SANTO DO DIA – 05 DE ABRIL – SÃO VICENTE FERRER
Religioso dominicano (1350-1419)
Vicente nasceu em Valência, na Espanha, em 1350. Passou a infância e a juventude junto aos padres dominicanos, que tinham um convento próximo de sua casa. Percebendo sua vocação, pediu ingresso na Ordem dos Pregadores (dominicanos) aos dezessete anos.
Vicente estudou em Lérida, Barcelona e Tolosa, doutorando-se em filosofia e teologia, e ordenando-se sacerdote em 1378. Pregador nato, nesse mesmo ano começou sua peregrinação por toda a Europa, durante um período negro da história, quando ocorreu a Guerra dos Cem Anos, quando forças políticas, alheias à Igreja, tinham tanta influência que atuavam até na eleição dos papas.
Assim, quando um italiano foi eleito papa, Urbano VI, as correntes políticas francesas não o aceitaram e elegeram outro, um francês, Clemente VII, que foi residir em Avinhão, na França. A Igreja dividiu-se em duas, ocorrendo o chamado cisma da Igreja ocidental, porque ela ficou sob dois comandos, o que durou trinta e nove anos.
Vicente Ferrer, pregador, já era muito conhecido. Como prior do convento de Valência, teve contato com o cardeal Pedro de Luna, que o convenceu da legitimidade do papa de Avinhão, e Vicente aderiu à causa. Em 1384, o referido cardeal foi eleito papa Bento XIII e habilmente fez do dominicano Vicente seu confessor, sendo defendido por ele até 1416, como fazia Catarina de Sena, sua contemporânea, pelo italiano Urbano VI.
O coração desse dominicano era dotado de uma fé fervorosa, mas passando por uma divisão dessas, e juntando-se o panorama geral da Europa na época: por toda parte batalhas sangrentas, calamidades públicas, fome, miséria, misticismo, ignorância, além da peste negra, que dizimou um terço da população. Tudo isso fez que a pregação de Vicente Ferrer ganhasse a nuance do fatalismo.
Ele andou pela Espanha, França, Itália, Suíça, Bélgica, Inglaterra e Irlanda e muitas outras regiões, defendendo sempre a unidade da Igreja, o fim das guerras, o arrependimento e a penitência, como forma de esperar a iminente volta de Cristo. Tornou-se a mais alta voz da Europa. Pregava para multidões e as catedrais tornavam-se pequenas para os que queriam ouvi-lo. Por isso fazia seus sermões nas grandes praças públicas. Milhares de pessoas o seguiam em procissões de penitência. Dizem os registros da Igreja, e mesmo os que não concordavam com ele, que Deus estava do seu lado. A cada procissão os prodígios e graças sucediam-se e podiam ser comprovados às centenas entre os fiéis.
O cisma da Igreja só terminou quando os dois papas renunciaram ao mesmo tempo, para o bem da unidade do cristianismo. Vicente retirou seu apoio ao papa Bento XIII e, com sua atuação, ajudou a eleger o novo papa, Martinho V, trazendo de novo a união da Igreja ocidental. As nuvens negras dissiparam-se, mas as conversões e as graças por obra de Vicente Ferrer ficarão por toda a eternidade.
Ele morreu no dia 5 de abril de 1419, na cidade de Vannes, Bretanha, na França. Foi canonizado pelo papa Calisto III, seu compatriota, em 1458, que o declarou padroeiro de Valência e Vannes. São Vicente Ferrer foi um dos maiores pregadores da Igreja do segundo milênio e o maior pregador do século XIV.
Conheça mais sobre São Vicente Ferrer
Imagine um pregador cujas homilias durassem de duas a três horas e que na Sexta-feira Santa elas chegassem a durar até seis horas…
Será que haveria gente para ouvi-lo?
Um grande pregador!
Se o pregador fosse São Vicente Ferrer haveria. … E muitos! Pois, as igrejas onde ele costumava fazer suas homilias tornavam-se pequenas para conter a multidão que ele atraia.
Em Tolosa, na Espanha, um de seus sermões prolongou-se por seis horas seguidas! Seus ouvintes dessa cidade costumavam dizer: “Este homem veio a esta cidade para nossa salvação ou para nossa perdição. Para que nos salvemos, se fizermos o que ele nos diz; para que nos condenemos, se nos descuidarmos de obedecer-lhe.” E afirmavam ainda: “Até aqui podíamos dizer que não tínhamos quem nos ensinasse bem o que somos obrigados a fazer. Agora já não podemos dizer isso”.
Foi tão grande a devoção que habitantes de Tolosa tiveram por ele que, depois de sua partida, transformaram em relíquias tudo que dele puderam guardar. O palanque que ele usou para fazer suas pregações era tocado e beijado como se fosse algo sagrado.
Em certas localidades, enquanto São Vicente Ferrer fazia sua pregação, tudo parava. As lojas fechavam e até as audiências nos tribunais eram suspensas. Todos queriam ouvi-lo. Nos dias em que São Vicente Ferrer pregou em Tolosa, por exemplo, não houve pregador que quisesse fazer sermão, porque todo mundo ia atrás do Santo.
Quando sabiam que ele se aproximava de uma cidade, era comum o povo ir ao seu encontro. Havia então, verdadeiras disputas para que se conseguir um lugar que ficasse o mais próximo possível do Santo. Então para ele não ser esmagado pela veneração e entusiasmo popular, era necessário que quatro homens jovens e fortes conduzissem umas pranchas de madeira que formavam um quadrilátero no interior do qual São Vicente Ferrer podia caminhar com segurança.
De onde lhe vinha a atração e o sucesso
Com uma oratória brilhante e cheia de fogo, São Vicente Ferrer mantinha a lógica das argumentações escolásticas. Seus ouvintes percebiam nele a presença do sobrenatural e suas palavras eram carregadas de amor de Deus. Era isso que atraia seus ávidos ouvintes. A graça divina estava nele. Seus inflamados sermões não só atraíam multidões mas, obtinham incontáveis conversões, inclusive de judeus e maometanos que ainda dominavam a península Ibérica.
Sem dúvida, o sucesso e as graças obtidas nesse apostolado eram frutos de sua obediência amorosa a Nosso Senhor Jesus Cristo que, em uma visão tida pelo Santo, ordenou que ele pregasse a verdadeira Fé católica pelo mundo todo.
Sempre esteve próximo à Ordem dos Pregadores
A casa de seus pais ficava nas imediações do Real Convento da Ordem dos Pregadores, os dominicanos. Isto ajudou a que, ainda jovem, Vicente decidisse tornar-se religioso, vestindo o hábito dos frades dominicanos.
Fez sua profissão religiosa em 1368 e foi ordenado sacerdote em 1374. Alternou o estudo e o ensino da filosofia com a aprendizagem da teologia passando pelas cidades de Lérida, Barcelona e Tolosa, todas na Espanha. Aprofundou-se no estudo e conhecimento perfeito da exegese bíblica e da língua hebraica. Quando regressou a Valência, sua cidade natal, ensinou teologia, escreveu, pregou e foi um exímio conselheiro.
Alguns anos mais tarde, passou a viver na França, exercendo suas funções na cidade de Avignon, onde caiu gravemente enfermo sofrendo uma doença que o levou à beira da morte. Por ocasião dessa enfermidade, ainda em Avignon, Vicente teve uma visão de Deus. Ele viu Nosso Senhor Jesus Cristo acompanhado por São Domingos, fundador de sua Ordem Religiosa e por São Francisco de Assis. Nessa visão, Nosso Senhor conferiu a ele a missão de pregar o evangelho pelo mundo.
Após ter aceito essa difícil e nobre incumbência, repentinamente, ele recuperou a saúde. A 22 de novembro de 1399, deixou a França e saiu pregando a palavra de Deus no Ocidente. Sua ação foi um contínuo espalhar de tesouros de sabedoria.
Uma época conturbada, dentro e fora da Igreja
São Vicente Ferrer veio ao mundo no ano de 1350, em Valência, numa Espanha que ainda lutava contra os árabes maometanos invasores da península ibérica. O Ocidente passava por uma grande crise espiritual que atingia direta ou indiretamente todas as nações. Nenhuma escapava!
A França encontrava-se assolada pela Guerra dos cem anos; na Itália, havia conflitos entre “guelfos” e “gibelinos”. As regiões espanholas de Castela e Aragão viviam um momento de anarquia. Fora das fronteiras da cristandade o perigo maometano era uma constante. Para piorar o ambiente de confusão dessa fase histórica, houve uma crise religiosa.
Foi durante esse período que eclodiu no seio da Igreja o Cisma do Ocidente. Cardeais declararam inválida a eleição de Urbano VI como Papa, surgiram outros Papas. Um deles foi Clemente VII.
Um Papa ficava em Roma, o outro em Avignon. Os dois se excomungavam mutuamente. Nações e reinos tomaram partidos de acordo com suas conveniências: a Cristandade dividiu-se.
São Vicente Ferrer chegou escrever um tratado sobre este cisma. Esforçou-se e colocou todo peso de seu prestígio em toda a Cristandade para que o Cisma do Ocidente tivesse um desfecho favorável aos interesses da própria Igreja.
Foi dentro dessas circunstancias históricas que envolviam o Ocidente Cristão que São Vicente Ferrer deveria desenvolver seu apostolado.
O perfil moral e religioso de Vicente
Foi, antes de tudo, um religioso dominicano fiel ao carisma de São Domingos. Vicente pregava sobre a segunda vinda de Jesus no Juízo Final. E isso de um modo tão compenetrado que provocava a conversão nas pessoas. Era um homem de penitência, da verdade, da esperança, que semeava a unidade e a expectativa do Senhor que voltará. A Providência abençoava seu apostolado: sua pregação era confirmada com sinais, milagres e conversões. Sua vida foi uma confirmação de que a Palavra de Deus precisa ser anunciada com o espírito e com uma vida a serviço da verdade e da Igreja.
Diariamente, dez mil pessoas osculam suas mãos
Em seus sermões, a voz de Deus falava por sua boca: as inimizades públicas cessavam, os pecadores eram movidos ao arrependimento, almas desejosas de perfeição o seguiam. Pregava sempre para multidões que, às vezes chegavam a mais de 15.000 pessoas colocadas ao ar livre. Pessoas contemporâneas do Santo afirmavam que, embora falando na sua própria língua, era entendido por quem não a conheciam.
Em Tolosa foi tão grande a quantidade de pessoas, que o próprio Arcebispo pediu para que o sermão fosse na praça de Santo Estêvão que fica ao lado da Igreja e onde podia caber um público maior. Vicente pregou e celebrou Missa solene na praça quase todos os dias.
Os fiéis tinham tanto desejo de conseguir um lugar nas cerimônias que se levantavam à meia noite e se dirigiam para a praça com lanternas e archotes e cada um trazia seu próprio assento. Todos afirmavam que podiam ouvi-lo estando perto ou longe dele.
Mesmo assim, todos queriam estar juntos dele. Queriam vê-lo bem, observar como oficiava as cerimônias religiosas, como curava os doentes que vinham ao palanque onde ele se encontrava. Todos queriam estar o mais próximo dele para mais facilmente poder beijar-lhe as mãos e, assim que o sermão terminasse, poderem voltar para casa tendo recebido dele a bênção. De certa feita, num vilarejo, as dez mil pessoas que ouviam seu sermão beijaram respeitosamente suas mãos. E este gesto foi repetindo nos onze dias seguintes em que ele ali pregou.
Converteu mouros, ressuscitou uma desafiante judia
São Vicente trabalhou com afinco também pela conversão dos judeus e dos maometanos. Os historiadores afirmam que foram 25.000 judeus e 8.000 maometanos que ele converteu com seu exemplo e palavras.
No Domingo de Ramos de 1407, ele pregava numa igreja de Ecija, na Espanha. Uma senhora judia, rica e poderosa, seguia seus sermões por mera curiosidade. Fazia sarcasmos a meia voz e, em forma de desafio, levantou-se de improviso e atravessou a multidão para sair. Ela não conseguia esconder sua fúria. O povo, explicavelmente, ficou indignado com sua atitude.
“Deixai-a sair, disse o Santo, porém afastai-vos do pórtico”… E foi justamente esse pórtico da entrada da Igreja que despencou sobre ela e a matou. São Vicente disse, então, em alto e bom som: “Mulher, em nome de Cristo, volte à vida!” A mulher ressuscitou! Depois disso, a senhora converteu-se à verdadeira Religião… Na cidade, anualmente, uma procissão passou a comemorar a morte, ressurreição e conversão da senhora judia.
Ele profetizou sua canonização e quem o canonizaria
Com o correr dos anos, a idade chegou e com ela o cansaço e os males físicos. Muitas vezes, era obrigado a caminhar amparado.
Quando começava a pregar, porém, tudo desaparecia. Seu rosto como que se transfigurava, a pele parecia retomar o frescor da juventude. Seus olhos brilhavam e sua voz era clara e sonora. Sua convicção era firme e transparecia em suas palavras, deixando todos admirados. Os frutos dos sermões continuavam abundantes e de tal modo que eram sempre necessários muitos sacerdotes para ouvir as confissões que eles geravam.
Sua missão apostólica continuou até 1419. Ele estava na Bretanha, quando percebeu que sua vida estava chegando ao fim. Porque ele amava muito sua terra natal, ele foi colocado em um navio para ser transportado até ela e lá morresse. O navio navegou toda a noite. Mas, pela manhã, inexplicavelmente, encontrava-se no porto. Era um sinal de que Deus queria que morresse na Bretanha.
Aos 69 anos, assistido por amigos, por seus irmãos dominicanos e por damas da corte da Duquesa da Bretanha, entregou sua combativa alma a Deus. Era o dia 5 de abril de 1419. O processo de canonização começou no dia seguinte. A Igreja reconheceu como autênticos 873 milagres.
Em 1455 foi canonizado Papa Calisto III que, muitos anos antes de ser Papa, foi favorecido por uma profecia de São Vicente. Durante uma das pregações do Santo em Valência, entre a multidão dos que se aproximavam dele para se encomendar às suas orações, São Vicente pos sua atenção em um sacerdote, que lhe pedia também a caridade de rezar por ele. O Santo disse-lhe: “Eu te felicito, meu filho. Tendes presente que és chamado a ser um dia a glória de tua pátria e de tua família, pois serás revestido da mais alta dignidade a que pode chegar um homem mortal. E eu mesmo serei, após minha morte, objeto de tua particular veneração”.
São Vicente Ferrer ao cumprimentar um jovem franciscano dizendo-lhe: “Oh! Vós estareis nos altares antes do que eu”. O jovem era o futuro São Bernardino de Siena, canonizado em 1450. São Vicente Ferrer, Rogai por nós. (JS)
SÃO VICENTE FERRER
Quem não conhece São Vicente Férrer, sobretudo na Bretanha, onde terminou a vida?Nos séculos quatorze e quinze renovou as pregações e os milagres dos apóstolos. Converteu milhares de infiéis, de heréticos, cismáticos, pecadores, na Espanha, em França e na Inglaterra, bem como na Alemanha e na Itália. Isto porque evangelizou todos esses países, falando, como os espanhóis, diversas línguas. Mas, detenhamo-nos no que podemos imitar. Estudemos, por exemplo, como ele estudou. “Quereis estudar, dizia, de uma maneira que vos seja útil? Que a devoção vos acompanhe em todos os vossos estudos e que vosso fito seja alcançar a santificação e não a simples habilidade. Consultai mais a Deus que aos livros, e pedi-lhe com humildade a graça de compreender o que lerdes. O estudo fatiga o espírito e seca o coração. Ide, de quando em quando, reanimar tanto um como outro aos pés de Jesus Cristo. Alguns vos dão vigor renovado e novas luzes. Interrompei vosso trabalho com jaculatórias. Que a oração, enfim, preceda e termine vosso estudo. A ciência é um dom do Pai das luzes; não a olheis, pois, como obra de vosso espírito e de vossos talentos.”
Natural de Valência, Espanha, nascido em 1357, entrou para a Ordem de São Domingos, em 1374. Morreu em Vannes, na Bretanha, em 1419, esgotado pelas austeridades e pelo trabalho. Renovou a fé e a piedade em grande parte da terra, com os milagres e as pregações. Contribuiu poderosamente para a extinção de um cisma, que há quarenta anos dividia a Igreja. Foi honorificado por reis e pelos povos. Que pensaria de si mesmo? Escutemo-lo:
“Toda a minha vida, disse, não é mais do que mau cheiro; meu corpo e minha alma estão infectos. Tudo em mim exala odor de corrupção, causada por abominações dos meus pecados e injustiças. E, o que é ainda pior, eu mesmo sinto essa exalação crescer dentro de mim, todos os dias, e tornar-se cada vez mais insuportável”.
Se os santos pensam dessa forma a respeito de si mesmos, que deveremos pensar de nós mesmos?
Vejamos como decorreram os dois últimos anos de sua vida. De Nantes, o apóstolo se dirigiu a Vannes, em 1417, para lá saudar o duque da Bretanha, João V, que residia ordinariamente nessa cidade. Quando correu a notícia de sua chegada, o bispo Amauri de La Motte, o capítulo, o clero, o povo, e principalmente o duque, a duquesa, todos os príncipes e os senhores da corte lhe foram ao encontro, na capela de São Lourenço, situada a um quarto de légua da cidade.
Primeiro Vicente foi a Catedral. Depois, recusando modestamente o alojamento no castelo que o duque lhe cedera, preferiu a casa de um simples particular chamado Robin. No dia seguinte, que era o quarto domingo da quaresma, cantou a missa, como fazia ordinariamente, e pregou na praça de Lices, sobre um estrado, já que a catedral era pequena demais para conter a multidão que queria vê-lo e ouvi-lo. Continou a celebrar a missa solene e a pregar todos os dias, no mesmo lugar, até quarta-feira da Páscoa, quanto, então, se despediu do duque, do bispo, do capítulo, do povo, para se dirigir para o resto da Bretanha, onde iria pregar. Diversas pessoas de alta linhagem se uniram ao santo homem, quando partiu de Vannes e não o abandonaram durante toda a viagem.
Percorreu ele toda a província com zelo que não deixava oportunidade para sentir as doenças de que sofria. Quando subia ao púlpito, parecua tão fraco e tão debilitado, que não se podia crer que pudesse falar; apenas começava o sermão, animava-se e pregava com tanto ardor, com tanta ciência, e com tanta clareza, como no tempo em que possuía todas as forças. Foi assim que evangelizou Guérande, Aurai, Redom, Guemené, Rostrenen, Pontivi, Crosic, Hennebon, Carhais, Guemperlé, onde se hospedou na casa dos religiosos da sua ordem, Concarneau, Pont-l’Abbé, Quimper, Saint-Paul de Léon e Morlaix, onde foi recebido na casa dos dominicanos, seus confrades.
Durante quinze anos permaneceu nessa cidade e ia pregar no alto da rua das Fontes, lugar elevado, acima da cidade, onde mais tarde foi erguida uma capela em sua honra. De Morlaix, o santo missionário foi a Lannion, Tréguier, La Roche-Derien, Guingamp, Chatelaudren, Saint-Brieuc, Lamballe, Quintin, Jugon, Saint-Malo, de o onde partiu para Dinan. Aqui ficou dez dias entre os dominicanos. Encontrou nessa cidade uma praça adequada para pregação, uma das maiores do reino. De lá anunciou a palavra de Deus a numerosa multidão que de todas as partes acorreu. Da mesma forma, evangelizou Dol, Antrain, Bazouges, Fougéres e Vitré. Depois dirigiu-se a Rennes, onde foi recebido pelo bispo, pelo clero, pela nobreza, pelos magistrados e pela burguesia, com todo o respeito. O bispo mandara preparar-lhe um quarto no palácio episcopal. Mas o humilde Vicente não quis outro alojamento que o do convento dos confrades, os religiosos de Bonne Nouvelle. Durante o tempo em que esteve em Rennes, pregou em uma praça bastante espaçosa, chamada cemitério Sant’Ana. De Rennes, retomou o caminho de Vannes, por Montfort, Josselin, La Chéze e Ploermel.
Além dos trabalhos maravilhosos de missionário apostólico, exerceu até as mais insignificantes funções dos catequistas, não julgando pequeno tudo quanto pudesse servir para a glória de Deus e para a salvação das almas. Em determinadas horas, reunia ao seu redor as crianças e lhes ensinava a fazer o sinal da cruz, a Oração dominical, a Saudação angélica e o Símbolo dos apóstolos. Ensinava-as a amar a Deus, a respeitar os pais e o próximo. Dando-se todo a todos, a exemplo do Apóstolo, acolhia os pobres com tanta consideração como aos ricos, e os homens mais obscuros como os mais nobres. Mostrava-se agradável a todos. As viúvas e os órfãos encontravam nele um defensor cheio de zelo. Não se recusava a nenhum dos serviços que podia prestar aos irmãos. A virtude dos milagres e o dom de se fazer entender mesmo pelos que não lhe conheciam a língua, o acompanharam à Bretanha como a todos os demais lugares que tiveram a felicidade de vê-lo. Mas, o corpo acabou sucumbindo sob os rigores da penitência e sob os trabalhos do apostolado.
Seus companheiros, vendo aproximar-se o fim de sua vida, procuraram convencê-lo de terminar os dias na Espanha. O grande interesse que tinham nisso impediu-o de resistir aos pedidos. Todavia, não partiu imediatamente, lembrando-se das palavras que Nosso Senhor lhe disse em Avinhão, e da ordem que lhe dera de ir às regiões do Oeste, pregar o Evangelho. Por fim, deixou-se vencer e, após ter-se despedido dos habitantes de Vannes, montou sobre o burro e se pôs a caminho, à meia-noite. Mas depois de algumas léguas com os companheiros, encontrou-se ao despontar do dia, às portas da cidade. Vontando-se para or irmãos lhes disse:
“Reentremos nessa cidade, irmãos, pois o que nos aconteceu demonstra suficientemente que Deus deseja se verifique o fim de minha carreira.”
Sua volta causou alegria geral aos habitantes. Em grande massa, acorreram homens, mulheres, crianças, para beijar-lhe as mãos e demonstrar-lhe a satisfação pelo retorno. Por toda parte se ouviam os sinos como nos dias das maiores solenidades. Só se ouvia: Bendito seja o que vem em nome do Senhor! Chegado à residência, disse aos habitantes da cidade: “Meus filhos, aprouve a Deus que voltasse para cá; não para pregar, mas para morrer entre vós. Ide, e que Deus vos recompense pela homenagem que quisestes prestar-me, por amor a Ele.” Disse ainda outras coisas, que arrancaram lágrimas aos presentes e que mudaram em sensível aflição a alegria sentida por vê-lo de volta.
No dia seguinte, foi atacado de violenta febre, acompanhada de dores agudas em todos os membros, e de um esgotamento geral. Mas, com o espírito esclarecido, como nos melhores dias de saúde, chamou os irmãos e lhes anunciou o dia da morte. Fez vir o sacerdote ao qual tinha o hábito de confiar os segredos de consciência. Confessou-se, pediu-lhe que lhe concedesse a absolvição geral, de acordo com o poder que lhe fora outorgado pelo Papa Martinho V. Recebeu em seguida, todos os sacramentos com redobrada devoção e passou três dias inteiros exortando à prática da virtude e à perseverança no bem de todos quantos tinham a felicidade de se aproximar dele. Quando se espalhou na cidade a notícia de que havia recebido os últimos sacramentos, o bispo, a nobreza, os magistrados vieram vê-lo. Vicente lhes disse:
“- Senhores da Bretanha, se quiserdes lembrar-vos de tudo quanto vos preguei durante dois anos, concluíres que nada melhor para vossa saúde do que conformar-vos à verdade. Não ignorais a que vícios vossa província estava sujeita, e que, de minha parte, nada poupei para vos reconduzir ao bom caminho. Daí graças a Deus comigo, pelo fato de, além de me ter concedido o talento da palavra, haver tornado vossos corações capazes de serem tocados e levados para o bem. Não vos resta outra coisa senão perseverar na prática das virtudes e não esquecer o que vos ensinei. No que me diz respeito, desde que apraz a Deus que encontre aqui o fim de minha vida e dos meus trabalhos, serei chamado ao tribunal de Deus, não cessarei de implorar-lhe a misericórdia por vós e vos prometo fazê-lo, contanto que não vos afasteis daquilo que vos ensinei. Adeus! Irei para junto do Senhor dentro de dez dias.”
Em seguida, para dedicar mais calmamente o resto da vida à contemplação, pediu que evitassem a aglomeração do povo. As dores foram aumentando. Entretanto a paciência mais ainda que as dores. Nas operações cirúrgicas mais duras, não se ouviu outra palavra que o nome de Jesus e o nome de Maria. Como não houvesse ainda casa religiosa da sua ordem em Vannes, as principais autoridades da cidade, querendo prevenir as disputas que pudessem sobrevir com respeito à sepultura, vieram perguntar-lhe onde desejaria ser enterrado. A resposta foi: “Sou um pobre religioso que não se orgulha de outra coisa que da qualidade de servidor de Deus. Assim, encaro a salvação da minha alma como o único cuidado do qual devo ocupar-me. De resto, preocupo-me muito pouco com o que se relaciona com a sepultura para meu corpo. Todavia, para que permaneçais em paz após minha morte, como tratei de vo-la oferecer enquanto aqui vivi, peço-vos permitais seja o prior do convento da minha ordem, que é mais perto daqui, quem decida a respeito de minha sepultura.”
Nove dias depois, pediu que lhe fosse lida a paixão de Nosso Senhor, segundo os quatro evangelistas. Em seguida ouviu os sete salmos da penitência, aos quais repetiu com os demais salmos, até que as forças lhe faltaram por completo e a língua se tornou imóvel. Juntou as mãos, ergueu os olhos para o céu e entregou a alma a Deus, numa quarta-feira, dia 5 de Abril de 1419, aos 63 anos de idade.
A duquesa da Bretanha, filha de França, quis lavar-lhe o corpo pessoalmente. A água que empregou nesse mister, serviu de remédio para a cura de inúmeros doentes. O duque João, o quinto com esse nome, preparou homenagens magníficas a São Vicente. Eram tantos os que queriam ver o corpo do santo, que foi necessário guardá-lo durante três dias, para que se pudesse satisfazer a devoção do povo que desejava vê-lo e tocá-lo. Foi mesmo necessário, por fim, cercá-lo com guardas armados, para que não o reduzissem a pedaços. Foi enterrado na igreja-catedral, ao lado do altar-mor. E Deus continuou a fazer, após a morte de São Vicente, tantos e mais milagres por sua intercessão, quantos havia operado, por sua intercessão, durante a vida do santo.
Imediatamente após ter morrido, a maioria dos príncipes e prelados, das cidades e universidades que tinham tido a felicidade de conhecê-lo e de possuí-lo, se dirigiram ao Papa Martinho V, para lhe obterem a canonização. João V, da Bretanha, foi um dos mais ardorosos solicitadores dessa declaração, que terminou apenas em 1455, com o Papa Calisto III. A bula da canonização foi publicada três anos após, pelo Papa Pio II. Em 1456, desenterraram-no. Os espanhóis tinham pedido inutilmente que fosse transportado para Valência. Resolveram, então, em 1599, roubá-lo secretamente, como tesouro que lhes pertencia. Para prevenirem alguma coisa, esconderam a urna que lhe encerrava o corpo. Mas em 1637, descobriram-na, o que ocasionou uma segunda transladação, que se efetuou em 6 de Setembro. Após o que, colocou-se essa urna em cima do altar de uma capela que acabara de ser construída na catedral. E lá ainda se encontra, exposta à veneração dos fiéis.