Com esta antiga novena à Virgem Maria, somos chamados a meditar sobre o mistério de sua Imaculada Conceição, pedindo-lhe sobretudo que nos conserve na graça de Deus e nos faça crescer na vida de virtudes.
O texto da novena a seguir, extraído de um manual antigo de orações em latim e italiano [1], foi vertido para a língua portuguesa por nossa equipe. Tem a vantagem de ser uma oração tradicional, com pedidos espirituais e formas bastante piedosas de se dirigir à Virgem Santíssima. (O que deveria ser uma regra para qualquer novena que a ela se faça, mas não é isto, infelizmente, o que se encontra em muitos lugares.)
A devoção à Imaculada Conceição é particularmente forte nos países lusófonos e acompanha a história de Portugal desde as suas origens. Três fatos são suficientes para atestá-lo:
- No Cerco de Lisboa, em 1147, quando a cidade foi tomada dos muçulmanos por D. Afonso Henriques, o primeiro rei português, uma Missa pontifical de ação de graças foi celebrada em honra à Virgem da Conceição.
- Na crise dinástica do século XIV, que se resolveu com a Batalha de Aljubarrota, em 1385, D. Nuno Álvares Pereira (São Nuno de Santa Maria) mandou construir em Vila Viçosa um tempo a Nossa Senhora da Conceição.
- Após a Restauração da Independência de Portugal, em 1640, D. João IV jurou e proclamou solenemente Nossa Senhora da Conceição como Rainha e Padroeira de Portugal e de todos os seus territórios ultramarinos (o que incluía, na época, o Brasil). Na provisão régia — confirmada depois pelo próprio Papa —, o rei prometeu “confessar e defender sempre (até dar a vida sendo necessário) que a Virgem Maria Mãe de Deus foi concebida sem pecado original”. Depois, num ato profundamente simbólico, coroou a imagem da Virgem da Conceição, na mesma igreja de Vila Viçosa, e desde então os reis de Portugal nunca mais colocariam a coroa real em sua cabeça, como forma de reconhecer na Virgem Maria a única verdadeira soberana de todo o reino lusitano.
Essa devoção também se tornou particularmente cara ao povo brasileiro, principalmente com a pesca milagrosa de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição no rio Paraíba, em 1717 — daí o culto à Virgem Aparecida. No século seguinte, o Brasil se tornaria independente de Portugal, mas a devoção à Imaculada continua a unir espiritualmente as duas nações.
Em 1854, o Beato Papa Pio IX finalmente proclamou como dogma a Imaculada Conceição, tornando obrigatória a todos os católicos essa doutrina que os portugueses e brasileiros já confessavam espontaneamente.
Por isso, sugerimos aos nossos leitores que façam esta novena não só dos dias 29 de novembro a 7 de dezembro (que precedem a solenidade da Imaculada Conceição), mas também de 3 a 11 de outubro (quando nos preparemos para a festa de Nossa Senhora Aparecida) — embora essas orações possam ser rezadas a qualquer tempo.
Orações preparatórias
Vinde, Espírito Santo, enchei o coração dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor.
℣. Enviai o vosso Espírito, e tudo será criado.
℟. E renovareis a face da terra.
Oremos. Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, concedei-nos amar, no mesmo Espírito, o que é reto e gozar sempre a sua consolação. Por Cristo, Senhor nosso. ℟. Amém.
Ó Virgem puríssima concebida sem pecado, desde o primeiro instante toda bela e sem mancha. Ó gloriosa Maria, cheia de graça e Mãe de meu Deus, Rainha dos anjos e dos homens. Humildemente vos venero como Mãe do meu Salvador, que, sendo Deus, me ensinou com sua estima, respeito e submissão a vós a honra e a homenagem que vos devo prestar. Dignai-vos acolher-me a mim, que nesta novena a vós me consagro. Sendo vós refúgio seguro dos pecadores arrependidos, tenho razão para recorrer a vós; sendo Mãe de misericórdia, não podeis não vos compadecer de minha miséria; sendo, depois de Jesus Cristo, toda a minha esperança, não podeis não vos agradar da tenra confiança que em vós tenho. Fazei-me digno de chamar-me vosso filho, a fim de que possa dizer com confiança: Mostrais que sois Mãe.
— Em seguida, reza-se uma Ave-Maria, um Glória
Oração do dia
1º dia Ι 2º dia Ι 3º dia Ι 4º dia Ι 5º dia Ι 6º dia Ι 7º dia Ι 8º dia Ι 9º dia
Oração Final
— Em seguida, reza-se o hino abaixo (ou a ladainha de Nossa Senhora):
(Aqueles que desejarem além da oração final, também podem rezar/cantar também o Ofício da Imaculada Conceção disponível aqui.)
℣. Toda bela sois, Maria.
℟. Toda bela sois, Maria.
℣. E sem a mancha original.
℟. E sem a mancha original.
℣. Sois a glória de Jerusalém.
℟. Sois a alegria de Israel.
℣. Sois a honra do nosso povo.
℟. Sois a Advogada dos pecadores.
℣. Ó Maria.
℟. Ó Maria.
℣. Virgem prudentíssima.
℟. Mãe clementíssima.
℣. Rogai por nós.
℟. Intercedei por nós ao Senhor Jesus Cristo.
Em seguida, reza-se:
℣. Em vossa Conceição, ó Virgem, fostes imaculada.
℟. Rogai por nós ao Pai cujo Filho destes à luz.
Oremos. Ó Deus, que pela Imaculada Conceição da Virgem Maria preparastes uma digna morada para o vosso Filho e em atenção aos méritos futuros da morte de Cristo a preservastes de toda mancha, concedei-nos, por sua intercessão, a graça de chegarmos purificados junto de Vós. Ó Deus, pastor e guia de todos os fiéis, olhai propício para o vosso servo N., que constituístes pastor de vossa Igreja; dai-lhe, nós vos pedimos, servir por palavra e exemplo aqueles a quem governa, a fim de alcançar a vida eterna com o rebanho que lhe foi confiado. Ó Deus, nosso refúgio e fortaleza, ouvi as piedosas súplicas de vossa Igreja, Vós que sois o autor da piedade, e concedei-nos alcançar eficazmente o que com confiança vos pedimos. Por Cristo, Senhor nosso. ℟. Amém.
Aqueles que desejarem além da oração final, também podem rezar/cantar também o Ofício da Imaculada Conceção disponível aqui.
Primeiro dia
Eis-me aqui aos vossos pés santíssimos, ó Virgem Imaculada. Alegro-me grandemente convosco, eleita desde a eternidade para ser Mãe do Verbo eterno e preservada da culpa original. Dou graças e bendigo à Santíssima Trindade, que vos enriqueceu com este privilégio em vossa Conceição, e suplico-vos humildemente que me alcanceis a graça de vencer as tristes sequelas que em mim deixou o pecado original. Fazei que eu as supere e não deixe mais de amar ao meu Deus.
Segundo dia
Ó Maria, lírio imaculado de pureza, alegro-me convosco, que desde o primeiro instante de vossa Conceição fostes cumulada de graça e recebestes o uso perfeito da razão [2]. Dou graças e adoro à Santíssima Trindade, que vos concedeu dons tão sublimes. Confundo-me todo diante de vós, vendo-me tão pobre de graça. Vós, que fostes plenamente cumulada de graça celeste, fazei-me participar e compartilhar dos tesouros de vossa Imaculada Conceição.
Terceiro dia
Ó Maria, rosa mística de pureza, alegro-me convosco, que em vossa Imaculada Conceição triunfastes gloriosamente da serpente infernal e fostes concebida sem a mancha do pecado original. Dou graças e louvo com todo o coração à Santíssima Trindade, que vos concedeu tal privilégio, e vos suplico que me alcanceis a força para superar todas as insídias do inimigo infernal e não manchar com o pecado a minha alma. Ajudai-me sempre e fazei-me, com vossa proteção, triunfar sempre do inimigo comum de nossa eterna salvação.
Quarto dia
Ó Imaculada Virgem Maria, espelho de pureza, encho-me de sumo gozo ao ver que vos foram infusos desde a vossa Conceição os dons mais sublimes e perfeitos de virtude e também todos os dons do Espírito Santo. Dou graças e louvo à Santíssima Trindade, que vos favoreceu com estes privilégios, e vos suplico, ó Mãe benigna, que me alcanceis a prática da virtude e a graça de tornar-me digno de receber os dons e a graça do Espírito Santo.
Quinto dia
Ó Maria, lua reluzente de pureza, alegro-me convosco, pois o mistério de vossa Imaculada Conceição foi o início da salvação de todo o gênero humano e a alegria do mundo inteiro. Dou graças e bendigo à Santíssima Trindade, que assim vos engrandeceu e glorificou, e vos suplico que me alcanceis a graça de saber aproveitar-me da paixão e morte do vosso Jesus. Que não seja para mim inútil o Sangue derramado na cruz, mas que eu viva santamente e me salve.
Sexto dia
Ó Maria Imaculada, estrela esplendorosa de pureza, alegro-me convosco, porque a vossa Imaculada Conceição foi motivo de grandíssima alegria para todos os anjos do paraíso. Dou graças e bendigo à Santíssima Trindade, que vos enriqueceu de tão belo privilégio. Fazei-me entrar um dia nesta alegria e poder, na companhia dos anjos, louvar-vos e bendizer-vos eternamente.
Sétimo dia
Ó Maria Imaculada, aurora nascente de pureza, alegro-me convosco, admirado de que no momento mesmo de vossa Conceição fostes confirmada em graça e tornada impecável. Dou graças e exalto à Santíssima Trindade, que vos distinguiu somente a vós com este particular privilégio. Impetrai-me, ó Virgem santa, um total e contínuo horror ao pecado, mais do que a qualquer outro mal, e que eu prefira antes morrer que voltar a pecar.
Oitavo dia
Ó Virgem Maria, sol sem mancha, alegro-me convosco, cheio de gozo por terdes recebido de Deus em vossa Conceição uma graça maior e mais copiosa que a alcançada por todos os anjos e santos no auge de seus méritos. Dou graças à Santíssima Trindade, admirado da suma beneficência com que vos dispensou este privilégio. Fazei-me corresponder à graça divina e a dela não mais abusar. Transformai-me o coração e fazei que eu me arrependa desde agora de minhas culpas.
Nono dia
Ó Maria, Virgem Imaculada, luz viva de santidade, exemplo de pureza e Mãe minha. Vós, apenas concebida, adorastes profundamente a Deus e lhe rendestes graças, já que por meio de vós, desfeita a antiga maldição, derramou-se a maior bênção sobre os filhos de Adão. Fazei que esta bênção acenda em meu coração um amor ardente a Deus. Inflamai-o vós, para que eu o ame constantemente e dele goze depois para sempre no paraíso, onde poderei dar-lhe graças mais ardentemente pelos singulares privilégios que vos concedeu e gozar de vós coroada de tanta glória.
Notas
- Raccolta di orazioni e pie opere alle quali sono annesse le s. indulgenze. 11.ª ed. Roma: Dalla Tipografia Marini e Compagno, 1844, p. 203ss.
- É sentença piedosa, sustentada por vários teólogos importantes como, por exemplo, Santo Afonso M.ª de Ligório (cf. Glórias de Maria, p. II, d. 2, “Do nascimento de Maria”, p. 2), a de que Nossa Senhora, desde o primeiro instante de sua concepção no ventre de Sant’Ana, teria gozado do uso da razão e do livre-arbítrio, precondição necessária aos atos meritórios possibilitantes do crescimento em graça, o qual, para estes autores, se deu ao longo de toda a vida terrena de Maria. Uma segunda razão para reconhecer nela tal privilégio funda-se no que em mariologia se conhece como princípio de eminência, segundo o qual há que atribuir à Mãe de Deus, em sentido formal ou equivalente, todos os privilégios concedidos aos outros santos, desde que não sejam incompatíveis com a dignidade (por exemplo, o dom de lágrimas, que supõe o arrependimento dos pecados) nem com a missão dela neste mundo (por exemplo, o dom de línguas, ordenado à pregação pública do Evangelho entre os gentios). Ora, como a interpretação comum e tradicional dos Padres vê na pré-santificação de João Batista o uso extraordinário das faculdades intelectuais, dever-se-ia atribuí-lo também à Virgem Menina, tão-logo começou a existir. — Obviamente, nenhum católico está obrigado a aceitar essa opinião teológica.