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Novena a Jesus Cristo, Rei do Universo

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A solenidade de Cristo Rei é uma celebração muito recente da Igreja. Foi o Papa Pio XI que a criou, em 1925. Naquele contexto, a Igreja via como necessário reafirmar a soberania real de Jesus e de seus ensinamentos, em um mundo que ia se afastando cada vez mais do Senhor.

Hoje, quase 100 anos depois, caberia a pergunta se o mundo está caminhando mais que antes rumo ao Senhor. Não parece ser o caso, pelo menos não se olharmos rápida e superficialmente. Se seguirmos o mesmo critério de então, talvez hoje com mais razão precisamos afirmar essa realeza de Cristo.

Mas falar de realeza pode trazer muitos mal-entendidos. Se olharmos para os reis de antigamente, que tinham um poder absoluto sobre seus povos, veremos quase sempre que esse poder acaba corrompendo, de certa forma o coração do homem, ferido pelo pecado.

Certamente houve reis santos, mas sabemos que nem os santos estão livres da ferida do pecado. De toda forma, a realeza de Jesus é de outra índole. Em sua realeza, lembramos sua divindade, que se manifestou colocando-se a serviço da humanidade. Esse traço característico de serviço também não encontramos com facilidade naqueles que detém um poder muito grande. (Não estamos excluindo a possibilidade, e certamente muita gente com essas responsabilidades fez um ótimo serviço à população).

Mas, inclusive, esse serviço que Jesus oferece é diferente de qualquer outro serviço prestado por pessoas poderosas. Por mais poderoso que fosse alguém, não poderia servir-nos dando-nos a salvação, o perdão dos pecados, a possibilidade de voltar a amizade com Deus sempre que nos voltássemos para Ele arrependidos das nossas faltas.

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O verdadeiro serviço de Jesus foi mostrar que nós somos criaturas de Deus, feridas pelo pecado, mas que Nele podemos encontrar de novo o sentido de nossas vidas, que sem Ele caminha para a morte.

Não é uma festa Bíblica, há que dizer. Jesus não aparece na Bíblia como um Senhor Glorioso dos povos. Pelo contrário, uma das vezes que a realeza de Jesus se manifesta é quando estão zombando dele. Quando o vestem de púrpura e o coroam com a coroa de espinhos, de maneira velada, podemos reconhecer aí um sinal de sua realeza, mas a verdade é que os soldados não estavam tão reverentes assim.

A outra vez que Jesus é reconhecido como rei é quando entra montado em um burrico em Jerusalém. Ali ele é até aclamado como o filho de Davi! Mas parece que esse reconhecimento não durou muito, já que pouco depois a multidão gritava: Crucifica-o!

Nessa ocasião, vale a pena que nos perguntemos sobre quem é o Senhor Jesus em nossas vidas. Será que permitimos realmente que ele seja o centro dela? Todas as vezes que rezamos o Pai-Nosso estamos pedindo que seu reino, ou seja, sua realeza, seu domínio venha sobre nós.

E o nosso coração, está preparado para reconhecer seu verdadeiro rei? Porque isso é fundamental para o cristão: Reconhecer-se criatura. No nosso mundo, em que muito se fala de autonomia, de segurança pessoal, que pretende ter o controle sobre tudo, essa festa vem nos recordar que Aquele que verdadeiramente reina é somente o Cristo.

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E claro, vale lembrar que, com essa festa, terminamos o ano litúrgico. Já começa, de maneira especial, nossa caminhada de advento, rumo ao Natal. Que essa festa de Cristo Rei já nos coloque no clima e que não esqueçamos que Aquele menino, frágil e dependente da mãe, que vai nascer é, na realidade, o Rei do Universo, da qual todas as coisas foram feitas e em quem todas elas foram renovadas com sua encarnação, morte e ressurreição.

1 – Medite a reflexão do dia

1º dia
2º dia
3º dia
4º dia
5º dia
6º dia
7º dia
8º dia
9º dia

2 – Ladainha de Cristo Rei

℣. Senhor, tende piedade de nós.
℟. Senhor, tende piedade de nós.

℣. Cristo, tende piedade de nós.
℟. Cristo, tende piedade de nós.

℣. Senhor, tende piedade de nós.
℟. Senhor, tende piedade de nós.

℣.Cristo, ouvi-nos.
℟. Cristo, ouvi-nos.

℣. Cristo, atendei-nos.
℟. Cristo, atendei-nos.

Deus Pai dos céus,
℟. tende piedade de nós.

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Deus Filho, Redentor do mundo,
Deus Espírito Santo,
Santíssima Trindade, que sois um só Deus,
Senhor Jesus Cristo, Rei do céu e da terra,
Senhor Jesus Cristo, Rei soberano de todas as nações,
Senhor Jesus Cristo, Rei anunciado pelos profetas,
Senhor Jesus Cristo, Rei entronizado na cruz,
Senhor Jesus Cristo, Rei ressuscitado dentre os mortos,
Senhor Jesus Cristo, Rei sentado à direita de Deus Pai,
Senhor Jesus Cristo, Rei de infinita majestade,
Senhor Jesus Cristo, Rei exaltado no trono da graça,
Senhor Jesus Cristo, Rei de misericórdia,
Senhor Jesus Cristo, Rei de cujo lado aberto brotaram sangue e água,
Senhor Jesus Cristo, Rei compassivo,
Senhor Jesus Cristo, Rei, autor e eficácia dos sacramentos,
Senhor Jesus Cristo, Rei verdadeiramente presente no
Santíssimo Sacramento do altar,
Senhor Jesus Cristo, Rei do coração que arde de amor,
Senhor Jesus Cristo, Rei que sois alfa e ômega,
Senhor Jesus Cristo, Rei que fostes, sois e vireis,
Senhor Jesus Cristo, Rei de cujo trono nos aproximamos
confiantes,
Senhor Jesus Cristo, Rei do qual provém toda autoridade,
Senhor Jesus Cristo, Rei cujo reino não é deste mundo,
Senhor Jesus Cristo, Rei que cura toda divisão,
Senhor Jesus Cristo, Rei ferido por nossa indiferença,
Senhor Jesus Cristo, Rei manso e humilde de coração,
Senhor Jesus Cristo, Rei que habitais os corações,
Senhor Jesus Cristo, Rei das famílias,

℣.Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo,
℟. perdoai-nos, Senhor.

℣.Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo,
℟. ouvi-nos, Senhor.

℣. Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo,
℟. tende piedade de nós.

℣. Vossa é a grandeza e o poder.
℟. Vosso é o reino, Senhor.

℣. OREMOS
Deus eterno e todo-poderoso, que dispusestes restaurar todas as coisas no vosso amado Filho, Rei do universo, fazei que todas as criaturas, libertas da escravidão e servindo à
vossa majestade, vos glorifiquem eternamente. Pelo mesmo Cristo, Senhor nosso.
℟. Amém.

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3 – Ato de Consagração do Gênero Humano ao Sagrado Coração de Jesus

(Ato de consagração do gênero humano a Jesus Cristo Rei)
Dulcíssimo Jesus, Redentor do gênero humano, lançai sobre nós que humildemente estamos prostrados na vossa presença, os vossos olhares. Nós somos e queremos ser vossos; e a fim de podermos viver mais intimamente unidos a vós, cada um de nós se consagra, espontaneamente, neste dia, ao vosso sacratíssimo Coração.

Muitos há que nunca vos conheceram; muitos, desprezando os vossos mandamentos, vos renegaram. Benigníssimo Jesus, tende piedade de uns e de outros e trazei-os todos ao vosso Sagrado Coração.

Senhor, sede rei não somente dos fiéis, que nunca de vós se afastaram, mas também dos filhos pródigos, que vos abandonaram; fazei que estes tornem, quanto antes, à casa paterna, para não perecerem de miséria e de fome.

Sede rei dos que vivem iludidos no erro, ou separados de vós pela discórdia; trazei-os ao porto da verdade e à unidade da fé, a fim de que, em breve, haja um só rebanho e um só pastor.

Senhor, conservai incólume a vossa Igreja, e dai-lhe uma liberdade segura e sem peias; concedei ordem e paz a todos os povos; fazei que, de um pólo a outro do mundo ressoe uma só voz: louvado seja o coração divino, que nos trouxe a salvação; honra e glória a ele, por todos os séculos. Amém.

Concede-se indulgência parcial ao fiel que recitar piedosamente este ato, e plenária quando se recitar publicamente na solenidade de Jesus Cristo Rei.

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4 – Ato de Consagração individual ao Sagrado Coração de Jesus

Eu, {O SEU NOME}, vos dou e consagro, ó Sagrado Coração
de Jesus Cristo, a minha vida, as minhas ações, penas e
sofrimentos, para não querer mais servir-me de nenhuma parte do
meu ser, senão para vos honrar, amar e glorificar. É esta a minha
vontade irrevogável: ser todo vosso e tudo fazer por vosso amor,
renunciando de todo o meu coração a tudo quanto vos possa
desagradar.

Tomo-vos, pois, ó Sagrado Coração, por único bem do meu
amor, protetor da minha vida, segurança da minha salvação,
remédio da minha fragilidade e da minha inconstância, reparador
de todas as imperfeições da minha vida e meu asilo seguro na hora
da morte.

Sê, ó Coração de bondade, a minha justificação diante de
Deus, vosso Pai, para que desvie de mim a sua justa cólera. Ó
Coração de amor, deposito toda a minha confiança em Vós, pois
tudo temo de minha malícia e de minha fraqueza, mas tudo espero
de vossa bondade! Extingui em mim tudo o que possa desagradar-
Vos ou que se oponha à vossa vontade.

Seja o vosso puro amor tão profundamente impresso em
meu coração, que jamais possa eu esquecer-Vos nem separar-me
de Vós. Suplico-Vos que o meu nome seja escrito no vosso
Coração, pois quero fazer consistir toda a minha felicidade e toda
a minha glória em viver e morrer como vosso escravo. Amém.

1º dia – CRISTO, REI DOS SÉCULOS

“Cristo Rei, sois dos séculos Príncipe,
Soberano e Senhor das nações!
Ó Juiz, só a Vós é devido
Julgar mentes, julgar corações.”

Queremos rezar esta novena em honra de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Mas este próprio título já coloca a primeira dificuldade à nossa devoção: será mesmo que Cristo é Rei do Universo, deste universo tão cheio de desordens e de injustiças? Chamamo-l’O de Príncipe dos Séculos, e no entanto cada novo século que se inaugura parece mais rebelde a este Príncipe: se em épocas passadas, no auge da civilização cristã, a Igreja era verdadeira Mãe e Mestra da humanidade, hoje parece que o mundo vai se tornando cada vez mais como a hospedaria de Belém, sem lugar para Jesus (cf. Lc 2, 7). Proclamamo-l’O Soberano e Senhor das Nações, mas são cada vez mais as nações que, reivindicando uma ilusória soberania perante Deus, distorcem a noção de estado laico em estado laicista e ateu, e se rendem a ideologias opostas aos valores cristãos. Dizemo-l’O Juiz das mentes e dos corações – e contudo parece ficar impune a impiedade dos que, fazendo coro àquele “Não queremos que Ele reine sobre nós” (Lc 19, 14), rejeitam-n’O em seus corações e em suas vidas.

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Diante desse cenário, talvez nos deixemos contaminar por um certo ceticismo, uma falta de fé no poder e na bondade de Deus, e em seu interesse por nossa vida. “Será que Deus se esqueceu de ter piedade? (…) Eu confesso que é esta a minha dor: ‘A mão de Deus não é a mesma: está mudada!’” (Sl 76, 10-11). Em casos mais graves, nosso orgulho pode levar até mesmo ao cinismo descarado: para justificar nossos pecados, passamos a negar a existência d’Ele – pois afinal de contas, se não há Deus, “Ninguém vê nem condena o meu crime!” (Sl 35, 3).

“Deus está morto! E fomos nós que O matamos!”, esbravejava um famoso ateu, um daqueles “sábios” que se julgam muito “originais” e “críticos” por defenderem ideias tão velhas quanto a maçã do Éden: mas quem morreu, de fato, foi este ateu – não sem antes ser internado num manicômio, pois Deus declarou loucura a sabedoria deste mundo (1 Cor 1, 20).

Mas o que diremos, então, diante de tantos males e injustiças que vemos no mundo? A própria Escritura reconhece que, nesta vida, são muitas as aflições que podem recair sobre nós – mas ao mesmo tempo nos garante que Deus ama o direito e a justiça (Sl 32, 5), e que dos altos céus Ele se inclina para olhar todos os homens (v. 13), pois formou o coração de cada um, e por todos os seus atos se interessa (v. 15). Se Ele permite temporariamente que suas criaturas livres, pelo abuso de sua liberdade, causem o mal, só o faz porque consegue sempre tirar daí um bem maior – para forjar seus santos no fogo das provações, assim como o ouro na fornalha (cf. 1Pd 1, 6-9).

Foi por meio do pecado dos irmãos de José, que o venderam como escravo, que todos eles foram preservados, anos depois, quando seu irmão, feito governador do Egito, salvou-os da fome que assolava a região: “Não, não fostes vós”, diz José a seus irmãos, “que me fizestes vir para aqui. Foi Deus. (…) Premeditastes contra mim o mal: o desígnio de Deus aproveitou-o para o bem (…) e um povo numeroso foi salvo” (Gn 45, 8; 50,20). Os poderosos deste mundo podem até reunir-se e conspirar todos juntos contra o Deus onipotente e o seu Cristo (Sl 2, 2) – e no entanto “O coração do rei nas mãos do Senhor é como água corrente; ele o dirige para onde quer. O homem pensa que o seu caminho é sempre reto, mas é o Senhor quem sonda os corações” (Pr 21, 1-2).

Quando, portanto, nos assolar a tentação de desespero; quando, nos momentos sombrios desta luta que é nossa vida sobre aterra (Jó 7, 1), esmorecermos e quisermos dizer, com o Frodo d’O Senhor dos Anéis, “Ah! Eu queria que o fardo deste Anel nunca tivesse chegado até mim! Queria que nada disso tivesse acontecido!”… Reforcemos, então, nosso ato de fé em Deus: “Nada pode acontecer-me que Deus não queira. E tudo o que Ele quer, por muito mau que nos pareça, é, na verdade, muito bom!”.

Mesmo que pareça triunfar o mal, mesmo que a turba raivosa nos ensurdeça com suas revoltas contra a Realeza de Cristo, continuemos afirmando com serenidade, mas com firmeza inquebrantável, “És tu, Senhor Jesus, o Rei do Universo, o Rei supremo de todas as coisas”.

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ORAÇÃO

Ó prudentíssimo Cristo Rei, que junto ao Pai governais todos os séculos com mão forte e suave, e que desde o vosso trono celeste voltais os olhos para o mundo, penetrando os homens com vosso olhar: rogo-Vos me concedais a graça de guardar sempre a minha fé, mesmo quando pareça demais o sofrimento em minha vida.

Ajudai-me a erguer-Vos minhas mãos, buscando-Vos no meu dia de aflição, para que, recordando vossos grandes feitos do passado e as obras grandiosas que fizestes em nosso favor, proclame sempre que são santos, ó Senhor, vossos caminhos.

Acolhei com misericórdia as súplicas que Vos dirijo nesta Novena ………., e apresentai-as ao Pai, que Se dignou enviar-Vos como nosso Salvador. Amém.

Senhor Jesus Cristo, Rei dos Séculos,
Tende piedade de nós.

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2º dia – CRISTO, REI NO CALVÁRIO E NA MISSA

Para isso, de braços abertos,
vós pendeis do madeiro sagrado
e mostrais vosso bom coração
a sangrar, pela lança rasgado.

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Para isso, no altar escondido
sob as formas de vinho e de pão,
através desse lado ferido,
para os filhos trazeis salvação.

Ontem refletíamos sobre a Providência – sobre o fato de que o mundo não é uma sucessão cega de fatos desconexos, mas sim um drama, guiado por um verdadeiro plano divino de salvação. No belo hino que escreveu sobre este mistério (Ef 1, 3-10), São Paulo louva a Deus por ter-nos escolhido, já bem antes de o mundo ser criado, para que fôssemos, perante a sua face, sem mácula e santos pelo amor (v. 4).

Hoje queremos meditar mais a fundo sobre o caminho que Deus dispôs para realizar este plano: se Ele nos convida a sermos seus filhos adotivos, isto se dá através de Jesus Cristo (v. 5), e especialmente pela remissão dos pecados, que nos vem pelo Seu sangue (v. 7).

Jesus Cristo é, de fato, o único caminho para nossa salvação – para resolver a encruzilhada em que nos colocara o pecado de Adão e Eva: “como somente Deus é infinito, somente Ele era capaz de um ato de reparação de valor infinito pela infinita malícia do pecado. Mas quem fosse pagar pelo pecado do homem deveria ser humano, se realmente tinha de arcar com os nossos pecados, se de verdade ia ser nosso representante”. A Encarnação é a maravilhosa resposta divina a este impasse: “Sendo verdadeiro homem como nós, o Redentor poderia representar-nos e agir realmente por nós. Sendo também verdadeiro Deus, a mais insignificante de suas ações teria um valor infinito, suficiente para reparar todos os pecados cometidos ou que viriam a cometer-se”. Para se aproximar deste mistério, São Luís Maria Grignion de Montfort imaginava uma assembleia das três pessoas da Santíssima Trindade, convocada por Jesus, a Sabedoria Eterna, para decidir a salvação do homem. O drama, no entanto, era que Deus, sendo sumamente bom, não podia ser injusto – e o pecado, portanto, não podia ser simplesmente ignorado, e deixado impune.

“A Sabedoria, não encontrando no universo algo capaz de expiar o pecado do homem, de reparar a justiça e aplacar a ira de Deus e querendo, apesar de tudo, salvar o pobre homem que ama, encontra um meio admirável. É de pasmar: o amor incompreensível vai até aos extremos! Eis que a amorosa e real Princesa oferece-se a si mesma, em sacrifício ao Pai, para reparar a sua justiça, para aplacar a sua cólera, para arrancar o homem da escravidão do demônio, para livrá-lo das chamas do inferno e para merecer-lhe uma eternidade feliz. A sua oferta é aceita; é tomada uma decisão: a Sabedoria eterna, isto é, o Filho de Deus, far-se-á homem no momento oportuno e entro de parâmetros estabelecidos”.

Nossa reconciliação com Deus nos veio, portanto, através de Jesus Cristo, homem, o único mediador entre Deus e os homens (1Tm 2, 5), e especialmente através de sua morte na Cruz, onde Ele derramou seu sangue para remissão dos pecados de muitos (cf. Mt 26, 28).

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Por isso mesmo é que o principal foco da vida de Jesus sobre a terra, o motivo pelo qual Ele veio (cf. Jo 12, 27), não foram seus milagres, nem seus sermões, nem as obras de caridade que fez com os desfavorecidos: “Ele não pediu para que os homens escrevessem Suas palavras em uma Escritura; não pediu que Sua bondade para com os pobres fosse registrada na história; mas pediu que os homens lembrassem de Sua morte. E para que essa memória não fosse uma narrativa aleatória feita pelos homens, Ele mesmo instituiu o meio preciso pelo qual deveria ser recordada”.

Aqui entendemos o valor único e insubstituível da Santa Missa, que o Concílio Vaticano II chama de “fonte e centro de toda a vida cristã”: cada vez que um sacerdote católico, obedecendo ao mandato de Nosso Senhor, toma pão e vinho e pronuncia sobre eles as palavras do Mestre, torna-se presente, de forma muito real, aquele dramático sacrifício acontecido há dois milênios, no monte Calvário: “o único acontecimento da história que não passa jamais (…). Todos os outros acontecimentos da história acontecem uma vez e passam, devorados pelo passado”. – mas o Mistério Pascal é perpetuado a cada Santa Missa, “pois a Eucaristia nada mais é que a extensão sacramental da Encarnação ao longo do tempo e do espaço: a maneira com que Cristo continua a habitar, de forma corpórea, na sua Igreja”. e assim a Cruz permanece solidamente fincada no centro do universo, até o fim dos tempos.

No coração do cristianismo está, portanto, a mensagem de que Deus houve por bem reverter a sentença de morte certa que pesava sobre nós, como consequência da rebelião de nossos primeiros pais. Para religar o que havia sido rompido pelo pecado, Deus dispôs que, no momento previsto, Ele haveria de
reunir em Cristo o que estava disperso: instauráre ómnia in Christo, quando Ele fosse exaltado da terra no madeiro da Cruz (Jo 12, 32).

Jesus Cristo, feito carne no madeiro, e na hóstia feito pão, é, assim, o centro da história: tudo converge para Ele, tudo encontra n’Ele seu sentido e sua razão de ser.

Aproveitemos, então, desta novena para fazer um exame de consciência: como me comporto em relação ao Santo Sacrifício da Missa? Será que minha postura, minha pontualidade, meus trajes, minha concentração, revelam que tenho consciência de estar diante do Cordeiro Imolado? Peçamos a Deus a graça de uma devoção sempre maior à Santa Missa.

ORAÇÃO

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Ó amorosíssimo Cristo Rei, que para reunir num só redil os corações desgarrados, fizestes-Vos Homem para salvar o homem, de modo que o demônio, autor da morte, fosse vencido pela mesma natureza que antes vencera, atraí-nos para a Cruz em que sois exaltado.
Vós que de braços abertos pendeis da árvore ensanguentada, entregando-Vos em nossos altares sob o véu do pão e do vinho: fazei que, contemplando vosso coração abrasado de misericórdia, saibamos colher a salvação que flui de vosso peito traspassado pela lança. Amém.

Senhor Jesus Cristo, Rei no Calvário e na Missa,
Tende piedade de nós.

👉 Ladainha (clique aqui)

3º dia – CRISTO, REI DA PÁTRIA TERRENA

Por que, Herodes, temes
chegar o Rei que é Deus?
Não rouba aos reis da terra
quem reinos dá nos céus.

Se é verdade que todo o universo foi criado por Deus com um propósito de amor, se cada uma de suas partes encontra seu sentido e sua razão de ser em Jesus Cristo, Deus e homem, que se encarnou para nos salvar no lenho da Cruz – então daqui se segue que também as diversas realidades de nossa vida terrena devem ser orientadas a Cristo, em reconhecimento de sua Realeza.

A Escritura é bastante clara a este respeito: a Cristo é dada toda a autoridade, não só no céu, mas no céu e na terra (Mt 28, 18), eseu domínio sobre todos os povos e todas as nações (Sl 2,8; Mt 25, 32) se desdobra de mar a mar, e do rio até os confins de toda a terra (Sl 71, 8; Zc 9, 10). Todos os povos devem fazer-se seus discípulos, para aprender a observar tudo o que Ele mandou (Mt 28, 19-20).

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Se, por um lado, é preciso precaver-se contra uma leitura politizada e demasiado mundana destas passagens, por outro lado é igualmente errônea uma visão espiritualista, que pretenda confinar Cristo e sua Igreja à intimidade da consciência privada, aos lares e às sacristias. O Reinado de Cristo é, sim, principalmente espiritual (e por isso mesmo Ele se escondia do povo que esperava d’Ele uma mera libertação político-econômica da opressão romana, e dizia a Pilatos que Seu reino não era deste mundo; cf. Jo 18, 36), mas este Reinado possui também uma dimensão social: Cristo recebeu do Pai o império sobre todas as coisas civis, e o direito absoluto sobre toda a criação.

Mas como, então, se exerce este Reinado Social de Cristo? Como fica a relação entre o Estado e a Igreja?

Um breve resumo desta relação nos foi dado pelo próprio Senhor, naquele “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21). Cristo reconhece, por um lado, que existe umCésar, um governo humano da sociedade, e que há coisas que são de César, que são devidas a ele. Nós cristãos, de fato, precisamos obedecer às autoridades constituídas como representantes de Deus, prestando-lhes o respeito às leis, “o pagamento dos impostos, o exercício do direito de voto, e a defesa do país”.

Por outro lado, há coisas que são de Deus, e não de César. Nenhuma autoridade humana tem um poder absoluto: ao César de cada época, a Igreja continua sempre ecoando as palavras de seu divino fundador: “Não terias poder algum sobre mim, se de cima não te fora dado” (Jo 19, 11). Quando uma autoridade civil dá ordens “contrárias às exigências da ordem moral, aos direitos fundamentais das pessoas ou aos ensinamentos do Evangelho”, os cristãos temos o direito (e o dever!) de recusar obediência14.

Qualquer proposta de “legalizar o aborto” por decreto do Parlamento ou do Judiciário, por exemplo, faz tanto sentido quanto o projeto de “restaurar a escravidão”, ou mesmo de “revogar a lei da gravidade” – e os que defendem essas ideias, embora não percebam nem entendam, caminham numa grande escuridão, abalando os fundamentos do universo; julgam-se deuses, mas como homens morrerão, e cairão como qualquer dos poderosos, quando o Senhor se levantar para julgar a terra (Sl 81, 5-8).

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Diante desta doutrina de nossa religião, pode ser que alguém nos acuse de sermos subversivos e antipatriotas, ao colocar limites ao poder do Estado e de seus ministros. Nada estaria mais longe da verdade: é o verdadeiro amor à pátria que nos leva a dizer-lhe a verdade, a corrigir-lhe os excessos.

Sócrates, o Pai da Filosofia, foi acusado do crime de lesapátria por ter “corrompido a juventude” – e em sua defesa disse claramente: “Ó atenienses, eu vos tenho em grande honra e amor, mas vou obedecer antes a Deus que a vós. (…) Vós, que sois cidadãos da grande, poderosa e sábia cidade de Atenas: porventura não vos causa vergonha buscar acumular ao máximo o dinheiro, as honrarias, e a fama, e ao mesmo tempo negligenciar a sabedoria, a verdade, e o cultivo de vossa alma, pela qual não tendes nenhuma consideração? (…) Eu sei que este é o comando de Deus – que eu examine a coerência de vossas vidas –, e acredito que nunca houve um bem maior na república que este meu serviço a Deus”.

São Tomás More, o grande humanista e chanceler da Inglaterra, foi condenado à morte por recusar-se a sufocar sua consciência em prol da luxúria do Rei Henrique VIII, que queria separar o que Deus havia unido – e ao ser acusado de malícia e traição aos interesses do Reino, responde: “Nos assuntos da consciência, o cidadão leal deve ser mais fiel à sua consciência do que a qualquer outra coisa. Por acaso eu deveria dizer ‘sim’ à doença do estado? Seria de ajuda ao meu rei que eu lhe desse mentiras, quando ele me pede a verdade? Vocês acham que vão ajudar a Inglaterra, enchendo-a de mentirosos?”. E assim também tantos outros fiéis, ao longo da história, martirizados pela tirania de um Estado que se julgava acima de Deus e da Igreja: um Beato Anacleto González Flores (1888-1927) e seus companheiros mártires do governo maçônico secularista mexicano, um Beato Franz Jägerstätter (1907-1943), o pai de família e católico devoto que preferiu enfrentar a prisão e a morte a lutar no exército
nazista…

Todos nós queremos, para este nosso amado Brasil, paz constante e prosperidade completa – e precisamente por isso é que queremos que Cristo reine sobre esta grande nação. Mas o caminho para isso, o caminho para que Cristo Jesus seja adorado e seja amado nesta Terra de Santa Cruz, é fazermos nossa parte, eu e você, e buscarmos que Ele reine em nossas vidas.

ORAÇÃO

Ó sapientíssimo Cristo Rei, que nos mandastes dar a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus, ajudai-nos a ser cidadãos patriotas e exemplares. Que no mundo inteiro se proclame o zelo de nossos trabalhadores, o engenho de nossos homens de ciência e cultura, a pureza e a energia de nossos jovens, e a fé de nosso povo.

Que nossos governantes reconheçam Vosso Senhorio em seus pensamentos e ações, em suas políticas e leis, para que o amor à nossa pátria terrena nos sirva de caminho para chegarmos à pátria definitiva no Céu. Amém.

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Senhor Jesus Cristo, Rei da Pátria Terrena,
Tende piedade de nós.

👉 Ladainha (clique aqui)

4º dia – CRISTO, REI DA FAMÍLIA

A batalha final entre o Senhor e o reino de Satanás será a respeito do Matrimônio e da Família. (Irmã Lúcia)

Depois de termos dedicado os três primeiros dias nossa novena aos motivos mais gerais pelos quais Cristo é Rei do Universo, queremos, nos próximos dias, meditar sobre alguns temas mais específicos da sociedade moderna, nos quais aquele Reinado vai perdendo sua primazia.

Nosso olhar se volta naturalmente, então, à crise da família, que transparece com evidência em todo o mundo ocidental. Não falamos apenas dos divórcios – pois esta prática, outrora tida como sinal claro de um desequilíbrio social, hoje é tão banal que só nos espantamos, de fato, quando um casal consegue perseverar unido, através das dificuldades, por 30, 40 ou 50 anos… Vemos por todo lado os conflitos familiares: desrespeitos mútuos entre pais e filhos, violências no lar, com tudo terminando na delegacia ou no tribunal… Vão-se disseminando também visões equivocadas sobre a família e a sexualidade humana, em que qualquer agrupamento de pessoas com afeto mútuo passa a ser inserido na categoria de “novas famílias”, e os conceitos de homem e mulher são esvaziados de qualquer referência a uma realidade objetiva, no ser das coisas.

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Afinal de contas, será que a Igreja não estaria sendo rigorosa demais, ao perseverar em seu ensinamento tradicional? Não seria um exagero chamar estas novas tendências sociais a respeito do Matrimônio e da Família de batalha final entre Deus e Satanás?

Para entendermos bem este ponto, convém lembrarmos que o pecado característico de Satanás é a rebelião, a revolta contra Deus e sua criação: seu lema é aquele Non serviam!, “Não servirei!”. Ora, tanto a complementaridade dos sexos masculino e feminino quanto a indissolubilidade do vínculo matrimonial são verdades inscritas pelo Criador na própria natureza humana.

Afinal de contas, não é necessário ter fé para enxergar, por um lado, que todo ser humano que vem a este mundo procede da união do homem e da mulher, e por outro, que os bebês humanos, diferente dos outros animais, são extremamente vulneráveis e precisam de um longo tempo num ambiente estável para se desenvolver: um potro já nasce andando, mas a formação de um ser humano adulto bem exige duas décadas de constante proteção e educação, num ambiente estável de confiança e cumplicidade.

Existe, portanto, uma base natural para a defesa da família e do matrimônio – e a Escritura o confirma ao incluir estas duas verdades nos relatos da Criação: Deus criou o ser humano à sua imagem, como homem e mulher (Gn 1, 27), que ao unirem-se em matrimônio tornam-se uma só carne (Gn 2, 24). Também Jesus o repete ao dizer que foi assim que o Criador, desde o princípio, nos fez (Mt 19, 4-5).

Mas além destas bases naturais, a família tem ainda uma finalidade sobrenatural, que é missão da Igreja pregar. Diferente dos outros animais, nossa existência não terminará na cova, mas vai se prolongar eternamente, ou no Céu em suprema felicidade, ou em suprema agonia no inferno – e por isso mesmo é que os pais
têm o dever sagrado de educar os filhos não só para esta vida terrena, mas principalmente para a vida eterna.

“Contudo, quantos pais esquecem esta verdade de importância capital! Quantos não fazem os maiores sacrifícios e não se poupam a fadigas nem a trabalhos para conseguirem que seus filhos sejam mais amáveis, mais espertos, mais instruídos! Escola, piano, francês, alemão, lições de ginástica, de baile… tudo isto está muito bem, mas o teu filho, tem alma! Preocupas-te também com a sua alma? Não esqueças que o filho é um dom confiado por Deus e Deus pedir-te-á um dia conta deste tesouro”.

Daqui a importância fundamental de verdadeiramente educar os filhos, impondo-lhes limites e disciplina, e não tendo medo de magoá-los dizendo que “não”, quando seu próprio bem o exigir. Que os pais se lembrem, aqui, da censura que Deus dirigiu ao sumo sacerdote Eli, “castigando sua casa para sempre, por causa da sua iniquidade, porque sabia que seus filhos procediam mal e não os corrigiu como devia” (1Sm 3, 13).

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Além de colocar regras, é preciso também exercer uma justa vigilância sobre os filhos, levando em conta a sua idade e maturidade. Não se trata de “acorrentá-los” dentro de casa – mas de saber onde estão, o que fazem, e com quem andam.

Hoje em dia, aliás, com os smartphones e computadores, os maiores perigos invadem até mesmo nossos lares: quanta gente mal intencionada nas redes sociais, quantos esforços da indústria pornográfica de capturar a atenção até mesmo de nossas crianças, inserindo propagandas ocultas em sites de joguinhos inocentes, e aproveitando de seus cérebros ainda em desenvolvimento para viciá-las em consumir seu material imundo! “Quem se descuida dos seus, e principalmente dos de sua própria família, é um renegado, pior que um infiel” (1Tm 5, 8).

Pouco adianta exercer a vigilância sobre os filhos, no entanto, se os próprios pais não dão o exemplo de vida cristã: se não se esforçam, dentro das possibilidades de cada família, para criar momentos de oração em comum, para dar mais importância à Missa de domingo que aos compromissos sociais…

Um último apelo aos casais cristãos: sejamos generosos em vosso amor a Cristo! Não nos conformemos com esta mentalidade materialista que anda tanto em voga, e que faz com que a família tenha medo de ter filhos… “Os filhos são a bênção do Senhor!” (Sl 126, 3-5). “É quadro triste e pavoroso, o de um casal, que goza de saúde, a quem Deus concederia a benção de ter filhos, mas eles não os querem aceitar, porque, no seu modo de ver, os filhos são uma carga”. S. Francisco Xavier era o sétimo filho de seus pais; S. Teresinha foi a nona e última filha; S. Inácio de Loyola foi o décimo terceiro… Deus sabe as graças que tem preparadas para os casais que se dispõem a não cortar as asas do amor.

ORAÇÃO

Ó amabilíssimo Cristo Rei, que escolhestes vir ao mundo no seio de uma família para nos ensinar que a vida familiar é um caminho privilegiado de santificação, dai-nos a graça de enxergar nossas relações familiares tendo em consideração a vida eterna.

Dai a nossos pais e mães a força para doarem amorosamente sua vida e sua juventude pelo bem verdadeiro de seus filhos, e de serem felizes ao vê-los vicejar como rebentos de oliveira ao redor de sua mesa.

Dai a nossas crianças a graça de seguirem os bons caminhos que lhes ensinem seus pais, para que, mesmo quando envelhecerem, não se venham a deles afastar. Amém.

Senhor Jesus Cristo, Rei da Família,
Tende piedade de nós.

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5º dia – CRISTO, REI DA JUVENTUDE

Filhos dos homens, até quando fechareis o coração?
Por que amais a ilusão e procurais a falsidade? (Sl 4, 3)

Qualquer pessoa que comparasse o jovem médio de 2022 com aquele de 1922 enxergaria uma enorme diferença em seu estilo de vida e em sua mentalidade: nas roupas que veste, na música que escuta, nas coisas que lê, em seus sonhos e projetos de vida – diferença muito maior, por exemplo, que a entre o jovem de 1922 e o de 1822. Não se trata, de fato, do mero efeito da passagem do tempo: alguma coisa aconteceu, no último século, que abalou profundamente as aspirações da juventude – que a convenceu de que ela só alcançaria sua verdadeira felicidade se abandonasse as leis dos seus antepassados e não se governasse mais pelas leis de Deus (2Mc 6, 1).

Imediatamente nos vem à cabeça todo o movimento dos anos 1960, a Revolução Sexual, a Contracultura: como cantava Bob Dylan em 1964, “Vamos, pais e mães, e não critiquem o que vocês não conseguem entender: seus filhos e filhas estão fora de sua autoridade, e seu velho caminho está caducando rápido. (…) Pois o que agora é presente, logo será passado, e a ordem está rapidamente desaparecendo, e os tempos estão mudando!”. Essa proposta parecia boa, e quase toda a juventude do mundo cristão adotou os costumes pagãos (1Mc 1, 12-13).

O drama, no entanto, é que a tão esperada felicidade nunca chegou… Comemos o fruto, mas não nos tornamos como deuses. Pelo contrário, os índices de infelicidade e transtornos mentais cresceram enormemente, e difundiu-se no mundo um fenômeno novo: a depressão e o suicídio de crianças – aquelas mesmas crianças, que com seu riso e seu encanto conseguiam desanuviar os dias escuros, que nos confortavam com sua mão e seu coração, e que em sua inocência e confiança nos ensinavam a ser livres… Isso para não falar das tantas crises de identidade e de rebeliões contra a realidade: de jovens que, como fantoches doutrinados por ideologias mentirosas, traíram seu ser e entregaram-se à escravidão. O que fazer? Muitos há que se perguntam: “Quem nos dá felicidade?” (Sl 4, 7) – mas onde, afinal, encontrá-la? É bom lembrarmos aqui daquele primeiro discurso que fez o grande São João Paulo II, quando foi eleito Papa: Não tenhais medo! Abri de par em par as portas a Cristo! Como depois explicou Bento XVI, o Papa, naquela ocasião, falava “sobretudo aos jovens.

Porventura não temos todos nós, de um modo ou de outro, medo – se deixarmos entrar Cristo totalmente dentro de nós, se nos abrirmos completamente a Ele –, medo de que Ele possa tirar-nos algo da nossa vida? Não temos porventura medo de renunciar a algo de grandioso, único, que torna a vida tão bela? Não arriscamos depois de nos encontrarmos na angústia e privados da liberdade? E mais uma vez o Papa queria dizer: Não! Quem faz entrar Cristo, nada perde – nada, absolutamente nada daquilo que torna a vida livre, bela e grande. Não! Só nesta amizade se abrem de par em par as portas da vida. Só nesta amizade se abrem realmente as grandes potencialidades da condição humana. Só nesta amizade experimentamos o que é belo e o que liberta. Assim, queridos jovens, eu gostaria de vos dizer hoje, com grande força e convicção, partindo da experiência de uma longa vida pessoal: não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada, ele dá tudo. Quem se doa por Ele, recebe o cêntuplo. Sim, abri de par em par as portas a Cristo e encontrareis a vida verdadeira”.

“Olhemos ao redor! A sociedade ocidental escolheu organizar-se sem Deus. Ei-la agora, entregue às luzes tilintantes e enganosas da sociedade de consumo, do lucro a qualquer custo, do individualismo ensandecido. Um mundo sem Deus é um mundo de trevas, de mentira e de egoísmo! (…) O mundo de ideologias que negam a natureza humana e destroem a família, das estruturas globalistas que impõem goela abaixo uma nova ética mundial… O Ocidente foi evangelizado pelos Santos e Mártires. Sereis vós, jovens de hoje, sereis vós os santos e os mártires que as nações esperam para uma Nova Evangelização! Vossas pátrias têm sede do Cristo! Não as desaponteis! A Igreja confia em vós.”

Num mundo de fugitivos, aquele que marchar na direção oposta será tomado por um desertor26. Jovens cristãos, tenham a coragem de caminhar na direção oposta: de salvar o amor humano do fosso em que se encontra – em que já não é visto como o dom generoso de si mesmo, mas como a possessão do outro, como um egoísmo vivido a dois: “eu vou usando seu corpo, e você vai usando o meu, até quando enjoarmos”.

Tenham a coragem de ser como os Santos Macabeus, que não aceitaram renegar sua fé em troca das juras de riqueza, felicidade e altos cargos, mas mostraram-se prontos a morrer, antes que transgredir as leis de seus antepassados (2Mc 7, 2.24)

Aproveitemos desta novena para tomar o firme propósito de dedicar, todo dia, um tempo generoso ao diálogo com o Senhor, no silêncio e na intimidade de nosso coração. Se o fizermos, poderemos ter vida pura; seremos fortes, porque a Palavra de Deus permanecerá em nós (Sl 118, 9; 1Jo 1, 14).

ORAÇÃO

Ó amantíssimo Cristo Rei, que fizestes do jovem São João em sua pureza juvenil, o discípulo amado, ajudai nossos jovens a enxergar a beleza de uma vida pura.
A todos os jovens que se perguntam, “Quem nos dá felicidade?”, mostrai, Senhor, o esplendor de vossa face – e dai-lhes mais alegria ao coração do que a outros na fartura de seu trigo e vinho novo.

Dai que nossos jovens, seguindo vossa lei, se rejubilem muito mais do que em todas as riquezas. Amém.

Senhor Jesus Cristo, Rei da Juventude,
Tende piedade de nós.

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6º dia – CRISTO, REI DA MULHER

Uma mulher virtuosa, quem a pode encontrar? Superior ao das pérolas
é o seu valor. Seus filhos se levantam para proclamá-la bem-aventurada
e seu marido para elogiá-la (Pr 31, 10.28)

Nas primeiras décadas do século XX, assistimos no Ocidente ao surgimento dos primeiros movimentos feministas – e de fato havia na sociedade da época várias discriminações injustas contra as mulheres: não raro eram levadas a entrar em arranjos matrimoniais contra sua vontade; não podiam acessar diversos
cargos técnicos ou vagas de universidade; a lei as considerava juridicamente incapazes, quase que sob a tutela legal de seu pai ou marido; não podiam eleger seus representantes…

Com o passar das décadas, no entanto, a luta pelo fim dessas desigualdades injustas acabou se tornando, em alguns ambientes, uma verdadeira revolta contra toda e qualquer desigualdade – ou seja, um igualitarismo radical, que não se contenta com nada que não a completa identificação entre os sexos. Até mesmo aqueles vícios e pecados que afetavam mais tipicamente os homens passaram a ser “invejados” pelas feministas radicais: se, por exemplo, os homens podiam ser alcoólatras ou sexualmente promíscuos sem sofrer grandes pressões ou estigmas sociais, então a solução (ao invés de condenar estes desvios masculinos e procurar corrigi-los!) seria levar as mulheres a adotar os mesmos comportamentos…

Este desejo de “equalização” a todo custo tinha, no entanto, um obstáculo biológico bastante forte: como quem engravida é sempre a mulher, a promiscuidade era muito mais arriscada para ela que para o homem – que, lamentavelmente, podia facilmente ser um irresponsável e abandonar a moça que engravidou. No começo dos anos 1960, no entanto, a invenção da pílula anticoncepcional provocou uma verdadeira revolução: pela primeira vez na história, as mulheres tinham agora controle sobre sua fertilidade, com um instrumento técnico de uso privado, que não atraía para elas os olhares da sociedade. Em pouquíssimo tempo, diversas forças sociais começaram a pressionar a Igreja Católica, que resguardava ainda seu ensinamento tradicional sobre a contracepção. A revista Time, por exemplo, publicou em 196727 uma matéria de capa sobre o assunto, em que afirmava que “o uso da pílula por uma grande população católica contribuirá para torná-la psicologicamente saudável, e para criar relações familiares sadias”, e que havia um “consenso entre médicos e sociólogos” de que a sua disseminação não aumentaria os índices de promiscuidade.

No ano seguinte, e em pleno turbilhão da Revolução Sexual, o Papa São Paulo VI tomou a heroica decisão de preservar o ensinamento bimilenar da Igreja, e profetizou ainda que a disseminação da contracepção artificial traria graves consequências para a vida social: o crescimento da infidelidade conjugal e da
degradação da moralidade, e a perda do respeito pela mulher, que levaria o homem, sem se preocupar mais com o equilíbrio físico e psicológico dela, a considerá-la como simples instrumento de prazer egoísta e não mais como sua companheira, respeitada e amada28. O Papa foi amplamente ignorado e caricaturado como retrógado e “medieval” – inclusive por alguns católicos… –, e, como sabemos todos, o caldo cultural empapou-se até à raiz na cultura da
libertinagem e da contracepção.

Conforme o tempo se passava, no entanto, todas as previsões do Papa acabaram se cumprindo à risca, para desconcerto dos opositores da Igreja. Os índices de promiscuidade, infidelidade, divórcio e aborto todos explodiram – e a cultura nitidamente vem tratando a mulher cada vez mais como um objeto a ser consumido e dominado pelo homem. Os outdoors e propagandas de todo tipo de produto exibem corpos femininos seminus como mercadorias; filmes e séries de sucesso como Game of Thrones ou 50 tons de cinza agora abundam em cenas de abuso sexual e estupro com a maior naturalidade; nos sites de
pornografia, as categorias mais assistidas são as que envolvem violência, especificamente contra as mulheres; nossas músicas chamam as mulheres de “cadelas” e “vagabundas”, que devem satisfazer seu parceiro sob pena de ele estar justificado em recorrer a uma “namorada reserva”; e são raras as cantoras de sucesso que conseguem ascender à carreira sem se venderem à luxúria do grande público…

No meio de tanta desgraça, parece justo perguntar: será que não está na hora de reassumirmos a visão cristã da mulher? Estamos fartos de ouvir que a Igreja é “machista” e “patriarcal” – mas quem se põe a estudar friamente o assunto chega à conclusão contrária: tanto na Igreja Antiga quando na Medieval, a
civilização cristã foi a que mais reconheceu direitos e dignidade à mulher.

Não se trata de proibir a mulher de ter uma carreira, ou de “forçá-la” a ficar em casa e criar os filhos. Por sinal, estamos bem conscientes de que, nas circunstâncias atuais, as famílias são muitas vezes compelidas, por motivos econômicos, a que os dois cônjuges trabalhem fora de casa… Trata-se, aqui, simplesmente de reconhecer que a feminilidade, a maternidade, são belíssimos aspectos constituintes do ser mulher – e que há hoje muitas moças
que gostariam imensamente de dedicar sua vida a unir-se a um bom marido e criar seus filhos como rainhas do lar, mas que são impedidas de fazê-lo pelos mesmos estigmas e pressões sociais que o feminismo supostamente veio para suprimir.

O próprio Deus se vale da imagem da ternura materna para simbolizar seu cuidado por seu povo: “Como uma criança que a mãe consola, sereis consolados em Jerusalém” (Is 66, 13). Confiemos, então, todas as nossas mulheres, estas joias preciosas que Deus criou, à maternal proteção de Maria, Nossa Mãe e Senhora.

ORAÇÃO

Ó dulcíssimo Cristo Rei, que com o Pai e o Espírito Santo criastes a mulher para que o homem não estivesse só, mas, à imagem da Santíssima Trindade, fosse fecundo em sua união de amor, dai às nossas mulheres viverem numa sociedade que respeite sua dignidade de filhas muito amadas de Deus.

Inspiradas nas grandes santas de todas as épocas da Igreja, possam nossas mulheres animar-se a uma entrega corajosa e forte de todo seu coração a Deus e, por Deus, a seus filhos, naturais ou espirituais.

Possam elas ser reflexo do carinho maternal com que Deus mesmo cuida de seus filhos, e da ternura e fidelidade com que Vossa Mãe Santíssima vos amou na terra e no Céu. Amém.

Senhor Jesus Cristo, Rei da Mulher,
Tende piedade de nós.

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7º dia – CRISTO, REI DOS QUE SOFREM

Se alguém quer me seguir, negue-se a si mesmo, tome a cada dia a sua cruz e siga-me. (Lc 9, 23)

Neste antepenúltimo dia de novena vamos refletir sobre uma das principais questões da vida humana e ponto crucial de nossa fé: o sofrimento. Veremos que Nosso Senhor Jesus Cristo não nos promete riquezas e honrarias nessa vida presente – pelo contrário, nos convoca a carregarmos a cruz de cada dia, assim como Ele o fez para cumprir sua missão de redimir a humanidade.

Para entender o sofrimento é necessário, em primeiro lugar, ter em mente o objetivo da vida de qualquer pessoa: a santidade. Num mundo que não reconhece a realeza de Cristo, no entanto, esta conquista da pátria eterna requer bravura e, muitas vezes, heroísmo. Nesse sentido, os santos demonstram quão vantajoso é abraçar livremente o sofrimento por amor a Deus.

Importante destacar o termo “livremente”, uma vez que é justamente a livre aceitação dos desígnios divinos que dá sentido cristão ao sofrimento. Como mencionamos na oração “Salve Rainha”, esta nossa morada terrena será sempre um “vale de lágrimas”, sendo inútil buscar alívio em qualquer mitologia, psicótico, forma de governo, ideologia ou doutrina que não o próprio Deus.

A partir do pecado original, sofrimento e vida humana formam um só conjunto, pois a desobediência dos primeiros pais destruiu o plano original de Deus. Até mesmo as mazelas que vemos hoje no mundo – misérias, violências, guerras… – evidenciam que a maior parte do sofrimento humano é consequência de seu próprio orgulho, egoísmo e avareza.

Ainda assim, Deus permite que inclusive as almas mais puras e inocentes sofram grandes tribulações. A partir de uma mentalidade mundana isso pode parecer ser demasiada injustiça e crueldade – mas é justamente o oposto. Para as almas mais nobres Deus consente o sofrimento para que se tornem obras-primas ainda mais sublimes, ao passo para que para as ovelhas desgarradas o sofrimento é remédio eficaz para que se convertam.

Dessa maneira, o sofrimento é sempre manifestação do amor divino: afortunados os que sofrem e têm a Cristo como Rei! Os melhores pais são aqueles que repreendem e impõem limites a seus filhos – e, caso seja preciso, castigam-nos enquanto é tempo para que não arruínem sua vida futura. A sabedoria duas vezes milenar da Igreja revela que mais vale expiar as culpas na terra do que sofrer as agonias eternas no Inferno (ou mesmo as agonias temporais no Purgatório).

De acordo com a parábola do semeador, a alma humana, da mesma forma que a terra, deve ser preparada para que produza bons frutos. Prosperidade e bem-estar são fatores que endurecem e potencializam o descontrole e a ambição. Por outro lado, o sofrimento aduba a compaixão e humildade, permitindo o florescimento do Evangelho.

Adiante, precisamos considerar a Cristo como Rei dos sofrem não apenas para compreender o mistério da vida humana, mas também para vencer o sofrimento sem cair em desespero. Nenhum caminho é impossível de ser trilhado para os que imitam a vida de Cristo, pois quem permanece na graça conta com o poderoso auxílio do Espírito Santo para vencer as tribulações.

Diante disso, é fundamental que sejamos humildes e reconheçamos nossas fraquezas e a dívida impagável que temos para com Deus. Nenhum sofrimento chega aos pés do experimentado por Jesus, que se fez pobre e escolheu voluntariamente sofrer a maior das injustiças e o maior dos sofrimentos para a redenção de criaturas pecadoras como nós. Todavia, o reconhecimento da importância do sofrimento não significa que o cristão seja insensível à dor própria e à do próximo. É compreensível sentir-se no limite em determinadas ocasiões – porém quem tem a Cristo como Rei da própria vida não esmorece, porque sabe que Deus será generoso em recompensar todas as boas obras praticadas na terra.

Por fim, quem reconhece a realeza de Cristo não pode ser infeliz diante do sofrimento, mas sim se regozija e alegra-se com espírito de sacrifício. Todos os homens sofrem – a diferença é que o cristão não se abate e carrega a própria cruz erguida a prumo, com amor! Eis o belo contraste do reino de Nosso Senhor: suas posses mais preciosas são precisamente aquelas lapidadas no sofrimento, o qual nunca é superior às forças concedidas por Deus.

ORAÇÃO

Ó misericordiosíssimo Cristo Rei, que vos fizestes homem e sofrestes por nós a maior das injustiças e o maior dos sofrimentos, não fiqueis longe de mim, pois a angústia está perto e não há quem ajude.

Rogo-vos para que me deis forças para guardar a fé diante do sofrimento, permitindo que vossa graça atue em minha alma de modo a fazer meu coração semelhante ao vosso.

Por maiores que sejam os sofrimentos, faça-se, Senhor, a vossa vontade, ainda que eu não a compreenda.

Vós, que não desprezais a aflição do pobre, ajudai-me a anunciar vosso nome aos meus irmãos, para que abracem o sofrimento desta vida e sejam poupados na eternidade. Amém.

Senhor Jesus Cristo, Rei dos que Sofrem,
Tende piedade de nós.

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8º dia – CRISTO, REI DA MORTE

Vigiai, portanto, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor.
(Mt 24, 42)

Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá, e Eu o ressuscitarei no último dia. (Jo 11, 25-26) Existe uma estreita relação entre a festa de Cristo Rei e a consciência da finitude de nossa vida e da certeza do Juízo. De fato, algumas das mais belas representações artísticas da Realeza de Cristo estão em obras sobre o fim dos tempos: vale a pena passar longas horas contemplando, por exemplo, os infinitos detalhes de um Retábulo de Gante, de um Juízo Final de Memling ou de um Fra Angelico, ou meditar sobre a soberana majestade e a infinita piedade de Deus ao som de um Rex Tremendae de Mozart…

Também na Liturgia da Igreja enxergamos esta mesma relação. No crepúsculo de cada dia, os sacerdotes rezam, por toda a Igreja, um cântico escatológico: ora antecipando o momento em que, vindo o tempo de julgar vivos e mortos, e chegada a realeza de Deus e o domínio de seu Cristo, daremos graças ao Senhor Deus onipotente, Aquele que é, que era e que há de vir (“O julgamento de Deus”, às quintas-feiras); ora prenunciando as núpcias do Cordeiro redivivo, quando exultaremos de alegria porque de seu reino terá tomado posse nosso Deus onipotente (“As núpcias do Cordeiro”, aos domingos); ora louvando a Deus pelo Cordeiro por nós imolado, que nos remiu com seu sangue e nos faz sacerdotes e povo de reis (“Hino dos remidos”, às terças-feiras). E o tradicional canto gregoriano Dies Irae, que antigamente era cantado nas Missas de Exéquias(Requiem), é atualmente reservado para a última semana do tempo comum – justamente os dias que sucedem nossa Solenidade de
Cristo Rei.

Reflitamos mais detidamente, então, sobre a morte, o juízo e o sentido da vida.
Muitas pessoas se enganam ao pensar que a maior festa litúrgica dos cristãos é o Natal – de fato, embora a Encarnação do Verbo tenha modificado o curso da história para sempre, foi somente com sua Paixão e Ressureição que Nosso Senhor Jesus Cristo completou sua missão e demonstrou sua realeza inclusive sobre a morte.

Cristo não mede esforços para salvar as ovelhas perdidas: como nos ensina a parábola do bom-pastor, Ele teria sofrido os mais atrozes sofrimentos ainda que fosse somente por cada um de nós. Seu Sacratíssimo Coração desejou padecer até o extremo as tribulações para que, por sua morte, nos fosse conquistada a vida.

Dessa maneira, a morte detém papel singular na doutrina católica e deveria sempre estar nos pensamentos dos cristãos. O chamado à reflexão é universal, já que todos havemos de morrer, como bem proclamado na capela do Convento de São Francisco em Évora: “Nós, ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos”.

Os monges franciscanos não desejavam aterrorizar os fiéis, mas sim conclamá-los a ter responsabilidade perante a vida, rejeitando sobretudo os pecados graves. Uma das maiores heresias de nossos tempos consiste em afirmar que a bondade divina jamais condenaria alguma alma ao inferno. Todavia, o magistério constante da Igreja e as Sagradas Escrituras são claros em sustentar quão horroroso aos olhos de Deus é o pecado, castigado inclusive com morte e fogo, com choro e ranger de dentes (Jo 15, 5-6; Lc 13, 22-24.28).

Nossa morte está intimamente ligada com nossa vida, não apenas por ela ser a porta para a eternidade, mas também para que vivamos longe das mentiras e falsas promessas de sucesso. Qualis vita, finis ita, “Qual vida, tal morte”, dizem os mestres espirituais. A origem do pecado remonta precisamente em procurar no mundo uma felicidade que ele não pode oferecer. Em verdade, reconhecer a Cristo como Rei da morte significa necessariamente que O tenhamos reconhecido primeiramente como Senhor de todos os aspectos da existência.

As reflexões de ontem sobre o sofrimento demonstraram a insensatez de se pensar constantemente no corpo e esquecer da alma. Quem peca experimentará, cedo ou tarde, frustação e tristeza – e, à diferença do justo, não terá seu fardo aliviado pela consciência de carregar a própria cruz humildemente com alegria e amor.

Neste ponto não existe “meio-termo”, já que é impossível servir a dois senhores: só há dois lugares possíveis para passarmos nossa eternidade. A fidelidade a nosso Rei é medida a partir dos bons frutos, pois é estéril a vida de quem enterra seus talentos e não faz brilhar a sua luz diante dos homens. A morte é somente o começo de toda a eternidade, é durante as poucas décadas na terra em que se demonstra fidelidade ou rejeição a Cristo para sempre.

Tudo depende do seguinte questionamento: “como vivi e em que estado morri”. Assim, o cristão não teme a morte e, mais ainda, a espera feliz e confiante nas palavras de Cristo de que ressuscitará os que creram Nele. Por isso, não devemos medir esforços para fazer com que os indivíduos e a sociedade retornem a Cristo, permitindo que entendam a palavra de Deus e seus mandamentos – pois quanto mais o conhecerem, mais o amarão.

Entretanto, a humanidade não reconhece as verdades contidas nos ensinamentos de Nosso Senhor. Pior que isso, nossa sociedade hoje prega a transgressão inclusive contra as mais básicas leis naturais, dando cada vez mais velas à vontade tresloucada de tomar o papel do Criador.

A consequência não poderia ser outra senão a propagação de uma cultura da morte, em que filhos são assassinados no ventre de suas jovens mães e, posteriormente, depois de exaurido o relógio biológico, são novamente descartados como subprodutos das fertilizações in vitro. Os que conseguem chegar à vida são então bombardeados por ideologias iníquas, as quais almejam incutir em suas mentes inexperientes pensamentos opostos à lei imutável e eterna de Deus, elevando a infelicidade geral e até os suicídios.

Ainda que as proporções dessas mazelas sejam elevadas, o remédio para reconduzir a sociedade à vida é muito simples: reconhecer a Cristo como Rei da família, da juventude, da mulher, dos que sofrem, da morte e de todos os aspectos da criação. São necessárias hoje grandes virtudes para combater as tentações e guardar a fé – mas as meditações que vimos fazendo nos apontam algo do caminho. Cristo é meu Rei, e para que também eu reine sobre a morte, não posso transgredir os Mandamentos, devo guardar puro o corpo e o coração, dizer sempre a verdade, obedecer aos pais e superiores, olhar o mundo à luz de sua doutrina e, por fim, orar muito para a conversão dos pecadores e salvação das almas.

ORAÇÃO

Ó gloriosíssimo Cristo Rei, que para a redenção da humanidade vencestes a morte, ajudai-nos também a nós a vencê-la, perseverando no caminho da vida e na rejeição ao pecado.

Que no mundo inteiro frutifiquem homens e mulheres que sejam sal da terra e luz do mundo, que com suas boas obras iluminem o caminho daqueles que permanecem nas trevas.

Dai-nos um coração manso e humilde como o Vosso, a fim de que aprendamos convosco o caminho que leva ao Pai e à salvação.

Sede nosso refúgio nas tribulações, e não abandoneis os que Vos procuram e Vos anunciam às nações.

Que sejamos misericordiosos e saibamos amar a justiça, a fim de que não temamos o julgamento e que a morte nos seja a porta de entrada para a pátria eterna no Céu. Amém.

Senhor Jesus Cristo, Rei da morte,
Tende piedade de nós.

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9º dia – CRISTO, REI DA GLÓRIA

Levantai-vos, soldados de Cristo!
Eia! Avante, na senda da glória!
Desfraldai no pendão da vitória
O imortal coração de Jesus!

Não nascemos senão para a luta.
Da batalha amplo campo é a terra.
É renhida e constante esta guerra:
Apanágio dos filhos de Adão!

Não é preciso ser muito perspicaz para perceber que, no Brasil e em todo o Ocidente, a coesão do tecido social vem sendo cada vez mais esgarçada: a insegurança pública e a brutalidade nem nos causam mais espanto; os conflitos entre correntes políticas e ideológicas vão se acirrando e distanciando até mesmo antigos amigos e parentes… Parece que a única coisa em que conseguimos concordar é que temos tido cada vez mais conflitos, e cada vez menos paz.

Em certo sentido, nada disto é surpresa para nós cristãos: sabemos que a vida do homem sobre a terra é uma luta (Jó 7, 1), e que, por causa do pecado, que sujeitou a criação inteira à vaidade, e a faz gemer continuamente como que em dores de parto (Rm 8, 20.33), a nossa sorte é comer o pão suado do trabalho, e alimentar-nos com sofrimento todos os dias de nossa vida (Gn 3, 17.19). Mas Cristo não veio justamente para nos libertar desta encruzilhada? Sim veio, e de fato nos abriu as portas do Céu com sua Morte e Ressurreição – mas só atravessaremos esta porta se passarmos pelo mesmo processo que ele passou.

Acaso ignorais que todos nós, batizados no Cristo Jesus, é na sua morte que fomos batizados? (cf Rm 6, 3-6). Ele mesmo nos adverte severamente: o Reino dos Céus é arrebatado à força, e são os violentos que o conquistam (Mt 11, 12).
Mas que força e que violência é esta que Cristo nos pede? Que combate é esse ao qual somos conclamados, e que morte é essa pela qual devemos passar? Se não tivermos verdadeira fé sobrenatural em Deus, corremos o risco de encarar esta luta de um ponto de vista excessivamente humano: uma mera “cruzada cultural” contra organizações sociais e instituições políticas contrárias aos valores cristãos… Mas lembremos do que nos diz São Paulo: a nossa luta não é contra o sangue e a carne, mas contra (…) os espíritos malignos espalhados pelo espaço (Ef 6, 12).

Ideologias e sistemas políticos anticristãos, recessões econômicas, desastres ambientais, fomes e epidemias: são certamente realidades dolorosas – mas que, em última análise, não passam de males deste mundo, sem nenhuma relevância diante da vida eterna. São John Henry Newman expressou esta ideia com toda veemência ao dizer que “A Igreja Católica afirma que, se o sol e a lua se precipitassem do firmamento, e a terra se afundasse, e os muitos milhões que a povoam morressem de inanição em extrema agonia, tudo isso, que causaria males temporais, tudo isso seria um mal menos grave do que o de uma única alma que não só se perdesse, mas cometesse um único pecado leve, dissesse deliberadamente uma mentira ou roubasse sem motivo uma
moeda de cinquenta centavos”.

Trata-se, portanto, de um combate espiritual – e por isso nossos “exercícios militares” devem também ser de natureza espiritual. Seguindo ainda o conselho de São Paulo, precisamos fortalecer-nos no Senhor, no poder de sua força, e revestir-nos com a armadura de Deus, a fim de que possamos resistir no dia mau, e permanecer firmes depois de terdes superado toda prova (Ef 6, 10.13).

Em primeiríssimo lugar, precisamos conservar sempre o nosso estado de graça, esta vida sobrenatural que Deus infunde em seus amigos. Mas para isto não basta “ir à Missa aos domingos e contribuir com o dízimo” – é preciso aceitar e viver, na vida de cada dia, todos os mandamentos de Cristo e da Igreja. Essa postura, que vemos às vezes, de quem diz “Sou católico, mas não concordo com tal ou qual ensinamento da Igreja” faz tanto sentido quanto “ser palmeirense, mas torcer pra que o Corinthians vença o Palmeiras na final do campeonato”, ou vice-versa. E quando nos faltarem as forças para viver à altura do Evangelho, recorramos apressadamente à Confissão. Se estudarmos a vida dos santos, vemos que todos tinham o hábito de se confessar com frequência: a cada mês, a cada quinzena, ou mesmo a cada semana… Será que nós somos tão mais santos que eles, que nos basta recorrer ao santo perdão uma vez só por ano, nos mutirões de Páscoa?

Se já estamos em estado de graça, se já saímos do “risco de vida”, o próximo passo é exercitar nossa vida interior. Temos que reservar, todos os dias, um tempo generoso de conversa íntimo com Deus; temos de rezar o terço devotamente (como nos pediu tantas vezes Maria Santíssima!); e comungar com frequência – se possível, inclusive durante a semana. Precisamos, por fim, estudar nossa religião, conhecer nossa doutrina, e estar sempre prontos a dar a razão de nossa esperança a todo aquele que a pedir (1 Pd 3, 15).

Lembremos sempre que o que está em jogo neste combate é a salvação eterna de bilhões e bilhões de almas – inclusive a minha e a sua! Como dizia Léon Bloy, só existe uma verdadeira tristeza: a de não sermos Santos – ou, olhando pelo lado positivo da moeda: Não há nada melhor no mundo do que estar em graça de Deus.

Em certo sentido, nossa época lembra um pouco o período final do Império Romano, em que aquela grandiosa civilização, outrora pujante, bambeava e ameaçava ruir ao chão, pelo crescente cinismo e rejeição dos valores tradicionais. Antes mesmo da efetiva queda de Roma ante os bárbaros, os homens mais sábios, como um Santo Agostinho, entreviam a ruína iminente – e indicavam a saída: ‘Os tempos estão ruins, estão cheios de problemas!’ – dizem os homens. Ora, passemos nós a viver bem, e os tempos serão bons. Nós somos os tempos: da forma com que nós vivermos, assim serão os tempos. A saída para estas nossas crises sociais – no Brasil e em todo o Ocidente – começa, portanto, pela santidade pessoal.

Esforcemo-nos, então, para sermos os santos de que tanto precisamos: santos pais e mães de família, santos professores e médicos, santos políticos e sacerdotes, santos trabalhadores e empreendedores, santos formadores de opinião e influenciadores: que empenhem sua vida e sua honra para defender a vida, desde seu início até seu fim natural, que promovam a honestidade na vida pública e privada, que lutem pela dignidade humana e contra todo tipo de miséria, material como espiritual. “Um segredo. – Um segredo em voz alta: estas crises mundiais são crises de santos.Deus quer um punhado de homens ‘seus’ em cada atividade humana. – Depois… ‘pax Christi in regno Christi’ – a paz de Cristo no reino de Cristo”.

ORAÇÃO

Ó potentíssimo Cristo Rei, que com o Pai e o Espírito Santo criastes no princípio o mundo e depois o recriastes na redenção, e não cessais de renová-lo em vossa amorosa Providência, ajudai-nos a estar despertos para a luta espiritual que travamos neste vale de lágrimas.

Vós, que na aparente derrota da Cruz vencestes o Maligno e anunciastes a paz ao mundo, livrai-nos do desespero e do vão temor, e ajudai-nos a empenharmo-nos com perseverança no combate que nos é proposto, com os olhos fixos em Vós.

Dai-nos alcançar a herança incorruptível, que não estraga, que não se mancha nem murcha, e que é reservada para nós nos céus, para ser manifestada nos últimos tempos. Amém.

Senhor Jesus Cristo, Rei da Glória
Tende piedade de nós.

👉 Ladainha (clique aqui)

Fonte: pocketterco.com.br

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