O cardeal Jorge Urosa Savino, arcebispo emérito de Caracas, escreveu uma série de artigos em que analisa o Instrumentum Laboris (IL) do sínodo para a Amazônia. Embora elogie a defesa dos direitos dos povos indígenas, ele adverte que a antropologia do texto é contrária à antropologia católica e à visão bíblica e cristã do homem, além de enfatizar que não se deve ordenar homens casados ou mulheres.
( InfoCatólica ) O cardeal diz que o Instrumento Laboris do sínodo é muito complexo e inovadora, também em sua estruturação, e até desconfortável e muito controverso, por isso tem sido muito polêmico. Por essa razão, me dediquei a tarefa de estudá-lo – destacando seus pontos fortes – para ajudar os pais sinódicos a superar as falhas e fraquezas do texto » .
Urosa admite que “o interesse em enfrentar a situação dramática na Amazônia é muito louvável, atualmente ameaçado por uma agressão econômica voraz e irracional … Como bispo venezuelano, apoio a denúncia e rejeição feita pela IL de toda a violência contra os povos e os Território amazônico… o Instrumentum Laboris destaca e denuncia de maneira correta e com seriedade dos abusos cometidos contra os povos da Amazônia, principalmente contra os povos indígenas… Devemos concordar com a defesa que o documento faz dos povos amazônicos e do meio ambiente natural, a ecologia dessa área privilegiada.
O cardeal, no entanto, indica que “a IL parece pensar que toda a população da Amazônia é indígena, nativa. Não é verdade, pelo menos na Venezuela. Em nossa região amazônica, nas dioceses estabelecidas, e não nos vicariados, há uma maioria de crioulos, venezuelanos brancos ou mistos e afro-venezuelanos que não possuem essa cultura indígena. Nem toda a população da Amazônia é nativa ou indígena » .
E adverte:
«Outro aspecto que chama a atenção no texto é a visão otimista e laudatória, quase utópica, com a qual a população indígena da Amazônia é apresentada na primeira parte do texto … A natureza também é discutida em um ensaio, ele sente falta da visão cristã como um todo, na qual os seres humanos são assumidos, e como «Mãe Terra» (em letras maiúsculas) quase como uma pessoa »
O cardeal venezuelano não entende porque texto pre-sinodal declara que “A diversidade original oferecida pela região amazônica – biológica, religiosa e cultural – evoca um novo Pentecostes” (IL30) – Por que essa diversidade original evocaria um novo Pentecostes? Seria necessário estudar em profundidade o que essa frase significa, à primeira vista confusa e exagerada».
Em relação à visão oferecida pela IL sobre os benefícios dos povos indígenas, o cardeal lança uma forte crítica:
«É uma visão antropológica muito otimista, que ignora as deficiências das culturas indígenas, que omite suas limitações e falhas, e que é distinta e longe da antropologia católica muito realista, da visão bíblica e cristã do homem , sem dúvida imagem de Deus, mas derrotado pelo pecado e necessitado de redenção ».
E pergunte:
“É por isso que pouco se fala sobre a necessidade de salvação e redenção , e pouco se fala sobre o fortalecimento intenso da ação pastoral e abertamente evangelizadora da Igreja no Amazonas, como se Cristo não fosse necessário, e a harmonia natural utópica fosse suficiente? »
O arcebispo emérito de Caracas indica outro dos erros da IL:
«Fala-se também do clamor da justiça no território da Amazônia e esta região é apresentada, quase personalizada … como um locus theologicus, um lugar teológico , onde se vive a fé e que seria uma nova fonte de revelação de Deus ( Cfr IL18 e 19). Aqui encontramos um ponto problemático, de discussão séria, porque é atribuído a um território particular e à luta pela justiça, a categoria de nova fonte de revelação. Ou fonte de uma nova revelação? »
E depois de lembrar o que ensina a constituição dogmática Dei Verbum do Concílio Vaticano II, ele acrescenta:
“Sabemos que a revelação completa já ocorreu em Jesus Cristo , e uma linguagem ambígua que obscurece que a realidade teológica e doutrinária não pode ser usada em um documento oficial. O mínimo que se pode dizer é que é uma linguagem inadequada e imprecisa, que deve sempre ser evitada em um texto oficial ».
Quanto à relação estabelecida pela IL entre diálogo e evangelização, o cardeal Urosa pergunta:
«Mas: um diálogo sem uma proposta de conversão, sem um convite para receber Jesus como o único salvador , como o redentor do ser humano ferido pelo pecado? Por que não dizer expressamente?
E conclui:
«É verdade que estamos falando de novas estradas, mas essas estradas parecem, acima de tudo, consistir de acordo com a IL, em um diálogo com sabedorias ancestrais e em uma defesa firme da ecologia e das populações originais. Isso não basta. O anúncio mais explícito do kerygma e uma ação mais abertamente evangelizadora, santificadora e pastoral de implantação e crescimento da Igreja em toda a Amazônia e não apenas para as populações originais, não são insistidos . Esse desequilíbrio é uma grande fraqueza do texto que esperamos que os padres sinodais superem em suas deliberações ».
A seguir, o artigo completo do Cardeal Urosa:
A seguir, o artigo completo do Cardeal Urosa:
O SÍNODO DA AMAZÔNIA
COMENTÁRIOS AO INSTRUMENTUM LABORIS (1)
Cardeal Jorge Urosa Savino, Arcebispo Emérito de Caracas
Setembro de 2019
INTRODUÇÃO
Dentro de poucos dias, começará o Sínodo Especial sobre a Amazônia, convocado pelo Papa Francisco para abordar “Amazônia: Novos Caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral”.
Este é um Sínodo especialmente dedicado ao estudo dos problemas da Igreja em uma região particular, a Amazônia, que compreende boa parte da América do Sul. No entanto, é especialmente importante para toda a Igreja, pois tanto o Papa como aqueles que trabalharam em sua preparação dão a este Sínodo uma projeção universal. Desta forma, esta assembleia sinodal terá influência sobre toda a Igreja, e não apenas sobre os países amazônicos. Entre eles, é claro, nosso país, a Venezuela.
O Instrumentum laboris circula desde junho passado. Dada a metodologia dos Sínodos, que utilizam esses textos como base para a discussão sinodal, este documento se reveste de grande importância. Ainda mais porque, sem dúvida, é muito complexo e inovador, também em sua estruturação, e inclusive incômodo e muito polêmico, por isso tem sido muito controverso. Por esta razão me dediquei à tarefa de estudá-lo para – destacando suas fortalezas – ajudar à superação por parte dos padres sinodais das falhas e debilidades do texto.
CONTEÚDO DO INSTRUMENTUM
O mesmo tem três partes: a primeira, intitulada A Voz da Amazônia, dedicada a aspectos fundamentais da realidade social e cultural da Amazônia. A segunda, dedicada principalmente a problemas de ecologia e de ordem socioeconômica, intitulada Ecologia Integral: O clamor da terra e dos pobres. E a terceira, que apresenta propostas de ação pastoral: Igreja Profética na Amazônia: desafios e esperanças. No entanto, os diversos temas se misturam nas três partes, o que implica repetições, prolonga desnecessariamente o texto e reduz a clareza das abordagens. O mais abundante no texto são os temas culturais, ecológicos e socioeconômicos. Menos abundantes, mas extremamente e mais importantes para nós, pastores da Igreja, a evangelização e as propostas para a ação pastoral.
ACERTADA DEFESA DA AMAZÔNIA E DOS POVOS AMAZÔNICOS
Sem dúvida, é muito louvável o interesse em abordar a dramática situação da Amazônia, atualmente ameaçada por uma agressão economicista voraz e irracional. Um dos méritos do documento é que reúne as experiências, problemas e aspirações de muitas pessoas, ouvidas pelos membros da REPAM (Rede Eclesial Pan-amazônica), precisamente em preparação para o Sínodo. Por isso, o Instrumentum laboris aborda a grave situação tanto ecológica como social e econômica sofrida pelo território e pelos povos da Amazônia.
Como bispo venezuelano, apoio a denúncia e o rechaço que faz o Instrumentum laboris (I.L.) de toda a violência contra os povos e o território amazônico. Essa grave exploração também ocorre hoje na Venezuela. Concretamente, em nossa região amazônica, o atual governo promoveu no “arco de mineração”, ao sul de Orinoco, uma operação de mineração agressiva e desordenada que não leva em consideração a proteção do meio ambiente e os direitos dos povos indígenas.
Graças a Deus, o Instrumentum destaca e denuncia justa e acertadamente a gravidade dos atropelos que se estão cometendo contra os povos amazônicos, em particular contra os indígenas, chamados no texto “povos originários”. A agressão da ambição humana transformou a Amazônia em espaço de “desencontros e de extermínio de povos, culturas e gerações” (23). Essa agressão suscita e exige justamente a defesa da vida, do território e dos recursos naturais, assim como da cultura e organização dos povos (Cf.I.L.17). E, neste trabalho, a Igreja na Amazônia agiu com energia e – propõe acertadamente o documento –, sem dúvida deve continuar fazendo.
Apoiamos, pois, plenamente essa denúncia e o rechaço de toda injustiça. Isso está muito bem. Devemos estar de acordo com a defesa que o documento faz dos povos amazônicos e do ambiente natural, da ecologia dessa área privilegiada. Também de acordo em afirmar a obrigação da Igreja de acompanhar e proteger os povos oprimidos.
A BELEZA AMAZÔNICA E UMA ANTROPOLOGIA IDEALISTA
Uma observação importante: o Instrumentum laboris parece pensar que toda a população amazônica é indígena, originária. Não é verdade, pelo menos na Venezuela. Em nossa região amazônica, nas dioceses já estabelecidas – não nos vicariatos –, há uma maioria de criollos, venezuelanos de raça branca ou mista e afro-venezuelanos que não têm essa cultura indígena. Nem toda a população amazônica é originária ou indígena.
Outro aspecto que chama a atenção no texto é a visão otimista e laudatória, quase utópica, com a qual a população indígena da Amazônia é apresentada na primeira parte do texto. Esta, o território, é apresentada quase como uma espécie de paraíso terreno, de beleza sem limites (I.L. 22) “repleta de vida e sabedoria” (I.L. 5), onde os povos amazônicos – especialmente os indígenas, buscam o “bem viver”, que é viver em harmonia consigo mesmo, com a natureza, com os seres humanos e com o Ser supremo (Cf I.L. 11). Também se fala da natureza em uma redação alheia à visão cristã como um todo no qual estão assumidos os seres humanos, e como ‘Mãe Terra’ (em maiúsculas) tratando-a praticamente como uma pessoa (Cf. I.L. 44).
Por outro lado, o texto louva a sabedoria ancestral dos povos amazônicos manifestada no cuidado da terra, da água e das florestas… E propõe que os novos caminhos da evangelização sejam construídos em diálogo com ela, na qual se manifestam as sementes do Verbo (I.L. 29). “A diversidade original que oferece a região amazônica – biológica, religiosa e cultural – evoca um novo Pentecostes” (I.L.30). Por que essa diversidade original evocaria um novo Pentecostes? Seria necessário estudar em profundidade o que essa frase significa, à primeira vista, confusa e exagerada.
Algo romântica também é a descrição do povo amazônico originário – os indígenas – como seres excepcionais, que vivem em harmonia com a natureza e o ser supremo, e que personificariam um utópico ‘bom selvagem’, virtuoso, amável, ingênuo e crédulo. Este possuiria uma sabedoria em que se encontrariam as sementes do Verbo. É uma visão antropológica muito otimista, que ignora as deficiências das culturas indígenas, que omite suas limitações e falhas, e que é distinta e longínqua da altamente realista antropologia católica, da visão bíblica e cristã do homem, sem dúvida imagem de Deus, mas golpeado pelo pecado e em necessidade de redenção. Será por isso que se fala pouco sobre a necessidade de salvação e redenção, e se fala pouco sobre fortalecer intensamente a ação pastoral e abertamente evangelizadora da Igreja no Amazonas, como se Cristo não fosse necessário, e bastasse a utópica harmonia natural?
NOVA REVELAÇÃO?
Fala-se também dos clamores de justiça do território da Amazônia e se apresenta esta região, quase personalizada…, como um locus trheologicus, um lugar teológico, onde se vive a fé e o qual seria uma fonte nova de revelação de Deus (Cf. I.L. 18 e 19). Aqui encontramos um ponto problemático, de séria discussão, pois se atribui a um território particular e à luta pela justiça a categoria de nova fonte de revelação. Ou talvez: fonte de uma nova revelação?
Levemos em consideração que a palavra revelação no magistério eclesiástico e na teologia em geral é muito concreta e específica e significa a comunicação, desvelamento, manifestação que Deus fez de si mesmo à humanidade através de Jesus Cristo. Isso está muito claro no documento Dei Verbum, sobre a divina revelação, do Concílio Vaticano II (DV. 2). Sabemos que a revelação plena já teve lugar em Jesus Cristo, e não se pode utilizar em um documento oficial uma linguagem ambígua que escureça essa realidade teológica e doutrinal. O mínimo que se pode dizer é que é uma linguagem inapropriada e imprecisa, que sempre se deve evitar em um texto oficial. Bastaria falar simplesmente de manifestação de Deus. Uma das debilidades do texto é precisamente uma linguagem difusa, equívoca, imprecisa. Será necessário utilizar no Sínodo maior rigor conceitual, teológico e doutrinal.
DIÁLOGO E EVANGELIZAÇÃO
Nos parágrafos finais da primeira parte, o Instrumentum laboris aborda o tema do diálogo e da evangelização. Sem dúvida, é muito acertada a afirmação da necessidade do diálogo para evangelizar. Nosso Senhor Jesus Cristo dialogou com a samaritana. E assim nós devemos fazer hoje (Cf. I.L. 37). Mas o documento faz afirmações, à primeira vista, românticas ou excessivas. Apresenta-se a Amazônia como um paradigma para o pacto social do diálogo (I.L. 37); afirmando que são os povos da Amazônia, especialmente os pobres, os originários e culturalmente diferentes, os principais interlocutores e protagonistas do diálogo. Isso poderia ser aceito, se não fosse afirmado com um caráter excludente.
Mas: um diálogo sem proposta de conversão, sem convite a acolher ao Jesus como o único salvador, como o redentor do ser humano ferido pelo pecado? Por que não se diz expressamente? Parece estar ausente do texto o entusiasmo ou uma maior consciência, precisamente, da necessidade de que a Igreja realize ali uma ação mais intensamente evangelizadora, vital para a Igreja em todas as partes. Isso deveria estar no centro, no coração do texto e, logo, do Sínodo: a revitalização da Igreja na Amazônia. Mas parece estar ausente ou está muito fracamente expressa esta urgência de levar adiante a missão evangelizadora da Igreja. Pelo contrário, é preciso acolher o que o Papa Francisco diz sobre a evangelização na Exortação Apostólica Evangelii gaudium, 14:
“A evangelização está essencialmente relacionada com a proclamação do Evangelho àqueles que não conhecem Jesus Cristo ou que sempre O recusaram… Todos têm o direito de receber o Evangelho. Os cristãos têm o dever de o anunciar, sem excluir ninguém, e não como quem impõe uma nova obrigação, mas como quem partilha uma alegria”.
É verdade que se fala de novos caminhos, mas esses caminhos parecem, sobretudo, consistir segundo o I.L. em um diálogo com sabedorias ancestrais e em uma firme defesa da ecologia e das populações originárias. Isso não basta. Não se insiste no anúncio mais explícito do kerygma, e em uma ação mais abertamente evangelizadora, santificadora e pastoral de implantação e crescimento da Igreja em toda a Amazônia, e não somente para as populações originárias. Este desequilíbrio é uma grande debilidade do texto que nós esperamos que os padres sinodais cheguem a superar em suas deliberações.
Aprofundaremos sobre isso em um próximo artigo.
COMENTÁRIOS AO INSTRUMENTUM LABORIS, (2)
REVITALIZAR A IGREJA NA AMAZÔNIA E NO MUNDO
Cardeal Jorge Urosa Savino, Arcebispo Emérito de Caracas (28/09/2019)
UMA IGREJA REALMENTE PROFÉTICA
Neste segundo artigo, queremos analisar sua abordagem à evangelização. É claro – já é bem afirmado e aceito – o diálogo é necessário para a evangelização. E nessa linha a visão da Igreja profética é apresentada no N. 42 do documento. Mas algo está faltando aqui também. Uma Igreja verdadeiramente profética é mais do que uma Igreja que dialoga, que sabe encontrar acordos e que busca propostas concretas para uma ecologia integral, uma Igreja que age contra os abusos.
Também é necessário afirmar fortemente que uma Igreja verdadeiramente profética deve anunciar Deus como fonte de felicidade, e Jesus Cristo claramente como “o caminho, a verdade e a vida”. Isso está de acordo com o Evangelii Gaudium do Papa Francisco, a Exortação Pastoral Evangelii Nuntiandi, de São Paulo VI; e na linha da declaração muito clara e nítida do Concílio Vaticano II na Const. Gaudium et Spes:
” Somente na Palavra encarnada é esclarecido o mistério do homem”; “Cristo, na mesma revelação do mistério do Pai e de seu amor, manifesta o homem ao homem e descobre a sublimidade de sua vocação ” (GS, 22). E também de acordo com o muito importante Decreto Ad Gentes do Concílio Vaticano II sobre a atividade evangelística e missionária da Igreja, a propósito, quase não citada neste Instrumentum laboris (IL). Por que essa omissão grave?
Quanto ao anúncio de Cristo, os ensinamentos muito claros e pertinentes do Papa Bento XVI não podem ser ignorados no discurso de abertura da Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe em Aparecida:
“É por isso que Cristo, sendo realmente o Logos encarnado, ‘amor ao extremo’, não é estranho a nenhuma cultura ou pessoa; pelo contrário, a resposta desejada no coração das culturas é o que lhes confere sua identidade última, unindo a humanidade e respeitando ao mesmo tempo a riqueza da diversidade, abrindo tudo para o crescimento na verdadeira humanização, no autêntico progresso A Palavra de Deus, tornando-se carne em Jesus Cristo, também se tornou história e cultura. ” “A utopia de trazer de volta à vida as religiões pré-colombianas, separando-as de Cristo e da Igreja universal, não seria um progresso, mas um passo para trás. Seria realmente uma involução para um momento histórico ancorado no passado. Felizmente, a sabedoria dos povos nativos os levou a formar uma síntese entre suas culturas e a fé cristã que os missionários lhes ofereceram. A partir daí nasceu a rica e profunda religiosidade popular, na qual aparece a alma dos povos latino-americanos ”(B.XVI, Discurso Aparecida, 1).
Portanto, será muito importante que o Sínodo tenha em mente algo que é fraco no Instrumentum Laboris: as exigências do mandato evangelizador de Cristo aos apóstolos e a toda a Igreja. É importante afirmar claramente como uma proposta do Sínodo para a vida da Igreja na Amazônia e em todo o mundo, e repito, atualmente é pouco destacado no Instrumentum Laboris.
Uma Igreja profética é uma Igreja que não apenas proclama fortemente a justiça social e defende os direitos humanos, que dialoga e acompanha, mas, sobretudo, anuncia Cristo e evangeliza . Lembremo-nos do que o Papa Francisco nos ensina sobre isso: “Do coração do Evangelho reconhecemos a íntima conexão entre evangelização e promoção humana, que deve necessariamente ser expressa e desenvolvida em toda a atividade evangelizadora” (EG, 178).
NOVAS ESTRADAS DE EVANGELIZAÇÃO.
O documento postula um renovado senso da missão da Igreja na Amazônia que, a partir do encontro com Cristo, sai ao encontro do outro iniciando processos de conversão. Muito bem. Mas é muito importante que esse requisito seja refletido em propostas para uma evangelização mais aberta e explícita que vá além do diálogo e do acompanhamento, também para os povos de origem. Numa ação evangelizadora na linha dos grandes missionários da América indígena no passado e, repito, na linha da Exortação Evangelii Nuntiandi, de São Paulo VI. Vamos lembrar, porque infelizmente não foi citado no texto:
26. “Não é supérfluo lembrar: evangelizar é, antes de tudo, testemunhar, de maneira simples e direta, Deus revelado por Jesus Cristo através do Espírito Santo. Testemunhar que ele amou o mundo em seu Verbo Encarnado, deu todas as coisas ao ser e chamou os homens para a vida eterna. Para muitos, é possível que esse testemunho de Deus desconhecido [55], a quem eles adoram sem dar um nome específico, ou a quem procurar sentir um chamado secreto no coração, experimente o vazio de todos os ídolos.
Mas esse testemunho é totalmente evangelizador quando mostra que, para o homem, o Criador não é um poder anônimo e distante: ele é o Pai. “Somos chamados filhos de Deus, e realmente somos” [56] e, portanto, somos irmãos um do outro, em Deus. “
Centro de mensagens: salvação em Jesus Cristo
27. “A evangelização também deve sempre conter – como base, centro e, ao mesmo tempo, culminando em seu dinamismo – uma proclamação clara de que em Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem, morto e ressuscitado, a salvação é oferecida a todos os homens, como dom de graça e misericórdia de Deus [57]. Não é uma salvação puramente imanente, mas uma salvação que transborda todos esses limites para ser realizada em comunhão com o único Deus Absoluto, salvação transcendente e escatológica, que certamente começa nesta vida, mas que tem seu cumprimento na eternidade. ”
FALHAS DO INSTRUMENTUM LABORIS
Sem dúvida, o IL tem o mérito de ser o resultado de consultar muitas pessoas, principalmente os habitantes da Amazônia. E tocar minuciosamente e com coragem os problemas ecológicos e socioeconômicos dos povos amazônicos cuja defesa o texto assume e promove corretamente. Ele postula a necessidade de agir decisivamente para evitar uma tragédia ecológica na Amazônia. Muito bem! No entanto, ele sofre de várias falhas:
Parece considerar os povos indígenas ou nativos como a maioria da população do vasto território amazônico, onde também existem muitas cidades e vilas da cultura comum latino-americana. Utiliza linguagem imprecisa e ambígua e afirma fracamente a missão evangelizadora e santificadora da Igreja na Amazônia, pois possui uma visão antropológica ingênua e otimista de um ser humano quase perfeito.
Algo mais sério: tem uma cristologia muito fraca, já que a pessoa de Cristo dificilmente é apresentada como redentora e salvadora da humanidade. Mas propõe também uma visão liberacionista e redutora da missão da Igreja, mais atenta ao campo e ao tema sociológico, cultural, antropocêntrico e ecológico do que ao evangelizador e santificador, espiritual e pastoral. É um fracasso muito sério em um documento eclesial que o Sínodo terá que superar.
A IL não é um documento para uma assembléia de ONGs, mas para um Sínodo eclesial , de uma assembléia muito importante da Igreja para ajudá-la a viver melhor sua missão, para revitalizar a Igreja lá e em todo o mundo, para a qual devemos apresentar Novos caminhos de autêntica evangelização.
Por esses motivos, o documento foi seriamente criticado e já suscitou muita controvérsia. O problema deste documento são suas próprias falhas . As críticas não surgem porque o Sínodo, com razão, quer defender a ecologia e os povos da Amazônia. Muito importante: quando fazemos essas observações no documento , não atacamos o Sínodo em seu aspecto social e ecológico , porque será muito oportuno para sua defesa contra ameaças à Amazônia e seus diversos povos.
Mas, embora o Instrumentum Laboris não seja um documento definitivo, teria sido bom se eles tivessem trabalhado mais! e eles tentariam incorporar melhor esses aspectos da doutrina católica, especialmente sobre Jesus Cristo e sobre a missão da igreja, para evitar levantar dúvidas, controvérsias e até uma forte rejeição.
E não estamos falando agora de padres casados ou diaconisas. A problemática do texto é sua escrita confusa e suas falhas em temas gerais de doutrina e visão teológica, especialmente de antropologia, cristologia e eclesiologia, entre outros. Essas controvérsias em um Instrumentum Laboris são um tanto inconvenientes e inconvenientes. Por isso é necessário estudá-lo com cuidado. Aproveitar seus pontos fortes e descartar seus fracassos e fraquezas.
E realmente revitalizar a Igreja na Amazônia e em todo o mundo . A aparente preeminência no Instrumentum Laboris do ecológico, social e cultural sobre o teológico, espiritual e pastoral na vida da Igreja terá que ser superada na sala de aula sinodal. O problema não é ecologia, mas sua eclesiologia fraca .
UM EXEMPLO A SEGUIR: O DOCUMENTO DE APARÊNCIA
Em uma linha muito equilibrada, um documento eclesial que é necessário considerar ao estudar o Instrumentum Laboris e, sobretudo, no próprio Sínodo, é o aprovado pela V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe. É o famoso “ Documento de Aparecida ”, fruto do trabalho de bispos, padres, religiosos e leigos da América Latina e do Caribe, também da Amazônia .
Essa estupenda mensagem enfrentou os problemas sociais, econômicos, políticos e ecológicos apresentados por todo o território americano, incluindo a Amazônia, mas também abordou fortemente a questão da evangelização dos povos indígenas. De fato, ele nos diz (Aparecida, 95):
“Nosso serviço pastoral aos povos indígenas exige anunciar Jesus Cristo e as Boas Novas do Reino de Deus, denunciando situações de pecado, estruturas de morte, violência e injustiças internas e externas, promovendo o diálogo intercultural, inter-religioso e ecumênico. Jesus Cristo é a plenitude da revelação para todos os povos e o centro de referência fundamental para discernir os valores e deficiências de todas as culturas, incluindo os povos indígenas. Portanto, o maior tesouro que podemos oferecer é que você vem ao encontro com Jesus Cristo ressuscitado, nosso Salvador. Os nativos que já receberam o Evangelho são chamados, como discípulos e missionários de Jesus Cristo, a viver sua realidade cristã com imensa alegria . ”
Um fato muito importante: o Presidente da Comissão que redigiu esse documento foi nada menos que o cardeal Jorge Bergoglio, nosso papa Francisco. Apareceu , com demandas muito firmes de justiça, evangelização e trabalho da Igreja em relação aos povos indígenas, alcançou um conteúdo muito claro, exigente e esclarecedor, mas também harmonioso, sereno e pacífico, com excelentes referências teológicas, cristológicas e eclesiológico
É um magnífico ponto de referência latino-americano para este Sínodo. Digo isso porque – repito – teria sido conveniente se o atual Instrumentum Laboris, apesar de ser apenas uma ferramenta de discussão, também fosse um documento sereno, preciso e claro, mais trabalhado e finalizado mesmo em seus conceitos e escritos, e não impreciso e controverso, como o atual.
Nesse contexto, Aparecida é sem dúvida um grande ponto de comparação e um elemento de iluminação para os Padres do Sínodo da Amazônia. Afinal, Aparecida foi criada colegial e sinodalmente por bispos de toda a América Latina e Caribe e, portanto, também das igrejas da Amazônia. Já percorremos alguns pontos do Instrumentum Laboris. Em um próximo artigo, abordaremos algumas das propostas pastorais do documento.
COMENTÁRIOS AO INSTRUMENTUM LABORIS (3)
ALGUMAS PROPOSTAS PASTORAIS
Cardeal Jorge Urosa Savino, Arcebispo Emérito de Caracas, 1º de outubro de 2019
Esta terceira parte dos comentários sobre o Instrumentum Laboris do Sínodo Pan-amazônico estuda a terceira parte do texto, ou seja, “Igreja profética na Amazônia, desafios e esperanças“. E especialmente algumas das propostas pastorais.
Uma observação importante: chama a atenção que as respostas e indicações das consultas feitas aos fiéis da Amazônia falem pouco da situação especificamente religiosa, pastoral e eclesial das missões amazônicas. Da mesma forma, assombra que a maioria dos comentários sobre o Sínodo, feitos recentemente por eclesiásticos vinculados à sua preparação, fale apenas ou principalmente sobre o aspecto ecológico e os problemas de ordem social e econômico dos povos amazônicos. Como se isso fosse o mais importante para a Igreja. Falam pouco sobre o aspecto religioso e espiritual da missão da Igreja de anunciar a Palavra e comunicar os dons de Cristo à humanidade. O Instrumentum Laboris também dá essa impressão. No próprio Sínodo, isso deverá ser corrigido, e destacar a centralidade da ação evangelizadora e pastoral para a revitalização da Igreja na Amazônia.
Outra observação interessante: o Instrumentum laboris parece pensar que toda a população amazônica é indígena, originária. Não é verdade, pelo menos na Venezuela. Em nossa região amazônica, nas dioceses já estabelecidas – não nos vicariatos –, há uma maioria de criollos, venezuelanos de raça branca ou mista e afro-venezuelanos que não têm essa cultura indígena. O mesmo acontece com Manaus e Belém, no Brasil.
OPÇÃO PELOS POBRES E INCULTURAÇÃO
O documento acertadamente recorda a opção pelos pobres como linha de ação e exigência da Igreja latino-americana e amazônica. Bento XVI disse em Aparecida que “a opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com a sua pobreza” (Discurso de Sua Santidade na inauguração da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe 3).
Por outro lado, o texto destaca a missão evangelizadora da Igreja como algo realizado ao longo dos séculos e que é vigente e urgente (115). E para realizá-la hoje na Amazônia, o I.L. propõe uma conversão pastoral e missionária (119). Esta, entre outras coisas, implicaria “captar aquilo que o Espírito do Senhor ensinou a estes povos… a fé no Deus Pai-Mãe Criador… a relação viva com a natureza e a ‘Mãe Terra’ (fazendo uma distinção entre essas duas ideias?), os ritos e as expressões religiosas, e o sentido sagrado do território… (121). Também propõe reconhecer a espiritualidade indígena como fonte de riqueza para a experiência cristã (123b). São expressões que, para aqueles que não conhecemos seu sentido, parecem muito estranhas e alheias à fé católica sobre a realidade criada e sua relação com o ser humano. E parecem evocar um tipo de sincretismo cristão-animista. Isso seria inaceitável. Nesse sentido, esperamos que os Padres sinodais esclareçam isso e discirnam bem as propostas realmente conformes à fé católica na criação e na natureza. Na mesma linha de conversão pastoral, fala-se de inculturação da fé, mas dando um valor quase absoluto às culturas originárias, e não valorizando nem propondo a evangelização da cultura. Esta é a necessária transformação da existência humana e da vida religiosa, social, cultural e familiar dos povos através do Evangelho de Cristo e da moral bíblica, cristã e católica. É um ponto que precisa ser revisto e melhorado.
Estas propostas do I.L. se juntam à sugestão de uma liturgia inculturada, isto é, adaptada à mentalidade e tradições dos povos, como sugere o documento Sacrosanctum Concilium, do Concílio Vaticano II (37-40). Neste campo, teremos que ver em particular durante o Sínodo o que pode ser sugerido em termos de uma “descentralização saudável da Igreja” (126 d). Claro está, sempre preservando a integridade da fé, a natureza de cada sacramento e as condições e requisitos para a participação viva e frutuosa na sagrada liturgia.
ORGANIZAÇÃO, SERVIÇOS PASTORAIS E SACERDÓCIO
Em sua busca de novos caminhos para a vida da igreja, o Instrumentum laboris se interessa pela organização da comunidade e dos serviços pastorais (I.L. 127). Nesta linha, propõe reconsiderar a ideia de que o exercício da jurisdição (poder de governo) deve estar vinculado em todos os âmbitos (sacramental, judicial e administrativo) e de maneira permanente ao sacramento da ordem. Em outras palavras, parece propor que essas funções possam ser exercidas nas comunidades indígenas por diversas pessoas, não ordenadas sacramentalmente.
Aqui, novamente, teremos que ver exatamente o que essa proposta significa. Porque as faculdades religiosas, espirituais e pastorais dos Bispos e Presbíteros não são funções diversas de um operador pastoral, de um “funcionário”. São a expressão do Ministério e Ofício (Munus) sacerdotal do Bispo e presbítero, estes configurados a Cristo Sumo e Eterno Sacerdote pelo sacramento da ordem. Elas são ações de Cristo, que se faz presente no bispo e presbítero com ordenação sacramental. São faculdades conferidas e concedidas no sacramento da ordem. Essas faculdades não são atividades cumulativas ou separadas atribuídas a uma pessoa por um documento ou um ato jurídico ou administrativo, uma nomeação… qualquer. Essas faculdades pastorais, sacramentais, judiciais e magisteriais são a atuação do representante sacramental de Cristo sacerdote, profeta e rei. O sacerdote é sacramento-pessoa de Jesus, um homem configurado pela ordenação sacerdotal a Cristo, bom pastor e sumo e eterno sacerdote, a serviço e benefício do povo santo de Deus. Essas faculdades – exceto a administração material – não o governo pastoral – não são funções que possam ser delegadas isoladamente. São conferidas apenas com a ordenação sacramental. Por isso, uma concepção funcionalista do sacerdócio não é correta. Não corresponde à concepção do sacerdócio como participação nos três “Munera Christi”: sacerdote, profeta e rei.
ORDENAÇÃO DE IDOSOS CASADOS
Na aspiração muito necessária e desejável de uma maior presença pastoral, ou seja, de uma presença pastoral e não de uma visita (128), também é proposta a ordenação sacerdotal de pessoas idosas (I.L. 129 a, 2). Um detalhe: o texto não usa o termo conhecido e popular de “viri probati”, “homens de virtude comprovada”. Utiliza a expressão “pessoas idosas” e deixa aberta então a possibilidade da ordenação sacerdotal da mulher. Não vamos considerar esta segunda possibilidade, já abertamente descartada diversas vezes por São Paulo VI e São João Paulo II e também recentemente pelo Papa Francisco. Escutemos São João Paulo II diretamente:
4. “Embora a doutrina sobre a ordenação sacerdotal que deve reservar-se somente aos homens, se mantenha na Tradição constante e universal da Igreja e seja firmemente ensinada pelo Magistério nos documentos mais recentes, todavia atualmente em diversos lugares continua-se a retê-la como discutível, ou atribui-se um valor meramente disciplinar à decisão da Igreja de não admitir as mulheres à ordenação sacerdotal. Portanto, para que seja excluída qualquer dúvida em assunto da máxima importância, que pertence à própria constituição divina da Igreja, em virtude do meu ministério de confirmar os irmãos (cf. Lc 22,32), declaro que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja”. (São João Paulo II, Carta Apostólica Ordinatio sacerdotalis, 1994).
Por isso nos limitaremos aqui a refletir sobre a possibilidade de conferir o presbiterado a homens idosos casados.
O texto afirma claramente a vigência da disciplina do celibato sacerdotal como uma dádiva para a igreja. Muito bem. De fato: imitando Cristo, celibatário e esposo da Igreja, os presbíteros de rito latino e muitos também das igrejas orientais, escolhemos livremente consagrar nossas vidas a Deus e à Igreja, renunciando ao matrimônio e comprometendo-nos religiosamente com Deus à vivência da castidade perfeita. Algo que convém perfeitamente com a natureza do sacerdócio, que é a configuração a Cristo, sumo e eterno sacerdote e bom pastor.
Está claro que o tema de ordenar idosos casados é um assunto de disciplina, de conveniência religiosa e pastoral, e exige pesar prós e contras. Não é um dogma de fé. Sem dúvida poderiam ser ordenados. Mas seria preciso pensar que tipo de sacerdotes seriam. Uns de segunda classe? Como os famosos “sacerdotes missa e panela” do passado? Como se preparariam? Os diáconos permanentes requerem uma preparação séria, geralmente pelo menos 4 anos. E depois, não andam sozinhos. Geralmente agem em colaboração com algum bispo ou algum sacerdote. Como seria essa preparação? E qual seria o seu ministério, simplesmente celebrar os sacramentos? De quem dependeriam, ou seja, quem seria seu superior imediato? Não haveria conflitos entre esses sacerdotes idosos-só-sacramentalistas e os párocos ou vigários paroquiais? Como seria seu regime econômico ou administrativo, ou seja, quem os sustentaria em dioceses ou vicariatos de extrema pobreza?
Por outro lado, ordenar sacerdotes casados em comunidades indígenas não os coloca em uma espécie de terreno fechado. As terras da missão são vizinhas de Dioceses estabelecidas. E os idosos sacerdotes casados não deixariam de se locomover para outros lugares. Como compaginar sacerdotes casados nas Missões com os celibatários na diocese vizinha? E depois: essa abertura disciplinar estaria limitada apenas à Amazônia? Não enfraqueceria o sacerdócio celibatário no resto do mundo? Há muitas perguntas sérias sobre a ordenação desses bons idosos casados. E talvez não resolva os problemas da situação atual. Não acho que seja conveniente nem útil.
Acho que a solução para a atenção às comunidades é que haja uma maior atividade evangelizadora e santificadora, para fortalecer a vida de fé nessas comunidades cristãs sem sacerdotes. A evangelização e a pastoral vocacional dão resultados a médio e longo prazo. Já vimos isso na Venezuela. Não há dúvida de que o trabalho de nossos queridos missionários foi e é magnífico, sacrificado, digno de todo respeito, reconhecimento e louvor. Por isso que devemos estudar por que motivo a pregação evangélica e o trabalho missionário não produziram mais frutos nas comunidades indígenas, incluindo as vocações indígenas ao sacerdócio ou à vida consagrada. Contudo, ordenar sacerdotes a bons idosos de função apenas litúrgica dará o impulso necessário à vida da Igreja? Há muitas perguntas que devem ser respondidas. Além disso, o tema dos idosos casados chamados ao sacerdócio é muito importante e grave para que um Sínodo regional o resolva para a Igreja universal.
OUTROS MINISTÉRIOS
Outra proposta do texto para fortalecer o trabalho pastoral na Amazônia é também um ministério oficial para a mulher (129 a, 3). Atualmente, em toda a Igreja, a mulher já exerce vários ministérios: leitoras, servidoras do altar na Eucaristia, ministras extraordinárias da Comunhão, catequistas. E também exercem outras funções diversas de grande importância nas escolas, na administração diocesana ou paroquial, nos meios de comunicação eclesiais e nos centros de saúde da Igreja, e como assistentes sociais, etc. Teremos que ver o que aqueles que propõem este novo ministério oficial têm em mente. E o Papa Francisco já se pronunciou contra o diaconato feminino. Vamos ver o que acontece no Sínodo…
A vida consagrada é, com justiça, muito bem apresentada no Instrumentum Laboris (I.L. 129 d). Com grande entrega e dedicação, as irmãs e irmãos da vida consagrada estão fazendo um belo trabalho na Amazônia. Que continuem e reforcem o aspecto especificamente evangelizador e religioso de seu trabalho, para promover e revitalizar a vida da Igreja naquele território.
CONCLUSÃO
Na véspera do Sínodo, elevamos nossas orações ao Senhor, para que derrame seu Espírito Santo abundantemente sobre os Padres sinodais. Eles terão a tarefa de indicar os novos caminhos para a revitalização da Igreja, bem como para proteger os povos da Amazônia e seu território, e para uma correta conversão ecológica. Tudo isso é muito importante.
Para isso, este Sínodo deve abraçar os pontos fortes do Instrumentum Laboris, e necessariamente superar suas falhas e omissões, para promover um trabalho cada vez mais evangelizador e revitalizante da Igreja, não apenas no Amazonas, mas em todo o mundo.
Que a Santíssima Virgem Maria, mãe de Deus e nossa mãe, abençoe e incentive todos os queridos e esforçados missionários da Amazônia. Bispos e sacerdotes, diáconos, consagrados e apóstolos leigos, eles e elas. Muito obrigado por este trabalho tão belo e sacrificado! Que continuem em frente na belíssima missão apostólica da Igreja de anunciar Jesus Cristo com força e entusiasmo a todos os habitantes da Amazônia. Ele é o único em cujo nome temos a redenção e o perdão dos pecados (Cf. Col. 1,14), Amém.