Tornou-se muito comum católicos desmerecerem as práticas penitenciais recomendadas para a quaresma. Logo dizem: “Fazer penitência é besteira, o jejum mais importante é o da língua!”
Será mesmo? Assista esta importante formação e descubra qual o ensinamento da Igreja acerca disso, para saber responder quando alguém vier com essa bobagem de jejum da língua…
Já adiantamos que, não fazer fofoca, ser humilde e ajudar o próximo é nossa obrigação! Não é penitência! Penitência é algo que não é pecado fazer e que você gosta de fazer mas, que livremente você renuncia para se disciplinar, reparar os seus pecados e se fortalecer espiritualmente! Nós temos que fazer jejum, abstinência e penitência SIM na Quaresma!
Antes de continuar a leitura, assista a formação:
Como viver bem o tempo da Quaresma?
Quando o mundo desperta no dia seguinte ao Carnaval, é Quarta-feira de Cinzas. Para os mundanos e pagãos, trata-se de mais um dia como qualquer outro. Para nós, católicos, porém, inicia-se um tempo forte de oração e penitência: o tempo da Quaresma.
A Igreja, mãe e mestra dos homens, tem o dever de ensinar-lhes o caminho da santidade. Por isso, ela possui toda uma pedagogia, com métodos e programas de ensino, que movem o coração do homem na direção do Céu.
A Quaresma faz parte dessa pedagogia como um tempo especial dedicado a um combate mais denso contra as nossas tendências pecaminosas. Não se trata, portanto, de um período em que a Igreja simplesmente se veste de roxo, mas de um kairós, ou seja, um tempo oportuno para nossa conversão.
Para viver bem esse período, o homem deve conhecer o seu fundo mau e reconhecer-se necessitado da graça divina. O tempo da Quaresma é esse tempo em que o homem passa quarenta dias meditando sobre a Paixão de Nosso Senhor, a fim de afastar-se do homem velho e, na Páscoa, ressurgir como um homem novo. Afinal, o que a Igreja deseja não é somente a nossa libertação do pecado, mas a nossa santificação e configuração a Cristo; ela quer, portanto, a nossa conversão mais profunda — uma espécie de segunda decolagem, por assim dizer —, que retira o cristão da lógica do mundanismo.
Na Quaresma, a Igreja nos exorta a praticar a esmola, o jejum e, sobretudo, a oração, como descrito no Sermão da Montanha (cf. Mt 6). Essas três práticas servem para “matar” o homem velho dentro de nós e abrir o nosso coração à graça santificante. Elas desligam o motor do pecado — isto é, aquilo que São João chama de concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida (cf. 1Jo 2, 16) — e dispõem as nossas almas a serem movidas pelo amor de Deus. O jejum mortifica a concupiscência da carne, a esmola mortifica a concupiscência dos olhos e a oração mortifica a soberba da vida.
Tudo que há no mundo é a concupiscência da carne. Essa carne de que fala São João não é bem o nosso corpo, mas aquela inclinação da alma a querer os prazeres ilícitos da criatura. A alma humana, quando dominada pelo pecado, vive uma desordem. Ela deixa de governar a vida do homem para submeter-se às paixões carnais. Por isso ela recebe o nome de “carne”.
O jejum serve justamente para moderar essa fuga da dor e busca pelo prazer, ordenando o nosso espírito, de modo que a alma domine sobre as paixões e não o contrário. Assim, privar-se de coisas agradáveis como doces, refrigerantes e o consumo de carne (brancas e vermelhas, atenção) é algo bastante recomendável.
A concupiscência dos olhos. O homem é a única criatura de Deus que possui uma sede de conhecimento, esse desejo que move o nosso olhar para tudo que seja “belo” e “interessante” às vistas. Por exemplo, nenhum outro animal é capaz de passar o dia inteiro no Facebook, ou mudando de canal, ou passeando no shopping sem comprar nada, como faz o ser humano.
O homem nasceu para conhecer a verdade. Porém, o pecado original causou uma desordem no seu interesse pelas coisas, de modo que as pessoas se perdem na curiosidade malsã. Daí a necessidade da esmola como exercício de desapego e abnegação.
A soberba da vida. O pecado original maculou o ser humano com o vício diabólico do orgulho, essa atitude de achar-se suficiente e dizer “eu me basto”. Na história da Igreja, esse vício se espalhou por heresias como o pelagianismo e o semipelagianismo, que pregavam a ideia de uma santificação sem a necessidade da graça de Deus, mas apenas por méritos humanos.
O método mais eficaz para combater o orgulho é a oração. Colocando-se de joelhos diante de Deus, o homem reconhece a sua debilidade e incapacidade para todo bem, qual um mendigo na soleira da porta de Deus. Isso abre o nosso coração para o dom da caridade, para a verdadeira esperança, que reside apenas em Deus, pois Ele é que vai nos capacitar a amar e santificar os nossos irmãos. De resto, o homem desespera-se de si mesmo para esperar apenas na providência divina.
Uma prática bastante recomendável para o tempo da Quaresma é a participação diária à Santa Missa, com Comunhões bem feitas, e a frequência à Confissão. Nessa dinâmica, a nossa alma vai se identificando mais depressa à vontade do Divino Mestre, que toca o nosso corpo e a nossa alma por meio dos sacramentos. Com essa força, tornamo-nos mais resistentes às tentações, às concupiscências da carne e dos olhos e à soberba da vida.
Não podemos nos esquecer ainda que o tempo da Quaresma é também o tempo de Nossa Senhora, a mulher do Apocalipse que se retirou para o deserto, a fim de vencer o dragão, a serpente maligna que pretendia devorar seu Filho. Peçamos, pois, o auxílio da Mãe Divina e vivamos esses quarenta dias na expectativa de novos céus e nova terra, no dia da ressurreição.
Formas de penitência e suas razões
Numa sociedade que cria os seus filhos sem limites e como “crianças mimadas”, fica realmente muito difícil entender o porquê de se fazer penitência. Neste vídeo, Pe. Paulo Ricardo fala sobre as formas de mortificação e explica como podemos educar o nosso corpo para crescermos na vida em Deus.
O corpo humano pode ser comparado a uma criança mimada, aquela que deseja ter todas as suas vontades satisfeitas e, mesmo que isso ocorra, ela ainda é irritadiça, preguiçosa e indolente. Assim é o ser humano, assim é o corpo humano.
Quanto mais come, mais letárgico fica; quanto mais dorme, mais sono tem; e assim por diante. Trata-se da primeira consequência do pecado original, da mãe de todas as doenças: a filáucia, que pode ser definida como o amor de si contra si e cujo lema é “foge da dor, busca o prazer”.
Esse lema está muito presente na sociedade moderna, que incentiva a busca desenfreada pelo prazer, pela satisfação de todos os desejos, representado pela “liberdade”. Enquanto isso, o ser humano se torna cada vez mais vazio e menos resistente à dor. Não suporta ser contrariado e se desestrutura quando perde algo ou alguém. Pudera, não foi ensinado a isso, não exercitou a moderação, não praticou a ascese e a disciplina.
O tempo da Quaresma está chegando. A Igreja ensina e estimula o católico a praticar o jejum, a oração e a esmola. Essas três formas de penitência são um remédio para o combate das doenças espirituais, sendo que o jejum auxilia no combate à gula, a oração no combate ao orgulho e à soberba, e a esmola no combate à avareza. São exercícios que, se feitos com seriedade, têm a capacidade de arrancar o cristão católico das garras do relativismo que domina o mundo atualmente.
Assista também:
Como o cristão de hoje deve se mortificar?
A mortificação é um elemento tão necessário à vida cristã, que quem não quiser renunciar a si mesmo jamais poderá ser santo. Mas quais são, no fim das contas, as formas de mortificação mais adequadas para os dias de hoje?
A direção espiritual de hoje é dedicada ao tema das mortificações. O problema aqui tratado, de modo mais particular, consiste em saber quais são as formas de mortificação mais adequadas aos tempos e às condições em que vivemos atualmente. Porque se é verdade, por um lado, que a mortificação é parte integrante da vida cristã e, portanto, um elemento indispensável a quem almeja chegar à perfeição no amor, nem por isso devemos afirmar, por outro, que todas as práticas penitenciais do passado sejam oportunas e convenientes ao cristão de hoje. Os tempos mudam e, com eles, os critérios do que é ou não confortável e incômodo, fácil e difícil, agradável e custoso tendem também a passar por sensíveis variações.
Seja como for, é importante ter sempre em mente que a mortificação ativa, em suas diversas manifestações, é, sim, uma necessidade, não só para repararmos os muitos pecados com que ofendemos a Deus, mas ainda para a nossa própria purificação e santificação. Precisamos mortificar-nos, no corpo e no espírito, a fim de pormos em ordem nossos afetos e dirigirmos nossa vida ao seu único e último fim: a glória a Deus. Por isso, o motivo principal da nossa mortificação não deve ser outro senão dispor o nosso coração, matando nele o que há de egoísmo e apego às criaturas, para amar o verdadeiro Amor.
Pois bem, feitas essas considerações iniciais, podemos encontrar em ninguém menos que S. Teresinha do Menino Jesus um guia mais do que confiável para saber como e em que medida devemos mortificar-nos. S. Teresinha, com efeito, foi um grande mensageiro enviado pelo Espírito Santo para iluminar os fiéis dos tempos modernos. E isso, antes de tudo, devido à sua profunda compreensão do espírito de ascese de S. João da Cruz. Para ela, assim como para o Doutor Místico, as mortificações extraordinárias, embora possam ter o seu valor, tendem muitas vezes a converter-se num caminho para o pior dos orgulhos, o orgulho espiritual de crer-se e sentir-se mais santo e virtuoso, e isto à custa das próprias forças e flagelos.
Daí que o principal vício que temos de combater não é tanto a gula ou a preguiça quanto esta soberba, que nos nossos dias se expressa como uma revolta sobranceira da inteligência e da razão. Com Lutero surge a pretensão do livre exame, em que cada um é para si mesmo palavra final e infalível; com o Iluminismo, do outro lado, deifica-se a razão humana e se lhe presta um culto que é a marca da nossa civilização laicista. É preciso, pois, ir direito ao pecado deste século — o orgulho da inteligência, virada de costas para Deus —, combatendo-o com humildade de espírito e coração.
Isso significa que, mais do que em praticar mortificações ativas, a nossa vida espiritual deve estar centrada em aceitar as mortificações passivas que Deus quiser-nos enviar. Não se trata, como é óbvio, de renunciar por completo à purificação dos sentidos e das potências da alma mediante privações justas e razoáveis, moderando os apetites, sabendo negar o que mais agrada ao paladar etc. Trata-se, isso sim, de uma infância espiritual, ou seja, da perfeita abnegação de si mesmo, inclusive nos menores e mais “insignificantes” detalhes de vida diária.
A nossa mortificação, nesse sentido, consistirá sobretudo em vencer-se a si mesmo e suportar, com ânimo resignado e docemente entregue à vontade divina, as dificuldades do dia-a-dia, as calúnias e detrações, as injustiças que nos atingem somente a nós, as humilhações e vexações que nos expõem a ridículo etc. Consistirá, noutras palavras, em querer ser esquecido e desprezado por amor a Nosso Senhor Jesus Cristo: Pati et contemni pro Te. Será uma renúncia diária, descoberta apenas aos olhos do Pai, em que os sofrimentos involuntários se veem como uma visita amorosa de Deus. Será, enfim, um martírio continuado, às “alfinetadas”, pois quem não quer vencer o orgulho que lateja dentro de si, pela abnegação dos próprios caprichos e critérios, jamais se santificará, por maiores que sejam as mortificações ativas com que sulque a própria carne.