No meio de terríveis sofrimentos Santa Clotilde não esmoreceu, mas redobrou sua fortaleza de alma. Ela contribuiu possantemente para a conversão de Clóvis, o primeiro rei católico da França.
Proveniente de uma família real de bárbaros que habitavam às margens do Mar Báltico, nasceu Clotilde provavelmente em Genebra, no ano 474. Sendo adolescente, seus pais, que a educaram na Religião Católica, foram assassinados por seu tio. Aos dezenove de idade, ela se casou com o rei dos francos, Clóvis, que era pagão.
Não só através de explicações sobre a Doutrina da Igreja, mas sobretudo pelo exemplo de sua vida ela procurou converter seu esposo; entretanto, este se mantinha aferrado ao paganismo. Sua conversão efetiva operou-se quando, recorrendo ao “Deus de Clotilde”, ele venceu os alamanos na Batalha de Tolbiac.
No Natal de 496, Clóvis foi batizado por São Remígio, na Catedral de Reims. Conta-se que nesse dia um Anjo entregou a Santa Clotilde um estandarte, no qual estavam pintadas três flores de lis, e disse-lhe que estas deveriam substituir os desenhos de três sapos, que figuravam na bandeira dos francos.
O Rei Clóvis obedeceu filialmente a essa ordem, e a flor de lis tornou-se o símbolo oficial da França durante séculos.
Com efeito, o estandarte que Santa Joana d’Arc levava em suas virginais mãos, nas lutas pela libertação da “filha primogênita da Igreja” contra os ingleses invasores, era semeado de flores de lis. Mas a ímpia Revolução Francesa rejeitou esse belíssimo símbolo e adotou a bandeira com três faixas nas cores azul, branco e vermelho.
São Cloud, neto de Santa Clotilde
Devido às más tendências herdadas do paganismo, os bárbaros cometiam tremendas violências. Os próprios filhos de Santa Clotilde, após a morte de Clóvis, guerrearam entre si e praticaram homicídios.
Após uma vitória que alcançou contra os visigodos, em 507, Clóvis estabeleceu a capital de seu reino em Paris, onde ele e sua esposa passaram a residir. A pedido de Santa Clotilde, fez construir uma igreja em honra de São Pedro e São Paulo, nas margens do Rio Sena.
A Santa, que renunciara ao mundo e residia em Paris, onde levava uma vida religiosa, conservou consigo três netos ainda crianças a fim de protegê-los. Entretanto dois deles foram assassinados, e o mais novo chamado Cloud salvou-se. Posteriormente ele se tornou sacerdote e santificou-se. A memória de São Cloud, ou Clodoaldo, é celebrada em 7 de setembro.
Mantendo-se sempre confiante e combativa, Santa Clotilde mandou construir diversos conventos e igrejas. No ano 524, passou a residir junto à Abadia de São Martinho, na cidade de Tours, onde faleceu em 545, aos 71 anos de idade.
Foi sepultada na Igreja de Santa Genoveva, em Paris. Mas para evitar as profanações perpetradas pela Revolução Francesa, seus restos foram transportados para Reims, onde se encontram atualmente na Basílica de Santa Clotilde[2].
Às vezes, uma lenda diz mais do que um fato histórico
A respeito de Santa Clotilde, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira teceu comentários que sintetizamos a seguir.
“As armas do Rei pagão eram três sapos, mas, ao receber ele o Batismo, tornaram-se flores de lis. É a ação da Igreja, tocando o que é natural e decaído e transformando-o. […]
“A Bíblia fala de transformação das pedras em filhos de Abraão, que é uma coisa linda, mas esta é muito poética e bonita.
“Pode-se imaginar um sapo — com aquela pele rugosa, aquele aspecto horrível dos pântanos, aquela suficiência cafajeste, aquela falta de respiração dando ideia de sua avidez — que se transforma e se torna um lírio maravilhoso. Esta é a transformação que as almas, por ocasião do Reino de Maria, devem sofrer.
“Aí está o valor das lendas e do maravilhoso: às vezes, dizem muito mais do que um acontecimento autenticamente histórico. Toda a história de Santa Clotilde pode basear-se nisto: transformação de sapos em flores de lis. […]
Teve filhos criminosos
“Santa Clotilde teve filhos criminosos que se jogaram uns contra os outros, a par de um neto santo, que foi o famoso Saint Cloud. Ela foi de uma raça de sapos transformada numa pura flor de lis. Teve junto de si algumas outras flores de lis, mas o resto era sapo em via de transformação.
“E aí vemos a tragédia de sua vida. Era tão grande o peso do paganismo, dos maus costumes antigos, que se tornava necessária uma virtude heroica para não cair nos pecados do paganismo, ainda que se tivesse sido batizado como católico.
“Houve um fato curioso de uma índia muito piedosa, que [São José de] Anchieta encontrou em São Paulo, quando esta não era mais do que o Pátio do Colégio. A índia estava bastante triste e ele perguntou-lhe o que sentia.
– Estou, padre, com saudade de comer o braço de uma criança tapuia…”
Ela era batizada, comungava e não comeria o braço da criança, mas tinha vontade de fazê-lo…
“O pessoal que rodeava Santa Clotilde não era antropófago, mas pouco faltava para que o fosse. Eram batizados, mas tinham saudades das coisas bárbaras.
“Ela, no meio de tudo isto, era uma flor de lis das mais perfeitas e admiráveis, ensinando a virtude, a mansidão e dando também admiráveis exemplos de senso de sua própria dignidade. […]
Grande retorno da humanidade para a verdadeira Igreja
“É muito oportuno que lhe peçamos nos consiga a graça de vermos a hora da outra transformação de sapos em flores de lis. E, quando houver o Grand Retour – Grande Retorno – e se começar a trabalhar para a construção do mundo futuro, sejamos o que ela foi no mundo dela: os precursores de um admirável progresso. Esse, então, verdadeiro, porque progresso em Nosso Senhor e em Nossa Senhora.”
Dr. Plinio empregava a expressão francesa grand retour a fim de designar o grande retorno da humanidade para a verdadeira Igreja. Isso se conseguirá por meio de uma torrente avassaladora de graças que, através da Virgem Santíssima, Deus concederá ao mundo para a implantação do Reino de Maria.
Que Santa Clotilde – cuja memória se celebra em 3 de junho – reze por nós para sermos batalhadores indômitos contra os inimigos da Igreja e em defesa do bem, da verdade e da beleza, e que logo seja proclamado o triunfo do Imaculado Coração de Maria.
Por Paulo Francisco Martos
SANTO DO DIA – 03 DE JUNHO – SANTA CLOTILDE
Viúva (475-545)
Clotilde nasceu em Lion, França, no ano 475, filha do rei ariano Childerico de Borgonha. Mais tarde, o rei, junto com a esposa e três dos seus cinco filhos, foi assassinado pelo próprio irmão, que lhe tomou o trono. Duas princesas foram poupadas, uma era Clotilde.
A menina foi entregue a uma tia, que a educou na religião católica. Cresceu muito bonita, delicada, gentil, dotada de grande inteligência e sabedoria. Clodoveu, rei dos francos, encantou-se por ela. Foi aconselhado pelos bispos católicos do seu reino a pedir a mão de Clotilde. Ela aceitou e tornou-se a rainha dos francos.
Ao lado do marido, pagão, irascível, ambicioso e guerreiro, Clotilde representava a gentileza, a bondade e a piedade cristã. Imbuída da vontade de fazer o rei tornar-se cristão, para que ele fosse mais justo com seus súditos oprimidos e parasse com as conquistas sangrentas, ela iniciou sua obra de paciência, de persuasão e de bom exemplo católico.
Clodoveu, de fato, amava muito a esposa. Com ela teve três herdeiros, que, infelizmente, herdaram o seu espírito belicoso. Não se importava que Clotilde rezasse para seu Deus, em vez de ir ao templo pagão levar oferendas aos deuses pagãos, quando partia e voltava vitorioso dos combates. Por outro lado, apreciava os conselhos do bispo de Reims, Remígio, agora santo, que se tornara confessor e amigo pessoal da rainha. Com certeza, a graça já atuava no coração do rei.
Foi durante a batalha contra os alemães, em 496, que ele foi tocado pela fé. O seu exercito estava quase aniquilado quando se lembrou do “Deus de Clotilde”. Ele se ajoelhou e rezou para Jesus Cristo, prometendo converter-se, bem como todo o seu exército e reino, se conseguisse a vitória. E isso aconteceu.
Clodoveu, ao vencer os alemães, unificou o reino dos francos, formando o da França, do qual foi consagrado o único rei. Pediu o batismo ao bispo Remígio, assistido por todos os súditos. Em seguida, todos os soldados do exército foram batizados, seguidos por toda a corte e súditos. Ele tornou a França um Estado católico, o primeiro do Ocidente, em meio a tantos reinos pagãos ou arianos.
Clotilde e Clodoveu construíram a igreja dos Apóstolos, hoje chamada de igreja de Santa Genoveva, em Paris. Mas logo depois Clodoveu morreu. Pela lei dos francos, quando o rei morria o reino era dividido entre os filhos homens, que eram três.
Foi então que começou o longo período de sofrimento da rainha Clotilde, assistido por todos os seus súditos que a amavam e a chamavam de “rainha santa”. Os filhos envolveram-se em lutas sangrentas disputando o reino entre si, gerando muitas mortes na família. Então, Clotilde retirou-se para a cidade de Tours, perto do sepulcro de são Martinho, para rezar, construir igrejas, mosteiros e hospitais para os pobres e abandonados.
Depois de trinta e quatro anos, a rainha faleceu, no dia 3 de junho de 545, na presença de seus filhos. Imediatamente, a fama de sua santidade propagou-se. O culto a santa Clotilde foi autorizado pela Igreja. A sua memória tornou-se uma bênção para o povo francês e para todo o mundo católico, sendo venerada no dia de sua morte.
Conheça mais sobre Santa Clotilde
O apóstolo São João havia, anunciado que o império romano, o império de ferro, acabaria fraccionando-se em umas dezenas de reinos. Os francos formaram um. Vieram do lado de lá do Reno para as Gálias, pelo fim do século quinto, e ali se estabeleceram no começo do século sexto. Mesclando-se com os gauleses, antigos habitantes do país, e formando um só povo com a mesma língua, chamaram-se franceses e o país se designou com o nome de França.
O mais ilustre de seus primeiros rei foi Clóvis. Era ainda idólatra, bem como o seu exército, mas tratava com bondade os cristãos, sobretudo os bispos; poupava as igrejas, testemunhando estima pelas pessoas recomendáveis por suas virtudes. Honrava principalmente São Remígio. Mandou restituir à igreja de Reims os vasos sagrados que um soldado havia furtado; e, como o soldado relutasse em obedecer-lhe, puniu-o, matando-o com suas próprias mãos.
Em 493 desposou uma mulher católica, Santa Clotilde, da família real dos Burgundos. Após as exortações desta e uma vitória miraculosa que Deus lhe concedeu nas planícies de Tolbiac, em 496, converteu-se, e foi instruído em viagem por São Vaast, sacerdote de Toul, na Lorena, depois por São Remígio, das mãos do qual recebeu o batismo, na noite de Natal do mesmo ano, com três mil dos principais francos. Foi assim que Deus, na sua misericórdia, colocou o reino da França no seio da Igreja.
Clóvis era, então, o único rei católico. O imperador romano havia tombado no Ocidente sob os golpes dos hérulos e dos lombardos. Os reis dos godos na Itália, na Espanha, bem como os dos vândalos na África, eram arianos. Os imperadores de Constantinopla estavam quase sempre contaminados com alguma heresia. A conversão de Clóvis espalhou a alegria em toda a Igreja. E essa alegria dura ainda. Jamais um príncipe herético subiu ao trono de França; jamais o reino da França se separou da Igreja Romana; pelo contrário, ofereceu mais de uma vez asilo aos sucessores de São Pedro perseguidos na Itália. Em nossos dias, a França, mesmo em revolução, defendeu Pio IX contra uma seita de ímpios revolucionários, e o reintronizou em Roma.
Em recompensa, quantos favores deus lhe concedeu! Quantos santos nasceram no solo da França! Mais de uma vez, Ele a castigou, mas sempre em sua misericórdia, jamais a deixou cair na heresia e na infidelidade, como tantos outros países; hoje ainda ali ilumina o espírito da fé e da piedade. Abençoemos a Deus por suas graças.
Após nossa pátria celestial e a Igreja Católica que ali nos conduz, o que devemos amar mais acendradamente é a pátria na terra. Jesus Cristo disso nos deu um exemplo eloqüente: chorou a sua. Choremos também, mas sobretudo oremos pela nossa, a fim de que a conserve para sempre e lhe prodigalize suas misericórdias de quinze, ou melhor, de dezoito séculos; que aqui faça florir para sempre a pureza da fé, a união com a Igreja Romana e o zelo pela conversão dos infiéis.