EXAMINE TUDO E RETENHA O QUE É BOM!
Às vezes, assalta-nos um mal-estar espiritual de acharmos que a nossa Igreja se enfraqueceu e que o fervor espiritual se entorpeceu; nesses momentos de dispersão e confusão, o perigo nos ronda e pode nos conduzir às tentações de abandonar a nossa fé para seguir um suposto caminho de revigoramento. No entanto, esse abandonar da fé genuína pode se dar com alguém que permanece dentro das estruturas visíveis da Igreja de Cristo; ou seja, como insinuava São João XXIII que a “fumaça do Inimigo havia adentrado à Igreja” e, provavelmente, aproveitando-se da sonolência de muitos se infiltrara trazendo a experiência falsa das coisas de Deus.
De modo semelhante, os santos afirmam que sem o amor se está fora da Igreja, ainda que fisicamente presente dentro de um templo cristão! Nem todo cristão suporta as provas, aceita a vontade de Deus em sua vida: Se o Senhor Jesus tivesse seguido o que normalmente é pregado por parte considerável de líderes cristãos nos dias atuais, Ele certamente não teria passado pela cruz! A sempre tendência de abandonar a essência (a santidade) que nos salva pra ficar empanturrado com o acidental (excentricidades). Dessa forma, como se pode conhecer a presença do Espírito Santo? Iniciemos conhecendo um pouco a História eclesiástica: Eis um resumo de uma seita dos primeiros séculos: O Montanismo.
PENTECOSTES: O PERIGO DO MONTANISMO
Montano foi um profeta que se levantou, por volta dos anos 155-160, que afirmava ser porta-voz do Espírito Santo. Sobre si o Espírito Santo descera e o tomara de tal forma como se encarnara através dele. Era um líder carismático que arrebatava por sua radicalidade, de tal modo que muitos abandonaram o seio da Igreja Católica para o seu seguimento, dentre eles, nada menos que o grande Tertuliano, cristão muito citado por todos os padres, mas que morreu no montanismo! Os traços mais característicos são, antes de tudo, a glossolalia e uma linguagem espiritual tendente ao êxtase e ao entusiasmo. Montano e suas principais discípulas, Prisca (ou Priscila) e Maximila, pretendiam ser a voz de Cristo e do Espírito Santo; eles falam, por isso, com a autoridade deste Espírito e exigem fé incondicional e absoluta obediência às suas ordens. Negam toda autoridade eclesiástica e gostam dos prognósticos escatológicos. Defendem uma moral rigorosamente ascética para a preparação do fim. O movimento é de restauração, até mesmo reacionário, não interessado em questões teológicas e até mesmo, um pouco ingênuo. Alimenta-se com as antigas tradições proféticas e apocalípticas. A finalidade é reavivar e restaurar, com o recurso à autoridade do Paráclito a antiga situação da Igreja: Eficácia do Espírito, falar em línguas, espera dos últimos tempos, ética rigorosa. A doutrina do Montanismo, dificilmente atacável do ponto de vista dogmático, criou dificuldades para a Igreja, não foi fácil combate-la eficazmente. Muitos bispos sugestionados cederam e aderiram ao movimento. No entanto, o movimento foi excomungado pela Igreja por contrariar e negar a Tradição da Igreja de Cristo (disciplina, profissões de fé, ofício).
Diante do exposto, ao se aproximar o Pentecostes, abramo-nos com docilidade à nossa verdadeira tradição que nos legou a unidade da Igreja e inaugurou a Missão da mesma. Os cristãos começaram a viver fraternalmente, eram fiéis à doutrina dos apóstolos e assíduos à Eucaristia; além disso não estavam preocupados com a ostentação dos bens e por isso, não expropriavam os poucos recursos dos pobres, mas praticavam a partilha e a solidariedade. Por viverem na essência, no Amor, os sinais aconteciam; mas se Deus se silenciava eles não renunciavam à fé e eram capazes de dar a vida por ela! Além disso, as Escrituras nos indicam os sinais que o Espírito Santo provoca nos cristãos autênticos: “Eis o fruto do Espírito: caridade, alegria, paz, paciência, gentileza, bondade, fidelidade, doçura, autodomínio… os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram suas tendências baixas com suas paixões e desejos. Se vivemos pelo Espírito, sigamos também o Espírito. Não sejamos vaidosos, provocando-vos mutuamente e invejando-nos uns aos outros.” (Gl 5, 22-26). Portanto, Sim ao Pentecostes e não ao pentecostalismo herético! As extraordinariedades tão enfatizadas atualmente os montanistas também realizavam! Sem negar os carismas, atentemos para o essencial!
Vinde Espírito Santo e acendei em nós o fogo do vosso Amor!
Para pesquisar “Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs. Verbete Montano – Montanismo, pp. 959-960”).
Via – Padre Adenilson Campos