“Sim, eu sou rei. É para dar testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo” (Jo 18,37). Com a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, a Igreja Católica conclui o Ano Litúrgico recordando aos fiéis e ao mundo que ninguém e nenhuma lei está acima de Deus.
A Solenidade de Cristo Rei foi instituída pelo Papa Pio XI em 1925 e celebra Cristo como o Rei bondoso e singelo que, como pastor, guia sua Igreja peregrina para o Reino Celestial e lhe outorga a comunhão com este Reino para que possa transformar o mundo no qual peregrina.
Por ocasião desta solenidade, em 2012, ao presidir a Santa Missa, o Papa Bento XVI explicou que “neste último domingo do Ano Litúrgico, a Igreja nos convida a celebrar Jesus Cristo como Rei do universo; chama-nos a dirigir o olhar em direção ao futuro, ou melhor em profundidade, para a meta última da história, que será o reino definitivo e eterno de Cristo”.
A possibilidade de alcançar o Reino de Deus foi estabelecida por Jesus Cristo ao nos deixar o Espírito Santo que nos concede as graças necessárias para obter a santidade e transformar o mundo no amor. Essa é a missão que Jesus deixou à Igreja ao estabelecer seu Reino.
Em um mundo onde prima a cultura de morte e o crescimento de uma sociedade hedonista, a festividade anual de Cristo Rei anima uma doce esperança nos corações humanos, já que impulsiona à sociedade a voltar-se para Salvador.
Conforme declarou Bento XVI, “com o seu sacrifício, Jesus abriu-nos a estrada para uma relação profunda com Deus: nele nos tornamos verdadeiros filhos adotivos, participando assim da sua realeza sobre o mundo. Portanto, ser discípulos de Jesus significa não se deixar fascinar pela lógica mundana do poder, mas levar ao mundo a luz da verdade e do amor de Deus”.
E, recordando a oração do Pai Nosso, o agora Papa Emérito sublinhou “as palavras ‘Venha a nós o vosso reino’, que equivale a dizer a Jesus: Senhor, fazei que sejamos vossos, vivei em nós, reuni a humanidade dispersa e atribulada, para que em Vós tudo se submeta ao Pai da misericórdia e do amor”.
Conheça mais sobre a Solenidade de Cristo Rei
Festa de Cristo Rei
A Festa de Cristo Rei foi estabelecida pelo Papa Pio XI, que quis motivar os católicos para reconhecer em público que o líder da Igreja é Cristo Rei.
Mas o que levou o Papa Pio XI a dedicar a primeiríssima encíclica do seu Pontificado à criação de uma Festa de Cristo Rei? (cf. Carta Encíclica “Quas primas”, 11/12/1925).
No início do século XX, o Mundo, que ainda estava recuperava da Primeira Guerra Mundial, fora varrido por uma onda de secularismo e de ódio à Igreja, como nunca visto na história do Ocidente. O fascismo na Itália, o nazismo na Alemanha, o comunismo na Rússia, a revolução maçónica no México, anticlericalismos e governos ditatoriais grassavam por toda parte.
É neste contexto que, sem medo de ser literalmente “politicamente incorrecto”, o Pio IX institui uma festa litúrgica para celebrar uma verdade de nossa Fé: mesmo em meio a ditaduras e perseguições à Igreja, Nosso Senhor Jesus Cristo continua a reinar, soberano, sobre toda a história da Humanidade.
Recordar que Jesus é Rei do Universo foi um gesto de coragem do Santo Padre. Com as revoluções que se seguiram ao fim do primeiro conflito mundial, em 1917, o título de Cristo Rei tornara-se um tanto impopular. Se o Papa tivesse exaltado Jesus como profeta, mestre, curador de enfermos, servo humilde, vá lá! Qualquer outro título teria sido mais aceitável. Mas Cristo Rei?!…
Mesmo assim, nadando contra a correnteza e se opondo ao secularismo ateu e anticlerical, o Vigário de Cristo na Terra instituiu esta solenidade para nos recordar que todas as coisas culminam na plenitude do Cristo Senhor: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim de todas as coisas” (Ap 1, 8). É necessário reavivar a fé na restauração e na reparação universal realizadas em Cristo Jesus, Senhor da vida e da história.
Com esta solenidade o Papa Pio IX esperava algumas mudanças no cenário mundial:
- Que as nações reconhecessem que a Igreja dever estar livre do poder do Estado (Quas primas, 32).
- Que os líderes das Nações reconhecessem o devido respeito e obediência a Nosso Senhor Jesus Cristo (Quas primas, 31).
- Que os fieis, com a celebração litúrgica e espiritual desta solenidade, retomassem coragem e força e renovassem sua submissão a Nosso Senhor, fazendo com que ele reine em seus corações, suas mentes, suas vontades e seus corpos (Quas primas, 33).
Encerrar o Ano Litúrgico com a Solenidade de Cristo Rei é consagrar a Nosso Senhor o mundo inteiro, toda a nossa história e toda nossa vida. É entregar à sua infinita misericórdia um mundo onde reina o pecado.
Pilatos pergunta a Jesus se ele é rei. Nosso Salvador responde que seu Reino não é deste mundo. Ou seja, não é deste mundo “inventado” pelo homem e pelo pecado: o mundo da injustiça, da escravidão, da violência, do ódio, da morte e da dor. Ele é rei do Reino de seu Pai e, como rei-pastor, desde o alto da cruz, guia a sua Igreja em meio às tribulações.
Sabemos que o Reinado de Cristo não se realizará por um triunfo histórico da Igreja. Mesmo assim, no final, haverá sem dúvida uma vitória de Deus sobre o mal. Só que esta vitória acontecerá como acontecem todas as vitórias de Deus: através da morte e da ressurreição.
A Igreja só entrará na glória do Reino se passar por uma derradeira Páscoa. A Esposa deve seguir o caminho do Esposo.
Assim sendo, nesta festa, o manto vermelho de Cristo assinala a realeza de Nosso Senhor, mas também nos recorda o sangue de tantos Mártires Cristãos da nossa História. Foram fieis católicos que, ouvindo os apelos do Sucessor de Pedro, não tiveram medo de entregar suas próprias vidas e de morrer aos brados de “Viva Cristo Rei!”
JESUS CRISTO REI DO UNIVERSO
Interrogado por Pilatos se era rei, Jesus disse: “Sim, Eu sou Rei” (Jo 18, 37). Ou seja, a ideia da realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo veio desde Sua vida terrena.
Encontramos manifestações várias e títulos diversos de Cristo como Rei, já na Igreja primitiva.
Temos até a figura do Cristo Pantocrator, ou seja, Cristo Rei, porque Pantocrator quer dizer Senhor de todas as coisas.
Ele está sentado sobre um trono que é o arco-íris, o sinal da aliança de Deus com os homens.
E do alto desse trono Ele governa todas as coisas: a Igreja gloriosa, a Igreja padecente e a Igreja militante, como o Rei esperado por todos os séculos, Nosso Senhor Jesus Cristo dominando tudo e Senhor de tudo.
O diálogo entre Jesus e Pilatos foi uma declaração de realeza que marcou a fundo espírito do covarde Governador Romano:
“Logo, Tu és Rei!” Jesus retorquiu:”Tu o dizes! Eu sou Rei!” (Jo 18, 37)
Pode-se imaginar a atitude, o olhar e a entonação de voz de Jesus, grave, pausada e serena, ao responder ao tribuno romano: “Tu o dizes, Eu sou Rei!”
Nenhum rei desta terra teve tanta majestade, mesmo no auge de sua glória, como Jesus naquela ocasião.
Pilatos, por covardia e a contragosto entregou Jesus ao Sinédrio, para ser crucificado. Mas ele quis por na tabuleta da Cruz as imortais palavras:
Jesus Nazareno Rei dos Judeus.
Era um reconhecimento, covarde, da realeza de Nosso Senhor, de tal forma aquele diálogo o impressionou.
Ele não quis escrever que Jesus era condenado por se dizer Filho de Deus, ou Messias (motivo pelo qual o Sinédrio O condenara), ou um grande profeta ou por perturbar a ordem pública com suas pregações.
Ele quis acentuar a realeza de Jesus, que tanto impacto lhe causara.
E, de fato, Jesus é Rei no sentido pleno do termo. Ele é o Rei dos reis. D’Ele toda autoridade deriva, como se constata no segundo diálogo com Pilatos:
“Nenhum poder terias sobre Mim se não te fosse dado do Alto.” (Jo 19, 11)
De que modo Jesus Cristo foi rei?
Por direito de sucessão por ser da casa de David, embora o poder Lhe tivesse sido tirado e Ele não o tenha exercido.
Também naturalmente falando Jesus tinha uma natureza tão superior a todos os outros homens que sua realeza natural é indiscutível.
Com efeito, quem pode ser mais inteligente, mais belo, mais forte, mais santo do que Jesus? Quem poderia superá-Lo na capacidade de suportar a dor?
Em todas as qualidades que podem brilhar num homem Ele era o mais perfeito e neste sentido também Ele era Rei.
Mais importante ainda: Ele também era rei por direito de conquista.
Com efeito, pela falta de Adão, a humanidade vivia sob a escravidão do pecado, sob o domínio de satanás e estava-lhe vedado o acesso ao Céu.
Pelo sacrifício da Cruz, Nosso Senhor resgatou o gênero humano da dívida do pecado, deu aos homens a possibilidade de se tornarem filhos de Deus e poderem fazer parte do Reino de Deus, do qual Jesus é Rei.
Por isso, Ele declara a Pilatos: “O meu Reino não é deste mundo.” (Jo 18, 36)
Sua realeza, espiritual, é mais efetiva do que a temporal, era sobre o Reino de Deus, de caráter sobrenatural. Compreende-se então que as profecias sobre o Messias falassem de um reino eterno que não seria destruído. (Cf Dn 7, 14; Mq 4, 7)
Anunciação: seu reino será eterno
O Arcanjo São Gabriel na Anunciação renova essa profecia:
“darás à luz um Filho […] será chamado Filho do Altíssimo e o Senhor lhe dará o trono de seu pai David; reinará sobre a casa de Jacó, e seu reino não terá fim. […] Será chamado Filho de Deus.” (Lc 1, 31-33)
O primeiro anúncio do nascimento do Messias, feito por um Anjo, refere-se a um Rei, que será Filho de Deus, e seu reino será eterno.
Os reis Magos
Também os Magos chegaram a Jerusalém à procura do Rei dos judeus que acabara de nascer. (Cf Mt 2, 2)
Os sacerdotes e os escribas consultados por Herodes logo veem que se trata do Messias e citam a conhecida profecia de Miquéias sobre o lugar no nascimento do Salvador:
“E tu Belém […] de ti sairá para mim aquele que governará Israel.” (Mq 5, 1)
Ao encontrar por fim o Menino nos braços de sua Mãe tomam uma atitude que não deixa lugar a dúvida sobre a alta condição d’Aquele que procuravam:
“Prostrando-se, O adoraram, e abrindo seus tesouros ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra.” (Mt 2, 11)
Misericórdia de Deus: Seu filho nasce por nós como Rei
Que grande misericórdia teve Deus para com o gênero humano fazendo nascer o seu Filho entre nós para no-Lo dar como Rei.
Adoremo-Lo como Rei do Universo aqui na terra, para O podermos contemplar e gozar de seu convívio na Eternidade. (ARM)
Via Gaudium Press