Dom José Carlos de Souza Campos, bispo de Divinópolis (MG), publicou um artigo criticando os fiéis que foram às redes sociais e assinaram abaixo-assinado suplicando aos bispos que encontrem uma forma de que voltem as celebrações públicas da Eucaristia. Para o autor do artigo, se algumas pessoas estão restritas de receber a Eucaristia, todos devem ficar sem receber também.
Em seu artigo intitulado “pensando nas pessoas dos grupos de risco” questiona o fato de algumas pessoas que estão fora dos grupos de risco acharem que podem pedir aos bispos o retorno da Eucaristia; que as igrejas estejam abertas e que haja celebrações com as pessoas que “não apresentam risco”.
“Quem vai fazer a seleção na entrada? Quem vai estar na porta do templo para mandar de volta para casa o idoso, o cardíaco, o diabético, o fumante e outros dos grupos de riscos que teimosamente desejarem participar? Quem não levar sua máscara e seu álcool vai ser excluído da “sadia” assembleia celebrante? Quem garante para si mesmo que o vírus inexiste na sua exuberante saúde aparente? Vale passar na igreja de carro ou a pé e pegar “seu pedaço” de Eucaristia e ir embora, sem celebração, sem assembleia litúrgica, sem saborear a vida comunitária celebrante?”, indaga o bispo.
Dom José Carlos afirma que tais questionamentos parecem não terem sido feitas por “piedosas pessoas famintas de Eucaristia”, que segundo ele tentam se enquadrar nos “grupos seletos” que podem celebrar e comungar nas igrejas. “A piedade eucarística destes irmãos autoriza que haja castas que podem e castas que não podem comungar nesta hora (processo seletivo espiritual das espécies)”, argumenta o bispo.
O bispo, no entanto, questiona se o princípio da igualdade – ninguém pode – não seria mais justo e bíblico. Ele admite, ainda, que a postura de certos grupos da Igreja e de pessoas com discursos de “saudade de Eucaristia” leva a esquecer exatamente dos mais velhos; a desconsiderar os mais frágeis, os doentes de doenças graves e crônicas; a criar uma Igreja dos “sadios” e dos “outros”.
O que Dom José Carlos parece não entender, é que a restrição às pessoas do grupo de risco, não foi criação ou imposição desses grupos, mas é algo imposto pela própria natureza da doença, que impossibilita que os mais idosos, pessoas que convivem com ele, e pessoas com doenças pré-existentes, fiquem isoladas para preservação da saúde.
Baseado neste contexto errôneo, ele questiona, utilizando uma analogia desproporcional, se numa possível fome em casa, só os mais novos comerão do pouco existente na dispensa, deixando morrer de fome primeiro os mais velhos ou comerão todos um pouquinho do que ainda resta, pois de acordo com ele o pouquinho do que ainda resta é a “comunhão espiritual”. “Todos comem deste “pouco” mesmo que insuficiente para matar e saciar completamente a fome espiritual da Eucaristia. Mas todos igualmente! Novos e idosos, sadios e doentes, santos e pecadores, os de comunhão diária e os de comunhão dominical. Sem seleção espiritual, sem ‘eugenia espiritual’”, reitera o bispo.
Dom José Carlos afirma ser lamentável a perda do sentido da Igreja como o “Corpo Místico de Cristo”. “Todos estamos interligados e unidos a Ele, nossa Cabeça e Princípio. Se uns comungam, o Corpo todo se alimenta. Somos um Corpo e não simplesmente sujeitos crentes individuais, com a necessidade de cada um ter de se alimentar para alimentar, só desta forma, o Corpo inteiro”, disse.
Sem se dar conta do momento em que a Igreja se encontra, no qual a grande maioria dos católicos não conhecem sua fé, não possuem noções de catequese básica, e no qual muitos padres se rejeitam a ensinar seus fiéis sobre a importância da vida na Graça, de evitar o pecado, e do amor à Eucaristia, Dom José afirma que a Comunhão abundante, que acontecia antes da pandemia, falhou em nos educar para a questão mística da Igreja, sendo para ele a comunhão espiritual suficiente para a salvação dos fiéis. “A comunhão eucarística tomada abundantemente até antes da pandemia não nos educou para a comunhão mística que existe entre os batizados, mesmo que nem todos tenham acesso à vida sacramental. Precisamos pensar nisto!”, reiteirou.
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Dom José ressaltou algumas meditações que podem ser feitas neste tempo de pandemia e de carência eucarística. O primeiro ponto, destacado pelo bispo, é o de que não existem pessoas que não convivam com idosos, e doentes. Para ele, quem, porventura, fosse à Igreja comungar ou quem ficasse em casa estaria igualmente desprotegido pelo contado com aqueles que foram à missa.
Um detalhe importante de ressaltar, e que não é contemplado no texto, é que os fiéis que pedem o retorno da Missa e a Eucaristia, não estão pedindo o retorno pleno das atividades, mas que o retorno seja gradual e com as devidas restrições. Nas quais, idosos, pessoas doentes e as pessoas que convivem com pessoas do grupo de risco também devem continuar em quarentena.
No segundo ponto, o bispo destaca que um membro da Igreja que comungar fortalece a Igreja toda, o Corpo inteiro. O terceiro ponto é o de que deixar de fora os idosos e os debilitados na saúde, abrindo a possibilidade de comungar sacramentalmente aos demais, é deixar fragilizarem-se espiritualmente, por falta desta comunhão, aqueles que “nos educaram na fé e aqueles que estão mais necessitados dos remédios espirituais”, como se já não estivessem privados da Eucaristia, independente da participação dos que não fazem parte do grupo de risco.
O quarto ponto citado por dom José, o que configura uma distorção do pedido dos féis que sentem saudade da Eucaristia, é a acusação de que eles querem “fazer de conta que nada está acontecendo e voltar tudo ao normal.”
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