Joe Biden diz que aborto legal é compatível com as “principais religiões”
Por ACI Digital – Joe Biden, o segundo presidente católico na história dos Estados Unidos, disse ontem (3) que a decisão da Suprema Corte no caso Roe x Wade, que legalizou o aborto em todo o país em 1973, é compatível com “o que todas as principais religiões concluíram historicamente”.
Em declarações à imprensa feitas na Base Aérea de Andrews, pouco antes de decolar no avião presidencial, Biden disse que a decisão que legalizou o aborto nos EUA há meio século “diz o que todas as principais religiões básicas concluíram historicamente, que o direito, que a existência de uma vida e de um ser humano é uma interrogante”.
“É no momento da concepção? É com seis meses? É com seis semanas? É, é a vivificação, como (santo Tomás) de Aquino argumentou?”, questionou Biden.
Em termos médicos, costuma-se falar de vivificação como o período em que a gestante começa a sentir o movimento do bebê em seu ventre.
BIDEN: “Roe says what all basic mainstream religions have historically included, that the existence of a human life and being is a question.” pic.twitter.com/PujN4gaYDw
— Townhall.com (@townhallcom) May 3, 2022
Biden fez estas declarações no contexto do recente vazamento de um rascunho de parecer de maioria da Suprema Corte, que derrubaria Roe x Wade, eliminando o suposto “direito” ao aborto e deixando que cada estado do país determine sua legislação sobre o tema.
A autenticidade do documento vazado foi confirmada pela Suprema Corte Federal, que disse que esta não é uma decisão final ou oficial, a qual será dada em junho deste ano.
Em sua entrevista coletiva de ontem (3), o presidente dos EUA também foi a favor da “codificação” de Roe x Wade, o que implicaria na aprovação de uma lei que declara o aborto como um direito.
A menção a santo Tomás de Aquino, doutor da Igreja, é um recurso comum dos católicos que tentam defender sua posição a favor do aborto.
Em um artigo sobre a posição de santo Tomás sobre o aborto, frei Nelson Medina, padre dominicano com doutorado em teologia fundamental, disse que os textos do doutor da Igreja a esse respeito devem ser entendidos no contexto “dos conhecimentos biológicos de seu tempo e de sua metafísica”.
Para o teólogo dominicano, “se vivesse em nosso tempo, santo Tomás de Aquino chegaria à conclusão de que um aborto precoce deveria ser considerado homicídio”.
“E pediria às autoridades civis ações efetivas para prevenir tal crime e punir aqueles que o cometem com penas adequadas ao seu grau de culpa”, disse.
Biden tem se manifestado repetidamente a favor do aborto legal. Já em seu plano de governo, anunciou seu desejo de “ampliar o acesso à contracepção e proteger o direito constitucional ao aborto”.
Apesar de seu apoio à agenda do aborto, Biden continua se apresentando como um católico devoto, participando da missa e recebendo a Eucaristia.
Em outubro de 2021, o arcebispo de Kansas City e presidente do Comitê de Atividades Pró-Vida da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, dom Joseph Naumann, disse que Biden “gosta de ser tratado como um católico devoto”. “Eu exigiria que ele começasse a agir como tal, especialmente em questões relacionadas à vida”, disse.
“E também para que realmente permita que sua fé perfile sua consciência e as decisões que está tomando, não sua plataforma partidária”, acrescentou.
Suprema Corte deve derrubar decisão que legalizou aborto nos EUA, diz rascunho de relatório
A Suprema Corte dos EUA votará para derrubar Roe x Wade, a decisão de 1973 que legalizou o aborto em todo o país, segundo um rascunho com o parecer da corte vazado pela imprensa do país na noite de segunda-feira, 2 de maio.
“Consideramos que Roe e Casey devem ser derrubados”, escreve o juiz Samuel Alito no suposto rascunho de 98 páginas, obtido pelo site americano POLITICO. O documento se chama “Parecer da Corte”.
“É hora de fazer caso à Constituição e devolver o tema do aborto aos representantes eleitos do povo”, acrescenta Alito.
A reportagem de POLITICO descreveu o parecer como “um repúdio rotundo e inquebrantável” de Roe x Wade, que criou um direito constitucional nacional ao aborto até um período entre 25 e 28 semanas de gravidez.
A Suprema Corte, portanto, fica do lado do estado do Mississippi, que apelou buscando manter a proibição de abortos a partir das 15 semanas, que os legisladores aprovaram em 2018.
O documento, que traz a frase “1º Rascunho” no topo, observa que o raciocínio na sentença Roe x Wade foi “excepcionalmente fraco”, que a decisão original teve “consequências prejudiciais” e que a decisão foi “eminentemente errada”.
“O aborto apresenta um profundo questionamento moral. A Constituição não proíbe os cidadãos de cada Estado de regulamentar ou proibir o aborto. Roe [x Wade] e [Planned Parenthood x Casey] se arrogaram essa autoridade. Agora anulamos essas decisões e devolvemos a autoridade ao povo e a seus representantes eleitos”, diz o rascunho.
CNA, agência em inglês do grupo ACI, não conseguiu verificar de forma independente se o rascunho contendo o parecer da corte divulgado pelo site POLITICO é genuíno, e a decisão da corte não será definitiva até que seja publicada, o que pode acontecer até o final de junho. Se a decisão se mantiver, mais de uma dúzia de estados imediatamente tornariam o aborto ilegal.
A reportagem, embora diga que os juízes da Suprema Corte podem mudar seus votos enquanto os rascunhos estão sendo revisados, disse que não está claro se alguma mudança foi feita após o primeiro rascunho.
A reportagem do site POLITICO diz que quatro ministros aderiram à opinião majoritária de Alito, enquanto três preparam votos contrários.
John Roberts, presidente da Suprema Corte, ainda não decidiu seu voto.
Se o rascunho for autêntico, esta será a primeira vez na história moderna da Corte que um rascunho de parecer do tribunal vazou enquanto o caso ainda está pendente, de acordo com o POLITICO.
SCOTUSblog, um conhecido site que informa sobre a Suprema Corte, tuitou que o rascunho é “quase certamente um rascunho de opinião genuíno” e que seu vazamento constituiu um “pecado imperdoável”.
“O documento vazado por POLITICO é quase certamente um autêntico rascunho de opinião de J. Alito, refletindo o que ele acredita e pelo menos cinco membros da Corte apoiaram com seu voto, derrubando Roe. Mas como um rascunho de Alito, ele não reflete os comentários ou reações de outros juízes”, comentou SCOTUSblog.
“É impossível calcular o terremoto que isso causará dentro da Corte, em termos de destruição da confiança entre juízes e funcionários. Esse vazamento é o pecado mais sério e imperdoável”, acrescentou.
Líderes pró-vida reagiram com cautela à reportagem de POLITICO.
O grupo pró-vida SBA List disse que não comentará o caso até que “uma decisão final seja anunciada pela Corte”.
Por sua vez, Abby Johnson, líder pró-vida que deixou a indústria do aborto e que inspirou o filme Unplanned, tuitou: “A opinião do juiz Alito vazou. Parece que a Suprema Corte está pronta para derrubar Roe! Isso foi publicado sem dúvidas por um membro da equipe a favor do aborto tentando provocar agitação na corte”.
Johnson incentivou a rezar ainda mais pelos juízes que seriam a favor da reversão de Roe x Wade.
Kristan Hawkins, presidente da Students for Life, escreveu: “A Corte não pode permitir que as táticas de intimidação da esquerda combinadas com a ameaça de caos causada por um vazamento sem precedentes mudem o rumo certo: o fim de Roe x Wade”.
O que a Igreja Católica ensina sobre o aborto
Longe do que Biden disse em 3 de maio, o Catecismo da Igreja Católica é claro em seu número 2270 que “a vida humana deve ser respeitada e protegida, de modo absoluto, a partir do momento da concepção”.
“Desde o primeiro momento da sua existência, devem ser reconhecidos a todo o ser humano os direitos da pessoa, entre os quais o direito inviolável de todo o ser inocente à vida”, diz.
No número 2271, o Catecismo diz que “a Igreja afirmou, desde o século I, a malícia moral de todo o aborto provocado. E esta doutrina não mudou. Continua invariável. O aborto direto, isto é, querido como fim ou como meio, é gravemente contrário à lei moral”.
Em seguida, no número 2272, ensina que “a colaboração formal num aborto constitui falta grave. A Igreja pune com a pena canônica da excomunhão este delito contra a vida humana. (…) A Igreja não pretende, deste modo, restringir o campo da misericórdia. Simplesmente, manifesta a gravidade do crime cometido, o prejuízo irreparável causado ao inocente que foi morto, aos seus pais e a toda a sociedade”.