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Santo do Dia

São João Damasceno – 04 de Dezembro

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SANTO DO DIA – 04 DE DEZEMBRO – SÃO JOÃO DAMASCENO
Sacerdote e doutor da Igreja (675-749)

João Damasceno é considerado o último dos santos Padres orientais da Igreja, antes que o Oriente se separasse definitivamente de Roma, no ano 1054. Uma das grandes figuras do cristianismo, não só da época em que viveu, mas de todos os tempos, especialmente pela obra teológica que nos legou.

Seu nome de batismo era João Mansur. Nasceu no seio de uma família árabe cristã no ano 675, em Damasco, na Síria. Veio daí seu apelido ‘Damasceno’ ou ‘de Damasco’. Nessa época a cidade já estava dominada pelos árabes muçulmanos, que acabavam de conquistar, também, a Palestina. No início da ocupação, ainda se permitia alguma liberdade de culto e organização dos cristãos, dessa forma o convívio entre as duas religiões era até possível. A família dos Mansur ocupava altos postos no governo da cidade, sob a administração do califa muçulmano, espécie de prefeito árabe.

Dessa maneira, na juventude, João, culto e brilhante, se tornou amigo do califa, que depois o nomeou seu conselheiro, com o título de grão-visir de Damasco. Mas como era, ao mesmo tempo, um cristão reto e intransigente com a verdadeira doutrina, logo preferiu se retirar na Palestina. Foi ordenado sacerdote e ingressou na comunidade religiosa de São Sabas, e desde então viveu na penitência, na solidão, no estudo das Sagradas Escrituras, dedicado à atividade literária e à pregação.

Saía do convento apenas para pregar na igreja do Santo Sepulcro, para defender o rigor da doutrina. Suas homilias, depois, eram escritas e distribuídas para as mais diversas dioceses, o que o fez respeitado no meio do clero e do povo. Também a convite de João V, bispo de Jerusalém, participou, ao seu lado, no Concílio ecumênico de Nicéia, defendendo a posição da Igreja contra os hereges iconoclastas. O valor que passou para a Igreja foi através da santidade de vida, da humildade e da caridade, que fazia com que o povo já o venerasse como santo ainda em vida. Além disso, por sua obra escrita, sintetizando os cinco primeiros séculos de tentativas e esforços de sedimentação do cristianismo.

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Suas obras mais importantes são ‘A fonte da ciência’, ‘A fé ortodoxa’, ‘Sacra paralela’ e ‘Orações sobre as imagens sagradas’, onde defende o culto das imagens nas igrejas, contra o conceito dos iconoclastas. Por causa desse livro, João Damasceno foi muito perseguido e até preso pelos hereges. Até mesmo o califa foi induzido a acreditar que João Damasceno conspirava, junto com os cristãos, contra ele. Mandou prendê-lo a aplicar-lhe a lei muçulmana: sua mão direita foi decepada, para que não escrevesse mais.

Mas pela fé e devoção que dedicava à Virgem Maria tanto rezou que a Mãe recolocou a mão no lugar e ele ficou curado. E foram inúmeras orações, hinos, poesias e homilias que dedicou, especialmente, a Nossa Senhora. Através de sua obra teológica foi ele quem deu início à teologia mariana. Morreu no ano 749, segundo a tradição, no Mosteiro de São Sabas. Tão importante foi sua contribuição para a Igreja que o papa Leão XIII o proclamou doutor da Igreja e os críticos e teólogos o declararam ‘são Tomás do Oriente’. Sua celebração, no novo calendário litúrgico da Igreja, ocorre no dia 4 de dezembro.

Texto: Paulinas Internet

São João Damasceno - (04/12)

São João Damasceno: A teologia vivificada pelo amor

Teólogo, espiritualista, orador, escritor e, sobretudo, santo. Este é o perfil de São João Damasceno, cujas obras fazem sentir o frescor da doutrina patrística oriental.

Situada aos pés do monte Hermon, à beira do deserto da Síria, Damasco é considerada por muitos estudiosos como a mais antiga cidade do mundo continuamente habitada.

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De origem imemorial, sua história está repleta de vicissitudes. Treze séculos antes de Cristo, a região foi campo de batalha entre hititas e egípcios. Duzentos anos depois, os arameus a tornaram uma importante urbe que o Rei Davi submeteu, fazendo-a pagar-lhe tributo (cf. II Sm 8, 5-6). No século IV, apossou- -se dela Alexandre Magno; e, depois da morte deste, disputaram-na acirradamente o Império Selêucida e o Ptolomaico, até cair por fim, no ano 64 a.C., em mãos romanas.

Na época de Nosso Senhor Jesus Cristo, Damasco fazia parte da Decápolis, e pouco depois da Ressurreição do Divino

São João Damasceno logrou fazer uma excelente síntese da doutrina patrística usando uma oratória de grande beleza

Mestre, já achamos nela um grupo de cristãos, cuja fé motiva a viagem de Saulo de Tarso com o intuito de persegui-los.

É nessa cidade lendária, crisol de raças e culturas, que veio ao mundo o último dos Padres da Igreja oriental: São João Damasceno.

Piedade, beleza e a mais pura ortodoxia

De família árabe, mas cristã de religião e socialmente bem situada, nasceu João por volta do ano 675, quando Damasco já se encontrava sob domínio muçulmano. Aos trinta anos abandonou as comodidades da casa paterna e ingressou no Mosteiro de São Sabas, situado no deserto da Judeia, próximo de Jerusalém. Pouco depois, foi ordenado presbítero e escolhido pelo Patriarca João de Jerusalém para pregar na Anástasis (lugar do sepulcro de Jesus) e em outros templos da Cidade Santa. De tal maneira brilharam sua eloquência e a segurança doutrinária que foi cognominado Chrysorrohas (rio de ouro), nome dado às águas que, procedentes do Antilíbano, tornavam um fecundo oásis os arredores de Damasco.

São João Damasceno logrou fazer uma excelente síntese da doutrina patrística usando uma oratória de grande beleza. A influência do seu pensamento se estendeu do Oriente ao Ocidente, onde suas obras foram objeto de estudo por São Tomás e os escolásticos. Lutou especialmente contra os erros dos iconoclastas, mas nas suas homilias e escritos encontramos a refutação de muitas das heresias que assolavam as comunidades cristãs da época.

Após alcançar uma avançada idade – calcula-se que tenha morrido aos 74 anos – entregou sua alma a Deus no ano 749, provavelmente em 4 de dezembro. Foi declarado doutor da Igreja pelo Papa Leão XIII, em 19 de agosto de 1890. Como já foi apontado, saber unir piedade, beleza literária e a mais pura ortodoxia doutrinária foi um dos grandes méritos de São João Damasceno. Ele conseguiu, com um brilho verdadeiramente excepcional, aliar o Verum, o Bonum e o Pulchrum (Verdade, Bondade e Beleza) numa linguagem tão acessível que deleita e ao mesmo tempo ensina as mais elevadas verdades sobre Nosso Senhor Jesus Cristo e sua Mãe Santíssima.

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A obra deste Padre da Igreja é tão vasta, seus escritos de tal modo magistrais na exposição e ricos em conceitos teológicos, cristológicos, apologéticos, pastorais e mariológicos, que selecionar alguns excertos para ilustrar este artigo sem ultrapassar seus curtos limites torna-se um árduo desafio.

Sólida doutrina cristológica

Valendo-se de uma terminologia perfeita do ponto de vista teológico, São João Damasceno exalta em suas homilias os mistérios de Nosso Senhor e refuta os erros cristológicos correntes naqueles tempos. Afirmando a plena união do Verbo Encarnado com Deus Pai e Deus Espírito Santo, desqualifica o monofisismo, que pretende ver a natureza humana de Cristo absorvida pela divindade; o nestorianismo, que considera Nosso Senhor como uma pessoa humana na qual o Verbo haveria estabelecido sua morada como num templo ou mansão, sem assumir de fato a natureza do homem; ou o monotelismo que nega a existência da vontade humana n’Ele.

Assim, por exemplo, em sua homilia sobre a Transfiguração do Senhor, ecoam os ensinamentos antimonofisistas do Concílio de Calcedônia, realizado em 451: “Como é possível que coisas incomunicáveis se misturem e permaneçam sem confundir-se? Como podem se unir uns elementos inconciliáveis, sem perder as características próprias da natureza? Precisamente isto é o que se efetua na união hipostática, de maneira tal que os elementos que se unem formam um só ser e uma só pessoa, mas conservando a unidade pessoal e a duplicidade de naturezas, numa diversidade indivisível e numa união sem confusão, que se realiza mediante a encarnação do Verbo imutável e a incompreensível e definitiva divinização da carne mortal. Como consequência dessa permuta, dessa recíproca comunicação sem confusão e da perfeita união hipostática, os atributos humanos vêm a pertencer a Deus e os divinos chegam a pertencer a um homem. Um só é, com efeito, aquele que, sendo Deus desde sempre, depois Se faz homem”.1

Com igual fé e profundidade teológica, o santo de Damasco não teme abordar um tema pouco tratado por teólogos mais recentes: o que aconteceu com a alma de Cristo após sua morte? A divindade separou-se da alma humana e do corpo do Senhor?

Explica ele: “Embora a alma santa e divina tenha se separado do corpo incontaminado e vivificante, a divindade do Verbo não se separou de nenhum desses dois elementos, ou seja, nem do corpo nem da alma, por efeito da indivisa união hipostática das duas naturezas, que se realizou na concepção efetuada no seio da santa Virgem Maria, Mãe de Deus. Assim resulta que, inclusive ao produzir-se a morte, continua havendo em Cristo uma só pessoa, que é o Verbo divino, e depois da morte do Senhor, nesta pessoa seguem subsistindo a alma e o corpo”.2

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Homilias sobre Nossa Senhora

Não são menos belas e esplendorosas as homilias do Damasceno sobre Nossa Senhora. Elas nos mostram como a devoção à Santíssima Virgem vem desde os primeiros tempos do Cristianismo, como o amor a Ela era muito patente já na época de Santo Inácio de Antioquia, que foi discípulo do Apóstolo João, de São Justino (†165) e de Santo Irineu (†202).

Nessas homilias se encontram em germe os elementos doutrinários que, séculos depois, facilitaram a proclamação de diversos dogmas marianos, como o da Imaculada Conceição e o da Assunção da Virgem Maria em corpo e alma aos Céus.

Cabe ressaltar nelas, além da profundidade teológica, o entusiasmo e o amor de seu autor à Santíssima Virgem. “La raison parle, mais l’amour chante” (a razão fala, mas o amor canta), escreveu o romancista Alfred de Vigny. Em São João Damasceno, a razão disserta e o amor canta, ao tratar d’Aquela que foi achada digna de ser a Mãe do Redentor.

Eis como ele entoa louvores à virgindade perpétua de Maria: “Ó Joaquim e Ana, casal bem-aventurado e verdadeiramente irrepreensível! Vós levastes uma vida agradável a Deus e digna d’Aquela de quem vos tornastes pais. Tendo vivido com pureza e santidade, gerastes a joia da virgindade, ou seja, Aquela que foi virgem antes do parto, virgem no parto e virgem depois do parto. Aquela que é a Virgem por excelência, virgem para sempre, virgem perpétua no espírito, na alma e no corpo”.3

E com quanta beleza literária, servindo-se de figuras extraídas do Antigo Testamento, nos ensina ser Maria Mãe de Deus: “Ó Virgem, claramente prefigurada na sarça, nas tábuas escritas por Deus, na arca da lei, no vaso de ouro, no candelabro, na mesa e na vara de Aarão que floresceu. De Vós, com efeito, procede a chama da divindade, o Verbo e manifestação do Pai, o maná suavíssimo e celestial, o nome inefável que está acima de todo nome, a luz eterna e inacessível, o celeste pão de vida. De Vós brotou corporalmente aquele fruto que não é resultado do trabalho de nenhum cultivador”.4

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Essa capacidade de unir doutrina, poesia e fervor, é exemplo típico do que Urs Von Balthasar chama “teologia de joelhos”, em oposição à “teologia de escritório”, tão habitual nos dias atuais.5

Prenunciador do dogma da Assunção

São João Damasceno comparte uma opinião generalizada entre os Santos Padres, de que há uma estreita relação entre a virgindade perpétua de Maria e a incorrupção de seu corpo virginal depois da morte. Ao ponto de que, em trechos como os mencionados a seguir, ele prenuncia o dogma da Assunção de Maria ao Céu, em corpo e alma.

“Convinha que aquela que no parto manteve ilibada virgindade conservasse o corpo incorrupto mesmo depois da morte. Convinha que aquela que trouxe no seio o Criador encarnado, habitasse entre os divinos tabernáculos. […] Convinha que
a Mãe de Deus possuísse o que era do Filho, e que fosse venerada por todas as criaturas como Mãe e Serva do mesmo Deus”.6

Foi na cidade lendária de Damasco, crisol de raças e culturas, que veio ao mundo o último dos Padres da Igreja oriental: São João Damasceno

Essa passagem do Damasceno foi reproduzida literalmente por Pio XII ao definir o Dogma da Assunção, na Constituição Apostólica Munificentissimus Deus. Nela, o Papa elogia também a “veemente eloquência” desse santo “que entre todos
se distingue como pregoeiro dessa tradição”.7

“São Tomás do Oriente”

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São João Damasceno dizia de si mesmo que nada possuía de original, apenas compilava trechos de antigos escritores. No entanto, a luz de seu pensamento atravessou os séculos e ilumina até hoje os horizontes dos estudos teológicos.

O próprio Papa Bento XVI, tomando-o como tema da Audiência Geral de 6 de maio de 2009, põe em realce a originalidade de sua argumentação em defesa do culto às imagens e às relíquias dos santos e o qualifica de “personalidade de primeira grandeza na história da teologia bizantina, um grande doutor na história da Igreja universal”.

São João Damasceno foi adequadamente cognominado “o São Tomás do Oriente”. Feliz equiparação porque esses dois luminares da Igreja se assemelham a um título muito superior: ambos refulgem pela santidade de vida tanto ou mais que pela ciência. Deles se pode bem dizer: “Quando o amor vivifica a dimensão orante da teologia, o conhecimento, adquirido
através da razão, se dilata. A verdade é procurada com humildade, acolhida com enlevo e gratidão: numa palavra, o conhecimento cresce somente quando se ama a verdade. O amor se torna inteligência e a teologia se torna autêntica sabedoria do coração, que orienta e sustenta a fé e a vida dos fiéis”.8

Notas:

1 SAN JUAN DAMASCENO. Homilía sobre la Transfiguración. In: PONS, Guillermo (Intr. e notas). Homilías Cristológicas y Marianas. Madrid: Ciudad Nueva, 1996, p.24.
2 SAN JUAN DAMASCENO. Homilía sobre el Sábado Santo. In: Op. cit., p.103.
3 SAN JUAN DAMASCENO. Homilía sobre la Natividad. In: Op. Cit., p.125.
4 SAN JUAN DAMASCENO. Homilía sobre la Dormición de María.
In: Op. cit., p.154.
5 Cf. BENTO XVI. Discurso aos monges reunidos na abadia de Heiligenkreuz, 9/9/2007.
6 Idem, ibidem.
7 Cf. Munificentissimus Deus, 1/11/1950. 8 Audiência Geral de 28/10/2009.

O trânsito de Maria aos Céus

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Na verdade, poderemos designar com o nome de morte o mistério que se realizou em Vós, oh Maria? […]

Uma vez que, quando Vos tornastes Mãe, vossa virgindade permaneceu incólume, vosso corpo foi preservado da decomposição ao emigrar deste mundo, ficando transformado num tabernáculo mais ilustre e excelso, não mais sujeito à morte, mas destinado a perdurar pelos séculos sem fim. […] Não chamaremos de morte o vosso sagrado trânsito, mas dormição ou emigração e, com mais propriedade ainda, o designaremos como permanência na pátria, pois, ao deixar este mundo, obtendes uma morada muito mais excelente.

Os anjos e arcanjos Vos trasladaram. Ante vosso trânsito, os espíritos imundos que voam pelos ares, estremeceram-se de espanto. Com vossa passagem, o ar ficou abençoado e o éter santificado. O Céu, com gozo, recebe vossa alma […].

Não subistes ao Paraíso à maneira de Elias, nem fostes como São Paulo transportada ao terceiro Céu, mas chegastes até ao trono real de vosso Filho, ao qual contemplais com vossos próprios olhos e com Ele habitais num clima de grande felicidade e confiança. (SAN JUAN DAMASCENO. Homilía sobre la Dormición de María)

 (Revista Arautos do Evangelho, Nov/2010, n. 107, p. 36 à 39)

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