SANTO DO DIA – 12 DE AGOSTO – SANTA JOANA FRANCISCA DE CHANTAL
Viúva e Fundadora da Congregação da Visitação de Santa Maria (1572-1641)
Filha de um político bem posicionado na França, Joana recusou matrimônio com um fidalgo milionário, por ser ele protestante calvinista. Casou-se, então, com o barão de Chantal, católico fervoroso, com quem levou uma vida profundamente religiosa e feliz.
Joana nasceu em Dijon, França, em 28 de janeiro de 1572, filha de Benigno Frèmiot, presidente do parlamento de Borgonha. Após seu casamento, foi morar no castelo de Bourbillye, e sua primeira ordem na nova casa sinalizou qual seria o estilo de vida que se viveria ali. Mandou que, diariamente, fosse rezada uma missa e que todos os servidores domésticos participassem. Ocupou-se, pessoalmente, da educação religiosa dos serviçais, ajudando-os em todas as suas necessidades materiais.
Quando o barão feriu-se gravemente durante uma caçada, no castelo só se rezava por sua saúde. Mas logo veio a falecer. Joana ficou viúva aos 28 anos de idade, com os filhos para criar. Dedicou-se inteiramente à educação das suas crianças, abrindo espaço em seus horários apenas para a oração e o trabalho. Nessa época, conheceu o futuro são Francisco de Sales, então bispo de Genebra. Escolheu-o para ser seu diretor espiritual e fez-se preparar para a vida de religiosa.
Passados nove anos de viuvez e depois de ter muito bem casado as filhas, deixou o futuro barão de Chantal, então um adolescente de 15 anos, com o avô Benigno no castelo de Dijon e retirou-se em um convento. No ano seguinte, em 1610, junto com Francisco de Sales, fundou a Congregação da Visitação de Santa Maria, destinada à assistência aos doentes. Nessa empreitada juntaram-se, à baronesa de Chantal, a senhora Jacqueline Fabre e a senhorita Brechard.
Joana, então, professou os votos e foi a primeira a vestir o hábito da nova Ordem. Eleita a madre superiora, acrescentou Francisca ao nome de batismo e dedicou-se exclusivamente à Obra, vivendo na sua primeira sede, em Anecy. Fundou mais 75 Casas para suas religiosas com toda a sua fortuna. Mas não sem dificuldades e sofrimentos, e sofrendo muitas perseguições em Paris, sem nunca esmorecer.
Depois de uma dura agonia motivada por uma febre que pôs fim à sua existência, morreu em Moulins no dia 13 de dezembro de 1641. Atualmente, as Irmãs da Visitação estão espalhadas em todos os continentes e celebram, no dia 12 de agosto, santa Joana Francisca de Chantal, que foi canonizada em 1767 para ser venerada como modelo de perfeição evangélica em todos os estados de vida.
No ano de 1604, a pedido do parlamento de Borgonha, São Francisco de Sales pregava a quaresma em Dijon. No auditório estava seu amigo, o arcebispo de Bourges; ele notou, ainda, uma senhora que lhe tinha já sido mostrada numa visão, como devendo ajudá-lo na instalação de uma obra santa. Ao sair do púlpito, ele perguntou ao arcebispo se conhecia aquela pessoa. O amigo respondeu: É minha irmã, a baronesa de Chantal. Efetivamente era ela.
Era filha de Benigno Frémiot, presidente do parlamento de Borgonha e de Margarida de Berbizy. Sua irmã, Margarida, esposa do conde de Effran; seu irmão, André, foi arcebispo de Bourges. Nasceu em Dijon a 28 de janeiro de 1572. Recebeu o nome de Joana no batismo e a ele acrescentou o de Francisca, na confirmação. Seu pai, enviuvando muito cedo, teve grande cuidado em sua educação: ninguém correspondeu melhor que Joana a tal cuidado; também o pai teve por ela uma ternura particular.
Um herege permitiu-se diante dela falar contra a Santa Eucaristia; Joana, que tinha então somente cinco anos, censurou-o asperamente. Mais tarde recusou desposar um fidalgo muito rico, unicamente porque era calvinista. Quando chegou aos vinte anos, seu pai casou-a com o barão de Chantal, o mais velho da família de Rabutin. Era um oficial de vinte e sete anos, que servia com distinção e que Henrique IV honrava com seu favor. Pouco depois do casamento, levou a esposa ao castelo de Bourbilly, onde tinha sua residência ordinária e confiou-lhe o cuidado da casa. A primeira ordem que ela deu foi dizer todos os dias a missa e de a ela fazer todos os domésticos assistir e instruí-los com cuidado, ocupá-los com discrição e ajudá-los com caridade em suas necessidades. Ela pôs em seus afazeres toda a ordem que exigia uma longa negligência, que antes se tivera.
Nas festas e nos domingos ouvia a missa na paróquia. Ocupava-se em fazer panos e pequenas alfaias para os altares e em ler bons livros; mas a obra de piedade onde se mostrou mais atenta foi a caridade para com os pobres. Durante a ausência do marido, obrigado a passar uma parte do ano na guerra ou na corte, não saía de casa; não se falava então nem de jogos, nem de prazeres, nem conversas. Quando ele voltava, a alegria de o rever, o amor que tinha por ele, a vontade de lhe falar e de se regozijar, atraíam outras pessoas à sua casa; tudo isso lhe fazia diminuir insensivelmente as práticas de devoção, que tomava, na primeira ausência; enfim, no ano de 1601, seu marido foi à corte, e ela resolveu firmemente jamais se dispensar de seus exercícios de piedade.
O barão de Chantal caiu doente em Paris e fez-se levar ao castelo aonde chegou nas últimas. A virtuosa esposa passava os dias à cabeceira de seu leito, e as noites, na capela. Mas ele se restabeleceu milagrosamente e a alegria foi perfeita. Um parente e amigo da vizinhança veio visitá-los, nessa ocasião, e propôs uma caçada ao barão; para lhe ser agradável ele aceitou e vestiu um hábito marron. Seu amigo, vendo-o através de alguns arbustos, tomou-o por um animal, disparou a arma e o feriu na coxa. – Estou morto! Gritou o barão, caindo; meu amigo, meu primo, disparaste imprudentemente e eu te perdôo de todo o meu coração! Depois mandou quatro criados a quatro paróquias diferentes para ter mais certamente um padre. Entretanto, levaram-no a uma casa da aldeia mais próxima, onde sua mulher veio, embora tivesse dado à luz há quinze dias. Quando a viu disse: Senhora, o decreto do céu é justo; devemos amar e morrer! – Não, senhor, devemos viver! – Ah, senhora, replicou ele, respeitemos a ordem da Providência! – Depois, com espírito tranqüilo, perguntou se o padre tinha chegado; e tendo sabido que havia um, mandou-o vir ao quarto e confessou-se. Um momento depois, vendo de longe aquele que o tinha ferido, que lhe parecia desesperado, exclamou: Meu primo, meu amigo, esse golpe me veio do céu; antes de partir deste mundo, eu te rogo, não peques e roga a Deus por mim.
Morreu nove dias depois, tendo recebido todos os sacramentos, com singular piedade; rogou à esposa, ordenou ao filho, que jamais pensassem em vingar-lhe a morte e disse-lhes que ele perdoava de novo àquele que o tinha matado, sem pensar, e fez escrever esse perdão nos registros da paróquia, com a ordem que dava à família, de conter os ressentimentos. Um momento depois, expirou nos braços da esposa, cuja desolação foi inenarrável.
Ficando viúva aos vinte e oito anos, com um filho e três filhas, sentiu ela a desgraça. Mas bem depressa conheceu os desígnios de Deus sobre si e correspondeu-lhes com tanta fidelidade, que, em suas maiores amarguras dizia não poder compreender como se podia estar tão contente e sofrer tanto, Nesse estado de dor e de alegria fez a Deus o sacrifício de si mesma, pelo voto de castidade e por uma resignação tão perfeita às ordens do céu, que não viveu mais vida humana; e para marcar publicamente o perdão que tinha concedido àquele que lhe matara o marido, quis ser madrinha de um de seus filhos. Viveu depois, para o futuro, segundo as regras de São Paulo e os padres traçaram para a santificação das viúvas. Passava uma parte das noites em oração, aumentou as esmolas, distribuiu aos pobres as roupas preciosas, fez voto de usar somente vestes de lã. Despediu a maior parte dos criados, depois de os ter recompensado liberalmente. Seus jejuns eram freqüentes e rigorosos. Retirada do mundo, dividia o tempo entre a oração, o trabalho e a educação dos filhos, Faltava-lhe um diretor que a pudesse levar pelas vias em que devia caminhar. Não deixava de o pedir a Deus com muitas lágrimas. Um dia, durante o fervor de sua oração, ela viu um homem de batina preta com um roquete e uma murça.
Passado o ano de luto, dirigiu-se à casa do pai, em Dijon. Aí continuou o mesmo gênero de vida e não quis receber visita de algumas senhoras virtuosas e idosas. No ano seguinte, os negócios da família obrigaram-na a se retirar com seus filhos junto do velho barão de Chantal, seu sogro, em Montelon, diocese de Autun. Teve que sofrer muito por causa do mau humor do velho, bem como de uma governante que o dominava, e que tinha adquirido tal ascendente sobre seu espírito, que toda a casa era forçada a lhe obedecer. A jovem baronesa suportou a provação com paciência: jamais a ouviram lamentar-se, não dava nem mesmo o menor sinal de descontentamento. Prestava-se com o maior prazer a tudo o que era agradável ao sogro e à governante. Consagrava à piedade a maior parte do tempo e dirigia-se, aos domingos, a Autun, para assistir às instruções dos pregadores.
Em 1604, foi a Dijon, à casa do pai, para ouvir São Francisco de Sales pregar. Desde a primeira vez que o viu no púlpito, julgou reconhecer nele o homem que lhe tinha sido mostrado na oração, como seu pai espiritual. Convidou-o muitas vezes a ir à casa de seu pai; e não ficava menos maravilhada com sua conversação familiar do que com seus sermões. Desejava ardentemente abrir-lhe a alma; o santo prelado inspirava-lhe toda confiança, mas ela não o ousava, porque um religioso que a dirigia lhe tinha feito prometer, por voto, reservar a ele unicamente a sua direção espiritual. De outro lado, os discursos do bispo de Genebra tocavam-na vivamente; conformava-se com seus conselhos mesmo nas coisas mínimas; e sua docilidade era sempre seguida de extraordinárias consolações.
Finalmente, revelou-lhe a causa de sua perplexidade; ficou determinado que o voto que a tinham feito fazer era indiscreto e que ela podia ser dispensada. Então, confessou-se com o santo bispo de Genebra e fez-lhe uma confissão geral de toda a vida. Mas, logo a paz de alma foi perturbada por desolações interiores; teve inquietações alarmantes sobre seu proceder. Francisco de Sales disse-lhe que aproveitasse aquela provação, de sorte que a luz tomou o lugar das trevas e a calma sucedeu à tempestade. Disse-lhe, ainda, que regulasse de tal modo seus exercícios de piedade, que seu exterior parecesse depender da vontade dos outros, sobretudo quando estava em casa do pai ou do sogro. Seu proceder reunia o costume de dizer: A Senhora reza em todas as horas do dia, mas isso não incomoda a ninguém.
Levantava-se às cinco horas, vestia-se sozinha e sem aquecimento, em toda a estação e fazia uma hora de oração mental. Depois, fazia levantarem-se os filhos, bem como os domésticos; cumpriam os exercícios da manhã e iam dar bom dia ao sogro; levava-o à missa, por voto, feito à Santa Virgem. Lia, depois do almoço todos os dias, por meia hora, a Escritura Sagrada; dava lições de catecismo a seus filhos, aos empregados e aos da aldeia que queriam também instruir-se. Antes da ceia, fazia um pequeno retiro espiritual de um quarto de hora e dizia o terço. À noite, retirava-se às nove horas e fazia o exame de consciência e a oração, com os filhos e os criados; dava a todos água benta e a benção e ficava ainda uma meia hora rezando sozinha; por fim terminava o dia, com a leitura da meditação para o dia seguinte.
Tinha adquirido um hábito tão grande da presença de Deus, que nada a afastava dele e conservava-se sempre tranqüila na diversidade das criaturas e dos fatos Depois de ter regulado o interior, pensou em reformar o que lhe parecia ainda muito vão em sua pessoa. Cortou o cabelo; vestia-se somente de um pano fino e unido. Tinha grande cuidado de mortificar o gosto e fazia de modo que as iguarias que deixava no prato fosse dadas aos pobres. Jejuava todas as sextas-feiras, usava cilício nos outros idas e muitas vezes disciplinava-se; adquiriu pela prática dessa vida santa, tão grande ascendente sobre suas paixões que não parecia mais uma criatura mortal.
Todos os domingos e festas ia aos lugares da paróquia onde sabia que havia doentes; arrumava-lhes a cama e nada lhes deixava faltar de alimento nem de remédios.
Tinha sempre em casa um pobre, coberto de feridas, que ela cuidava muitas vezes, de joelhos, com respeito, considerando com fé viva a Jesus Cristo, na sua pessoa. Velava em seus extremos, assistia-lhes à morte e os sepultava, ela mesma, com uma coragem que causava pasmo a todos os que não eram animados de uma perfeita caridade.
Em 1606 ela foi obrigada, pelo interesse de seus filhos, a fazer uma viagem a Bourbilly. Mas seus negócios não lhe impediram, pondo-lhes toda a ordem possível, de socorrer os enfermos de sua terra, que eram em tão grande número, que sepultava muitas vezes quatro num dia, depois de os ter assistido em sua doença, com todo o cuidado, ajudando-os com dinheiro, com orações e instruções. Mas, não podendo resistir a tantas fadigas, caiu doente com disenteria que a levou aos extremos. Nesse estado, escreveu ao pai e ao sogro, para lhes pedir a benção e para lhes recomendar os filhos. O presidente estava inconsolável, o barão de Chantal mesmo ficou muito aflito, pois, apesar das penas que lhe tinha causado e dos maus tratos que tinha sofrido e recebido dele, ela era considerada como santa que lhes trazia toda espécie de bênçãos. Depois que ficou curada, voltou a Montelon, onde foi recebida pelo sogro e pelos filhos, com uma alegria proporcionada ao temor que tinham de a perder.
À medida que se desapegava das criaturas, o desejo de ser toda de Deus aumentava em sua alma. Mas como seu santo diretor lhe tinha ordenado viver santamente em seu estado, sem pensar na vida religiosa, ela teve escrúpulo de o ter desejado e escreveu ao santo bispo. Ele respondeu-lhe nestes termos:
Oh! Não, minha filha! Eu não vos tinha dito que não tivésseis nenhuma esperança de ser religiosa, mas, que com isso não vos preocupásseis, nada havendo que nos impeça tanto de nos aperfeiçoarmos em nosso estado do que aspirar a outro, Os filhos de Israel não puderam cantar em Babilônia, porque pensavam em seu país; mas eu quisera que cantássemos por toda parte. Eu vejo vosso desejo de ser religiosa. Oh! Doce Jesus! Que vos direi, minha mui querida filha? Sua bondade sabe que eu muitas vezes implorei sua graça no santo sacrifício; não somente isso, mas empreguei a devoção e as orações de outros melhores que eu. E que vim a saber, minha filha! Que um dia deveis deixar tudo, mas que seja para entrar na religião, não me aconteceu ainda ser dessa opinião; o sim não se deteve ainda no meu coração e o não aí se encontra com muita firmeza, mas dai-me um pouco a ocasião para rezar e fazer rezar.
No dia de Pentecostes, quando tinha vindo a Annecym para tratar com ele de sua vocação, o santo prelado, para experimentar sua submissão propôs-lhe ser religiosa de Santa Clara, depois irmã do Hospital de Beaune e depois Carmelita. Ela consentia a cada proposta com uma docilidade que o santo bispo admirou; por fim, deu-lhe conta do projeto que tinha de fundar uma nova Congregação sob o nome da Visitação de Santa Maria. Ela ficou radiante de alegria a essa notícia e sentiu uma atração de Deus, tão poderosa para esse empreendimento que não duvidou de que era essa a vontade de Deus. Previam ambos grandes obstáculos a esse intento; o pai, o sogro e os filhos da santa viúva, uns mais velhos, outros muito jovens; como deixar tudo isso para se estabelecer fora do reino? O santo Bispo dizia: Vejo um caos em tudo isso, mas a Providência saberá deslindar tudo, quando chegar o tempo. E isso não tardou. A principal dificuldade era a educação das crianças, para o que parecia necessário que a mãe ficasse no mundo. O santo fez ver que lhe seria possível velar por eles num claustro e que ela o faria mesmo de maneira mais útil para elas. Essa dificuldade dói superada e seu pai e seu sogro consentiram que ela se retirasse, não sem derramar muitas lágrimas. Como ela tinha o coração muito sensível teve rudes combates a sustentar: mas o amor divino elevou-a acima dos sentimentos da natureza. Seus outros parentes e amigos deixaram ao mesmo tempo de se opor à sua resolução.
Antes de deixar o mundo a baronesa de Chantal casou a mais velha de suas filhas com o barão de Thorens, sobrinho do bispo de Genebra e esse casamento teve a aprovação das suas duas filhas. Uma morreu pouco tempo depois, a outra desposou o conde de Toulonjon, que unia ao nascimento, muita sabedoria e virtude. A mãe mesma tinha recusado um partido importante de Bourgogne e para selar com o sangue sua promessa que ela renovou de ser de Deus unicamente, ela tinha gravado em seu coração o nome de Jesus. Quanto ao jovem barão de Chantal, então com quinze anos de idade, o presidente Fremiot, seu avô, encarregou-se de terminar sua educação e a administração de seus bens, foi confiada a tutores inteligentes e de reconhecida probidade. Assim a presença da mãe não lhes era mais necessária.
O dia da partida chegou e a santa viúva despediu-se do barão de Chantal, seu sogro, pôs-se de joelhos, pediu-lhe perdão, se lhe tivesse desagradado em alguma coisa e rogou-lhe que lhe desse sua benção e recomendou-lhe ainda o filho, O bom velho, com oitenta e seis anos, parecia inconsolável, abraçou ternamente a nora e desejou-lhe toda sorte de felicidade. Os habitantes da terra de Montelon, sobretudo os pobres, julgando tudo perder, perdendo-a, demonstraram-lhe a dor com lágrimas e gritos. Em Dijon ela fortificou-se com a santa Comunhão, contra a fraqueza, que previa na separação de tudo o que tinha de mais caro. Enfim, chegou também aquele momento, e ela disse a deus aos parentes, com firmeza; depois, atirando-se aos pés do pai, suplicou-lhe que a abençoasse e tivesse cuidado do filho que ela lhe deixava. O presidente sentiu o coração partido; parecia-lhe morrer de dor; banhado em lágrimas, abraçou a filha e disse: Oh! Meu Deus! Não posso desdizer o que ordenastes, cortar-me à vida; no entanto, Senhor, eu vo-la ofereço, essa querida filha, recebei-a e consolai-me! Depois abençoou-a e a ergueu. O jovem Chantal, seu filho, de quinze anos, correu para ela, atirou-se-lhe aos braços e não a queria deixar, esperando enternecer-lhe o coração e detê-la com tudo o que de comovente lhe poderia dizer. Não conseguindo o que desejava, deitou-se no =limiar da porta, por onde ela devia sair e disse-lhe: Sou muito fraco, Senhora, para vos deter, mas pelo menos dirão que passastes por cima do corpo de vosso filho único para o abandonar! A santa viúva ficou comovida e chorou amargamente, passando por cima do corpo daquela querida criança, mas, um momento depois, tendo receio de que se lhe atribuísse i pesar arrependimento de sua decisão, ela voltou-se e disse-lhes com rosto sereno: Perdoai-me a fraqueza, deixo meu pai e meu filho para sempre; mas encontrarei Deus por toda a parte.
A 6 de Junho de 1610, dia de São Cláudio, que era da Santíssima Trindade, a senhora de Chantal, com a senhorita Jaqueline Fabre, filha do presidente da Sabóia e a senhorita de Bréchard, sob a direção do santo bispo de Genebra, começou em Annecy, a fundação da ordem da Visitação, tão útil ao povo porque aí se recebem as viúvas e os enfermos e tão honrosa para a Igreja pelo fervor com o qual se mantém a regularidade com que essas santas filhas edificam ainda hoje todo o mundo, dez outras mulheres vieram logo aumentar a comunidade nascente. O santo bispo pensava fazer apenas uma simples congregação, onde não se fosse obrigado à clausura, a não ser durante o ano de noviciado, depois do que se podia sair para o serviço dos enfermos. Mas o cardeal de Marquemont, arcebispo de Lião, tinha estabelecido uma de suas casas em sua cidade e escreveu ao santo bispo de Genebra e à mãe de Chantal, para lhes propor erigir o instituto em título de religião por clausura e fazerem as jovens os votos solenes.
Sua grande humildade fê-las rejeitar tudo isso, a princípio; mas depois de instantes preces a Deus, para que as iluminasse, consentiram-no e o santo prelado escreveu à madre Favre, superiora da comunidade de Lião: Se S. Excia. O arcebispo minha querida filha, voz diz que me escreveu sobre o assunto de vossa clausura e de vossos votos, dir-lhe-eis que eu teria tido grande suavidade para o título simples de congregação, sob o qual lhe parece que nossas filhas teriam tido menos motivo de amor próprio do que sob outro, onde somente o temor e o amor do esposo sagrado lhes teria servido de clausura e de votos; entretanto, não somente minha vontade, mas ainda meu juízo, bem facilmente prestam homenagem que devem ao sentimento desse grande e digno prelado. Consinto, pois, de todo o coração que façamos uma religião formal pois não pretendo outra coisa, minha filha, se não que Deus seja glorificado. Seja isso, por outras luzes que não, pelas minhas, tanto melhor; estarei mais a salvo desse espírito de orgulho que tudo estraga: nossa boa mãe é do mesmo sentir. Viva Jesus! Minha filha, sou nele todo vosso! (…)
Alguns anos depois de sua profissão religiosa, a madre Chantal quis ligar-se por votos a fazer sempre o que julgasse mais perfeito. São Francisco que ela consultou, permitiu-lho, porque lhe conhecia o fervor e não duvidava de que não cumprisse com fidelidade o compromisso que tinha contraído. Muitas vezes ela foi atormentada por doenças dolorosas. Os médicos nelas não viam uma causa natural: um deles, tendo-a observado vários dias: está doente de amor de Deus; não sei curar esses males. (…)
Depois da morte do pai, fez uma viagem a Dijon. Passou alguns meses naquela cidade para ajustar os negócios do filho, antes de o colocar na academia. Casou-o depois com Maria de Coulanges, que reunia grande virtude à origem, riquezas e beleza: desse casamento veio a única filha, a célebre marquesa de Sevigné. A madre Chantal foi ainda obrigada a deixar Annecy, muitas vezes, para ir fundar casas de sua ordem em diversas cidades, especialmente em Grenoble, Bourges, Dijon, Moulins, em Nevers, em Orleans e em Paris. Excitou-se contra ela violenta perseguição, nesta última cidade; ela, porém, venceu, por sua confiança em Deus. Ademais sua doçura e paciência atraíram-lhe a admiração daqueles que tinham sido seus maiores inimigos. Governou a casa que tinha fundado em Paris, no subúrbio de Santo Antonio, desde o ano de 1619, até o ano de 1622. (…)
Em 1622, outra aflição veio surpreender a madre Chantal: Deus levou-lhe o bem-aventurado pai, o bispo de Genebra. Essa perda foi seguida de outra. Em 1627, o barão de Chantal, foi morto combatendo contra os huguenotes, na ilha de Rhé; mas tinha-se preparado para a batalha, recebendo os sacramentos.Contava trinta e um anos e deixava uma filha que ainda não tinha um ano. Quatrio anos depois, a santa viu ir-se também a baronesa de Chantal, sua nora. Mal tinha sabido dessa notícia, anunciaram-lhe a morte do conde de Toulonjon, seu genro, que ela amava ternamente e que era governador de Pignerol. Esqueceu sua pena para só pensar na da condessa sua filho e tudo fez para a consolar.
Assim Deus provava essas grandes almas, para tornar mais semelhantes ao modelo de seu Filho.
Em 1638 a duquesa de Sabóia, Cristina de França, rogou insistentemente à madre de Chantal que viesse a Turin fundar um convento da Visitação. Ela o fez e conseguiu ainda mais, trazendo também os missionários de Vicente de Paulo, na diocese de Genebra. Perdeu, depois, de repente, os dois amigos íntimo,os, seu irmão, o arcebispo de Borges e o virtuoso governador de Sillery, que se tinha feito sacerdote. Obrigada a ir a Moulins, para os assuntos de sua ordem aí contraiu estreita amizade, com a duquesa de Montmorency, princesa dos Ursinos, viúva do duque Henrique de Montmorency, decapitado sob Luís XIII, por ter seguido o partido do duque de Orleans, irmão do rei. A princesa, inteiramente dedicada às boas obras, acabou por entrar na Ordem da Visitação; recusou aí ser superiora e viveu como a mais humilde das religiosas. De Moulins, Santa Chantal foi chamada a Paris, pela rainha Ana da Áustria, que a honrou com sua confiança.
Chegando a 4 de Outubro , a santa partiu a 11 de Novembro, atônita com a estima e os aplausos de que se via objeto. Voltando a Moulins, foi tomada de febre, e morreu santamente a 13 de Dezembro de 1641, depois de rude agonia, pronunciando o nome de Jesus. Antes de receber o viático, rogou ao confessor que escrevesse, como sua última vontade, as recomendações seguintes às recomendações seguintes, às suas religiosas: Rogo a nossas irmãs que observem suas regras, porque são suas regras, e não porque poderiam ser segundo seus gostos – Que viam em grande união entre si, com simplicidade , retidão e humildade; que nenhum desejo lhes perturbe o espírito; que tenham grande respeito por seus superiores e uma perfeita submissão e obediência. – Que a confiança em Deus não lhes deixe outro desejo que o de lhe agradar; e, enfim, que as superiores governem segundo o espírito da regra, que é todo doçura e caridade.
Santa Chantal foi assistida em seus últimos momentos pelo Padre Claudio de Lingendes, jesuíta, célebre por suas pregações, publicadas em três volumes. Muitos milagres operadoss por sua intercessão foram constatados juridicamente e ela beatificada por Bento XIV em 1751 e canonizada em 1767 por Clemente XIII.
Fotos: santiebeati.it
(Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume, XV, p.117 à 135)