SANTO DO DIA – 05 DE JUNHO – SÃO BONIFÁCIO
Bispo e Mártir (673-755), apóstolo da Alemanha
A esse infatigável missionário inglês atribui-se o mérito de haver tornado possível, com a evangelização dos povos germânicos de além Reno, a organização política e social europeia, concretizada pouco depois por Carlos Magno.
Vinfrido, que receberá o nome do mártir Bonifácio em 719, quando o papa Gregório II lhe confiar a missão entre as populações germânicas, nasceu em Crediton, no Devon. Aos cinco anos ingressou no mosteiro beneditino de Exter.
Ordenado sacerdote em Winchester, seguindo o exemplo dos monges ingleses e irlandeses, dirigiu-se ao continente impelido pelo desejo de levar o Evangelho às populações pagãs da Europa central. As circunstâncias não lhe foram favoráveis. Voltou dois anos depois, munido desta vez da aprovação e do mandato do papa, que lhe entregou uma carta de recomendação endereçada ao poderoso Carlos Martel, rei dos francos.
Bonifácio trabalhou por um par de anos ao lado de Vilibrordo, outro célebre missionário, visitando a Baviera, a Turíngia e a Frísia, e batizando milhares de pagãos. O papa Gregório II apreciou a obra do dinâmico missionário e o convocou a Roma, nomeando-o em 722 bispo de toda a Germânia transrenana. De 724 a 731, Bonifácio dedicou-se à evangelização da Saxônia, cujas populações eram inteiramente pagãs. Nessa difusão foi coadjuvado por missionários ingleses e irlandeses que ele deixava depois para continuar a obra nas várias missões.
Os sacerdotes adaptavam-se a fazer de tudo um pouco: professores, carpinteiros, enfermeiros. Alguns foram postos à frente de mosteiros fundados pelo santo bispo, agora arcebispo de Mogúncia, depois que o novo papa Gregório III lhe enviou de Roma o pálio com autoridade de ordenar outros bispos nos territórios evangelizados.
Em 753 elegeu seu fiel discípulo Lul para coadjutor na sede de Mogúncia, e partiu para a última missão na Frísia. Desceu com algumas embarcações ao longo do Reno e se dirigiu a Dokkum, onde se haviam reunido numerosos neófitos para a crisma no dia de Pentecostes. Durante a celebração de 5 de junho, uma turba de frisões, armados de espada, irrompeu no acampamento. Bonifácio tomou como escudo o evangeliário, mas um golpe de espada talhou em dois o livro e fendeu a cabeça do infatigável ancião. O bispo Lul transportou seu corpo para o mosteiro fundado pelo santo em Fulda, centro propulsor da espiritualidade e da cultura religiosa da Germânia.
Conheça mais sobre São Bonifácio
Nasceu pelo ano de 680 no Wessex, em Kirton, condado de Devonshire. Já com a idade de cinco anos tinha o prazer em ouvir falar de Deus e das coisas celestes. Alguns monges, que pregavam missões no país, chegaram à casa de seu pai, e o jovem sentiu-se tocado com sua conduta edificante e sua instrução, a ponto de conceber um desejo ardente de abraçar a vida monástica. O pai acreditou, primeiramente, que o desejo desaparecesse com a idade; mas viu-o aumentar, dia-a-dia. Empregou inutilmente toda a autoridade para constranger Winfrido a mudar de idéias e de sentimentos. Atacado por uma doença perigosa, reconheceu a vontade de Deus e não mais se opôs `vocação do filho que, com a idade de sete anos, entrou para o mosteiro de Excester, cuja cidade mais tarde lhe tomou o nome. Ali santificou o estudo da gramática com uma grande assiduidade à prece e à meditação.
Tendo sido enviado, em seguida, ao mosteiro de Nutcell, granjeou reputação tanto pelo saber como pela regularidade de disciplina, fazendo progressos extraordinários na poesia, na retórica, na história e no conhecimento das Escrituras. O abade encarregou-se de ensinar aos outros as mesmas ciências, e fê-lo ordenar sacerdote com a idade de trinta anos. A partir dessa data, aplicou-se principalmente ao ministério da palavra e à santificação das almas. Um caso inesperado havia obrigado os bispos a se reunirem em concílio, sem mesmo esperar as ordens de São Britwald, arcebispo de Cantuária, e enviaram, com a permissão do rei Ina, o Padre Winfrido para dele prestar contas; desde esse tempo, os bispos frequentemente o chamavam aos seus conselhos.
Longe de sentir-se lisonjeado com a estima que havia adquirido, resolveu deixar o país para trabalhar na conversão dos infiéis. Obtido o consentimento, não sem dificuldade, do abade e da comunidade, partiu, acompanhado de dois outros monges, e dirigiu-se à Frisa pelo ano de 716. Mas lá se viu acesa a guerra entre Carlos Martelo, príncipe dos francos, e o rei Radbod, que havia restabelecido a idolatria na Frisa, anteriormente sujeira aos francos, e perseguia os cristãos. Winfrido foi a Utrecht falar-lhe; mas notando que nada havia a fazer pela religião nesse país, voltou à Inglaterra com os companheiros e regressou ao mosteiro de Nutcell.
Pouco tempo depois, o abade do mosteiro morreu e a comunidade quis colocar Winfrido em seu lugar; mas ele recusou e dirigiu-se a Roma com cartas de recomendação do bispo: tratava de Daniel, bispo de Winchester, célebre pela virtude e doutrina.
Chegando a Roma, Winfrido apresentou-se ao santo Papa Gregório II, e explicou-lhe o desejo que tinha de trabalhar pela conversão dos infiéis. O Papa olhou-o com rosto sereno e perguntou-lhe se tinha cartas do bispo. Winfrido tirou de baixo do manto uma carta fechada para o Papa, e outra, aberta, que era uma recomendação geral a todos os cristãos, segundo o costume. O Papa fez-lhe sinal para que se retirasse; e lidas as cartas di Bispo Daniel, manteve várias conferências com Winfrido, esperando a estação adequada para a viagem, isso é, o começo do verão. Então deu-lhe as relíquias que pedia, e, ademais, uma ampla e honrosa missão de pregar o Evangelho a todas as nações infiéis.(…)
(…) Após terem trabalhado durante algum tempo Winfrido enviou à Roma um dos seus com uma carta em que prestava contas ao Papa do resultado da missão e o consultava a respeito de algumas dificuldades. O Papa, em resposta, mandou que viesse pessoalmente; ele obedeceu. Chegou a Roma, pela segunda vez, acompanhado de diversos discípulos. Tendo-o ouvido, o Papa andou que fosse recebido na casa dos estrangeiros. Depois, fazendo-o vir a São Pedro, interrogou-o sobre a fé da Igreja. Winfrido pediu tempo para escrever a sua confissão de fé, e levou-lha. O Papa restituiu-a alguns dias após, e mandando que se sentasse, exortou-o a conservar a doutrina e ensiná-la aos outros. Passou quase todo o dia em conferência com ele, fazendo-lhe diversas perguntas a respeito de assuntos da religião e da conversão dos infiéis.
Enfim, declarou-lhe que pretendia sagrá-lo Bispo desses povos que não tinham pastores. O santo sacerdote submeteu-se, e o Papa ordenou-o bispo em 30 de Novembro de 723, mudando-lhe o nome de Winfrido para o de Bonifácio, sob o qual é mais conhecido, Na cerimônia da ordenação, ou imediatamente após, prestou ao Papa o seguinte juramente, o qual assinou de próprio punho, e que colocou em seguida sobre o corpo de São Pedro:
“Em nome do Senhor, nosso deus, e Salvador Jesus Cristo. Ano seis do reinado do imperador Leão, quatro de seu filho Constantino, indicção sexta. Eu Bonifácio, bispo pela graça de Deus, prometo a vós, bem-aventurado Pedro, príncipe dos apóstolos, e a vosso vigário, o bem-aventurado Papa Gregório, bem como a seus sucessores, pela indivisível trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, e por vosso sagrado corpo aqui presente, que conservarei sempre a pureza da fé católica na unidade da mesma crença, na qual, fora de dúvidas, está a salvação de todos os cristãos; que não atentarei jamais contra a unidade da Igreja universal, mas terei sempre uma fidelidade integral, um empenho sincero por vós e pelos interesses da vossa igreja, a quem o Senhor deu o poder de ligar e desligar, bem como ao vosso vigário e seus sucessores; que não terei jamais comunhão alguma com os bispos que vir se afastarem dos caminhos traçados pelos Santos Padres; que se puder, impedirei a sua ação; caso contrário, denunciá-lo-ei ao Papa, meu Senhor (…)
Tal é o juramente solene que o apóstolo da Alemanha prestou ao Papa Gregório II. É sobre essa base apostólica que estão fundadas o episcopado e a Igreja da Alemanha. Possam os bispos e os povos da Alemanha não esquecê-lo jamais! (…)
(…) Bonifácio embarcou para além do Reno a fim de dirigir-se a Frisa, com Eobano, bispo de Utrecht, e um numeroso grupo de sacerdotes e diáconos, que se consagraram a tais missões. O zelo do santo arcebispo parecia restitui-lhe as forças que a idade e as fadigar lhe haviam arrebatado. A seara crescia-lhe sob os pés, e como tinha pouco tempo para recolhê-la, Deus derramava abundantes bênçãos sobre os seus últimos trabalhos. O Santo apóstolo teve, em pouco tempo, a consolação de batizar vários milhares de idólatras, e, a fim de fortificá-los na fé, marcou-lhes um dia e um lugar, e acampou, com seu grupo de missionários, nas margens de um pequeno riacho, chamado Bordne.
No dia aprazado, começava a aurora apenas a despontar quando viram chegar, em lugar dos neófitos que se esperavam, um grupo de pagãos armados, que se lançavam impetuosamente contra o pequeno acampamento dos missionários. Seus servos tomaram das armas, prontos para cumprir o dever de defender os senhores contra o furor dos bárbaros; mas São Bonifácio, aparecendo com os seus clérigos, tendo na mão o livro dos Evangelhos e as relíquias que costumava levar consigo, disse aos seus:
– Cessai de combatê-los, meus filhos, e não retribuais o mal com o mal, mas o bem pelo mal, como a Sagrada Escritura vos ordena fazer. O dia almejado chegou finalmente. Colocai vossa força e esperança em Deus, e aceitai com reconhecimento o que ele permitir pela vossa salvação. Depois, voltando-se, meus irmãos, disse-lhes, não vos deixeis intimidar por aqueles que podem matar o corpo, mas não a alma. Sofrei com constância a morte de um instante para reinar eternamente com Jesus Cristo. Mas o seu exemplo fortificou-os mais do que as suas palavras. Pronunciadas estas palavras, Bonifácio viu os bárbaros arremeter contra ele com espadas desembainhadas. Não tentou nem fugir nem defender-se. Colocou a cabeça sobre o livro dos Evangelhos, não para fazer ver que morria pelas verdades neles contidas. Foi, no mesmo instante, massacrado por esses furiosos com todo o grupo dos missionários que o acompanhavam e que foram degolados com o seu pastor, como um rebanho de ovelhas à mercê de lobos vorazes. Perfazem o número de cinqüenta e dois os companheiros de martírio de São Bonifácio, os quais tiveram a honra de verter o sangue, com ele, pela fé. Os mais conhecidos são Santo Eobano, bispo de Utrecht, e o sacerdote Adelário.
Após a sangrenta obra, os idólatras, mais ávidos dos despojos do que do sangue dos santos mártires correram a pilhar as tendas e barcos que traziam provisões. Beberam primeiramente todo o vinho que encontraram e levaram com alegria as caixas que julgavam cheios de ouro e prata; mas, como estavam embriagados, antes de abri-las, brigaram na partilha delas, voltando as armas uns contra os outros, armas que ainda estavam rubras com o sangue dos santos mártires. Muitos bárbaros ficaram estendidos no lugar. Os outros, havendo enfim aberto os cofres, ficaram sumamente decepcionados não encontrando senão relíquias e livros, que dispersaram, por desrespeito, pelos campos e nos brejos.
Foi assim que São Bonifácio terminou, por uma morte gloriosa, uma vida que foi um contínuo martírio, uma vez que foi um apostolado contínuo. Seus trabalhos imensos e os frutos que a Igreja recolheu lhe constituem o elogio. Santo religioso, grande arcebispo, missionário infatigável, digno legado da santa Sé, foi sempre igualmente zeloso pela glória e pelo crescimento da Igreja, pelo restabelecimento da disciplina no clero e no estado monástico, pela extirpação do vício e da idolatria. A França e a Alemanha choraram-no como seu apóstolo. Respeitado pelos príncipes da terra, amado e honrado pelos povos, para cúmulo da glória, foi objeto de ódio dos hereges, que o caluniaram, e dos idólatras que o imolaram. Seu martírio ocorreu no dia 5 de Junho de 755, após trinta e um anos e seis meses de episcopado.