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Santo do Dia

São Serafim de Sarov, Monge – 19 de Julho

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SANTO DO DIA – 19 DE JULHO – SÃO SERAFIM DE SAROV
Monge (1759-1835)

“Quando um homem nasce, o mundo inteiro se alegra, e só ele chora. Mas ele deve viver para que, quando ele morrer, o mundo inteiro chore, e só ele se regozije.”

Prothor Moshnim nasceu em 1759, na cidade de Kursk, na Rússia, onde seus pais eram comerciantes. Aos dez anos, ficou muito doente. Nossa Senhora apareceu-lhe em sonho prometendo que seria curado por ela. Alguns dias depois ele se recuperou, após tocar no quadro de Nossa Senhora durante uma procissão.

Desde menino, gostava de ler o Evangelho, ir à igreja e isolar-se para rezar. Confirmou sua vocação aos 18 anos, quando ingressou no Mosteiro de Sarov. Lá, fez seus votos de abstinência, vigília e castidade. Costumava isolar-se em uma choupana numa floresta próxima, dedicado às orações e penitências. Mas durante três anos teve de ficar numa cama, após adoecer gravemente. Novamente, a Virgem Maria apareceu-lhe, dessa vez acompanhada por alguns santos, e curou-o após tocá-lo.

Aos 27 anos, recebeu o hábito de monge e tomou o nome de Serafim, que em hebraico significa ardente. Tinha o dom de ver os anjos, santos, Nossa Senhora e também Jesus Cristo. Numa liturgia, viu o próprio Jesus entrando na igreja junto com os anjos e santos e abençoando o povo que ali estava. Serafim ficou tão atônito que por muito tempo perdeu a voz.

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Sete anos depois, ele se isolou no interior da floresta, onde alcançou uma grande perfeição espiritual, mas foi atacado por ladrões e seriamente ferido. Mesmo tendo uma constituição física muito forte, e na mão um machado, ele não ofereceu nenhuma resistência. Como não tinha dinheiro, foi espancado e quase morreu. Em seguida, os ladrões foram detidos e, no julgamento, o monge intercedeu por eles. Desde então, Serafim ficou curvado para o resto da vida.

Depois desse episódio, iniciou um período de penitência. Ficou durante 1000 dias e 1000 noites isolado na floresta. De dia ficava ajoelhado numa pedra com as mãos erguidas para o céu e à noite desaparecia dentro da floresta. Após outra aparição de Nossa Senhora, quase no final de sua vida, Serafim adquiriu o dom da transfiguração do Espírito Santo e tornou-se um guia espiritual dentro do mosteiro. Milhares e milhares de pessoas, de todas as classes sociais, foram enriquecidas com os seus ensinamentos. Para todos, apresentava-se radiante, humilde e caridoso. Dizia: ‘Alegria não é pecado. Ela afugenta o cansaço, que pode se transformar em desânimo; e não há nada na vida pior do que o desânimo’.

Serafim morreu deixando claro o ensinamento que seguiu a vida toda: ‘É preciso que o Espírito Santo entre no coração. Tudo aquilo que nós fazemos de bom por causa de Cristo dá-nos a presença do Espírito Santo, mas a oração, que está sempre ao nosso alcance, no-lo dá muito mais’. A igreja do Mosteiro de Sarov, na cidade de Krusk, abriga os seus restos mortais.

Conheça mais sobre São Serafim de Sarov

Também recebeu o nome da cidade de Sarov, localizada no sul da região de Nizhny Novgorod, 515 quilômetros a leste de Moscou. O Venerável Padre Serafim nasceu na cidade de Kursk e está no batismo recebeu o nome de Prohor. Seu pai se mudou para o mundo celestial quando ele tinha três anos. Aos sete anos, ele caiu do campanário de uma igreja inacabada, dedicada a São Sérgio de Radonej. Ele permaneceu ileso, graças à graça de Deus.

E o homem de Deus, que possuía o dom da previsão, disse à mãe “que o menino se tornará um grande benfeitor de Deus, porque o Senhor protege aqueles que são escolhidos para serem Seus na Terra”.

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Aos dez anos, ele ficou gravemente doente e estava morrendo. Em sonho, a Santíssima Mãe de Deus apareceu para ele e profetizou sua cura, o que ele fez. Quando menino, ele adorava ler livros sagrados que o alimentavam de espiritualidade. Aos dezessete anos, após receber uma bênção de sua mãe, ele saiu de casa e de sua família para dedicar sua vida a obras que agradassem a Deus. Sua mãe lhe deu uma cruz de cobre, que ele usou por toda a vida e com a qual morreu.

Elder Dositej, o Prisioneiro, do deserto da China (perto de Kiev), disse a ele: “Vá, filho de Deus, para a família Sarov e fique lá. Aquele lugar será sua salvação. Com a ajuda de Deus, você vai acabar com suas andanças terrenas lá. Em Sarov, o Espírito Santo, o tesouro de todos os bens, dirigirá sua alma como
Luzes.”

Em 1778, Prohor, de dezenove anos, chegou ao então deserto, onde se juntou aos monges que construíram o Mosteiro de Sarov, dedicando-se imediatamente às façanhas monásticas e ao estudo dos livros espirituais. Ele foi um novato por quase oito anos. Ele estava sofrendo de “doença da água” na época.
e ficou imóvel por muito tempo. E então ele foi curado pela providência de Deus.

Aos 28 anos, foi tonsurado monge, recebendo o nome de Serafim (Chamas). Serafins são poderes celestiais, anjos de primeira ordem que irradiam luz (chama) ao redor do trono do Senhor. Está escrito na crônica do mosteiro que o Venerável, ainda diácono, “foi enviado para recolher os restos de trigo de um celeiro quase vazio”. Com a oração, que nunca saiu de seus lábios, ele “viu (que) o celeiro estava cheio de trigo novamente” šen trigo era regularmente retirado do celeiro, mas os monges sempre tinham o suficiente para suas necessidades “.

Ele disse uma vez:

“Durante a liturgia, na Quinta-feira Santa”, a Luz na qual vi o Senhor nosso Deus Jesus Cristo me iluminou, em glória, resplandecente de luz indizível, mais brilhante que o Sol, cercada de anjos, arcanjos, querubins e serafins. Da porta da igreja, Ele caminhou pelo ar, parou em frente ao púlpito (pódio elevado nos templos ortodoxos em frente à iconóstase – MG) e, erguendo as mãos, abençoou quem serve e quem reza. Então ele entrou um ícone localizado próximo às portas da igreja. Desde então, meu coração se alegrou, puro e iluminado, na doçura do amor pelo Senhor”.

Aos 35 anos, ele deixou a família do mosteiro e se estabeleceu em uma modesta cela de madeira, em uma densa floresta às margens do rio Sarovka, a cerca de 5 quilômetros do mosteiro. Nenhum dos irmãos monásticos que vinham de vez em quando podia suportar seu ascetismo, então São Serafim ficou sozinho com Deus.

Enquanto, gravemente ferido no roubo, estava deitado no mosteiro, em seu sono a Santíssima Mãe de Deus apareceu-lhe novamente, com os santos apóstolos João, o Teólogo e Pedro, e disse: “Este é da minha família!” e recusou tratamento adicional como desnecessário. Ele perdoou os ladrões e não permitiu que fossem punidos, mas pouco depois o fogo queimou suas casas.

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Com grande força de espírito e a sublimidade da calma espiritual, ele fez a fera obediente. Eles o viram alimentando o urso como se estivesse sendo treinado.

Certa vez, quando perguntado qual é o objetivo de nossa vida terrena, ele respondeu: “Voltar aos braços do Pai Celestial”.

Em 1807, o Venerável Padre Serafim rendeu-se ao feito da oração (silêncio e silêncio orante). Ele passou quase três anos em completo silêncio, sem falar com ninguém palavra. Ele disse: “Por causa do silêncio, ninguém nunca se arrependeu.” Por mil dias e mil noites ele parou em duas pedras, descendo apenas para pegar comida. Um estava em sua cela e o outro em um pinheiro grosso florestas. De manhã à noite, ele ficava na pedra ao lado da cela. E quando o sol se punha, ele cruzava até a pedra na floresta e ficava de pé sobre ela a noite toda até o amanhecer, com as mãos levantadas para o céu. Então ele suportou geadas de inverno, chuvas de outono e calor de verão.

Seu corpo, e especialmente suas pernas, levaram à exaustão completa. É por isso que ele teve que dizer adeus à vida no deserto para sempre e retornar ao mosteiro em 1810. No mosteiro, o Venerável foi trancado em uma cela e não saiu a lugar nenhum por anos. Em sua cela havia apenas um ícone na frente do qual uma lâmpada piscava, um punhado de lenha ao lado de um fogão que nunca queimava e um toco que servia de cadeira. Ele passou seu tempo em oração e lendo os livros do Evangelho.

“Depois de dez anos de prisão, sábio pela experiência da vida no deserto, ofuscado pelos dons da graça, o asceta, da razão esclarecida, reabriu a boca.”

Naquele momento, a Mãe de Deus apareceu-lhe novamente, acompanhada pelos veneráveis ​​habitantes do deserto, e ordenou-lhe que recebesse aqueles que esperavam por sua ajuda e lhes ensinasse seus conselhos. Desde então, recebe visitantes diariamente, do amanhecer ao anoitecer, abençoando-os e dando-lhes
conselho e instrução. O Venerável Padre Serafim dirigiu-se a todos com “Minha Alegria”.

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Começou, já velho – um monge, a servir a salvação de muitas almas que lhe pediam uma palavra viva, graciosa e curativa. Um velho, no mundo ortodoxo russo, não é apenas um velho ou um ancião, mas também “um velho monge que recebeu obediência para servir as pessoas e instruir.
suas almas para a salvação, para lhes dar conforto e conselho espiritual”.

Naquela época, o padre Serafim era respeitado por toda a Rússia. A palavra sobre ele e as bênçãos de seu Deus se espalharam por toda parte. Ele curou os doentes, salvou da morte, anunciou eventos futuros para evitar o sofrimento individual e coletivo…

Um monge perguntou ao Padre Serafim:

– Por que você ensina as pessoas?

O santo respondeu:

-Sigo os ensinamentos da Igreja que canta: “Não esconda as palavras de Deus, mas anuncie seus milagres”

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De acordo com numerosos testemunhos, “embora o corpo do Venerável estivesse completamente exausto, e suas pernas fossem de madeira e purulentas das feridas, revividas pelo poder do Espírito, ele sempre parecia inteiro e feliz”. Ele disse que “a alegria não é pecado, porque agrada ao Senhor que todo homem tenha alegria no coração”.

De acordo com o testemunho da freira do mosteiro de Divjejevski, que foi construído pelo padre Serafim, na véspera de sua transferência para o Reino dos Céus, “de repente houve um barulho como o do vento, uma luz brilhante apareceu, o canto foi ouvido. A cela do velho parecia se expandir, a luz era mais forte que o sol…

Deslocou-se ao Reino dos Céus com o canto do cântico pascal “Viu a Ressurreição de Cristo”…, ajoelhando-se, em posição de oração, diante do ícone da Mãe de Deus “Misericórdia”.

O Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa Russa, em 1903, proclamou um novo livro de orações diante do Senhor, o Venerável São Serafim de Sarov, o Operador de Milagres. A Igreja Ortodoxa Sérvia celebra em 15 de janeiro de acordo com o novo calendário. Suas relíquias estão localizadas no mosteiro de Divjejevo nas proximidades Sarova.

Diálogo de São Serafim com Motovilov

Explicação inicial

Muitos anos atrás, em 1832, em uma floresta da Rússia central, nas proximidades do mosteiro de Sarov, travou-se um notável diálogo entre um sacerdote e um leigo, preservado até os dias de hoje. O sacerdote, que era também monge, chamava-se Serafim; hoje padre Serafim está no céu, e é um dos santos mais conhecidos da Igreja Russa.

Muito antes de ser sacerdote, Serafim se preocupou, como nos ensina o Evangelho, em buscar em primeiro lugar ao Reino de Deus; e foi para poder dedicar-se mais completamente a Deus que ingressou aos dezenove anos no mosteiro de Sarov, onde se tornou monge, depois diácono e sacerdote, entregando-se profundamente à vida de oração.

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Padre Serafim morreu aos 74 anos, em 1883, mas dois anos antes de seu falecimento encontrou um leigo, na época um homem casado, chamado Nicolas Motovilov, o qual em sua juventude também havia sido tocado pela graça divina. Deus lhe havia concedido perceber, durante algum tempo, que parecia haver algo de muito profundo atrás da aparente simplicidade das palavras do Evangelho. Nicolas Motovilov começou então a perguntar às autoridades da Igreja qual era a essência e a finalidade do ideal de vida ensinado por Jesus, mas não recebeu por parte destas pessoas nenhuma resposta mais precisa. Alguns chegaram a aconselhar ao jovem que parasse de se preocupar com estas questões e se limitasse a freqüentar a Igreja como todas as demais pessoas. Porém mais tarde as preocupações da vida engolfaram Motovilov e ele acabou se esquecendo da busca de Deus. Viveu como se vive na sociedade. Pecou e sofreu.

Os anos foram se passando. Motovilov foi então atingido por uma doença na época incurável. Lembrou-se por causa disso de procurar conforto e auxílio junto a um certo sacerdote de que tinha ouvido falar, o qual vivia num local muito distante, nas proximidades de um mosteiro perdido em meio à floresta russa. Por causa de sua doença Motovilov já não podia andar e nem mesmo ficar de pé. Teve que ser carregado, em sua penosa viagem, por cinco empregados, mas ficou inteiramente curado depois de uma conversa com o monge Serafim.

No ano seguinte, um ano antes do falecimento do Padre Serafim, ambos mantiveram um diálogo de cujo registro transcrevemos algumas partes. Este diálogo nos fala do Espírito Santo que foi prometido por Cristo aos que cressem em seu nome, e com a sua leitura nos vamos ocupar por algum tempo.

Após a leitura deste diálogo, examinaremos uma pequena passagem da Summa Theologiae de Santo Tomás de Aquino, muito menor do que o texto do diálogo entre Serafim e Motovilov, em que Santo Tomás nos fala do mesmo assunto.

Era uma quinta feira. O céu estava cinza. A terra estava coberta de neve e espessos flocos continuavam a turbilhonar, quando o padre Serafim começou a nossa conversa na clareira perto de sua «Pequena Ermida», em frente ao rio Sarovka que deslizava ao pé da colina. Fez-me sentar no tronco de uma árvore que acabava de derrubar e ele se acocorou em minha frente.

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— «O Senhor me revelou», disse o grande staretz, «que desde a vossa infância desejáveis saber qual a finalidade da vida cristã e que tínheis muitas vezes interrogado a este respeito mesmo a altas personagens na hierarquia da Igreja».

Devo dizer que desde a idade de doze anos essa idéia me perseguia e que, efetivamente, havia proposto a questão a várias personalidades eclesiásticas, sem nunca receber resposta satisfatória. O staretz ignorava-o.

— «Mas ninguém», continuou o padre Serafim, «vos disse nada de preciso; vos aconselhavam a ir à igreja, a rezar, a viver segundo os mandamentos de Deus, a fazer o bem, e tal, diziam, era o objetivo da vida cristã. Alguns até desaprovavam a vossa curiosidade, julgando-a descabida e ímpia. Mas estavam errados. Quanto a mim, miserável Serafim, vos explicarei agora em que consiste realmente esse objetivo».

A verdadeira meta da vida cristã

— «A oração, o jejum, as vigílias e outras atividades cristãs, tão boas quanto possam parecer em si, não constituem a finalidade da vida cristã, ainda que ajudem a chegar a ela. O verdadeiro objetivo da vida cristã consiste na aquisição do Espírito Santo de Deus. Quanto à oração, ao jejum, às vigílias, à esmola, e qualquer outra boa ação feita em nome de Cristo, são apenas meios para a aquisição do Espírito Santo.

A aquisição do Espírito Santo

— «É pois na aquisição desse Espírito de Deus que consiste a verdadeira finalidade da vida cristã, enquanto a oração, as vigílias, o jejum, a esmola e as outras ações virtuosas, feitas em nome de Cristo, são apenas meios para adquiri-lo».

– «Como a aquisição?», perguntei ao padre Serafim. «Não compreendo muito bem».

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— «A aquisição é a mesma coisa que a obtenção. Sabeis o que é adquirir dinheiro? Em relação ao Espírito Santo é semelhante. Para as pessoas comuns, o objetivo da vida consiste na aquisição do dinheiro, o ganho. Os nobres desejam, além disso, obter honras, sinais de distinção e outras recompensas concedidas por serviços prestados ao Estado. A aquisição do Espírito Santo é também um capital, mas um capital eterno, dispensador de graças; muito parecido aos capitais temporais e que se obtém pelos mesmos processos. Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus homem, compara a nossa vida a um mercado e a nossa atividade na terra a um comércio. Recomenda-nos a todos nós: `Negociai até que eu volte, remindo o tempo, porque os tempos são maus’; (Lc 19, 12-13; Ef 5, 15-16) o que quer dizer: ‘Apressai-vos em obter bens celestes, negociando com mercadorias terrenas´. Essas mercadorias terrestres não são senão as ações virtuosas feitas em nome de Cristo e que nos trazem a graça do Espírito Santo.

 

Ver a Deus

– «Padre», disse-lhe eu, «falais sempre da aquisição da graça do Espírito Santo como a finalidade da vida cristã. Mas, como posso reconhecê-la? As boas ações são visíveis. Mas o Espírito Santo pode ser visto? Como posso saber se Ele está ou não em mim?»

— «Na época em que vivemos», respondeu o staretz ,«chegou-se a uma tal tibieza na fé, a uma tal insensibilidade para com a comunicação com Deus, que as pessoas se afastaram totalmente da verdadeira vida cristã. Há passagens da Escritura que nos parecem estranhas hoje, como, por exemplo, quando o Espírito Santo pela boca de Moisés diz: ‘Adão via Deus passeando no Paraíso’ (Gn 3) ou quando lemos no apóstolo Paulo que foi impedido pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia, mas que o Espírito o acompanhou quando ele se dirigia para a Macedônia (At 16, 6-9). Em muitas outras passagens da Sagrada Escritura ele é, por várias vezes, assunto da aparição de Deus aos homens. Então alguns dizem: ‘Estas passagens são incompreensíveis. Pode- se admitir que homens possam ver a Deus de maneira tão concreta?’ Esta incompreensão vem do fato de que sob o pretexto da instrução, da ciência, mergulhamos numa tal obscuridade de ignorância, que tudo achamos incompreensível, tudo de quanto os antigos tinham uma noção bastante clara para poderem falar entre eles das manifestações de Deus aos homens como de coisas conhecidas e, de forma alguma, estranhas. Assim Jó, quando os seus amigos o reprovavam por não blasfemar contra Deus, respondia: `Enquanto em mim houver um sopro de vida e o alento de Deus nas narinas, meus lábios não dirão falsidades’. (Jó 27, 3)

Em outras palavras, como posso blasfemar contra Deus, quando o Espírito Santo está em mim? Se blasfemasse contra Deus, o Espírito Santo me deixaria, mas sinto sua respiração em minhas narinas. Abraão e Jacó conversaram com Deus. Jacó lutou mesmo com Ele. Moisés viu Deus e todo o povo com ele, quando recebeu as tábuas da Lei, no Sinai. Uma coluna de nuvens de fogo, a graça visível do Espírito Santo, servia de guia ao povo hebreu no deserto. Os homens viam a Deus e seu Espírito não em sonho ou êxtase, fruto de uma imaginação doentia, mas na realidade.

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Desatentos, como nos tornamos, compreendemos as palavras da Escritura contrariamente ao que se deveria. E tudo isso porque, em lugar de buscar a graça, nós a impedimos, por orgulho intelectual, de vir habitar em nossas almas e de nos esclarecer como são esclarecidos aqueles que de todo coração buscam a verdade».

A Criação

— «Muitos, por exemplo, interpretam as palavras da Bíblia: `Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida’, (Gn 2, 7) como querendo dizer que até então não havia em Adão nem alma, nem espírito humano, mas somente uma carne criada do barro do solo. Esta interpretação não é correta, pois o Senhor Deus criou Adão do barro do solo no estado do qual fala o apóstolo Paulo quando afirma: ‘Que vosso espírito, vossa alma e vosso corpo sejam guardados de modo irrepreensível para o dia da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo’. (1 Tes 5, 23) Todas estas três partes do nosso ser foram criadas do barro do solo. Adão não foi criado morto, mas criatura animal atuante, semelhante às outras criaturas que vivem na terra e são animadas por Deus. Mas eis o importante. Se Deus não tivesse insuflado na face de Adão este alento de vida, isto é, a graça do Espírito Santo que procede do Pai e repousa no Filho e, por causa deste não o tivesse enviado ao mundo, por mais perfeito e superior às outras criaturas que Adão fosse, teria permanecido privado do Espírito deificante e seria semelhante a todas as outras criaturas que possuíssem carne, alma e espírito segundo a sua espécie, mas privados, no interior, do Espírito que estabelece parentesco com Deus. A partir do momento em que Deus lhe deu o sopro de vida, Adão tornou-se, segundo Moisés: ‘uma alma vivente’, o que quer dizer, em tudo semelhante a Deus, eternamente imortal. Adão havia sido criado invulnerável. Nenhum elemento tinha poder sobre ele. A água não podia afogá-lo, o fogo não podia queimá-lo, a terra não o podia engolir e o ar não lhe podia ser nocivo. Tudo lhe era submisso, como ao proferido de Deus, como ao proprietário e rei das criaturas. Ele era a própria perfeição, a coroa das obras de Deus e admirado como tal. O alento de vida que Adão recebeu do Criador, o encheu de sabedoria a tal ponto que jamais houve sobre a terra, e provavelmente jamais haverá, um homem tão repleto de conhecimento e de saber quanto ele. Quando Deus lhe ordenou que desse nomes a todas as criaturas, ele as denominou de acordo com as qualidades, as forças, e as propriedades de cada uma, conferidas por Deus.

Este dom da graça divina supranatural, que veio do alento de vida que havia recebido, permitia a Adão ver a Deus passeando no paraíso e compreender as suas palavras bem como a conversa dos santos anjos e a linguagem de todas as criaturas, dos pássaros, dos répteis que vivem sobre a terra, de tudo o que nos é dissimulado, a nós, pecadores, desde a queda, mas que antes era perfeitamente claro para Adão.

A graça do Espírito Santo é luz

—«Ainda é preciso que vos diga, a fim de que compreendais o que é preciso entender por graça divina, como ela se manifesta nos homens que ilumina: a graça do Espírito Santo é Luz. Toda a Sagrada Escritura fala disso. Davi, o antepassado do Deus homem, disse: ‘Tua palavra é lâmpada para os meus pés, e luz para o meu caminho’. (Sl 118, 105)

Em outros termos, a graça do Espírito Santo, que a lei revela na forma dos mandamentos divinos, é minha luminária e minha luz e, se não fosse essa graça do Espírito Santo, ‘que com tanto trabalho me esforço por adquirir, me interrogando sete vezes ao dia de sua verdade’, (Sl 118, 164) como, entre as numerosas preocupações inerentes à minha condição real, poderia encontrar em mim uma só chispa de luz para me iluminar acerca do caminho da vida enegrecida pelo ódio de meus inimigos?

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De fato, o Senhor muitas vezes mostrou, na presença de numerosas testemunhas, a ação da graça do Espírito Santo sobre os homens que ele havia iluminado e ensinado através de grandiosas manifestações. Lembrai-vos de Moisés, depois de sua conversa com Deus sobre o Monte Sinai (Ex. 34, 30-35). Os homens não podiam olhá-lo de tal modo seu rosto brilhava com uma luz extraordinária. Era mesmo obrigado a se mostrar ao povo com a face recoberta com um véu. Lembrai-vos da transfiguração do Senhor no Tabor. `E ali foi transfigurado diante deles. O seu rosto resplandeceu como o Sol, e suas vestes se tornaram brancas como a luz […] Os discípulos ouvindo a voz, muito assustados, caíram com o rosto no chão’. Quando Moisés e Elias apareceram revestidos da mesma luz `uma nuvem os encobriu para que não ficassem cegos’. (Mt. 17, 1-8; Mc 9, 2-8; Lc 9, 28-37)

É assim que a graça do Espírito Santo de Deus aparece numa luz inefável àqueles a quem Deus manifesta a sua ação.

Presença do Espírito Santo

–«Como poderei então», perguntei ao padre Serafim, «reconhecer em mim a presença do Espírito Santo?»

— «É muito simples», respondeu ele. Deus disse: ‘O saber é fácil para o inteligente’. (Prov 14, 6) Nossa desgraça é que nós não procuramos essa sabedoria divina que, não sendo deste mundo, não é presunçosa. Cheia de amor por Deus e pelo próximo, ela molda o homem para sua salvação. Foi falando dessa sabedoria que o Senhor disse: `Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade’. (1 Tim. 2, 4) A seus apóstolos, que não tinham esta sabedoria, ele disse: `Ó insensatos e lentos de coração para crer tudo o que os profetas anunciaram!’ (Lc 24, 25-27) E o Evangelho diz que ele `lhes abriu a inteligência a fim de que pudessem compreender as Escrituras’.

Tendo adquirido essa sabedoria, os apóstolos sabiam sempre se o Espírito de Deus estava ou não com eles e, cheios desse Espírito, afirmavam que sua obra era santa e agradável a Deus. Por isso em suas epístolas podiam escrever: `Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós…’, (At 15, 28) e somente persuadidos como estavam de sua presença sensível, enviavam suas mensagens. Então, amigo de Deus, vede como é simples.

– Respondi: «Apesar de tudo, não compreendo como posso estar absolutamente certo de me encontrar no Espírito Santo. Como posso eu mesmo descrever em mim a sua manifestação?»

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O padre Serafim respondeu:

— «Já vos disse que é muito simples e vos expliquei com detalhes como os homens se encontravam no Espírito Santo e como se deve compreender a sua manifestação em nós… Que vos falta ainda?

– «Eu preciso», respondi, «compreendê-lo verdadeiramente bem…»

A Luz Incriada

Então o padre Serafim me tomou pelos ombros e, apertando-os fortemente, disse:

— «Estamos ambos, vós e eu, na plenitude do Espírito Santo. Por que não me olhais?

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– «não posso, padre, olhar-vos. Brotam raios de vossos olhos. O vosso rosto tornou-se mais luminoso do que o Sol. Os olhos me doem…»

O padre Serafim disse:

— « Não tenhais medo, amigo de Deus. Também vos tornastes tão luminoso quanto eu. Vós também estais agora na plenitude do Espírito Santo, de outro modo não teríeis podido me ver.

Inclinando a sua cabeça para mim, disse-me ao ouvido:

— «Agradecei ao Senhor por vos ter concedido esta graça indizível. Vistes, nem mesmo fiz o sinal da cruz, no meu coração, em pensamento somente, rezei: `Senhor, tornai-me digno de ver claramente, com os olhos da carne, a descida do Espírito Santo como a teus servidores eleitos quando te dignaste aparecer-lhes na magnificência de tua glória!’ E imediatamente Deus atendeu a humilde oração do miserável Serafim. Como não agradecer-lhe por esse dom extraordinário que a nós dois ele concede? Não é também sempre aos grandes eremitas que Deus manifesta assim a sua graça. Como mãe amorosa, essa graça se dignou consolar o vosso coração desolado, a pedido da própria Mãe de Deus. Mas, por que não me olhais nos olhos? Ousai olhar-me sem temor, Deus está conosco.

– Depois destas palavras, levantei os olhos para o rosto e um medo maior ainda tomou posse de mim. Imaginai-vos no meio do Sol, na claridade mais forte de seus raios de meio dia, o rosto de um homem que vos fala. Vedes o movimento de seus lábios, a expressão cambiante de seus olhos, vós ouvis o som de sua voz, sentis a pressão de suas mãos, mas, ao mesmo tempo, não percebeis nem as suas mãos, nem o seu corpo, nem o vosso, nada senão uma esplendorosa luz se propagando ao redor, a uma distância de muitos metros, iluminando a neve que recobria a campina e caía sobre o grande staretz e sobre mim. Pode-se representar a situação na qual me encontrava então?

— «Que sentis agora?», perguntou o staretz.

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– «Sinto-me extraordinariamente bem».

— «Como ‘bem’? Que quereis dizer por ‘bem’?»

– «Minha alma está cheia de um silêncio e de uma paz inexplicável».

— «Aí está, amigo de Deus, esta paz da qual o Senhor falava quando ele dizia a seus discípulos: “Deixo-vos a minha paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas porque não sois do mundo e minha escolha vos separou do mundo, o mundo por isso vos odeia. Eu vos disse tais coisas para terdes paz em mim. Tende coragem, eu venci o mundo”. (Jo 14,27; 15,19; 16,33) É a esses homens eleitos por Deus, mas odiados pelo mundo, que Deus dá a paz que sentis agora, ‘a paz de Deus’, diz o apóstolo, ‘que excede toda a compreensão’. (Fil 4, 7) O apóstolo denomina-a assim porque nenhuma palavra pode exprimir o bem estar espiritual que ela faz nascer nos corações dos homens em que o Senhor a implanta. Ele mesmo a chama sua paz (Jo. 14, 27). Fruto da generosidade de Cristo e não deste mundo, nenhuma felicidade terrena a pode dar. Enviada do alto pelo próprio Deus, ela é a paz de Deus… Que sentis agora?»

– «Uma delícia extraordinária».

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— «É a delícia de que fala a Escritura: ‘Eles ficam saciados com a gordura de tua casa, tu os embriagas com um rio de delícias’. (Sl 35, 9) Ela transborda do nosso coração, derrama-se em nossas veias, traz-nos uma sensação de delícia inexprimível… Que sentis ainda?

– «Uma extraordinária alegria em todo o meu coração».

— «Quando o Espírito Santo desce sobre o homem com a plenitude de seus dons, a alma humana fica cheia de uma alegria indescritível. É dessa alegria que o Senhor fala no Evangelho quando diz: `Quando uma mulher está para dar à luz, entristece-se porque a sua hora chegou; quando, porém, nasce a criança, ela já não se lembra dos sofrimentos, pela alegria de ter vindo ao mundo um homem. Também vós, agora, estais tristes; mas eu vos verei de novo e vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará a vossa alegria’. (Jo 16, 21-22) Por grande e consoladora que ela seja, a alegria que sentis neste momento nada é, em comparação com aquela da qual o Senhor disse através de seu apóstolo: `O que os olhos não viram, o que os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu, isso Deus preparou para aqueles que o amam’. (1Cor 2, 9) O que nos é concedido presentemente é apenas uma antecipação dessa alegria suprema. E, se desde agora, nós sentimos deleite, júbilo e bem estar, que dizer desta outra alegria que nos está reservada no céu, depois de ter, aqui na terra, chorado? Já haveis chorado bastante em vossa vida e vede que consolação na alegria o Senhor vos dá aqui na terra. Cabe a nós, agora, amigo de Deus, trabalhar com todas as nossas forças para subirmos de glória em glória `até que alcancemos todos nós a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado do homem perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo’. (Ef 4, 13) `Os que põe sua esperança em Javé renovam as suas forças, formam asas como as águias, correm e não se fatigam, caminham e não se cansam’. (Is 40, 31) `Eles caminham de terraço em terraço e Deus lhes aparece em Sião’. (Sl 83, 8 É então que a nossa alegria atual, pequena e breve, se manifestará em toda a sua plenitude e ninguém nos poderá arrebatá-la, repletos como estaremos de indizíveis gozos celestes. Que sentis, ainda, amigo de Deus?

– «Um calor extraordinário»

— «como, um calor? Não estamos na floresta, em plena neve? A neve está sob os nossos pés, estamos cobertos dela e ela continua caindo… De que calor se trata?»

– «Um calor semelhante ao de um banho de vapor».

— «E o cheiro é como no banho?»

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– «Oh, não! Nada sobre a terra se pode comparar a esse perfume. No tempo em que a minha mãe vivia, ainda gostava de dançar e quando eu ia a um baile, ela me aspergia perfumes que comprava nas melhores lojas de Kasan e pagava muito caro. O seu odor não é comparável a estes aromas».

O padre Serafim sorriu.

— «Eu sei, meu amigo, tanto quanto vós, e é de propósito que vos interrogo. É bem verdade, nenhum perfume terreno pode ser comparado ao bom odor que respiramos neste momento, o bom odor do Espírito Santo. O que pode, sobre a terra, ser-lhe comparado? Dissestes, ainda há pouco, que fazia calor, como no banho. Mas olhai, a neve que nos cobre, a vós e a mim, não se derrete, assim como a que está aos nossos pés. O calor não está no ar, mas no nosso interior. É este calor que o Espírito Santo nos faz pedir na oração: `Que teu Espírito Santo nos aqueça’. Este calor permitia aos eremitas, homens e mulheres, não temerem o frio do inverno, envolvidos, como estavam, como que num manto de peles, numa veste tecida pelo Espírito Santo. É assim que, na realidade, deveria ser, habitando a graça divina no mais profundo de nós, em nosso coração. O Senhor disse: `O Reino de Deus está dentro de vós’. (Lc 17, 21) Por Reino de Deus ele entende a graça do Espírito Santo. Este Reino de Deus está em nós, agora. O Espírito Santo nos ilumina e nos aquece. Enche o ar de perfumes variados, alegra os nossos sentidos, sacia o nosso coração com alegria indizível. O nosso estado atual é semelhante àquele do qual fala o apóstolo: `Porquanto o Reino de Deus não consiste em comida e bebida, mas é justiça, paz e alegria no Espírito Santo’. (Rom 14, 17) A nossa fé não se baseia em palavras de sabedoria terrena, mas na manifestação do poderio do Espírito. Trata-se do estado em que estamos atualmente e que o Senhor tinha em vista quando dizia: `Em verdade vos digo que estão aqui presentes alguns que não provarão a morte até que vejam o Reino de Deus chegando com poder’. (Mc 9, 1) Eis aí, amigo de Deus, a alegria incomparável que o Senhor se dignou conceder-nos. Eis o que é estar `na plenitude do Espírito Santo’. É isto o que entende São Macário, o Egípcio, quando escreve: `Eu mesmo estive na plenitude do Espírito Santo’. Humildes quanto somos, o Senhor nos encheu da plenitude de seu Espírito. Parece-me que, a partir deste momento, não tereis de me interrogar mais sobre a maneira como se manifesta, no homem, a presença da graça do Espírito Santo. Esta manifestação permanecerá para sempre em vossa memória.

– «Não sei, padre, se Deus me tornará digno de me lembrar dela sempre com tanta nitidez como agora»

Difusão da mensagem

— «E eu», respondeu o staretz, «ulgo que, pelo contrário, Deus vos ajudará a guardar todas estas coisas para sempre, em vossa memória. De outro modo ele não teria sido tão rapidamente tocado pela humilde oração do miserável Serafim e não teria atendido tão depressa o seu desejo. Além do mais, não é somente a vós que é dado ver a manifestação desta graça mas, por vosso intermédio, ao mundo inteiro. Vós mesmo assegurai-vos, sereis útil a outros.

Monge e leigo

— «Quanto a nossos estados diferentes, de monge e leigo, não vos preocupeis. Deus procura acima de tudo um coração cheio de fé nele e em seu Filho único, em resposta à qual envia do alto a graça do Espírito Santo. O Senhor procura um coração repleto de amor por Ele e pelo próximo; aí está um trono sobre o qual Ele gosta de sentar-se e onde ele aparece na plenitude de sua glória. `Meu filho, dá-me o teu coração, e o resto eu te darei por acréscimo’. (Pr 23, 26) O coração do homem é capaz de conter o Reino dos Céus. `Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça’, diz o Senhor a seus discípulos, `e todas estas coisas vos serão acrescentadas, pois Deus, vosso Pai, sabe do que precisais’. (Mt 6, 33)

Legitimidade dos bens terrenos

— «O Senhor não nos proíbe o gozo dos bens terrenos, e diz ele próprio que, dada a nossa situação aqui na terra, deles precisamos para dar tranqüilidade às nossas existências e tornar mais cômodo e fácil o caminho para a nossa pátria celeste. E o apóstolo Pedro acha que nada há melhor no mundo do que a piedade unida ao contentamento. A Santa Igreja pede que isso seja dado. Apesar das penas, as desgraças, e as necessidades serem inseparáveis da nossa vida na terra, o Senhor jamais quis que os cuidados e as misérias constituíssem toda a trama dela. E, por isso, pela boca do apóstolo nos manda carregar os fardos uns dos outros, a fim de obedecer a Cristo que pessoalmente nos deu o preceito de nos amarmos mutuamente. Reconfortados por esse amor, a caminhada dolorosa pela via estreita que leva à nossa pátria celeste nos será facilitada. Não desceu o Senhor do céu não para ser servido, mas para servir e dar a sua vida pela redenção de muitos? (M. 20, 28; Mc 10, 45). Atuai do mesmo modo, amigo de Deus, e, consciente da graça da qual fostes visivelmente objeto, comunicai-a a todo homem desejoso da sua salvação.

Atividade missionária

— «’A colheita é grande’, diz o Senhor, `mas poucos os operários’. (Mt 9, 37-38; Lc 10, 2) Tendo recebido os dons da graça, somos chamados a trabalhar colhendo as espigas da salvação do nosso próximo, para os recolhermos no celeiro, em grande número, no Reino de Deus, a fim de que produzam seus frutos, uns trinta, outros sessenta, e outros cem. Estejamos atentos para não sermos condenados com o servo preguiçoso que enterrou o dinheiro a ele confiado, mas tratemos de imitar os servos fiéis que devolveram ao Mestre um, em vez de dois talentos, quatro, e o outro, em vez de cinco talentos, dez. Quanto à misericórdia divina, não se pode duvidar dela: vede vós mesmo como as palavras de Deus, ditas por um profeta, se realizaram por nós. `Sou, por acaso, Deus apenas de perto’. (Jr 23, 23)

Conversa com Motovilov

«Tendes muito pouca fé»

«O Senhor está perto dos que o invocam. Não faz acepção de pessoas. O Pai ama o Filho e entregou tudo nas suas mãos” (Sl 145,18; Rm 2,11; Jo 3,35). Desde que amemos verdadeiramente o nosso Pai celeste como filhos, o Senhor escuta de igual modo um monge e um homem do mundo, um simples cristão. Desde que ambos tenham a verdadeira fé, amem a Deus do fundo do coração e possuam uma fé “grande como um grão de mostarda”, “ambos deslocarão montanhas”. O próprio Senhor diz: “Tudo é possivel àquele que crê” (Mt 9,23). E o santo apóstolo Paulo exclama: “Posso tudo em Cristo que me dá forças” (Fl 4,13). Mais maravilhosas ainda são as palavras do Senhor a propósito dos que crêem nele: “Aquele que acredita em mim fará também as obras que eu faço e fará ainda maiores, porque eu vou para o Pai. Tudo o que pedirdes em meu nome, eu o farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu a farei” (Jo 14,12-14).

E é mesmo assim, ó amigo de Deus. Tudo o que pedirdes a Deus, obtê-lo-eis, desde que o vosso pedido seja para glória de Deus ou para o bem do vosso próximo. Porque Deus não separa o bem do próximo da sua glória: “Tudo o que fizerdes ao mais pequeno de entre vós, a mim o fareis” (cf. Mt 25,45).

Um pagão entra na herança de Israel

O espírito de Deus manifesta-se, embora com uma força menor, nos pagãos que não conhecem o verdadeiro Deus, mas entre os quais se encontram também simpatizantes. As virgens profetas, por exemplo, as sibilas, guardavam a virgindade para um deus desconhecido – mas um Deus de qualquer modo – que supunham ser o Criador do universo, o Todo-Poderoso que governava o mundo. Os filósofos pagãos, errando nas trevas da ignorância de deus, mas procurando a verdade, podiam, devido a esta busca agradável ao Criador, receber o Espírito Santo em certa medida. S. Paulo escreve: “quando os gentios, que não têm lei, cumprem pela luz natural, aquilo que a lei ordena, sem terem a lei, são lei para si mesmos” (Rom 2,14). A verdade é a tal ponto agradável a Deus que ele próprio o proclama pelo seu espírito: “Da terra germina a fidelidade e a justiça olha do céu” (Sl 84,12).

Assim se conservou o conhecimento de Deus no povo escolhido, amado por Deus, assim entre os pagãos ignorando Deus, depois da queda de Adão e até à incarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sem este conhecimento, sempre claramente conservado no género humano, como teriam os homens podido saber se tinha vindo aquele que, segundo a promessa feita a Adão e Eva, devia nascer de uma Virgem destinada a esmagar a cabeça da serpente? (Gn 3,15).

«Procurai primerio o seu Reino e a sua justiça e tudo o mais vos será dado por acréscimo».

[S. Serafim e Molovilov encontram-se mergulhados numa grande luz e numa grande suavidade. Serafim diz-lhe:] Meu amigo, os homens foram criados para que a graça divina habite no mais profundo de nós, no nosso coração. O Senhor disse: “O Reino dos céus está dentro de vós” (Lc 17,21). Por Reino dos céus, Ele entende a graça do Espírito Santo; esse Reino de Deus está em nós dois neste momento. O Espírito Santo ilumina-nos e aquece-nos; enche o ar com os seus perfumes, alegra os nossos sentidos e inunda os nossos corações com uma alegria inefável. Experimentamos o que diz o apóstolo Paulo: “O Reino de Deus não é o comer e o beber, mas a justiça, a paz e a alegria, pelo Espírito Santo” (Rm 14,17)… Vê, amigo de Deus, que alegria incomparável se dignou conceder-nos o Senhor. Vê o que é estar “na plenitude do Espírito Santo”… Humildes como somos, o Senhor encheu-nos com a plenitude do Seu Espírito. Parece-me que, a partir de agora, já não me interrogarás mais acerca da forma como se manifesta no homem a presença da graça do Espírito Santo…

Quanto aos nossos estados diferentes, de monge e de leigo, não te preocupes. Deus procura antes de tudo um coração cheio de fé n’Ele e no seu Filho único, em resposta à qual Ele envia do alto a graça do Espírito Santo. O Senhor procura um coração cheio de amor para com Ele e para com o próximo – esse é o trono em que Ele gosta de se sentar e onde aparece na plenitude da sua glória. “Filho, dá-me o teu coração, e o resto dar-te-ei por acréscimo” (Pr 23,26). O coração do homem é capaz de conter o Reino dos Céus. “Procurai primeiro o Reino dos Céus e a sua verdade, diz o Senhor aos seus discípulos, e o resto ser-vos-á dado por acréscimo, porque Deus vosso Pai sabe que disso tendes necessidade”.

«Confiou-lhes os seus bens»

O Senhor não nos censura por usufruirmos dos bens terrenos e é Ele próprio quem diz que, tendo em conta a nossa situação neste mundo, precisamos deles para dar tranqüilidade à nossa existência e tornar mais cómodo e mais fácil o caminho em direcção à pátria celeste. A Santa Igreja reza para que isso nos seja dado. Apesar de as dores, as tristezas e as necessidades serem inseparáveis da nossa vida na terra, o Senhor nunca quis que as preocupações e as misérias constituíssem toda a sua trama. É por isso que nos recomenda, pela boca do apóstolo Paulo, que levemos os fardos uns dos outros (Ga 6, 2), a fim de obedecermos a Cristo, que nos deu pessoalmente o preceito de nos amarmos uns aos outros. Não é verdade que o Senhor desceu do céu “não para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por todos” (Mc 10, 45)? Age da mesma forma, amigo de Deus, e, consciente da graça de que foste visivelmente objecto, comunica-a a todo o homem que desejar ser salvo.

“A messe é g rande”, diz o Senhor, “mas os trabalhadores são poucos” (Mt 9, 37). Tendo recebido os dons da graça, somos chamados a trabalhar, ceifando as espigas da salvação do nosso próximo, a fim de os recolhermos em grande número no celeiro do Reino de Deus, para que dêem fruto, uns a trinta, outros a sessenta, outros a cem por um (Mc 4, 8).

Estejamos atentos, a fim de não sermos condenados como o servo preguiçoso, que enterrou o talento que o seu senhor lhe confiou; procuremos antes imitar os servos fiéis, que devolveram ao seu senhor, um quatro talentos em vez dos dois, outro dez talentos em vez dos cinco. Nem podemos duvidar da misericórdia divina; vós próprios vedes como se realizaram em vós as palavras de Deus, ditas por um profeta: “Não sou um Deus que vê de longe” (Jr 23, 23).

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