SANTO DO DIA – 21 DE JANEIRO – SANTA INÊS
Virgem e Mártir (Séc. III)
Celebramos hoje a memória de S. Inês. A memória dessa mártir tão jovem, morta com apenas 12 anos, é privilegiada pela Liturgia de rito romano, porque foi em Roma que a martirizaram, no circo da Praça Navona, um lugar muito visitado hoje por turistas. Alguns pontos importantes sobre o martírio de Inês.
Ao comentar o martírio dela, S. Ambrósio vê um grande contraste entre, de um lado, a fragilidade física do corpo, tão franzino e de membros tão pequenos que não havia algemas estreitas o suficiente para prendê-lo, e, de outro, a fortaleza interior. Sabemos que a fortaleza é a grande virtude dos mártires, que enfrentam a morte e a crueldade por amor a Cristo. Mas o que é a fortaleza? É a virtude que governa os nossos esforços em busca do bem árduo.
De fato, existem bens fáceis de obter — basta estender a mão —, como um sorvete, um picolé etc.; mas há bens que valem a pena por serem elevados e, geralmente, árduos, difíceis de alcançar. Os mártires não manifestam apenas as virtudes humana e infusa da fortaleza, mas também o dom do Espírito Santo de mesmo nome e por isso realizam em vida uma força que só pode ser divina.
Quando lemos as atas do martírio de S. Inês, ficamos admirados de ver como o testemunho daquela menina chegou a abalar os próprios carrascos, que, diante das manifestações do poder de Deus nela, tão frágil, começaram a ter medo de executá-la. Cheia, porém, de fortaleza e do Espírito Santo, Inês mesma se apresenta e pede que lhe tirem logo a vida do corpo, que não poderia ser amado por alguém que não fosse o seu Esposo celeste, Jesus.
Ambrósio acrescenta que nem uma noiva recém-casada correria para os braços do marido com o entusiasmo e o amor com que Inês correu para o martírio. Não só isso: Inês era frágil não apenas fisicamente, mas também moral e juridicamente, por ser mulher e menor de idade, incapaz pelo direito da época de fazer qualquer coisa. Ela não podia nem sequer comparecer nos tribunais para testemunhar em favor de ninguém, e no entanto Deus lhe concedeu pela graça a capacidade de testemunhar o seu amor a Cristo. São esses prodígios da ação divina que a Igreja cultua ao venerar os santos! A Igreja venera o fato de os santos agirem de forma divina.
É importante ter claro o conceito de santidade. A heroicidade das virtudes dos santos não está no fato de que eles fazem coisas “admiráveis”. Não. Quando a Igreja olha para os santos, reconhece neles a operação dos dons do Espírito Santo, atos humanamente impossíveis e, por isso mesmo, divinos.
Tão pequena fisicamente, tão desprezível juridicamente, Inês foi elevada pelo Espírito Santo à estatura de um gigante — a grande S. Inês, que, noiva de Cristo, corre para os braços do Esposo, com a fortaleza que supera a morte e a veracidade da testemunha mais fiel.
Conheça mais sobre Santa Inês
O nome ‘Agnes’, para nós Inês, em grego significa pura e casta, enquanto em latim significa cordeiro. Para a Igreja, Santa Inês é o próprio símbolo da inocência e da castidade, que ela defendeu com a própria vida. A ideia da virgindade casta foi estabelecida na Igreja justamente para se contrapor à devassidão e aos costumes imorais dos pagãos. Inês levou às últimas consequências a escolha que fez à esses valores. É uma das Santas mais antigas do cristianismo. Sua existência transcorreu entre os séculos três e quatro, sendo martirizada durante a décima perseguição ordenada contra os cristãos, desta vez imposta pelo terrível imperador Diocleciano, em 304.
Inês pertencia à uma rica, nobre e cristã família romana. Isso lhe possibilitou receber uma educação dentro dos mais exatos preceitos religiosos, o que a fez tomar a decisão precoce de se tornar ‘esposa de Cristo’. Tinha apenas 13 anos quando foi denunciada como cristã.
Dotada de uma beleza incomum, recebeu inúmeros pedidos de casamento, inclusive do filho do prefeito de Roma. Aliás, essa foi a causa que desencadeou seu suplício e uma violenta perseguição contra os cristãos. A narração que nos chegou conta que o rapaz, apesar das negativas da jovem, tentava corteja-la. Seu pai indignado com as constantes recusas que deixavam seu filho inconsolável, tentou forçar que Inês aceitasse seu filho como esposo, mas tudo em vão. Numa certa tarde de tempestade, o rapaz tentou toma-la nos braços, mas foi atingido por um raio e caiu morto aos seus pés. Quando o prefeito soube, procurou Inês com humildade e lhe implorou que pedisse a seu Deus pela vida de seu filho. Ela erguendo as mãos e voltando os olhos para o céu orou para que Nosso Senhor trouxesse o rapaz de volta à vida terrena, mostrando toda Sua misericórdia. O rapaz voltou e percebendo a santidade de Inês se converteu cristão. Porém, seu pai, o prefeito, viu aquela situação como um sinal de poder dos cristãos e resolveu aplicar a perseguição, decretada por Diocleciano, de modo implacável.
Inês, segundo ele, fora denunciada e por isso teria de ser enviada para a prisão. Mesmo assim, ela nunca tentou se livrar da pena em troca do casamento que fora proposto em nome do filho do prefeito e muito menos negou sua fé em Cristo. Preferiu sofrer as terríveis humilhações de seus carrascos, que estavam decididos a fazê-la mudar de ideia através da força. Arrastada violentamente até a presença de um ídolo pagão, para que o adorasse, Inês se manteve firme em suas orações à Cristo. Depois foi levada à uma casa de prostituição, para que fosse possuída à força, mas ninguém ousou tocar sequer num fio de seu cabelo, saindo de lá na mesma condição de castidade que chegou.
Cada vez mais a situação ficava fora do controle das autoridades romanas e o povo estava se convertendo em massa. Para aplacar os ânimos Inês foi levada ao Circo e condenada à fogueira, mas o fogo prodigiosamente se abriu e não a queimou. Assim, o prefeito decretou que fosse morta por decapitação a fio de espada, naquele exato momento. Foi dessa maneira que a jovem Inês testemunhou sua fé em Cristo.
Seu enterro foi um verdadeiro triunfo da fé; seus pais, levaram o corpo de Inês, e o enterraram num prédio que possuíam na estrada que de Roma conduz a Nomento. Nesse local, por volta do ano de 354, uma Basílica foi erguida a pedido da filha do imperador Constantino, em honra à Santa. Trata-se de uma das mais antigas de Roma, na qual encontram-se suas relíquias e sepultura. Na arte, Santa Inês é comumente representada com uma ovelha, e uma palma, sendo que a ovelha sugere sua castidade e inocência.
Sua pureza martirizada faz parte, até hoje, dos rituais da Igreja. Todo ano, no dia de sua veneração, em 21 de janeiro, é realizada na Basílica de Santa Inês, fora dos muros do Vaticano, uma Missa solene onde dois cordeirinhos brancos, ornados de flores e fitas são levados para o celebrante os benzer. Depois os mesmos são apresentados ao Papa, que os entrega a religiosas encarregadas de os guardar até a época da tosquia. Com sua lã são tecidos os pálios que, na vigília de São Pedro e São Paulo, são colocados sobre o altar da Basílica de São Pedro. Posteriormente esses pálios são enviados à todos os arcebispos do mundo católico ocidental e eles os recebem em sinal da obediência que devem à Santa Sé, como centro da autoridade religiosa.
Não tinha Santa Inês mais do que doze ou treze anos, quando sofreu o martírio. Segundo velhos atos, voltava da escola, quando o filho do prefeito de Roma dela se enamorou. Após informar-se acerca dos pais da jovem, ofereceu-lhe vestidos mais esplendidos, valiosas pedrarias, e prometeu-lhe outras coisas, riqueza, casas, todas as delícias do mundo, no caso dela consentir em desposá-lo. Inês repeliu com desprezo os presentes, e disse ao jovem que estava noiva de um varão muito mais nobre que ele, o qual já lhe dera presentes muito mais inestimáveis. O filho do prefeito, desesperado, caiu doente. Os médicos descobriram-lhe a causa do mal e advertiram o pai, o prefeito Sinfrônio, que mandou renovar à virgem as ofertas e os pedidos. Respondeu-lhe Inês que nunca faltaria ao compromisso com o noivo. Achou o prefeito bastante estranho que houvesse outro preferido e tratou de indagar quem seria.
Um dos seus parasitas disse-lhe, então, que a jovem era cristã desde a infância, e que, enfeitiçada por artes mágicas, chamava a Cristo seu esposo. Radiante com o descobrimento, mandou o prefeito a conduzissem, com aparato, ao seu tribunal. Inês foi igualmente insensível às lisonjas e às ameaças. Chamou o prefeito os pais da jovem, e não podendo maltratá-los, por serem nobres, apresentou a acusação do cristianismo.
No dia seguinte, pois, em seguida a novos e inúteis esforços para a persuadir, disse-lhe: “- É a superstição dos cristãos, de quem te gabas de conhecer as artes mágicas, que te impede seguir bons conselhos. É preciso, portanto, que vás imediatamente para a deusa Vesta, a fim de que, se te apraz a virgindade perpétua, cuides noite e dia dos seus augustos sacrifícios.” Respondeu a santa: “- Se, por amor a Cristo, recusei vosso filho o qual, embora torturado por um amor sem regra, não deixa de ser homem vivo, capaz de raciocinar e de sentir, como poderei, ultrajando o Deus supremo, adorar ídolos mudos, surdos, insensíveis, inanimados, pedras inúteis numa palavra.” Retrucou o prefeito: “Escolhe de duas uma: ou sacrificarás à deusa Vesta com as suas virgens, ou te prostituirás, num péssimo lugar, com as filhas de má vida.” E disse-lhe Inês com segurança: ” Se soubésseis qual é o meu Deus, não falaríeis dessa maneira. Eu, que sei qual a força de meu Senhor Jesus Cristo, desprezo as vossas ameaças, certa de que me não poluirão as impurezas alheias, como não sacrificarei aos vossos ídolos; tenho comigo, como guarda do meu corpo, o anjo do Senhor.” Com efeito, tendo sido levada a um antro de prostituição, lá se lhe deparou a anjo do Senhor, que a circundou de uma luiz tão esplendorosa que ninguém a podia ver.
Tendo começado a orar, percebeu na sua frente uma túnica branca com a qual se cobriu, abençoando a Deus. O lugar de infâmia tornou-se, assim, lugar de prece e piedade. Quem quer que lá entrasse, sentia-se tocado por um aspecto religioso à vista daquela luz inesperada, e saía mais puro do que quando entrava. O filho do prefeito, chamando a todos de covardes, atirou-se ao meio da luz, mais caiu cegado e até, segundo os atos, sem vida. Um dos seus companheiros, ao vê-lo morto, pô-se a gritar: “Socorro! Uma prostituta, por artes mágicas, matou o filho do prefeito!” O povo atirou-se ao recinto, gritando: – “É uma feiticeira! – É inocente! – É um sacrilégio!” O prefeito, sabedor da morte do filho, acorreu precipitadamente, aflito, dizendo à santa que era a mais cruel dentre todas as mulheres, e perguntando-lhe de que modo havia matado o filho. Respondeu ela que o rapaz fora sufocado pelo impuro demônio cujos desígnios tratava de levar a efeito.
Era manifesta a prova, pois os que haviam respeitado a luminosa presença do anjo, tinha saído são e salvos. O prefeito respondeu-lhe que acreditaria nas suas palavras, se ela rogasse ao anjo devolver-lhe o filho. “Se bem que o não mereça a vossa fé, retrucou a jovem, sendo tempo de manifestar-se o poder de meu Senhor Jesus Cristo, saí todos, para que eu lhe ofereça a prece habitual.” Saíram todos,, e ela se prosternou, e rogou ao Senhor, com lágrimas, que ressuscitasse o jovem. O anjo, aparecendo, devolveu-lhe a vida. O jovem começou a bradar: “Só há um Deus no céu e na terra, e é o Deus dos cristãos.”
Àquelas palavras, todos os arúspices e pontífices dos templos estremeceram, e instigaram o povo à sedição. Todos gritam: “Abaixo a feiticeira, que muda opiniões e transtorna!” O prefeito diante de tão grandes maravilhas, ficou estupefato. Mas temia a proscrição, no caso de agir contra os pontífices e defender Inês contra a sua própria sentença. Assim, tristemente, deixando no seu lugar o substituto, afastou-se. O substituto, chamado Aspásio, mandando que se acendesse uma grande fogueira, a ela atirou a santa. Mas as chamas, afastando-se para um lado e outro, queimaram vários dos espectadores. Inês, de braços estendidos, abençoava a Deus pelas suas maravilhas, quando o fogo se apagou de súbito. Os pagãos mais ainda bradavam contra a feitiçaria. O substituto, não encontrando outro meio para apaziguar os ânimos enfurecidos, deixou que a santa morresse pelo gládio.
(Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume II, p. 73 à 77)