fortalezas e fizeram-no caminhar durante seis meses por todo o país dos Lazes, onde ia a pé e seminu, morrendo de fome e de frio. Enfim aquele que governava o país foi expulso e se sucessor, de nome Gregório, tratou-o melhor e o colocou num mosteiro, onde lhe dava abundantemente todas as coisas necessárias. Santo Anastácio foi visitado por Estêvão, tesoureiro da Igreja de Jerusalém que percorreu todo o país dos Lazes, dos Apsilos e dos Aas Abasgos, publicando por toda parte a doutrina dos católicos e a heresia dos monotelitas e dissipando as calúnias espalhadas contra Santo Anastácio,. Estevão morreu numa dessas excursões apostólicas, a 1° de Janeiro do ano 665, na casa do príncipe dos Abasgos.
Desse terceiro exílio, Santo Anastácio escreveu no ano seguinte a Teodósio, padre de Gangre e monge em Jerusalém, contando-lhe o que lhe tinha acontecido até então e rogando-lhe que lhe enviasse as atas do concílio reunido em Roma pelo Papa São Martinho, pois queria aproveitar o exílio para dar a conhecer a doutrina católica. Com essa carta, manda-lhe, por sua vez, passagens de Santo Hipólito, bispo de Porto, perto de Roma e mártir, para estabelecer as duas vontades e as duas operações em Jesus Cristo. Santo Anastácio escreveu mesmo aquela carta, de uma maneira que foi tida como milagrosa. Pois, como lhe tinham cortado a mão, mandou prender na ponta do braço dois pequenos bastões, em que conservava a pena e fez do mesmo modo, muitos outros escritos.
O que era ainda mais admirável é que, embora lhe tivessem cortado a língua, até a raiz, falava claramente. Enfim, morreu na fortaleza de Thusume, ao pé do monte Cáucaso, no domingo, 11 de Outubro de 666, depois de ter feito grande número de milagres e conversões.
(Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume, XIV, p. 395 à 397 e 403 à 407)
São Máximo o Confessor, Monge, Pai da Igreja (+662)
Máximo o Confessor (580-662) era monge e teólogo bizantino. Sua festa é celebrada em 21 de janeiro, na Igreja do Ocidente, e em 13 de agosto, nas Igrejas do Oriente.
Dados hagiográficos
Há duas versões da história de vida de Máximo. Segundo uma hagiografia (biografia dos santos) datada do Século X, mas que se apóia em dados de fontes anteriores, ele teria nascido numa ilustre família de Constantinopla.
Nascido em 580 d.C., Máximo teria sido, aos trinta anos, protasekretis (palavra grega que significa Primeiro Secretário) na corte do imperador Heráclito. Ele teria se tornado monge em 613, no mosteiro de Crysópolis, próximo a Constantinopla, e depois em Cyzico. Após a invasão persa no ano de 626, teria se refugiado em Cartago.
De acordo com um polêmico texto siríaco do Século VII, atribuído ao monofisita George (Gregório) de Resaina, Máximo seria, ao contrário, natural do vilarejo palestino de Heshfin e teria entrado no mosteiro de São Sabas, próximo a Jerusalém. Parece que esta versão é a mais próxima às relações que Máximo mantinha com personalidades palestinas, como Sofrônio de Jerusalém ou o Papa Teodoro1. Mas, por outro lado, algumas indicações presentes na obra de Máximo favorecem a primeira versão.
Máximo escreveu comentários sobre trechos difíceis ou ambíguos das Sagradas Escrituras: as Quaestiones ad Thalassium, e dos Padres da Igreja: as Ambigua ad Iohannem, assim como opúsculos ascéticos e místicos, uma carta-tratado sobre a liturgia: a Mistagogia, e outras cartas abrangendo a teologia, bem como obras de controvérsia. Ele se opunha aos monofisitas, grupo que sustentava a idéia de que Cristo possui apenas uma natureza: a divina, em detrimento de Sua humanidade.
Em 638, um decreto imperial quis conciliar monofisitas e ortodoxos, declarando que havia em Cristo duas naturezas (humana e divina), mas uma só vontade (monotelismo). A partir de 639, Máximo implicou-se na controvérsia sobre o monotelismo em Constantinopla, na África e em Roma. Conforme o Concílio da Calcedônia, que reconhecia “um só Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem”, Máximo defendia a teoria das duas vontades, sem as quais Cristo não poderia ser perfeitamente nem Homem, nem Deus. Em 645, ele conseguiu, durante um debate, trazer novamente à ortodoxia o antigo patriarca de Constantinopla, Pyrrus, então partidário do monofisismo e do monotelismo.
Enquanto monge, ele não pôde participar do Sínodo de Latrão, ocorrido em Roma no ano de 649, que condenou o monotelismo, mas sem dúvida Máximo inspirou a decisão final dos bispos e contribuiu para a redação dos Atos do Concílio. Sua assinatura está presente num documento levado ao Concílio em nome dos monges de São Sabas. (Há grandes dúvidas sobre a autenticidade deste Concílio de Latrão, cujos atos parecem ter sido redigidos em grego antes mesmo que ele tenha acontecido.) Máximo permaneceu em Roma até 653.
Em seguida, as variações doutrinais dos imperadores bizantinos voltaram-se contra ele. Ainda em 653, ele foi preso por Constante II ao mesmo tempo que o Papa Martinho. Durante seu processo em Constantinopla, Máximo recusou-se a se declarar em comunhão com o patriarca de Constantinopla. Isto lhe valeu o exílio em Bizya, às marges do Mar Negro, em 655. Ele recusou as ofertas de perdão e de reconciliação do imperador e do patriarca de Constantinopla, partidários do monotelismo.
Máximo foi novamente convocado a Constantinopla, em 662, e novamente julgado pelos bispos e senadores bizantinos. Torturado, ele teve a língua e a mão direita decepadas. Em seguida, foi deportado para a região de Lazes (região Tsagueri, a Oeste do Mar Negro e ao Norte da atual Geórgia), onde veio a morrer em conseqüência dos ferimentos, no dia 13 de agosto do mesmo ano.
Sua firmeza na fé, assim como os maus tratos que recebeu, valeram a Máximo o título de “Confessor” da fé. Hoje ele é reconhecido como uma autoridade de referência para a teologia, sobretudo no diálogo entre católicos e ortodoxos2.
Obra
A obra de São Máximo é considerável. Nela encontramos, entre outros títulos, “Questões a Thalassios”, “Séculos de Caridade”, “Mistagogia”, “Cartas”, “Ambíguas a João” (esclarecimentos sobre passagens ambíguas dos escritos de São Gregório o Teólogo e de Denis o Aeropagita), “Opúsculos teológicos e polêmicos”, um “Discurso ascético”, um “Comentário sobre o ‘Pai Nosso’ ”, dentre outros.
Seus escritos teológicos e espirituais são fortemente influenciados pelas obras de Evágrio Pôntico, dos Padres capadócios, do Pseudo-Dênis o Aeropagita, de Cirilo de Alexandria e de Leôncio de Jerusalém. O monotelismo, ao qual Máximo se opunha fortemente, foi enfim condenado pelo III Concílio de Constantinopla (6º Concílio Ecumênico) em 680.
Citações
“Quem conseguiu se iniciar com bom senso e sabedoria nos ritos praticados na Igreja, fez de sua própria alma uma Igreja divina, uma Igreja verdadeiramente de Deus.” (Mistagogia, fim do cap. 5)
“Nós fomos salvos pela vontade humana de uma Pessoa divina.”
“Não é minha intenção desagradar ao Imperador, mas não posso optar por ofender Deus.”
O consolo da Igreja
Vida de Maria, atribuída a São Máximo o Confessor, no. 95-99
O nascimento e a adolescência daquela que concebeu e deu à luz – evento impensável, incompreensível, inefável! – ao Filho de Deus, o Verbo, Rei e Deus do Universo, já haviam sido mais maravilhosos que tudo o que se pode ver na natureza. Desde então, todos os dias de sua inteira existência, mostrou um estilo de vida superior à natureza […] Logo, no caminho de sua fatigosa tarefa, sofreu e suportou muitas tribulações, provas, aflições e lamentos durante a Crucifixão do Senhor, alcançando uma completa vitória e obtendo coroas de triunfo, até ao ponto de ser constituída a Rainha de todas as criaturas.
Depois de ver o Filho, o Verbo do Pai, verdadeiro Deus e Rei da Criação, ressuscitar do sepulcro, – acontecimento superior a qualquer outro – e subir ao Céu com aquela natureza humana que dela havia tomado, depois de toda esta glória, não lhe foi poupada aqui na terra uma vida de provas e fadigas, não esteve privada de ansiedades e preocupações. Como se começasse então sua vida pública, em seu desvelo, não concedia sono a seus olhos nem descanso às suas pálpebras nem repouso ao seu corpo (Sl 131,4): e quando os apóstolos se dispersaram pelo mundo inteiro, a santa Mãe de Cristo, como Rainha de todos, vivia no centro do mundo, em Jerusalém, em Sião com o apóstolo predileto que lhe havia sido dado como filho por Nosso Senhor Jesus Cristo. […]
A Virgem não só animava e ensinava aos santos apóstolos e aos demais fiéis a ser pacientes e suportar as provas, senão que era solidária com eles em suas fadigas, lhes sustentava na pregação, estava em união espiritual com os discípulos do Senhor em suas privações e suplícios, em suas prisões. Assim como havia participado com o coração traspassado, na Paixão salvadora de seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, assim sofria com eles. Mais ainda, consolava a estes dignos discípulos com suas ações, confortava-os com suas palavras pondo-lhes como modelo a Paixão de seu Filho e Rei. Recordava-lhes a recompensa e a coroa do Reino dos céus, a bem-aventurança e as delícias pelos séculos dos séculos.
Quando Herodes capturou a Pedro, tendo-lhe mantido prisioneiro até a aurora, também ela estava espiritualmente prisioneira com ele: a santa e bendita Mãe de Cristo participava nas suas algemas, rezava por ele e pedia à Igreja que rezasse. E antes, quando aos maus judeus apedrejaram Estevão, quando Herodes ordenou o martírio de Tiago, irmão de João, as perseguições, sofrimentos e suplícios traspassaram o coração da Santa Mãe de Deus: na dor de seu coração e com as lágrimas de seu lamento, era martirizada com ele. […]
Depois da partida de João, o Evangelista, São Tiago, o filho de José, também chamado «irmão do Senhor», tomou a seu cuidado a santa Mãe de Cristo […] Deste modo, também o regresso da santa Mãe de Deus à Jerusalém foi um bem: era ela, com efeito, a segurança, o porto e o apoio dos crentes que ali viviam.
Qualquer preocupação ou dificuldade dos cristãos, era confiada à puríssima, já que habitavam em meio ao rebelde povo judeu. Antes dos santos combates e da morte, de todos os lados vinham os fiéis para vê-la. Ela consolava a todos e a todos fortalecia.
Ela era a santa esperança dos cristãos de então e dos que viriam depois: até o fim do mundo será a mediadora e a fortaleza dos cristãos. Porém, então, sua preocupação e seu empenho eram mais intensos, para corrigir, para consolidar a nova lei do cristianismo, para que fosse glorificado o Nome de Cristo.
As perseguições que sobre a Igreja eram disparadas, a violação dos domicílios dos fiéis, as execuções capitais de numerosos cristãos, as prisões e tribulações de todo o tipo, as perseguições, as fadigas e vexames por que passavam os apóstolos, expulsos de lugar em lugar, todas estas coisas repercutiam em seu coração materno, que sofria por todos e de todos cuidava, com palavras e obras. Era ela o modelo do bem e a melhor mestra no lugar do Senhor, seu Filho, e em vista d’Ele. Era ela a intercessora e advogada de todos os crentes. Suplicava a seu Filho que derramasse sobre todos a sua misericórdia e a sua ajuda.
Os santos apóstolos havia-na escolhido como guia e mestra. Notificavam-lhe qualquer problema que surgisse e dela recebiam propostas e conselhos sobre o que deviam fazer, até o ponto que, os que se encontravam próximos a Jerusalém iam vê-la. De vez em quando, aproximavam-se dela e informavam-na o que haviam feito e como haviam pregado. Seguiam depois suas orientações. Depois de percorrer países distantes, procuravam voltar cada ano, pela páscoa, à Jerusalém, para celebrar com a Santa Mãe de Deus, a festa da Ressurreição de Cristo. Cada um lhe informava sobre sua pregação aos gentios e as perseguições que haviam encontrado por parte dos judeus e pagãos; logo, reconfortados com sua oração e doutrina, retornavam ao apostolado. Assim procediam todos, ano após ano – a menos que houvesse grave impedimento -, exceto Tomé. Ele não podia vir por causa da enorme distância e da dificuldade de se deslocar da Índia onde se encontrava. Todos os demais vinham a cada ano visitar a santa Rainha; depois, fortalecidos com sua oração, voltavam a anunciar a Boa-nova