“Se os homens compreendessem o valor da Santa Missa, para cada Missa seria necessário chamar os guardas, a fim de manterem em ordem as multidões de gente nas igrejas”
São Padre Pio de Pietrelcina
Eu não vou à Missa; eu posso rezar em casa.
Esta frase, ou variações dela, tem sido freqüentemente dita e ouvida nestes últimos anos, mesmo antes da pandemia.
Ora, isso mostra uma incompreensão total do que seja a Missa. A Missa não é uma reunião de pessoas em oração. A Missa é um Sacrifício, ou melhor dizendo, é O Sacrifício que nos reconcilia com o Pai – o Sacrifício de Cristo na Cruz – tornado novamente presente diante de nós para nosso bem.
O sacerdote, durante a Missa, não é uma pessoa qualquer que esteja conduzindo um grupo em oração; ele naquele momento age na Pessoa de Cristo, ele é Cristo, oferecendo-Se em Sacrifício a Deus Pai por nossos pecados.
A Missa tem várias partes, todas elas orientadas rumo a seu auge, o Sacrifício. Ao iniciar a Missa, temos o Confiteor (“Confesso a Deus Todo-Poderoso…”), em que mostramos a nossa indignidade e imploramos o perdão de Deus e a intercessão das orações dos Santos e de nossos irmãos. Após este nosso reconhecimento de nossa condição de pecadores, o sacerdote, que age na Pessoa de Cristo, único Mediador entre nós e Deus-Pai, pede a Deus por nós.
Em seguida, temos uma aula: a Liturgia da Palavra. Nesta aula ouvimos trechos da Sagrada Escritura, seguidos por uma explicação do que ouvimos (a homilia). Após a homilia, professamos a nossa Fé no Credo (“Creio em Deus…”). Começa então aquilo que é o centro da Missa, a razão de ser da Missa, da Igreja e, porque não dizê-lo, do Universo criado: o Sacrifício.
Sim, o universo inteiro foi criado para a celebração da Santa Missa. A celebração da Santa Missa é o Sacrifício Perfeito, o ato de adoração mais completo e perfeito que pode existir, o único que é digno de Deus. E como o universo foi criado para a maior glória de Deus e a Santa Missa é o mais perfeito ato de adoração a Deus, podemos dizer que o universo foi criado para a Santa Missa!
Este é um problema que encontramos muitas vezes em pessoas que tiveram contato exagerado com algumas heresias modernas, especialmente o chamado protestantismo: como o protestante não tem a Missa, ele considera que veneração é adoração. Venerar é o que o filho faz em relação a seu pai: ele o louva, ele pede aquilo de que necessita, ele agradece a ele pelo que dele recebe. Adorar é oferecer sacrifício. O macumbeiro adora suas “entidades”: ele oferece sacrifícios de bichos a elas. O protestante venera a Deus, dando-Lhe louvor, pedindo-Lhe e agradecendo-Lhe graças recebidas. O católico, porém, adora a Deus. Esta adoração é feita pelo Sacrifício da Missa, oferecido pelo sacerdote na Pessoa de Cristo em nome de todos os fiéis.
Como ocorre este Sacrifício?
Ele ocorre de maneira incruenta, ou seja, sem mortes e derramamento de sangue.
Ele é o mesmo Sacrifício de Cristo na Cruz, que não é repetido, mas tornado novamente presente.
Ele ocorre de acordo com a vontade do próprio Senhor, ou seja, sob as espécies (aparência) de Pão e Vinho. Pelas palavras de Cristo (Isto é o Meu Corpo/Isto é o Meu Sangue) o pão e o vinho deixam de ser pão e vinho e passam a ser o Corpo e Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo. Este Corpo e este Sangue de Cristo são então oferecidos “por Cristo, com Cristo e em Cristo” a Deus.
Este oferecimento é feito pelo sacerdote, que em virtude de sua ordenação sacerdotal, que pode ser traçada até os Apóstolos e deles a Cristo, tem este poder. Alguém não ordenado não conseguiria fazer com que pão e vinho deixassem de ser pão e vinho para tornar-se o Corpo e o Sangue de Cristo. Do mesmo modo, alguém não ordenado não conseguiria oferecer o Sacrifício, e é por isso que o único som que se ouve na igreja durante o “Per Ipsum” (“Por Cristo, com Cristo e em Cristo”) é a voz do sacerdote, que sozinho tem o poder de oferecer o Sacrifício na Pessoa de Cristo. À voz do sacerdote responde a assembléia, em cujo benefício foi oferecido o Sacrifício: “Amém”.
A Comunhão
É permitido que haja a distribuição de Comunhão, ou seja, de partículas do Santíssimo Sacramento (cada partícula é o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo por inteiro; Ele não é despedaçado), aos leigos. É obrigatório comungarmos uma vez por ano pela Páscoa. Não é necessário de modo algum comungar a cada Missa ou a cada semana (ainda que seja sim necessário que assistamos à Missa todos os Domingos e dias santos de guarda), apesar disso ser muito bom.
Não podemos, entretanto, comungar se não estivermos preparados. O que significa estar preparado? Estar preparado significa estar em estado de graça, não haver cometido nenhum pecado mortal desde a última confissão. Não importa o estado emocional da pessoa; ela pode estar alegre ou triste, feliz ou infeliz. Ela não pode, porém, ter pecado mortalmente depois de sua última confissão.
Assim, não pode comungar:
- Quem usa, vende, distribui, permite que use ou manda usar pílulas anticoncepcionais, “camisinhas”, DIUs, etc.
- Quem vive conjugalmente com alguém com quem não é casado na Igreja
- Quem nega verdades de Fé ou Moral propostas de maneira definitiva pela Igreja
- Quem cometeu qualquer outro pecado mortal depois de sua última confissão ou o comete de maneira habitual.
Receber o Santíssimo Sacramento é receber a Deus dentro de nós, literalmente. Não podemos receber a Deus se somos Seus inimigos, como nos tornamos pelo pecado mortal. Comungar em pecado mortal é um atentado contra Deus e um pecado gravíssimo.
“Ora”, poderia alguém dizer, “como pode ser que haja gente que comunga a cada domingo, tendo confessado seus pecados, e mesmo assim não se vejam frutos desta comunhão? Se ela está recebendo Deus dentro de si, deveria estar visivelmente mais santa, não?”
Não necessariamente. O fruto da Comunhão depende da disposição da pessoa, da aceitação que ela dá à Graça. Alguém que se fecha para a graça não deixa Deus agir, e Deus não arrombará suas portas. Quanto mais aberta para a graça a pessoa for, maiores serão os frutos da Comunhão. Se ela estiver totalmente fechada para a graça (pelo pecado mortal, por exemplo), os frutos serão de condenação. Se ela estiver aberta para a graça, ela será tornada mais santa.
Mesmo assim, os frutos da presença na Missa já são muito grandes para as pessoas que não comungaram, caso elas estejam abertas para a Graça. Não poder comungar não é motivo para não assistir à Santa Missa, pelo contrário; assistir ao Sacrifício de Cristo vai ajudar a pessoa a livrar-se daquilo que a impede de abrir-se para a Graça, até que ela consiga confessar-se e assim poder comungar.
Assim, podemos dizer com certeza: podemos sim rezar em casa, mas ir à Missa não é sinônimo de rezar. Rezar é louvar, pedir, agradecer; rezar é venerar o autor da Graça. Ir à Missa é adorar, é oferecer o Sacrifício, é entrar em contato direto com o próprio Senhor.