Uma avalanche de sacerdotes mal formados e celebrações com abusos litúrgicos graves faz com que cada vez mais leigos questionem se a Missa que participaram foi valida e se Jesus estava mesmo presente na hóstia consagrada. Mas, afinal, o que pode invalidar uma Santa Missa?
Antes de continuar a leitura, assista essa explicação resumida do professor Raphael Tonon:
Para que uma Missa seja válida, a Consagração do pão e do vinho deve ser realizada nela; é por isso que uma Liturgia da Palavra não é uma Missa, porque embora tenha sido celebrada por um Sacerdote, a parte essencial da Missa que é a Consagração não é realizada.
Para que a Consagração seja válida (e consequentemente a Missa também), são necessários os seguintes requisitos:
* Que o Sacerdote esteja validamente Ordenado.
* Que o Sacerdote pronuncie a fórmula da Consagração tal como aparece nos livros Litúrgicos aprovados pela Santa Sé e pela Conferência Episcopal de cada país.
* Que o Sacerdote celebrante tenha a intenção de Consagrar o pão e o vinho, para que assim se transformem no Corpo e no Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.
* Que para a preparação do Sacramento se use a matéria prescrita para o mesmo: pão ázimo de trigo e vinho de videira.
Examinemos agora cada um desses quatro pontos…
1.- Que o Sacerdote esteja validamente Ordenado.
Uma vez que a Missa só pode ser celebrada por um homem que tenha recebido o Sacramento da Ordem no grau do Presbiterado ou superior, presume-se que cada Sacerdote que tem um cargo paroquial numa Diocese, é ordenado de maneira válida. A única dúvida que poderíamos ter seria do Bispo que o ordenou. Se o Bispo que ordenou este Sacerdote não celebrou este sacramento de acordo com os requisitos que a Igreja exige, então o Padre em questão não seria validamente ordenado e como consequência não seria um Sacerdote. Em outras palavras, as Missas e os outros Sacramentos que exigiam o Sacramento da Ordem no grau do Presbiterado, seriam nulos.
2.- Que o Sacerdote pronuncie a fórmula da Consagração tal como aparece nos livros Litúrgicos aprovados pela Santa Sé e pela Conferência Episcopal de cada país.
Se o Sacerdote celebrante muda voluntariamente, no todo ou em parte, a fórmula da Consagração, nas palavras que são consideradas essenciais para isso, a Consagração é inválida.
Se o Sacerdote celebrante mudar a fórmula da Consagração nas partes que não são essenciais, a Consagração seria válida, mas ilícita.
O Sacerdote deve respeitar com integridade todas e cada uma das palavras que aparecem no Missal aprovado pela Santa Sé, seja o Novus Ordo ou o Missal Romano Tridentino.
Quais são as palavras de Consagração do pão e do vinho?
Para a Consagração do pão: “Hoc est enim corpus meum” e as traduções dispostas pela Santa Sé. Se consideram essenciais para a validade: “Hoc est Corpus meum”.
Para a Consagração do vinho: “Hic est enim calix sanguinis mei, novi et aeterni Testamenti, mysterium fidei, qui por vobis e pro multis effundetur in remissionem peccatorum” e as traduções dispostas pela Santa Sé. Se consideram essenciais para a validade: “His est calix sanguinis mei”.
Não é permitido adicionar ou omitir qualquer uma das palavras desta forma Sacramental dupla sem se tornar culpado de pecado grave, a não ser por distração involuntária ou inadvertida. E se a mudança fosse feita nas palavras essenciais para a Consagração, não haveria Consagração e, como consequência, também não haveria Missa.
3.- Que o Sacerdote celebrante tenha a intenção de Consagrar o pão e o vinho, para que assim se transformem no Corpo e no Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Se o Sacerdote não tem intenção de Consagrar, – tal como a Igreja entende esse termo, e lhe dá outro diferente-, a Consagração seria inválida.
Este pode ser o ponto mais difícil de comprovar objetivamente. Como podemos saber se o Sacerdote tem realmente intenção de Consagrar? Dada a dificuldade de conhecer isso objetivamente, porque a “intenção” é algo “interno”, perguntei a um Sacerdote experimentado e santo se havia alguma maneira de saber com certeza. Ele me respondeu que pode-se supor que ele tem intenção de consagrar quando:
Se sabe que ele é um Sacerdote com Fé.
Acredite na Eucaristia e nos outros Sacramentos e Dogmas da Igreja.
Celebre a Missa com respeito, devoção e seguindo as rubricas como diz a Igreja.
Sua pregação é profunda e sobrenatural.
Na sua pregação e na sua catequese, ele fala do respeito pela Eucaristia, da necessidade de recebê-la em um estado de graça santificadora e de confessar antes da sua recepção se houvesse um pecado grave.
• Ele é respeitoso com o Sacramento da Eucaristia: se ajoelha diante do Santíssimo exposto, quando passa em frente Dele ou depois de fazer a elevação do mesmo na Santa Missa.
· Purifica cuidadosamente os Vasos Sagrados e purifica os dedos depois de distribuir a Sagrada Comunhão.
· Não usa os ministros extraordinários da Eucaristia se não houver necessidade.
· Outros sinais externos: usa a veste talar, usa os Ornamentos Litúrgicos estabelecidos para a Celebração da Santa Missa.
A presença de todos ou a maioria desses “sinais” nos fala em favor da intenção de Consagrar. A ausência da maioria desses sinais falaria contra sua intenção; então provavelmente não haveria consagração, nem seria Missa.
O que um fiel deve fazer quando acredita que um Sacerdote que celebra a Santa Missa não tem intenção de Consagrar?
Em primeiro lugar, se possível, manifeste-o ao próprio Sacerdote para verificar se é a imaginação de alguém ou se há realmente um problema em segundo plano. Se este primeiro passo não for possível, então deveria ser manifestado ao seu Bispo, para que ele pudesse fazer as comprovações necessárias. Independentemente disso, se tal situação acontecesse comigo, desde que tudo estivesse claro, eu iria buscar uma Missa em outro lugar onde eu não tivesse dúvidas sobre a validade dela.
No entanto, eu deixo você saber que, se uma pessoa assiste a Missa de boa fé, acreditando que o Sacerdote atende aos requisitos exigidos pela Igreja para a validade do Sacramento, mas não tem intenção de Consagrar, o fiel cumpriria o preceito dominical, embora ele não recebesse a Sagrada Comunhão, mas um pedaço de pão.
Outra coisa totalmente diferente é quando o Sacerdote celebrante atende a todos os requisitos para a celebração da Santa Missa, mas ele pessoalmente está em pecado mortal e podendo se confessar não o fez por negligência. A Missa seria válida, embora o Sacerdote cometeria um sacrilégio por celebrá-la em pecado mortal.
4.- Que para a preparação do Sacramento se use a matéria prescrita para o mesmo: pão ázimo de trigo e vinho de videira.
É cada vez mais frequente ouvir que, em tal Igreja, celebram a Missa com bolachas Maria, ou que em vez de vinho, o fazem com Coca-Cola …
A única matéria que o Sacerdote pode usar na Celebração da Santa Missa para a preparação do Sacramento da Eucaristia é: pão ázimo de trigo (no Rito Romano) e vinho da videira. Se o pão que é usado é de trigo, mas não sem fermento, a Consagração seria válida (no que diz respeito à matéria do mesmo), mas ilícita. Qualquer outro produto que usem que não sejam pão de trigo e vinho da videira, faz com que não haja Consagração e, como consequência, que a Missa seja inválida e, além disso, sacrílega.
A Missa é a Missa, “seja lá como for”?
Sim, a Sagrada Eucaristia é sempre a Sagrada Eucaristia, mas e nós? Estamos nos acercando deste augusto mistério com a reverência, o temor, a concentração e a efusão de beleza devidas ao Santíssimo Sacramento?
É comum que os católicos amantes da liturgia tradicional — ou que pelo menos desejam ver a moderna celebrada em clara continuidade com a precedente — ouçam de algumas pessoas algo parecido com isto:
Você está fazendo muito caso de coisas marginais. Não importa a forma ou o estilo, é a mesma Eucaristia, não? No latim ou em língua vernácula, Tridentina ou Novus Ordo, cantada ou rezada, em um auditório na América ou em uma catedral na Europa, a Eucaristia ainda está presente, e ainda somos alimentados por ela. Comparado a isso, nada mais realmente importa, não acha? O resto é acidental, externo, discutível, mutável. Na verdade, alguém que se prende a cerimônias, rubricas, cantos e por aí vai, só demonstra estar alheio ao que é essencial. Afinal de contas, seja como for, a Missa é a Missa.
O problema com essa forma de pensar é que ela subestima radicalmente quer a influência que tem sobre aquilo em que cremos o modo como adoramos (lex orandi, lex credendi), quer a disposição em que nos é capaz de colocar para receber Nosso Senhor um espírito correto de adoração e humildade. Ela reflete a antropologia materialista moderna onde nada importa a não ser “finalizar o trabalho”; se ele é feito de maneira nobre ou medíocre parece não fazer a mínima importância. Ela demonstra, ainda, uma incrível ingenuidade quanto à sutil interseção da economia sacramental com a psicologia humana. E representa, por fim, uma ruptura com vinte séculos de pensamento e prática católicas.
Sim, a Sagrada Eucaristia é sempre a Sagrada Eucaristia, mas e nós? Estamos nos acercando deste augusto mistério com a reverência silenciosa, o temor vivo de Deus, a solene concentração e a generosa efusão de beleza que são devidas ao Sanctissimum? E se não estamos, por que não o fazemos? O que isso diz a respeito da pureza da nossa fé e do ardor da nossa caridade? Teriam os sagrados mistérios cessado de nos impressionar, de nos encher de admiração, de nos colocar de joelhos, de requerer o melhor da nossa cultura? Com quem temos brincado — com Deus ou com nós mesmos?
A Missa é sempre a Missa no que diz respeito à confecção da Eucaristia, mas uma Missa que tem como marca a reverência e a solenidade é muito diferente para nós e para o nosso relacionamento com Deus do que uma Missa rápida e insípida, ou uma que seja longa e cheia de abusos. Na verdade, se deformamos demais os aspectos ditos “externos” da Missa, terminamos por minar nossa fé na presença real de Jesus na Eucaristia.
O Santíssimo Sacramento é o maior tesouro da Igreja, o seu dom mais precioso, o seu maior mistério, a sua maior fonte de prodígios, o seu segredo mais privilegiado. É o coração pulsante de toda a sua vida apostólica e contemplativa. E o santo sacrifício da Missa é o único meio através do qual esse dom chega até nós, renovado para cada geração de discípulos. Desonre a Santa Missa ou abuse dela, faça-a parecer menos bela e misteriosa do que ela é, e você estará tirando a honra e abusando de ninguém menos que Aquele que vem até nós, e só através dela; você estará deformando a fé e os fiéis.
Se deformamos demais os aspectos ditos “externos” da Missa, terminamos por minar nossa fé na presença real de Jesus na Eucaristia.
A música sacra é a veste da palavra — e que bela veste ela deve ser, para ser digna dessa divina pronúncia! O templo é o lugar em que Nosso Senhor eucarístico vem fazer sua morada: Emanuel, Deus conosco. Também ele deve parecer o que de fato é, sem lugar a confusões. Paramentos, objetos, ações rituais — em suma, tudo o que diz respeito à ação litúrgica — devem ser como o Corpo e o Sangue de Cristo: santo, sagrado, separado. Tudo o que não é o Senhor deve ser o seu trono visível, o seu domínio sagrado, belo, solene e admirável, a fim de que tomemos consciência: estamos recebendo nosso Rei quando Ele vem ao seu Reino.
Por isso, na próxima vez que alguém lhe disser: “A Missa é a Missa, seja lá como for”, considere responder assim: “Jesus não é só Jesus, Ele é o Filho de Deus, o Rei de todas as coisas, o Juiz dos vivos e mortos; e a Missa não é só a Missa, ela é o santo sacrifício do Calvário presente de novo em nosso meio. E assim como qualquer pessoa sã cairia de joelhos diante de Jesus e daria a Ele o melhor possível de si, nós todos devemos fazer o mesmo com o santo sacrifício da Missa, durante o qual nós verdadeiramente nos prostramos diante do Senhor do céu e da terra — e isso é o mínimo que se deve exigir de todo sacerdote e leigo católico que ousar colocar os seus pés em uma igreja”.