O Padre José Eduardo, durante a homilia de ontem, fez um grave alerta aos pais, catequistas e professores, explicando do jeito mais didático e simples o que é a ideologia de gênero na Educação e como combatê-la.
Assista esta importante homilia sobre a educação dos filhos: “Educar a criança para Deus e não para si”. Clique aqui para assistir:
Padre José Eduardo: “Por trás da ideologia de gênero há um projeto de poder”
O padre José Eduardo de Oliveira e Silva, da Diocese de Osasco, tornou-se referência no que diz respeito à defesa da família em âmbito nacional. Embora religioso, em vários de seus debates públicos, ele deixa de lado argumentos bíblicos e opta por defender suas convicções, principalmente, a partir da filosofia, da história e do direito. É com base nessas e outras áreas do conhecimento humano que o sacerdote vem apontando, há anos, o perigo sorrateiro que a ideologia de gênero representa para o país, em especial quando aplicada à educação.
Em vários dos intensos debates sobre o assunto que movimentaram casas legislativas pelo país, ele foi presença frequente. Uma de suas participações mais relevantes se deu em setembro de 2015, quando foi um dos conferencistas convidados pela Comissão para Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, em Brasília.
O Sempre Família conversou com o sacerdote sobre os motivos pelos quais as famílias devem se preocupar com a ideologia de gênero e o que elas podem fazer pela educação dos seus filhos.
Vários setores da sociedade, incluindo muitos grupos cristãos, travam uma luta bastante intensa contra a instauração da ideologia de gênero no âmbito judicial relativo à educação. Mesmo com diversas vitórias, será possível apenas com essa batalha judicial atingir resultados duradouros, sendo que no âmbito acadêmico a ideologia de gênero domina?
Não. Sem dúvida, precisamos entender que a verdadeira batalha é filosófica. É preciso entender a lógica interna dessa ideia para desconstruí-la por dentro, o que não é muito difícil, porque ela é flagrantemente ideológica. Hoje em dia fala-se em alguns meios que não existe uma “ideologia” de gênero. Há pessoas até que são, digamos, da mesma posição que a nossa, que evitam falar a palavra “ideologia” porque a consideram muito agressiva. No entanto, há uma ideologia, sim, e os textos dos próprios autores que a propõem são muito categóricos nesse sentido.
…há uma ideologia, sim, e os textos dos próprios autores que a propõem são muito categóricos nesse sentido.
Afinal de contas, o que é uma ideologia? Uma ideologia é diferente da verdadeira filosofia. A filosofia enxerga toda a realidade através de princípios últimos; ela tem realmente princípios, que são verificáveis. A filosofia entende que esses princípios são a melhor expressão da realidade. Uma ideologia faz exatamente o contrário: ela concebe um ideal prático, e em nome desse ideal prático futuro, recalcula toda a realidade, mesmo passando por cima dos princípios, fazendo com que toda a realidade seja adulterada, forçada, arrombada. Então esse é o problema: o que a gente vê nos textos dos teóricos de gênero é que a perspectiva de gênero deve ser um pré-requisito metodológico normativo e um fim político. Ou seja, é um pré-requisito, você não está nem discutindo se aquilo é verdade ou não, mas já parte da ideia de que aquilo é a realidade e depois o transforma num fim político. Isso é que, de fato, é uma ideologia. Por isso não adianta só a batalha judicial. A gente tem que realmente, filosoficamente, despir essas ideias e mostrar o seu fundo ideológico, mostrar que na essência elas têm apenas uma coisa: vontade de poder.
É a essa vontade de poder que o senhor se referiu quando disse, em uma entrevista, que a pulverização da família tem por objetivo a criação de indivíduos soltos, facilmente manipuláveis?
Existem pessoas e grupos que querem criar um poder global baseado numa ética universal a ser imposta a toda a sociedade. Mas ela não pode ser imposta de um modo puramente político, porque como é que você vai governar o mundo? Não tem jeito. Então você cria um ambiente em que todas as pessoas se comportam do mesmo modo, cria um ethos coletivo – coletivista por definição – em que as pessoas vão se comportando do jeito que esses eventuais senhores do mundo querem. Mas com família não dá para fazer isso. Como é que você ensina para uma criança que tem pai, mãe, que está sendo educada dentro de casa, é cristã, que está recebendo os valores do Evangelho, etc., que ter filhos é uma coisa ruim, que o verdadeiro fim da vida humana é trabalhar, que você tem que produzir para o bem da coletividade geral, que não existe transcendência? Isso não cola, não pega. Então dentro dessa ciência sociológica, eles precisam suprimir a família e deixar a pessoa como indivíduo solto, que assim é muito facilmente manipulado e acaba aceitando qualquer coisa. É péssimo para a pessoa, mas é ótimo para os maus políticos, para os ditadores.
O direito à educação resulta em uma atribuição significativa de responsabilidades ao Estado, que detém nessa área amplos poderes de ação. Quais são as possibilidades de ação dos cristãos na proteção das crianças e adolescentes contra a ideologia de gênero nas escolas, visto que esta é apresentada justamente como uma abordagem pluralista, tolerante e antidiscriminatória?
A primeira coisa que todo mundo precisa entender é esta: a ideologia de gênero não está combatendo a discriminação. Não é essa a finalidade. Esse é o pacote, a embalagem, o outdoor que ela utiliza para ir adiante. Mas na verdade ela é uma teoria sobre a identidade humana, cuja essência consiste em dizer que ninguém é alguém, e ponto final. Esse é o núcleo da ideologia de gênero.
Em segundo lugar, uma vez que todos entendam que não há efetivamente uma intencionalidade de desconstruir preconceitos, então é necessário entender que nós podemos influenciar a educação. A família é o lugar da educação. A família educa; a escola apenas escolariza. Quem educa é o pai, a mãe, os irmãos, a família, o ambiente familiar, o avô, a avó, o tio, a tia, todo mundo que está dentro da casa. E por um motivo filosoficamente muito simples, ao qual o próprio Hegel de algum modo deu relevo na Fenomenologia do Espírito, onde ele diz não entender por que as pessoas gostam tanto da família, em vez de gostar do Estado, que é o lugar onde a razão se manifesta em toda a sua exuberância, em toda a sua perfeição. E ele diz: no fundo, é porque no Estado o indivíduo é um número, mas na família o indivíduo é alguém, é amado por si mesmo. Ele, porém, considera isso um atraso, algo primitivo, algo atávico demais. No fundo, Hegel está falando uma grande verdade, ou seja, a família educa porque ali você é alguém, você é um filho, é um irmão, é insubstituível. Ali, as pessoas amam você, lhe ensinam a virtude por amor, você se torna alguém por amor. Na escola, não: ali você é um número.
a ideologia de gênero não está combatendo a discriminação. Não é essa a finalidade.
Se você morrer no meio do ano letivo, vão pular seu número na chamada: “27, …, 29”, porque o 28 morreu. Mas no próximo ano vai ter outro 28 no seu lugar, porque você simplesmente deixou de existir. Você não é alguém para a escola. Entender isso é fundamental, porque a possibilidade de educar para ser humano – a educação do ponto de vista humano – está necessariamente atrelada à família. Existem, portanto, níveis em que a família pode influenciar a escola, níveis que parecem ser crescentes.
Em um primeiro nível, estão as famílias que preferem adotar o homeschooling, educar o filho em casa, que é um direito constitucional, que não pode ser negado por ninguém. Depois, as famílias que decidem fazer colégios para os seus filhos: uma associação de famílias cria uma escola que educa seus filhos de acordo com os valores das próprias famílias. Em terceiro lugar, as escolas particulares, que vêm da iniciativa privada e não necessariamente das famílias: as famílias que pagam têm o direito de exigir que a escola ensine de acordo com os seus valores.
Os pais podem se articular, podem conversar juntos, participar mais da vida da escola. Por último, nas escolas públicas, pode acontecer o mesmo: os pais podem se articular, entender o que acontece na escola, influenciar os professores, falar sobre a ideologia de gênero. Em outras palavras, se estão querendo usar a educação como instrumento para destruir a família, temos que fazer o contrário: usar a família para destruir esse projeto maquiavélico de educação. Se fizermos isso, conseguimos virar o jogo.
os pais podem se articular, entender o que acontece na escola, influenciar os professores, falar sobre a ideologia de gênero.
A implantação do Sistema Nacional da Educação, prevista para este mês, pode ser algo danoso para a relação das famílias com as escolas?
A partir da necessidade desses grupos de acabar com a família e de tirar a educação das bases, se introduziu em 2009 na Constituição brasileira o conceito novo de um Sistema Nacional de Educação. Segundo a nossa interpretação, isso deveria ser entendido forçosamente como coordenação e colaboração com os demais sistemas de ensino, estaduais e municipais. Porém, esse conceito já foi colocado na Constituição na perspectiva de ser interpretado como um SUS da educação, ou seja, um sistema único em que a União determina o que a escola tem que ensinar. O primeiro passo foi a elaboração de uma base curricular comum, o que é um absurdo, porque a Lei de Diretrizes e Bases diz que se deve dar progressiva autonomia aos sistemas e às próprias escolas, por um motivo óbvio: quando estou na base, entendo quais são as necessidades daquelas crianças, ouço as suas famílias, percebo que educação precisa ser aplicada ali. Isso só pode acabar em desastre. Não há como a centralização da educação não ser desastrosa.
Dou como exemplo o que aconteceu no Japão, um exemplo que no Brasil eles não querem que seja conhecido. O Japão foi o primeiro a estabelecer bases curriculares comuns, com o fim de elevar o nível da educação, porque o país queria entrar no mercado internacional. O que aconteceu? Os filhos dos ricos tinham possibilidade de estudar, mas os filhos dos pobres não conseguiam dar conta e tinham que estudar em escolas alternativas, fazendo matérias particulares à parte, para poderem passar. E a garotada começou a ficar deprimida, a pensar em suicídio, a se matar. Há um fenômeno no Japão chamado hikikomori, jovens que ficam trancados dentro de casa, não saem nunca. O próprio Japão percebeu que aquela medida foi um suicídio educacional.
O Brasil quer trilhar os mesmos caminhos. Mas chegou a hora de a gente dizer não: nós queremos que nossas escolas tenham independência, que os sistemas possam se articular desde a base, sobretudo sofrendo a interferência direta das famílias dos alunos.
Fonte: Sempre Família