O relativismo é uma linha de pensamento que nega que possa haver uma verdade absoluta e permanente, ficando por conta de cada um definir a “sua” verdade e aquilo que lhe parece ser o seu bem e o que lhe agrada. Nessa ótica tudo é relativo ao local, à época ou a outras circunstâncias. É o engano do historicismo. Para seus adeptos, “a pessoa se torna a medida de todas as coisas”, como dizia o filósofo grego Protágoras. Evidentemente, a Igreja rejeita o relativismo porque há verdades que são permanentes. As verdades da fé e da moral cristã são perenes porque foram dadas por Deus. Cristo afirmou solenemente: “Eu sou a Verdade” (Jo 14,6); “a verdade vos libertará” (Jo 8,32); e disse a Pilatos que veio ao mundo exatamente “para dar testemunho da verdade” (Jo 18,37). São Paulo relatou que “Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4) e que “ a Igreja é a coluna e o fundamento da verdade” (1Tm 3, 15). Ora, se negarmos que existe a verdade objetiva e perene, o Cristianismo fica destruído desde a sua raiz. O Evangelho é o dicionário da Verdade. Segundo o relativismo, no campo moral não existe “o bem a fazer e o mal a evitar”, pois o bem e o mal são relativos. Isso destrói completamente a moral católica, a qual moldou o Ocidente, e a nossa civilização. Contudo, esse relativismo hoje está penetrando cada vez mais nas universidades, escolas, nas famílias, no trabalho e de maneira muito forte, na Igreja. Ele ignora a lei natural, que é a lei de Deus colocada na consciência de todo ser humano – desde que este dispõe do uso da razão. Por causa do relativismo moral os governantes propõem leis contra a Lei Natural que Deus colocou no coração de todos os homens. Dessa forma, a palavra do legislador humano vai superando a do Legislador Divino, a qual é a mesma para todos os homens. O papa Bento XVI falou insistentemente do perigo da “ditadura do relativismo”, que vai oprimindo quem não a aceita. Quem não estiver dentro do “politicamente correto” é anulado, desprezado, zombado com cinismo. Sobre essa mesma ditadura o Sumo Pontífice falou em 18 de abril de 2005 na homilia da Santa Missa preparatória do conclave que o elegeu: “Não vos deixeis sacudir por qualquer vento de doutrina” (Ef 4, 14). “Quantos ventos de doutrina viemos a conhecer nestes últimos decênios, quantas correntes ideológicas, quantas modalidades de pensamento…! O pequeno barco do pensamento de não poucos cristãos foi frequentemente agitado por essas ondas, lançado de um extremo para o outro: do marxismo ao liberalismo ou mesmo libertinismo; do coletivismo ao individualismo radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo… Todos os dias nascem novas seitas e se realiza o que diz São Paulo sobre a falsidade dos homens, sobre a astúcia que tende a atrair para o erro (cf. Ef 4, 14). O ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, é, muitas vezes, rotulado como fundamentalismo. Entrementes, o relativismo ou o deixar-se levar para cá e para lá por qualquer vento de doutrina aparece como orientação única à altura dos tempos atuais. Constitui-se assim uma ditadura do relativismo, que nada reconhece de definitivo e deixa como último critério o próprio eu e suas veleidades.
O relativismo derruba as normas morais válidas para todos os homens; ele é ateu; vê na religião e na moral católicas um obstáculo e um adversário, pois Deus é visto como um escravizador do homem e a moral católica destinada a tornar o homem infeliz. O relativismo atual coloca a ciência como uma deusa que vai resolver todos os problemas do homem; a qual está acima da moral e da religião. Mas se esquece de dizer que o homem nunca foi tão infeliz como hoje; nunca houve tantos suicídios, nunca se usou tanto antidepressivo e remédios para os nervos; nunca se viu tanta decadência moral, destruição da família e da sociedade. O relativismo é embalado também pelo ceticismo e pelo utilitarismo, os quais só aceitam o que pode ajudar a viver num bem-estar hedonista, aqui e agora. Há uma verdadeira aversão ao sacrifício e à renúncia. Infelizmente, esse perigoso relativismo religioso, que tudo destrói, penetrou sorrateiramente também na Igreja, especialmente nos seminários e na teologia. Isso levou o Papa João Paulo II a alertar aos bispos na ENCÍCLICA “VERITATIS SPENDOR”, de 1992, sobre o perigo desse relativismo que anula a moral católica.
No centro da crise, o saudoso Pontífice viu uma grave “contestação ao patrimônio moral da Igreja”. Diz São João Paulo II: “Não se trata de contestações parciais e ocasionais, mas de uma discussão global e sistemática do patrimônio moral… Rejeita-se, assim, a doutrina tradicional sobre a lei natural, sobre a universalidade e a permanente validade dos seus preceitos; consideram-se simplesmente inaceitáveis alguns ensinamentos morais da Igreja…” (Veritatis Spendor – n. 4). E o Papa chama a atenção para o fato grave de que “a discordância entre a resposta tradicional da Igreja e algumas posições teológicas está acontecendo mesmo nos Seminários e Faculdades eclesiásticas” (Veritatis Spendor – n. 4). No centro da crise moral, enfatizada por João Paulo II, ele revela qual é a sua causa: “o homem quer ocupar o lugar de Deus. A Revelação ensina que não pertence ao homem o poder de decidir o bem e o mal, mas somente a Deus” (cf. Gen 2,16-17). Não é lícito que cada cristão queira fazer a fé e a moral segundo o seu próprio juízo do bem e do mal. É por causa desse relativismo moral que encontramos com uma frequência assustadora, católicos que aceitam o divórcio e a comunhão de recasados, o aborto, a pílula do dia seguinte, a cotracepção, o casamento de homossexuais, a ordenação de mulheres, a eutanásia, a inseminação artificial, a manipulação de embriões, o feminismo… e outros erros que o Magistério da Igreja condena explicita e veementemente.
Ensina São Tomás de Aquino: “Neste enorme e geral delírio de opiniões que vai grassando, o cuidado de proteger a verdade e de extirpar o erro dos entendimentos é a missão da Igreja, e missão de todo o tempo e de todo o empenho, posto que à sua tutela foram confiadas a honra de Deus e a salvação dos homens. Mas quando a necessidade é tanta, já não são somente os prelados que hão de velar pela integridade da Fé, senão ‘que cada um tem a obrigação de propalar a todos a sua Fé, já para instruir e animar os outros fiéis, já para reprimir a audácia dos que não o são” -(São Tomás, Suma Teológica, II-II, q. 10, a. 2, q. ad 2)
Diz o Papa Leão XIII: “Recuar diante do inimigo, ou calar-se quando de toda parte se ergue tanto alarido contra a verdade, é próprio de homem covarde ou de quem vacila no fundamento de sua crença. Qualquer destas coisas é vergonhosa em si; é injuriosa a Deus; é incompatível com a salvação tanto dos indivíduos, como da sociedade, e só é vantajosa aos inimigos da Fé, porque nada estimula tanto a audácia dos maus, como a pusilanimidade dos bons”. – (Papa Leão XIII, Encíclica Sapientiae Christianae, de 10 de janeiro de 1890)
Como muito bem disse alguém, vivemos hoje o tempo em que alguns chamam de amor o seu exato oposto. Tornaram a caridade cristã um sentimento ralo de respeito humano e simpatia afetada. Tiraram dela o seu rigor, a sua “violência” mesmo, a sua exclusividade e, portanto, a sua fidelidade. Devemos ser tolerantes, dizem, mas tratam com intolerância os que não partilham destes seus ideais anticatólicos. Ignoram que Jesus tenha trazido a espada e que, pela retidão da Fé, isto é,pela intransigência dogmática, Ele dividiria até mesmo os pais contra os filhos. Esta tensão está presente em todo o Evangelho e em toda a história cristã. Constantemente somos interpelados pela necessidade de escolher entre Deus e os homens. Se tivermos vergonha de Deus diante dos homens, Deus se envergonhará de nós. E, no entanto, há quem passe por estas coisas, simplesmente como se não existissem ou fossem isentas de sentido. E aprendem um cristianismo afetado, misturado com as sentimentalices e esquerdices, e escondem o tesouro que nunca encontraram. Aparecemos, então, como os ultrapassados. Quando se pede uma liturgia mais cuidada, são acusados ou de materialistas velados, ou de adoradores de panos e materiais preciosos, ou de medievais obscuros, sem falar nos olhares, caretas e climas que se criam à sua volta. Mas… bendito sejam quando sofrerem por causa do Cristo. Não transijamos, caríssimos. Os que ainda vêem tudo isso nublado, estudem, leiam, procurem boas pessoas, pessoas de confiança, conversem, rezem, tenham vida sacramental, confessem-se frequentemente, tenham um profundo amor a Nossa Senhora, participem se possível, diariamente do Santo Sacrifício da Missa, ponham a vossa Fé em todo os momentos do vosso dia, no que quer que façam. Abandonem estes falsos conceitos de um amor mole e que busca agradar a todo mundo; ninguém precisa levar este peso nem ficar encenando afeições.
Sejamos verdadeiros. Muitos há que habitam os templos católicos mas sequer vislumbram a beleza que é ser Católico Apostólico Romano na sua integridade, sem modernismos, sem ceder ao discurso da hora. Deixemos disto! Cristo nos pede hoje para abandonar os mortos com os seus mortos, para pôr a mão no arado e não olhar para trás. E a coisa é urgente! Não há tempo sequer para se despedir dos pais nem para saudar as pessoas pelo caminho! Em todo este contexto, nós devemos encarar o desafio de manter a fidelidade à Igreja, de estudar a sua doutrina, de não querermos nos unir ao círculo dos zombadores que brincam com a liturgia e pervertem, nas catequeses, as almas das crianças, ensinando-lhes o erro e fazendo-as duvidar das verdades mais sublimes da Fé. E neste meio, se nos decidirmos pelo legítimo catolicismo, teremos de enfrentar as perseguições – por mais sutis ou dissimuladas que sejam – os olhares atravessados, e receberemos, por certo, diversos títulos nada honrosos, calúnias e julgamentos de intenção. Mas aí é que está, também, a aventura amorosa que Nosso Senhor nos concede passar. Os Apóstolos Pedro e João agradeciam a Deus por terem sido dignos de serem açoitados por amor do Seu nome. Aproveitemos, portanto, a ocasião, e ardamos de zelo pelo Senhor. Para tal, repito, estudemos. Há muitas pessoas que andam por aí desanimadas da Fé simplesmente porque foram enganadas e passaram a duvidar da autenticidade da Igreja. Estudemos e retomaremos o vigor! Conheçam esta beleza que é a Igreja. Aprofundemo-nos na sua doutrina, na sua filosofia, nos seus argumentos morais, e perceberão que não há razão para pusilanimidade, para vergonha, para constrangimento. Ao contrário! É preciso alastrar, de novo, o amor à Verdade, à luz, à bondade, à retidão. Chega de teorias desvairadas que tratam os homens como se fossem todos bestas covardes e lamacentas. Não! Amor à grandeza. Combatamos o bom combate e inflamemos os que estão ao nosso redor! Que percebam, pela integridade da suas vidas, as chispas daquele fogo a arder na alma e possam ter um vislumbre daqueles olhos que convidam: “vem, tu também, e segue-me”. O que a Igreja necessita urgentemente – e toda a criação geme em dores de parto por isso – é que os cristãos larguem essa capa de culpa sem fundamento, esse véu mentiroso de inferioridade, e barrem, em nome de Cristo e armados pela Sua Cruz, essa algazarra da iniquidade e essa zombaria com Deus e com as almas
Dizia Nosso Senhor: “infeliz daquele para quem eu for pedra de escândalo e ai daquele sobre quem esta pedra cair”. No combate, a Verdade é invencível e todo aquele que contra ela se levanta, haverá de quebrar-se. Não pensemos, caríssimos, que tudo isto é palavreado e conversa de efeito. Cristo é a verdade e Ele, por Si mesmo, é belo e forte, e atrai, e converte. Dizia São Paulo que cuidava para não usar de artifícios humanos, para não desvirtuar a Cruz de Cristo. Basta que sejamos transparentes e límpidos como a água cristalina! Para tal, cuidemos da pureza das nossas almas e de estar alimentados com o pão do céu, “o pão seco dos fortes” como o chamou Santa Edith Stein, o maná que cai sobre o deserto do exílio, o alimento que permite vencer o mundo. Medo, dor, prazeres egoístas e providos de traições, apegos e desejos de honrarias, tudo isto abandona-se, despreza-se e, como diz São Paulo, tem-se a preço de nada diante de Cristo e do Seu conhecimento. Não cabem na porta estreita e impedem a verdadeira alegria, que somente surge na nudez e na gratuidade do amor. Se nos despirmos convenientemente dessas coisas, adquiriremos uma agilidade tal que, antes do primeiro movimento dos inimigos da verdade, já os teremos fulminado. Sigamos, caríssimos! Força! Ninguém combate sozinho. Os católicos vivem, já, na comunhão dos santos. São muitos os que lutam no seu anonimato e na ordinariedade de suas vidas. E nada disso é fantasia. Convençamo-nos de Cristo, entusiasmemo-nos por Ele, defendamos a Sua Igreja, e imitemos a disposição de Santo Atanásio: “Se o mundo for contra a verdade, Atanásio será contra o mundo”. E jamais esqueçamos Aquele que disse: “Coragem, eu venci o mundo”. É por Ele que lutamos. Rezemos muito e sejamos fiéis católicos íntegros, sem capitular em nenhum ponto da Fé. Isso é de absoluta importância. Ninguém pense ser forte sem Cristo. Sem Ele, nada podemos. Não basta encenar. A via é íngreme mesmo… Mas tudo podemos nAquele que nos fortalece. N’Ele, vencemos o mundo. É preciso se entusiasmar de novo por Nosso Senhor. O passado da Igreja é glorioso! Amemos o bem, a verdade, a beleza, a grandeza, a pureza! E o façamos em plena luz do dia!
Equipe Padre Rodrigo Maria