SANTO DO DIA – 17 DE MAIO – SÃO PASCOAL BAYLON
Religioso franciscano – patrono das devoções eucarísticas (1540-1592)
Pascoal Baylon nasceu na cidade de Torre Hermosa, na Espanha, em 16 de maio de 1540. Filho de uma família humilde, foi pastor de ovelhas desde muito jovem. Pascoal aprendeu a ler sozinho, como autodidata, através dos livros de oração.
Aos 18 anos, tentou entrar para o convento dos Franciscanos Reformados de Santa Maria de Loreto – chamados Alcantarinos – por obra de São Pedro de Alcântara, mas foi rejeitado talvez por causa da sua jovem idade. Sua primeira tentativa foi frustrada, mas, em 1564, após recusar uma grande herança de um rico senhor que havia sido curado por ele e por causa dos seus dons carismáticos, ele pôde ingressar na Ordem.
Pascoal, por humildade, permaneceu um simples irmão leigo, exercendo as funções de porteiro e ajudante dos serviços gerais. Bom, caridoso e obediente às regras da Ordem, fazia penitência constante, alimentando-se muito pouco e mantendo-se em constante oração. Por causa de sua origem pobre, não possuía nenhuma formação intelectual, porém era rico em dons transmitidos pelo Espírito Santo, possuindo uma sabedoria inata.
Pascoal destacou-se logo no convento por sua inteligência brilhante, fé inabalável e dedicação incrível à oração e adoração ao Santíssimo Sacramento. No entanto, permaneceu Irmão leigo por toda a sua vida, contra o parecer dos seus superiores, porque se sentia indigno do ministério sacerdotal e tocar em Jesus Eucarístico com as suas mãos.
Era tão carismático que a ele recorriam ilustres personalidades para aconselhamento, até mesmo o seu provincial, que lhe confiou a tarefa perigosa de levar documentos importantes para Paris. Essa viagem Pascoal fez a pé, descalço e com o hábito de franciscano, arriscando ser morto pelos calvinistas. Muitas vezes, foi espancado, zombado, insultado. Em Orléans, quase foi apedrejado por uma disputa acirrada sobre a Eucaristia com seus opositores.
Defensor extremado de sua fé, travou grande luta contra os calvinistas franceses, que negavam a Eucaristia. Apesar da sua simplicidade, Pascoal era muito determinado quando se tratava de dissertar sobre sua espiritualidade e conhecimentos eucarísticos.
A Eucaristia estava sempre ao centro da vida e da espiritualidade do frade Pascoal: quando voltou de Paris escreve uma Coleção de Máximas para provar a presença real de Jesus sob as espécies do Pão e do Vinho e o poder divino transmitido ao Papa. Este livreto foi parar mãos do Pontífice, em Roma, que lhe deu o apelido de “Serafim da Eucaristia”. Por isso foi considerado um dos primeiros e mais importantes teólogos da Eucaristia.
De fato, a presença de Pascoal no mundo era angélica: seus confrades, muitas vezes, o viram em êxtase ou até em elevar-se durante as horas de adoração a Jesus Eucarístico, sobre a qual falava, continuamente, aos fiéis, aos frades e a todos, em cada momento e por toda a parte.
Há uma coincidência curiosa na vida de Pascoal: o dia de seu nascimento, em 16 de maio de 1540, ocorreu no dia de Pentecostes e seu falecimento, – por fraqueza, provações, constantes jejuns e privações corporais, – em 17 de maio de 1592, também no dia de Pentecostes.
Além do mais, seu nome, Pascoal, deve-se também a evento: a solenidade do Pentecostes, em espanhol, era chamada “Páscoa cor-de-rosa” ou “Páscoa do Pentecostes”.
Na pobreza material, que o frade sempre buscava e que o acompanhou por toda a vida, Pascoal foi enriquecido pelos dons do Espírito Santo, sobretudo pela sabedoria. Apesar de mal saber ler e escrever, muitas personalidades o procuravam para pedir-lhe conselhos; entre os franciscanos, era ainda considerado um teólogo e, para os fiéis, um ponto de referência.
No entanto, como foi dito, ele nunca foi sacerdote e nem teve a alegria de dar Jesus Eucarístico aos fiéis. Esta era uma das tantas privações, que havia decidido se infligir, porque não se considerava suficientemente digno.
Após passar por tantas provações e mortificações do corpo, Pascoal faleceu, em 1592, depois de receber a Comunhão, no convento de Vila Real. Dizem que, durante seu enterro, o frade ainda abriu os olhos para adorar, mais uma vez, Jesus na Eucaristia.
São Pascoal Baylon foi canonizado pelo Papa Alexandre VIII, há quase um século depois da sua morte, enquanto, em 1897, o Papa Leão XIII o proclamava Padroeiro das Obras e dos Congressos Eucarísticos.
Os milagres do corpo
incorrupto de São Pascoal
Ele foi para o Céu, mas o seu corpo ficou e Deus realizou inúmeros milagres através de suas relíquias.
Nascido em Torre Hermosa, no então Reino de Aragão, de uma humilde família de agricultores, Pascoal trabalhou como pastor de ovelhas dos 7 aos 24 anos. Conta-se que ele recebeu uma visão de São Francisco e de Santa Clara ordenando a ele que entrasse para a Ordem Franciscana. Em uma data futura, ele acabou sendo admitido ao mosteiro dos Franciscanos Alcantarinos de Monteforte. Como irmão religioso, ele serviu em várias funções nos mosteiros da Ordem, mas sua atividade predileta era cuidar dos pobres e doentes, pelos quais ele frequentemente derramava lágrimas de compaixão e realizava milagres de cura.
A devoção à Santa Eucaristia era o tema dominante de sua vida. Seu primeiro biógrafo, Padre João Gimenez, que era amigo pessoal do santo, registra que Pascoal passava todo o seu tempo livre diante do tabernáculo, ajoelhado no próprio assoalho, com as mãos apertadas e firmes acima do rosto. Ele também conta que o santo se deleitava em servir a várias Missas sucessivas e que várias vezes passava a noite em oração diante do sacrário.
Durante uma viagem à França em missão, ele foi chamado várias vezes para defender sua fé na Santa Eucaristia. Para um frade, usar o hábito durante aquele tempo de guerras religiosas era um convite ao desastre, e ele foi muitas vezes preso, interrogado e maltratado pelos calvinistas huguenotes. Em uma das cidades, ele chegou a ser apedrejado e sofreu um ferimento no ombro que o afligiu pelo resto da vida.
Por uma coincidência, o exato “momento da partida desse santo homem para o Céu coincidiu com o de sua entrada no mundo. Ele tinha 52 anos naquele dia, Domingo de Pentecostes, ao amanhecer” de 15 de maio de 1592 [1].
Devido à grande quantidade de pessoas que desejava ver os restos mortais, o seu corpo foi transportado da humilde cela em que ele morreu para uma das capelas na igreja de Nossa Senhora do Rosário. Os fiéis que passavam em fila pelo caixão ficavam impressionados com a irradiação celeste de seu semblante e com o líquido perfumado que se acumulava em sua testa desde o momento de sua morte. Durante os três dias de exposição, “o óleo milagroso que destilava dos membros do santo fluía copiosa e continuamente” [2]. Conta-se que foram necessários guardas armados para controlar as pessoas, muitas das quais foram autorizadas a coletar o dito líquido em pequenos tecidos, que depois curaram várias doenças até então sem esperança de cura.
Também se conta que muitos dos que participaram do velório puderam testar a flexibilidade do corpo e abrir as pálpebras para ver os seus olhos, que eram de um brilho e de uma claridade incomuns.
Dos grandes prodígios e milagres que aconteceram em todos os cantos, talvez o incidente mais extraordinário que ocorreu durante esse período solene foi a miraculosa abertura dos olhos do corpo, um milagre visto por muitas das pessoas que lotaram a igreja.
Eleonora Jorda y Miedes, uma testemunha ocular desse fato, que até então sentia repulsa por cadáveres, relatou em seu testemunho:
“Dirigi-me ao Irmão Pascoal como se ele estivesse vivo, beijei as suas mãos e seus pés e vi as milagrosas gotas de suor em sua fronte. No fim, estava me sentindo tão bem ao lado daquele santo homem que, a fim de permanecer o maior tempo possível com a sua bendita companhia, resolvi não deixar a capela antes do fim da Missa Solene. Devo confessar, para minha vergonha, que dava mais atenção ao que estava acontecendo ao redor do santo homem que à celebração do Santo Sacrifício. Quando o vi abrindo os olhos no momento da elevação da Hóstia, fiquei tão estarrecida que soltei um grito. ‘Mamãe, mamãe! — exclamei para minha mãe, que tinha vindo comigo — Veja, veja! Irmão Pascoal está com os olhos abertos!‘ Ela olhou e também viu os olhos do santo abertos.
Todos os que fomos testemunhas desse milagre tínhamos em mente uma só coisa: que, com aquilo, Nosso Senhor queria recompensar a extraordinária devoção de Pascoal à Santa Eucaristia, dando a ele uma vida nova, a fim de que, mesmo do outro lado do túmulo, ele ainda tivesse a consolação de adorar Jesus no Santíssimo Sacramento do altar.” [3]
Na noite do terceiro dia seguinte à sua morte, enquanto era preparado um lugar para o corpo sob o altar da Imaculada Conceição, Pascoal foi revestido de um novo hábito, já que o antigo havia sido despedaçado pelos fiéis. Antes do enterro, o vigilante cobriu o corpo com uma grossa camada de cal virgem para consumir rapidamente a carne e para produzir um material lustroso, que ele achou que poderia parecer bonito em um relicário. Ele também agiu pressupondo que a cal destruiria rapidamente a carne, impedindo assim que ela emitisse qualquer odor desagradável — um fato que chocaria as pessoas e “mancharia” a reputação adquirida pelo corpo depois de tantas maravilhas.
O corpo permaneceu imperturbável nesse agente cáustico por oito meses, até que o provincial da Ordem, Padre João Gimenez, que ficara impossibilitado de assistir ao funeral devido a uma doença, visitou a urna do santo com o propósito de exumar secretamente o corpo. Quanto a esse incidente, ele relata que, em companhia de vários frades:
“A tampa foi levantada e, quando nos aproximamos do relicário, atestamos a presença da crosta de cal que escondia o santo de nossa vista. Eu não permitiria que ninguém mais tivesse a honra de remover essa crosta. Por isso, fui retirando-a, pouco a pouco, começando com a porção que cobria o seu rosto.
Ó alegria celestial! À medida que eu tirava a máscara, as feições de nosso bem-aventurado irmão eram reveladas, cheias de ânimo e de vivacidade. Era de fato ele mesmo, milagrosamente preservado na carne, intacto da cabeça aos pés, até na ponta do nariz, que é normalmente a primeira parte a dar sinais de decomposição.
Quando levantei as pálpebras, parecia que os olhos se fixavam em nós e sorriam. Os membros estavam tão flexíveis que respondiam a cada movimento que fazíamos com eles. Nada lembrava morte, nem a presença de um cadáver: ao contrário, tudo respirava vida e trazia consolação e alegria para a alma. A linguagem humana é incapaz de retratar tal espetáculo.
De joelhos diante do relicário nós derramamos as mais doces lágrimas de nossas vidas. Tomei a mão do santo sobre a minha e, trazendo-a para perto de meus lábios, beijei-a ternamente. Um líquido cristalino como bálsamo destilou de seu rosto e de suas mãos. Quando todos os religiosos tinham satisfeito sua devoção, uma camada fresca de cal se espalhou sobre o corpo e, então, eu me dirigi ao santo nos seguintes termos:
‘Aquele que por oito meses preservou-te tão milagrosamente sob esta cal, é poderoso o bastante para te preservar ainda, pelos muitos anos que hão de vir, e dar assim maior fulgor ao milagre, até chegar o tempo oportuno de transladar as tuas gloriosas relíquias a um sepulcro menos indigno de ti.’
Tendo restabelecido a urna em seu nicho, e reconstruído a pequena parede de tijolos, retiramo-nos em silêncio para preparar um registro desse primeiro reconhecimento do corpo.” [4]
A segunda exumação foi realizada em 22 de julho de 1594. Os religiosos da comunidade encontraram apenas alguns pedaços de sua mortalha. O corpo, com exceção da extremidade das narinas e de alguns fragmentos de pele, continuava resistindo à corrupção, e descobriu-se que o pedaço de um ouvido e um dedo tinham sido anteriormente levados como relíquias. Também se descobriu que o corpo permaneceu sem apoio quando colocado em posição vertical.
A data da terceira exumação privada não é conhecida, mas um incidente ocorrido nessa ocasião é digno de nota. Um dos religiosos, em segredo e sem autorização, amputou ambos os pés do santo e levou-os consigo. Ao descobrirem o sacrilégio, os superiores ordenaram que os pés fossem devolvidos, sob pena de excomunhão, e eles foram imediatamente recolocados no caixão algumas horas depois. A mutilação acabou sendo vantajosa, no entanto, pois de seus pés foram retiradas numerosas relíquias.
Dezenove anos após a morte do santo, uma exumação oficial foi feita para o processo de beatificação. Na presença do bispo de Segorbe, do provincial, do postulante da causa, de alguns eminentes dignatários do país, de médicos, de cirurgiões e de um escrivão, os três cadeados do caixão foram abertos e as formalidades de costume foram observadas antes que o seu interior fosse revelado.
“Assim que a tampa foi aberta, uma fragrância agradável, parecida com um aroma de flores, emergiu do sepulcro. Com uma tesoura, o bispo começou a abrir o hábito do santo até a cintura, a fim de dar aos médicos a oportunidade de fazer uma avaliação do corpo, que já estava por dezenove anos fechado dentro do caixão. Os médicos e cirurgiões empreenderam aquele delicado procedimento com o cuidado e a reverência que eram esperados de cristãos sinceros. A tampa foi recolocada assim que eles terminaram, satisfeitos, as suas investigações. No dia seguinte, a comissão se reuniu mais uma vez para ouvir a leitura do relatório médico. A conclusão a que chegaram, baseada nos princípios da ciência médica, confirmava o estado milagroso do corpo:
‘Nós, os médicos e cirurgiões abaixo assinados, afirmamos sob juramento diante de Deus e de acordo com a nossa consciência, que o corpo do irmão Pascoal Bailão é incorrupto, e que a forma de sua preservação é sobrenatural e milagrosa.’” [5]
Aos prodígios e milagres mencionados acima deve ser acrescentado outro: o dos curiosos “golpes” que procediam de seu túmulo e de suas imagens. As batidas eram interpretadas instintivamente de acordo com a sua intensidade e frequência, e eram normalmente aceitas como um aviso amigável. É desnecessário dizer que os barulhos incomuns instilavam nos corações dos agraciados uma intensa alegria religiosa e uma grande consciência da presença do santo.
Os estranhos barulhos foram escutados pela primeira vez quando um filho espiritual do santo, Antônio Pascal, começou a usar em seu pescoço um relicário contendo um pequeno fragmento de osso tirado de um dos seus pés. Primeiro, o menino sentia leves toques em seu peito, como se as relíquias estivessem vivas, e essas vibrações foram se tornando habituais. A quem quer que desconfiasse do milagre, era só o menino tirar o relicário e dizer devotamente: “Adorado seja o Santíssimo Sacramento do altar”, e as batidas imediatamente se faziam ouvir.
A devoção ao Santíssimo Sacramento que Pascoal Bailão exibia tão devotamente durante a sua vida refletiu nos fenômenos e milagres realizados por ele depois de sua morte, os quais contribuíram em grande medida para um avivamento da fé e um aumento da devoção nos corações de muitos. Portanto, nada seria mais apropriado que Pascoal Bailão, canonizado em 1690, fosse declarado pelo Papa Leão XIII em 1897 padroeiro dos Congressos Eucarísticos e de todas as organizações dedicadas ao aumento do amor e da devoção à Santa Eucaristia.
Conheça mais sobre São Pascoal Bailão
São Pascoal Bailão, da ordem de São Francisco nasceu em 1540, em Torre Hermosa, pequeno burgo do reino de Aragão; seus pais, que ganhavam a vida cultivando a terra, eram extremamente virtuosos. Ele seguiu as primeiras pegadas, e parecia ter sugado o leite materno com máximas de piedade.
A fortuna da família era muito limitada, para que o pudessem enviar à escola, e o piedoso menino supria a falta da seguinte maneira.
Levava consigo um livro quando ia guardar o rebanho no campo, e pedia a todos que encontrava a caridade de fazê-lo conhecer as letras. O desejo que tinha de instruir-se foi tão vivo e sua intenção tão grande, que em breve soube perfeitamente ler e escrever. Não se servia dessa vantagem senão para aperfeiçoar o conhecimento da religião. Os livros de recreação pareciam-lhe insípidos; gostava dos que lhe relatavam as principais circunstâncias da vida de Jesus Cristo, e as ações dos que tinham imitado o seu exemplo. Apesar da extrema juventude, não encontrava prazer senão no que era sério e sólido.
Quando saiu da primeira infância, mereceu elogios na qualidade de pastor. A vida tranqüila e inocente que lhe proporcionaria tal profissão, oferecia-lhe toda sorte de encantos. Cada objeto que se lhe apresentava aos olhos, servia para excitar-lhe a fé e devoção. Constantemente lia no grande livro da natureza, e por ele se elevava até Deus, a quem contemplava e bendizia em todas as suas obras. Valia-se, ainda, da leitura de livros próprios ao esclarecimento de seus deveres e a inspirar-lhe amor.
Seu mestre, que tinha piedade, demonstrou-lhe a alegria que sentia ao vê-lo levar a vida tão edificante, propôs mesmo adotá-lo como filho e fazê-lo seu herdeiro. Mas Pascoal Bailão, que não suspirava senão pelos bens do céu, temeu que os da terra fossem um obstáculo preferindo permanecer na primeira situação. Acreditava mediante ela adquirir a conformidade com o Salvador, que tinha vindo ao mundo, não para ser servido, mas para servir.
Viam-no frequentemente orar de joelhos, sob uma árvore qualquer, ao longe, enquanto o rebanho pastava nas montanhas. Foi um destes entretenimentos secretos com Deus, na prática da humildade e numa atenção extrema para purificar todas as ações de sua alma, que adquiriu a experiência consumada nas coisas espirituais, experiência que despertava admiração até nos mais perfeitos. Ninguém tinha mais razão do que ele para dizer com Davi: Felizes os que vós instruis pessoalmente, ó meu Deus!
Quando falava de Deus e da virtude, fazia-o com essa unção, essa luz, esse fervor de sentimento que o Espírito Santo comunica às almas inteiramente afastadas das coisas terrestres e que se consomem no amor divino.
Mais de uma vez aconteceu sobrevirem-lhe transportes durante a prece, e frequentemente não podia aos olhos dos homens a veemência do amor sagrado que o extasiava e fazia de certa forma a sua alma fundir-se pelos excessos das doçuras celestes. Experimentava em si próprio o que relatam muitos contemplativos, a saber: que a consolação comunicada às almas piedosas pelo Espírito Santo é infinitamente maior que todos os prazeres do mundo, mesmo que reunidos todos num só homem. Ela fazia, por assim dizer, dissolver o coração por um vivo sentimento de alegria, a ponto de não poder mais conter-se Era então que o servo de Deus cantava com o rei profeta: Minha alma se rejubila no Senhor, e ela triunfará de sua libertação. Todos os meus ossos exclamarão: Senhor, quem é semelhante a Vós?
Conquanto a virtude não deva ter a recompensa senão no céu, ela não deixa de receber na terra um como que antegozo, que a sustém nos combates. Deus, neste vale de lágrimas, mudará seus desertos num lugar de delícias, e sua solidão num jardim do Senhor. Ali se verá em toda parte a alegria e o júbilo; ali se ouvirão as ações de graças e os cânticos de louvor à glória do Eterno.
Julga-se acertadamente que não recebia tantas graças extraordinárias, senão como preço de sua paciência nas provas interiores, duma abnegação perene e de uma perfeita crucificação de sua carne. O rocio das consolações celestes não tomba jamais sobre uma alma não mortificada que procura as alegrias deste mundo.
O santo não se acreditava dispensado de esmolas na sua pobreza; fazia-o na medida que lhe era possível, e tomava para socorrer os infelizes, do que lhe davam para a subsistência. Dava-lhes uma parte das pequenas provisões que lhes enviavam no campo.
Por mais amor que tivesse pela profissão, não deixou de encontrar dificuldades que o desgostaram pouco a pouco. Não conseguia, apesar de toda a vigilância, impedir que as cabras que guardava fosse, vez por outra, em terreno alheio; isso foi causa de que abandonasse o cuidado delas. Tomou outro rebanho; m,as encontrou ao mesmo tempo outros motivos para sofrimentos. Alguns de seus companheiros tinham o costume de praguejar, brigar e bater-se. Ele havia-lhes chamado a atenção para a indignidade de tal conduta, mas eles não o escutavam, persistiam nas desordens. Concebeu então o plano de abandoná-los para não participar de seus crimes. Antes de escolher um estado de vida, redobrou as orações, os jejuns e outras austeridades: dispunha-se, assim, a conhecer a vontade de Deus. Algum tempo após, acreditou-se chamado à vida religiosa. As pessoas a quem se abriu, indicaram-lhe conventos ricamente ornados; mas não eram a classe de casas que desejava. Sou pobre, dizia, e estou resolvido a viver e morrer na pobreza e na penitência.
Com a idade de vinte anos, deixou o mestre e pátria, e dirigiu-se para o reino de Valência, onde havia um convento dos franciscanos descalços, chamados “Tamanqueiros” em virtude de uma espécie de tamanco ou sandália que traziam.
Esse convento situava-se num deserto, a regular distância da cidade de Monteforte. Dirigiu-se aos religiosos da casa para consultá-los sobre a verdadeira maneira de servir a Deus, e depois entrou para o serviço dos sitiantes da vizinhança, para guardar-lhes os rebanhos. Sua vida recolhida e penitente fê-lo conhecido em breve. Falavam dele como sendo o santo pastor. Afinal, resolveu romper todas as relações com o mundo. Apresentou-se ao convento dos franciscanos e pediu que o recebessem na qualidade de irmão converso, o que lhe foi concedido em 1564. Ofereceram-lhe inutilmente colocá-lo entre os religiosos do coro: a humildade fê-lo recusar a proposta.
Seu fervor não terminou com o noviciado, como acontece frequentemente; manteve-se, e aumentou mesmo dia a dia. Seu amor pela mortificação o fazia acrescentar novas austeridades às de sua regra; mas ele assim agia com grande simplicidade de coração e não tinha apego à própria vontade. Se acontecia advertirem-no os superiores de que levava as coisas longe demais, aceitava-lhes as advertências e atinha-se à letra da regra. Procurava sempre as mais baixas ocupações da comunidade. Quando mudava de convento, conforme o costume da ordem que, pelas mudanças, queria prevenir os apegos secretos do coração, não o ouviam jamais queixar-se; nem dava mesmo a entender que achava alguma coisa de mais gracioso numa casa do que noutra, porque estava inteiramente morto para o mundo e procurava
Deus em tudo. Jamais se permitiu um repouso entre os deveres da igreja e os do claustro; rezava sempre, mesmo durante o trabalho. Não tinha senão um hábito, velho e usado. Andava sem sandálias na neve e nos caminhos mais ásperos. Em qualquer lugar, em qualquer estação, era sempre o mesmo, alegre, doce, afável e respeitoso para com todos. Se lhe anteparava uma oportunidade para prestar a alguém serviços humilhantes e penosos, aproveita-a com empenho e tinha-se por muito honrado.
O geral de sua ordem, Cristóvão de Cheffontaines, duma antiga família da Bretanha, estava em Paris, quando São Pascoal lhe foi enviado em deputação, para tratar de assuntos da província. Partiu para a França sem se deixar atemorizar à vista dos perigos sem conta que teria que enfrentar da parte dos huguenotes, senhores de quase todas as cidades por onde teria que passar. Fez a viagem descalço e com o hábito franciscano, o que o expunha ainda mais ao furor dos heréticos. Estes o perseguiram muitas vezes a golpes de pedra e bastão. Pascoal recebeu no ombro um ferimento do qual se ressentiu a vida inteira. Duas vezes o prenderam como espião; mas Deus soube livrá-lo de todos os perigos.
Desincumbindo-se da missão com o seu geral, deixou a França para voltar à Espanha. No mesmo dia da chegada, retomou, apesar da fadiga adveniente da viagem, os trabalhos e funções habituais. Nunca o ouviram falar dos perigos arrostados. Contentava-se em responder em poucas palavras, às diversas perguntas que lhe faziam; ainda tinha o cuidado de suprimir o que teria sido capaz de atrair-lhe louvores. Tinha uma terna devoção pela divina Eucaristia, bem como pela paixão do Salvador.
Nos últimos anos de vida, passava a maior parte da noite ao pé dos altares, por vezes de joelhos, prostrado por vezes. Honrava também especialmente a Mãe de Deus, e não cessava de pedir, por sua intercessão a pureza da alma.
São Pascoal Bailão morreu em Villareal, perto de Valência, em 17 de Maio de 1592, na idade de cinqüenta e dois anos. Durante os três dias que seu corpo ficou exposto, operou um grande número de milagres. Foi beatificado no ano 1618 por Paulo V, e canonizado em 1690 por Alexandre VIII, (4)