Categorias
Formação

DE ONDE VEM O “MITO DO PATRIARCADO”?

FacebookWhatsAppTwitterEmailCopy LinkShare

Por Padre José Eduardo

Uma das características da modernidade foi a utilização da razão como instrumento para compreender todos os fenômenos humanos. Ainda que limitada e, de certo modo, enclausurada em si mesma, a razão pôde atingir admiráveis progressos, especialmente tecnológicos. O período que estamos vivendo, denominado por muitos como pós-modernidade, caracteriza-se por uma desconfiança excessiva da razão, por um completo ceticismo em que haja uma realidade concreta e pela convicção de que tudo que existe é resultado de construtos político-discursivos.

É nesse contexto que ganhou corpo uma ideologia que eu denominaria como “mito do patriarcado”, que postula a existência de uma entidade maléfica que dirige todos os fios da arte, da cultura e da linguagem, os comportamentos individuais e inclusive a identidade das pessoas com o único objetivo de oprimir e matar as mulheres e os grupos que se escondem por detrás da diversidade sexual.

Segundo essa crença (porque se trata disso, de uma crença), todas as violências são “violências de gênero”, estruturais – com o que se tira muito da responsabilidade individual e se a transfere para a esfera do impessoal –, e o único modo de vencê-las é desconstruindo-nos a nós mesmos e, para isso, abrirmos mão do pensamento crítico e abraçarmos o credo no patriarcado. Troca-se a culpa individual pela coletiva.

Vemos essa “profissão de fé” sendo ensinada piedosamente em todas as cátedras de humanas no mundo inteiro, impondo-se-a coercitivamente, com os meios mais violentos possíveis, através de legislações e do sistema judiciário. De fato, a humanidade está entrando numa espécie de neo-obscurantismo que criminaliza toda crítica e toda dúvida como discurso de ódio. Para vencer o “patriarcado” usa-se dos mecanismos mais autoritários e repressivos.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O fanatismo das superstições de gênero nos leva a praticar rituais esotéricos absurdos, como falar de maneira estranha, cheia de escusas para que não nos chamem de “patriarcais”, enquanto vão sendo destruídas conquistas que foram adquiridas a grandes custas, como a liberdade de expressão, a igualdade perante a lei, a presunção de inocência, o ônus da prova, a liberdade de pensamento etc.

Mas, de onde surgiu este mito?

  1. ANTECEDENTES HISTÓRICOS: Marx e Engels

Toda a mitologia que reputa ao homem-macho a culpa de todos os crimes de todos os tempos tem a sua raiz no livro A origem da família, da propriedade privada e do Estado, publicado por Engels, o qual diz em seu prefácio: “os capítulos a seguir constituem, de certo modo, a execução de um testamento. Ninguém menos que Karl Marx havia reservado para si a tarefa de expor os resultados das pesquisas de Morgan em conexão com os resultados da sua – e, em certa medida, posso dizer nossa – investigação materialista da história e, desse modo, evidenciar toda a sua importância” (Engels, F, A origem da família, da propriedade privada e do Estado, Escala, São Paulo: s/d, p. 13).

Marx se inspirou nos trabalhos do antropólogo americano Lewis Henry Morgan, que fez um trabalho de análise de tribos indígenas iorquinas e havaianas e deduziu terem existido estratificações familiares mais rudimentares que teriam sido essencialmente mais promíscuas, quanto mais se retrocedesse no tempo. Todo o trabalho de Marx foi ampliar o alcance das deduções de Morgan (não demonstradas) e aplicá-las à humanidade como um todo (pura excogitação). O próprio Marx-Engels o confessa, quando diz “aquele estado social primitivo, admitindo-se que tenha realmente existido, pertence a uma época tão remota que não podemos esperar encontrar provas diretas de sua existência, nem mesmo entre os fósseis sociais, nos selvagens mais atrasados” (Ibidem, p. 47).

Segundo Marx-Engels, “a monogamia não aparece na história, portanto, absolutamente, como uma reconciliação entre o homem e a mulher e, menos ainda, como a forma mais elevada de matrimônio. Pelo contrário, ela surge sob a forma de escravização de um sexo pelo outro, como proclamação de um conflito entre os sexos, ignorado, até então, na pré-história. Num velho manuscrito inédito, redigido em 1846 por Marx e por mim, encontro a seguinte frase: ‘A primeira divisão do trabalho é a que se fez entre o homem e a mulher para a procriação dos filhos’. Hoje posso acrescentar: o primeiro antagonismo de classes que apareceu na história coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre o homem e a mulher, na monogamia; e a primeira opressão de classes, com a opressão do sexo feminino pelo masculino. A monogamia foi um grande progresso histórico, mas, ao mesmo tempo, iniciou, juntamente com a escravidão e as riquezas privadas, aquele período, que dura até nossos dias, no qual cada progresso é simultaneamente um retrocesso relativo, e o bem-estar e o desenvolvimento de uns se verificam às custas da dor e da repressão de outros. É a forma celular da sociedade civilizada, na qual já podemos estudar a natureza das contradições e dos antagonismos que atingem seu pleno desenvolvimento nessa sociedade” (Ibidem, pp. 84-85).

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Falando sobre o desaparecimento do matriarcado, que, segundo ele, seria mais antigo que o patriarcado, ele diz: “De oito tribos do Missouri, seis estão regidas pela linhagem e ordem de herança masculinas, duas pelas femininas. Entre os schawnees, os miamies e os delawares adotou-se o costume de dar aos filhos um nome pertencente à gens paterna, para fazê-los passar a esta, a fim de poderem herdar de seu pai. ‘Casuística inata nos homens a de mudar as coisas mudando-lhes os nomes e achar saídas para romper com a tradição sem sair dela, sempre que um interesse direto dá o impulso suficiente para isso’ (Marx). Resultou daí uma espantosa confusão, que só podia ser remediada – e parcialmente o foi – com a passagem ao patriarcado. ‘Esta parece ser a transição mais natural’ (Marx)” (Ibidem, p. 75).

  1. A TERCEIRA ONDA DO FEMINISMO: Millet e Firestone

Enquanto o movimento político iniciado por Marx se dividia e se multiplicava, o tema do patriarcado desapareceu completamente do seu ideário. Foi apenas na década de 1970 que as feministas da terceira onda, impulsionadas também pelo existencialismo ateu, ressuscitaram as teses de Engels e as transformaram numa verdadeira ideologia política.

Em seu livro principal, Política Sexual, Kate Millet escreve qu: “a primeira fase do feminismo, que durou até 1930, terminou em reforma em vez de revolução. Para que uma revolução sexual prosseguisse teria sido necessária uma transformação social verdadeiramente radical, a alteração do matrimônio e da família como foram conhecidos através de toda a história. Sem semelhantes mudanças radicais torna-se impossível erradicar os males que derivam destas instituições e que os reformadores julgavam particularmente ofensivos. Uma revolução sexual completa necessitaria o fim da ordem patriarcal através da abolição de sua ideologia que estabelece uma socialização diferenciada dos sexos. A ideologia patriarcal era de fato erodida e o patriarcado reformado, mas a ordem patriarcal social essencial permanecia. Como a maioria das pessoas não consegue conceber outra forma de organização social, a única alternativa para a sua perpetuação parecia ser o caos. O problema não é tanto que a ordem social requer a subordinação da mulher, mas que ela requer uma estrutura familiar que envolve a subordinação da mulher. Ademais, o patriarcado é necessário para o sistema familiar.

A União Soviética realizou um esforço consciente para eliminar o patriarcado e reestruturar a sua instituição mais básica, a família. Depois da revolução foram instituídas todas as leis possíveis para libertar os indivíduos das exigências da família: matrimônio livre e divórcio, contracepção e aborto a pedido. Mais do que tudo, as mulheres e as crianças foram libertadas do poder econômico do marido. Debaixo do sistema coletivista, a família começou a desintegrar-se segundo as próprias linhas sob as quais havia sido construída. Todas as providências legais foram tomadas para promover a igualdade política e econômica. Mas, mesmo com tudo isso, a experiência soviética falhou e foi abandonada. Nos anos trinta e quarenta a sociedade soviética voltou a assemelhar-se às sociedades patriarcais reformadas dos países ocidentais. A causa mais profunda para isto reside no fato de que, além da declaração de que a família compulsória estava extinta, a teoria Marxista falhou ao não oferecer uma base ideológica suficiente para uma revolução sexual e foi notavelmente ingênua em relação à força histórica e psicológica do patriarcado. Engels havia escrito apenas sobre a história e a economia da família patriarcal, mas não investigou os hábitos mentais nela envolvidos, e até mesmo Lenin admitiu que a revolução sexual não era adequadamente compreendida. Ninguém entendia que, embora devessem ser empreendidos todos os esforços para promover uma revolução sexual, o verdadeiro teste consistiria em mudar as atitudes. Conforme Trotsky comentou friamente: ‘Não se pode abolir a família, é necessário substituí-la’” (Millet, K. Sexual politics, University Illinois Press, Illinois: 2000, pp. 155-168).

Amiga de Millet, Shullamith Firestone parte da ideia de que “atingimos o estágio final do Patriarcado” (Firestone, Sh., A dialética do sexo, Labor do Brasil, Rio de Janeiro: 1976, p. 217) e chega a conclusões programáticas bastante interessantes, que cito aos saltos:

“1. A nutrição das crianças poderia ser assumida pela tecnologia, pois a maior parte da educação das crianças tem a ver com a manutenção das relações de poder, a internalização forçada das tradições familiares e muitos outros interesses do ego que lutam contra a felicidade da criança.

  1. Sob o socialismo, o trabalho estaria nas mãos de todos e visaríamos eliminar a dependência das mulheres e das crianças do trabalho dos homens, cada pessoa poderia escolher o seu estilo de vida à vontade, mudando-o de modo a satisfazer seus gostos, já que cada pessoa seria independente.
  2. O conceito de infância deve ser abolido, tendo as crianças plenos direitos legais, sexuais e econômicos, e não sendo as suas atividades educacionais e de trabalho diferentes das dos adultos. Durante os poucos anos de sua infância, substituímos a “paternidade” genética, psicologicamente destrutiva, pela difusão da responsabilidade entre um número maior de pessoas. A criança continuará estabelecendo relações de amor íntimas, mas, em vez de fortalecer laços estreitos com uma “mãe” e um “pai” legais, ela poderá criar esses tipos de relações com pessoas de sua própria escolha, de qualquer idade e sexo.
  3. Como não haverá nada impedindo, se a criança escolhesse se relacionar sexualmente com os adultos, mesmo que isso se desse com a sua própria mãe genética, não haveria razões a priori para ela rejeitar os seus avanços sexuais, uma vez que o tabu do incesto teria perdido valor. Os adultos poderiam voltar à sua sexualidade natural, “polimorfamente pervertida”. As relações com as crianças incluiriam o grau de sexualidade genital que elas fossem capazes de ter, a ausência de orgasmo não seria um problema. Os tabus referentes à sexualidade entre adultos e crianças e à homossexualidade desapareceriam, tanto quanto as amizades não-sexuais. Todas as relações íntimas incluiriam o relacionamento físico” (Ibidem, pp. 271-274).

3.DEOLOGIA DE GÊNERO

Valendo-se de todos os meios para o desmonte desse suposto patriarcado, as feministas radicais foram se fortalecendo intelectual e economicamente. De um lado, aproximaram-se do desconstrucionismo (Jacques Derridas) e do pós-estruturalismo (Michel Foucault), adotando uma estratégia discursiva; de outro lado, começaram a ser subsidiadas por grandes Fundações, que passaram a impulsionar o seu trabalho.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Foi assim que Judith Butler tomou o conceito de gênero inventado por John Money em seu macabro experimento e o reconfigurou a partir das filosofias mencionadas (ela mesmo o confessa em seu Undoing Gender, Routledge, New York: 2004, pp. 57-74).

Butler propõe, então, o gênero como uma “construção variável da identidade” (Problemas de gênero, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro: 2015, p. 25) e diz que “o gênero é sempre um feito, ainda que não seja obra de um sujeito tido como preexistente à obra. No desafio de repensar as categorias de gênero fora da metafísica da substância, é mister considerar a relevância da afirmação de Nietzsche, em Genealogia da moral, de que ‘não há ser por trás do fazer, do realizar e do tornar-se; o fazedor é uma mera ficção acrescentada à obra — a obra é o tudo’. Numa aplicação que o próprio Nietzsche não teria antecipado ou aprovado, nós afirmaríamos como corolário: não há identidade de gênero por trás das expressões do gênero; essa identidade é performativamente constituída pelas próprias ‘expressões’ tidas como seus resultados” (Ibidem, p. 56).

Ou seja, para acabar com o patriarcado, Butler propõe diluir a própria ideia de pessoa e transformar a identidade num devir aleatório, sem qualquer estabilidade.

No final das contas, a própria Butler reconhece que a noção de patriarcado, ao fim e ao cabo, não passa de uma invenção discursiva, ou seja, de um MITO:

“Houve ocasiões em que a teoria feminista se sentiu atraída pelo pensamento de uma origem, de um tempo anterior ao que alguns chamariam de ‘patriarcado’, capaz de oferecer uma perspectiva imaginária a partir da qual estabelecer a contingência da história da opressão das mulheres. Surgiram debates para saber se existiram culturas pré-patriarcais; se eram matriarcais ou matrilineares em sua estrutura; e se o patriarcado teve um começo e está, consequentemente, sujeito a um fim. Compreensivelmente, o ímpeto crítico por trás desse tipo de pesquisa buscava mostrar que o argumento antifeminista da inevitabilidade do patriarcado constituía uma reificação e uma naturalização de um fenômeno histórico e contingente.

Embora se pretendesse que o retorno ao estado cultural pré-patriarcal expusesse a autorreificação do patriarcado, esse esquema pré-patriarcal acabou mostrando ser outro tipo de reificação. Mais recentemente, contudo, algumas feministas desenvolveram uma crítica reflexiva de alguns construtos reificados no interior do próprio feminismo. A própria noção de ‘patriarcado’ andou ameaçando tornar-se um conceito universalizante, capaz de anular ou reduzir expressões diversas da assimetria do gênero em diferentes contextos culturais. Quando o feminismo buscou estabelecer uma relação integral com as lutas contra a opressão racial e colonialista, tornou-se cada vez mais importante resistir à estratégia epistemológica colonizadora que subordinava diferentes configurações de dominação à rubrica de uma noção transcultural de patriarcado. Enunciar a lei do patriarcado como uma estrutura repressiva e reguladora também exige uma reconsideração a partir dessa perspectiva crítica. O recurso feminista a um passado imaginário tem de ser cauteloso, pois, ao desmascarar as afirmações autorreificadoras do poder masculinista, deve evitar promover uma reificação politicamente problemática da experiência das mulheres” (Ibidem, pp. 71-72).

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
  1. INCURSÕES TEOLÓGICAS

Como todo o movimento revolucionário embarcou de cabeça no dogmatismo de gênero e na crença fanática do patriarcado, não faltaram teólogos que propusessem uma hermenêutica despatriarcalizante das Escrituras, isto é, uma leitura que desmontasse a ideia de um “Deus Pai”.

Em seu recente livro A saudade de Deus (Vozes, Petrópolis: 2020), Leonardo Boff dedica toda uma parte ao tema. Ele começa defendendo a ideia de que o feminino precede ao masculino na sexogênese (cf. Ibidem, pp. 93-98), diz que as sociedades primitivas eram matriarcais, que o ideal do homem era gerar a vida e que isso se mitificou nas divindades femininas de mil seios, atacadas pelo relato patriarcal do Gênesis, que hostilizou a mulher, a serpente (!!!), a árvore e o sexo (cf. Ibidem, pp. 99-103). Em seguida, começa a falar sobre a necessidade de se adotar uma linguagem inclusiva para falar de Deus: “Deu Pai e Mãe” ou “Pai maternal” (cf. Ibidem, pp. 109-113), para, por fim, falar sobre a sensibilidade feminina de Jesus, chegando a conjecturar uma relação carnal entre Jesus e Maria Madalena (cf. Ibidem, pp. 114-120).

A assimilação de todo esse dogmatismo no interior da teologia é o cume de todo um processo de desmonte, que agora precisa valer-se da própria Igreja para se tornar efetivo na sociedade.

  1. REFLEXÃO CRÍTICA

A leitura histórico-crítica da Escritura deu aos marxistas o material para reduzirem toda a Divina Revelação a um fenômeno da luta de classes. Como essa luta agora foi redimensionada nos cânones da revolução sexual de gênero, a Escritura, portanto, pode ser lida, pelos pós-modernos, a partir de uma hermenêutica despatriarcalizante.

Ora, o absurdo dessa pretensão não é tanto a inversão cronológica (ler o passado imaginativamente a partir do presente, como descreve Butler em livro), mas a tentativa de ignorar a realidade concreta enquanto tal: ou seja, o patriarcado é um mito!

É, em função desse mito, se quer recalcular toda a Escritura e a Dogmática. O Verbo, nesse caso, não se teria tornado propriamente homem, visto que as categorias hibridizantes do masculino e feminino, como releva Boff em seu texto, teriam sido assumidas por Cristo, interpretando-se a sua humanidade sob chave freudiana. O Verbo não se teria feito homem, mas apenas humano.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Este é o poder de um mito: ressignificar a própria realidade para impor uma ideologia. Imaginar que as sociedades pré-tecnológicas pudessem ser matricarcais é tão somente um delírio, visto que a ascensão social feminina se deu propriamente como resultado do pregresso tecnológico. Isso é um fato simples e constatável!

Quando lemos os escritos antigos, como, por exemplo, a Economia do pseudo-Aristóteles, percebemos que as relações entre homem e mulher, ao contrário do que supõe o imaginário do mito do patriarcado, eram de divisão de competências, em que a complementaridade se dava não apenas no âmbito físico-biológico-reprodutivo, mas também doméstico-executivo. A família antiga era uma estrutura forte, em que o paterfamilias e a materfamilias se comportavam com certa proporcionalidade.

Como se pode ver claramente nos textos acima, a abolição do patriarcado equivale à simples extinção da família natural, no processo de secundarização da sociedade, em que a sua estrutura primária seria completamente superada por um tipo de organização coletivista. Se isso é péssimo para as famílias, é maravilhoso para os meta-poderes econômicos cujo interesse é diluir todas as estruturas para que os indivíduos se tornem átomos soltos, impessoais e despersonalizados, como uma mão de obra pura e simples no mercado. É a troca do nome pelo algoritmo, da pessoa pela função.

As Escrituras narram um processo claramente oposto. São Paulo no-lo diz em Efésios 3,14-15, quando confessa: “dobro os meus joelhos diante do Pai, do qual procede toda paternidade no céu e na terra”. A palavra aqui traduzida por “paternidade” é a palavra grega πατριὰ, patrìa. Poder-se-ia traduzi-la também por “patriarcado”?

O fato de que Deus não seja sexuado, mas lhe convenha a atribuição do masculino, nada tem a ver com a sexualização de Deus. Na arquetipia, Deus é ato e tudo o mais é potência, capacidade de receber o ser: ora, na gramática, não havendo sempre a possibilidade de adotar-se o gênero neutro (no português, aliás, quase não existe), adota-se aquele que a língua permite e que se adapte melhor à sua expressividade: como o masculino é a parte ativa na cópula e o feminino a parte passiva, simplesmente adota-se o masculino para Deus, sabendo que ele transcende essa realidade.

A luta de classes marxista foi substituída por uma luta de tipo metafísico, que alista a militância num tipo de ideal religioso, fundamentalista e imaginário: a crença numa entidade não localizada, anônima e atemporal, o patriarcado. Enquanto isso, toda a sociedade ruma para a perda dos direitos mais fundamentais e para o surgimento de um Estado Onipotente, que controla tudo, até o nosso modo de falar.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

As classes pobres são as mais patriarcais. E isso é tão verdade que Marx mesmo os chamava de proletariado, palavra que vem de prole, filhos. Se “família” vem do latim famulus, servo, não é porque reduz todos os seus membros à servidão, mas porque, como menciona o pseudo-Aristóteles em sua Economia e Aristóteles em sua Política, essa unidade de produção fundamental é capaz de transformar até os servos em filhos, exatamente ao contrário do que faz o nosso sistema atual, que transforma os filhos em servos.

Salvar a família é a prioridade das prioridades. E todos precisamos rejeitar essas crendices e nos aferrar à norma da razão e da fé, tal como defende a Tradição da Santa Igreja Católica.

FacebookWhatsAppTwitterEmailCopy LinkShare
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Clique aqui para fazer uma doação