Jonas Marcolino Macuxí, chefe da tribo Macuxi, afirmou que a promoção do ‘primitivismo’ trouxe conflitos para a região desde a década de 1970.Edward Pentin
ROMA – Um chefe tribal da Amazônia disse em uma conferência em Roma no sábado que uma “ditadura” de trabalhadores missionários que ensinam teologia da libertação procurou impedir o desenvolvimento da região, mantendo assim os indígenas em situação de pobreza e miséria.
Jonas Marcolino Macuxí , chefe da tribo Macuxi, afirmou tal promoção do “primitivismo” (uma ideologia que tradições e costumes indígenas pré-cristãos eram largamente nobres e bons e deveriam ser conservados) trouxe conflito para a região a partir da década de 1970, desfazendo-se tudo o que missionários anteriores e povos indígenas alcançaram em termos de assimilação cultural positiva por mais de um século.
Ele também expressou preocupação de que muitos dos que aconselham o Papa no sínodo tenham essa mesma ideologia e que os indígenas convidados a participar do evento tenham sido “doutrinados a permanecer em seu estado primitivo”.
Marcolino, que era analfabeto até ter a sorte de ser educado e agora é advogado e matemático, discursou na conferência intitulada “Amazon: The Stakes”, organizada pelo Instituto Plinio Correa de Oliveira, parte do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tradição, Família e Propriedade.
Ele foi batizado como católico, mas se tornou protestante, em parte por causa do estado da Igreja Católica na região, de acordo com o Instituto Plinio Correa de Oliveira, que disse que continua “muito respeitoso com o catolicismo tradicional e sério”.
Nesta entrevista ao Register, durante um intervalo na conferência, Marcolino explica que as tribos indígenas da Amazônia continuam vivendo uma vida muito difícil, principalmente porque não podem desenvolver recursos a partir de recursos encontrados em suas próprias reservas. Ele explica como o infanticídio entre as tribos indígenas que estava terminando continua por causa da ideologia do primitivismo.
Quais são suas opiniões gerais sobre o Sínodo da Amazônia e você acredita que será positivo para a região?
Os tópicos que foram discutidos sobre a Amazônia até agora são, na minha opinião, mais negativos do que positivos, como a abordagem da questão da infraestrutura. A partir de 1980, a tendência era ver qualquer tipo de desenvolvimento na Amazônia – estradas, grandes projetos etc. – como parte dessa ideia de que o progresso é ruim.
Por que é que?
Até a década de 1980, o regime militar tinha uma visão positiva do desenvolvimento, mas, quando o regime militar terminou, havia especificamente um elemento que dizia que o progresso é ruim e que precisamos voltar.
Quanto isso tem a ver com a teologia marxista da libertação?
As doutrinas são as mesmas: para o comunismo, a propriedade privada é má; portanto, tudo o que leva ao progresso leva inevitavelmente à propriedade privada, e isso é visto como ruim. O estado de Roraima, onde eu moro, o estado mais alto próximo à Venezuela, é o único estado do Brasil ligado à rede elétrica, por isso temos muita energia hidrelétrica lá.
Na sua palestra, você se referiu ao canibalismo e ao infanticídio como parte das religiões tribais. Eles voltaram?
O canibalismo terminou, mas não a matança de crianças.
Por que isso não acabou?
Eu pensei muito sobre isso. De acordo com a religião tradicional, quando uma criança nasce com um defeito, ela é enterrada viva, e isso continua. Essas coisas estavam acabando; mas agora, com a ideia de que você precisa voltar ao primitivismo, eles permanecem. A Declaração Universal dos Direitos Humanos afirmou que todos nascem com certos direitos, e o direito à vida obviamente se aplica a uma criança com defeitos.
O teólogo da libertação dominicana brasileira Frei Betto disse recentemente sobre o Sínodo Pan-Amazônico que “temos diante de nós uma oportunidade que nos permitirá avançar. Não devemos propor a teologia da libertação. Isso assusta muitas pessoas. Precisamos conversar sobre questões socioambientais. ”Você está preocupado com isso?
Muitos dos grandes líderes indianos veem essa teologia como um nivelamento. Esses teólogos da libertação estão promovendo a idéia de que os índios que ainda vivem de maneira primitiva são muito felizes, vivem no paraíso etc., e desejam promover essa idéia para todos os outros.
Mas isso não é verdade. É falso. Nós não estamos vivendo no paraíso. É uma vida muito difícil; as pessoas têm insetos por todos os pés, morcegos em suas casas.
Então, você acredita que uma economia de livre mercado é o caminho para superar isso?
Sim, exatamente; devemos poder desenvolver nossa economia, porque a região é muito rica. Todos os recursos naturais estão lá. Mas nas reservas indígenas, você não pode tocá-las, e isso é prejudicial para as pessoas que vivem lá. Eles [aqueles que desejam mantê-los primitivos] têm razão neutralizada. É óbvio que essas coisas devem ser exploradas, mas não podemos fazê-lo. Não temos permissão para usar nossa inteligência para utilizar as coisas que estão presentes em que vivemos.
Via National Catholic Register