Padre Chrystian Shankar, reitor do Santuário Diocesano de Frei Galvão, em Divinópolis (MG), contou durante homilia do último dia 18 de junho que uma escola daquela cidade havia ensinado aos seus alunos sobre poliamor, tipo de relacionamento íntimo consensual que envolve mais de duas pessoas. O caso repercutiu e o vereador Eduardo Azevedo se encontrou com um promotor de Justiça para abordar a questão. À ACI Digital Azevedo disse estar buscando as “medidas cabíveis”.
O padre Shankar contou uma família o procurou em sigilo, após os pais ouvirem o filho em um telefonema sendo convidado por uma amiga para viver com ela e seu namorado o poliamor. A mãe do adolescente entregou ao padre uma folha que teria sido usada na escola por uma psicóloga para discutir em sala de aula “novas modalidades de amor e de família”.
Segundo o padre Shankar, casos como este acontecem em muitas escolas e buscam destruir a família. “Pegam as crianças que não têm valor ainda. Ensinando os pequenininhos que é assim, eles vão viver assim. A criança é uma tábua rasa. O plano deles é este”, disse.
O sacerdote leu e comentou o esse material em sua homilia. De acordo com a definição lida pelo padre, “poliamor é uma forma de conjugalidade, é um relacionamento no qual os indivíduos envolvidos mantêm relações afetivas e também sexuais com mais de uma pessoa ao mesmo tempo”.
Assista o vídeo com a denúncia:
Então, Padre Chrystian Shankar disse que, conforme esta definição, se “antes casal vinha de casamento e casamento era entre um homem e uma mulher”, atualmente “casal já não é entre um homem e uma mulher” e “agora casal já não é mais de dois”.
O sacerdote seguiu a leitura do material, que apresentava diferentes tipos de poliamor e algumas dicas para enxergar “o poliamor sem preconceito”. Entre essas dicas, a primeira afirmava que “é necessário desconstruir modelos tradicionais sobre afetividade e família, opondo-se principalmente a pessoas preconceituosas ligadas a religiões de cultura judaico-cristãs”.
“Nisso aqui que eu queria chegar. Para vocês verem que, quando eu falo, muita gente não acredita. Sabe qual é a minha tristeza? Ninguém fala. Nós estamos hoje com uma grande fatia na Igreja dos pregadores simpáticos, não pregam mais a conversão, não tocam no assunto, não falam dessas coisas e o rebanho está todo perdido, entregue aos lobos. Se não tem um pastor que guia, quem vai mostrar o caminho?”, disse.
De acordo ele, para as pessoas que defendem esses tipos de relacionamento, “quem atrapalha é a Igreja, são os cristãos. O mundo é que está lá na frente, esse pessoal [a Igreja] é retrógrado, então, tem que se opor a eles”.
Outras dicas que, segundo a leitura do padre, constam no material são: levar este tema para ambientes laicos, de preferência as escolas de ensino fundamental e médio; valorizar e partilhar experiências de poliamor; buscar ajuda de profissional especializado para se abrir a uma relação não monogâmica “sem culpa, medo ou conceito de pecado”.
O vídeo da homilia repercutiu nas redes sociais e, principalmente, na cidade de Divinópolis. O vereador Eduardo Azevedo compartilhou em suas redes sociais apoio ao sacerdote e também procurou o promotor de justiça Casé Fortes, “visando apurar medidas a serem tomadas em relação à denúncia apresentada pelo padre Chrystian sobre incentivo de ‘poliamor’ em escola de Divinópolis”.
À ACI Digital, Azevedo disse que, como o caso foi revelado ao sacerdote sob sigilo pela família do estudante, o padre não pôde lhe revelar qual é a escola onde foi apresentado o tema do poliamor, nem quem é a psicóloga que falou aos alunos. Por isso, foi orientado pelo promotor a incentivar os pais “a observarem as cartilhas e conteúdos que seus filhos têm nas escolas”. “Caso vejam alguma coisa dessa doutrinação, nos enviem, porque sem provas cabíveis, não tem como fazer nada”, afirmou. Segundo o vereador, ele continuará procurando descobrir qual é o colégio para adotar medidas. “Mas, precisamos da iniciativa dos pais. Sei que muitos têm receio, mas será mantido sigilo sobre seus nomes e de seus filhos”.
Alerta aos pais: Acompanhem seus filhos
Padre Chrysian Shankar voltou a falar sobre o ensino de poliamor em escolas em um vídeo publicado no dia 21 de junho em seu Instagram. “Para as pessoas que estão muito preocupadas sobre qual é a escola, é muito mais fácil você encontrar qual não é a escola, porque a maioria das escolas hoje está entrando em cheio nesta temática com os pré-adolescentes, pervertendo a cabeça do seu filho: questões de ideologia de gênero, relacionamento aberto, amizade colorida, amor entre gerações e, agora, o poliamor”, disse.
Para o padre, “uma coisa é o respeito para um adulto, alguém que tem a mente formada e escolheu viver outro tipo de sexualidade, escolheu viver a vida do jeito dele. Nós não concordamos, mas respeitamos. Outra coisa é você pegar crianças, pré-adolescentes e já ir formando a mente delas como se isso fosse a normalidade, que tanto faz ele estar namorando um, como dois, três, seis”.
Segundo o sacerdote, nas salas de aula muito se tem falado sobre preconceito e estão “tirando toda a presença de Deus, tirando toda a tradição cristã sobre a família e o casamento”. “Ninguém aqui é a favor de preconceito, mas deixem as crianças serem crianças. Deixem as crianças crescerem na pureza que Deus colocou em seus corações”, afirmou.
Em seguida, questionou: “Por que esse pessoal tem tanta força e isso tem atrapalhado a vida de tantas famílias?”. Para pe. Chrystian Shankar, isso acontece por causa da “ausência sistêmica dos pais”. “Os pais precisam assumir o seu papel de pais e cuidar de seus filhos, acompanhar seus filhos, colocar filho no colo, abraçar, passear, brincar. Muitos pais não sabem nada da vida dos filhos, o que acontece na escola, o que estão vendo na internet”.
Além disso, afirmou que é preciso “rezar muito”, porque atualmente, no mundo, “tudo está ao contrário: se você fala de família, você está errado; se defende o matrimônio, está errado; se quer educar seus filhos nos valores de sua família, você está errado”. Entretanto, declarou, “se continuarmos fingindo que tudo está bem, nossas famílias serão massacradas como rolo compressor”.
Por isso, disse aos pais que, “se verem qualquer coisa que deponha contra a família, vocês têm o direito de ir à escola e exigir uma retratação”. “Assunto de escola é matemática, português, biologia, geografia, física, química. O que eles têm feito hoje? Têm entrado em áreas que compete à família ensinar, têm tirado os filhos da família para pervertê-los”.
Para o sacerdote, ensinar conteúdos como poliamor para crianças e pré-adolescentes “como se fosse a maior normalidade, além de ser pecado é uma maldade muito grande, pervertendo aqueles que não têm condição de se defenderem ainda”.
Bispo de Divinópolis, dom José Carlos de Souza Campos exige retratação
O vídeo da homilia repercutiu nas redes sociais e, principalmente, na cidade de Divinópolis. Pessoas e entidades ligadas aos professores e psicólogos acusaram o sacerdote de ter ofendido essas duas classes profissionais.
O bispo de Divinópolis, dom José Carlos de Souza Campos mandou o padre Chrystian Shankar se retratar de homilia proferida no dia 18 de junho em que denunciou, sem nomear, uma escola da cidade por estar ensinando sobre “poliamor” para crianças e adolescentes. Padre Shankar gravou um vídeo de retratação aos profissionais de educação e psicologia que se sentiram desrespeitados com a suposta generalização da crítica feita na homilia.
“Dom José conversou comigo, sempre muito ponderado, um pai, um amigo. Ele fez a seguinte colocação: o que o senhor disse, está coberto de razão, é um assunto sério, que acontece, esta família que te procurou trouxe um problema real”, disse o sacerdote. Entretanto, afirmou que “talvez a maneira como foi dito isso causou mal-estar em certos profissionais”. Por isso, pediu desculpas e se retratou pelo modo como falou, e não sobre o conteúdo da pregação.
Segundo nota divulgada pela assessoria de comunicação da diocese mineira ficou estabelecida a necessidade de que o padre “se retrate do modo universalizado, irreverente e pouco respeitoso com que falou dos profissionais da educação e da psicologia, mesmo que tenham suas pedagogias e abordagens próprias para seus trabalhos específicos”. A nota afirma ainda que o problema “fica localizado no modo de falar, nas referências aos sujeitos envolvidos, e não no assunto tratado, mesmo que o tema mereça muitos aprofundamentos ainda”.
Nesse sentido, durante uma live em seu Instagram no sábado, 26 de junho, o padre Shankar se retratou e pediu desculpas “por aqueles profissionais sérios, os bons profissionais que se sentiram injustamente atingidos pela minha fala”. “É lógico e claro que não foi a minha intenção. Mas, aqui a intenção não conta. Conta que me foi pedido que fizesse a retratação porque muitos entenderam que eu estava falando de todos os professores e todos os psicólogos, apesar de que o assunto era bem situado, aquela situação, aquela psicóloga, aquele professor, mas deu a entender, por interpretações diversas, que eu estava generalizando”, afirmou.
O sacerdote também falou sobre a nota da diocese de Divinópolis e afirmou que muitos, ao comentá-la, prenderam-se apenas na retratação. Porém, chamou a atenção para o fato de que o mesmo documento diz que o tema abordado na homilia “toca a compreensão doutrinal da Igreja Católica acerca do amor, do relacionamento, do matrimônio, da sexualidade, da vida” e que “há um direito institucional, constitucional e democrático de trazer a público e anunciar a verdade acerca desta matéria na ótica da fé cristã”.
“A Igreja, a partir da Palavra de Deus, da sagrada tradição e do magistério eclesiástico, tem uma palavra sim”, disse Shankar. “Nós que somos cristãos católicos temos uma palavra e temos uma opinião sobre amor, relacionamento, matrimônio, sexualidade e vida. E a nossa opinião é através da ótica cristã”.
Segundo ele, disso se pressupõe “que é minha obrigação, é um dever que se me impõem como sacerdote” falar sobre o assunto. “Não posso abrir mão daquilo que é meu dever de orientar o povo de Deus naquilo que tange à nossa fé cristã católica, baseada na Bíblia, no magistério da Igreja e na sagrada tradição”.
Em seguida, o sacerdote disse considerar que, embora tenha feito a retratação, não era necessária, pois não foi sua intenção falar de todos os profissionais de educação e psicologia. Para ele, o que aconteceu foi “um jogo muito bem orquestrado”, no qual “conseguiram com muita maestria e inteligência desviar o foco do assunto, desviar a problemática”. “Eu assisti a alguns vídeos e ninguém toca na gravidade da matéria, ninguém toca na gravidade do que foi pregado”, afirmou. De acordo com ele, “tentaram puxar para a classe” e, assim, atrair os professores e psicólogos, desviando o foco “para o lado ideológico e político”.
“Essa questão da classe dos professores e psicólogos não confere com a verdade. Um grupo se sentiu atingido e esse grupo estendeu para a classe. E qual foi o grupo que mais se sentiu atingiu? São os que defendem essa ideologia, são os que defendem este tipo de ensino escolar”, afirmou.
No entanto, o sacerdote disse que teve apoio de profissionais da educação e da psicologia. “Eu recebi o telefone de quatro diretoras, mensagens de inúmeros professores louvando a atitude. Muitos psicólogos amigos que têm parceria comigo no Frei Galvão, essas pessoas não se sentiram atingidas”. Além disso, padre Chrystian Shankar falou de inúmeras parcerias que tem com professores e psicólogos em Divinópolis, apoiando o trabalho realizado por esses profissionais.
Fonte: ACI Digital