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Solenidade de Todos os Santos – 01 de Novembro

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Dia de Todos os Santos
Ofício solene

“Alegrando-se todos no Senhor nesta solenidade…”, assim reza a antífona de entrada. É a Igreja militante que honra a Igreja triunfante e presta, à incomensurável multidão de santos que povoam o Reino dos Céus, a homenagem que ela não pode prestar individualmente a cada um deles — como sucede no calendário cristão.

“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus”, promete Jesus no sermão da montanha. Quem são os pobres, segundo Jesus? São as “testemunhas de Deus”, para usar uma expressão de Isaías. Com os pobres, apoderaram-se do Reino dos Céus os mansos, os puros de coração, os misericordiosos, os pacíficos, aqueles que sofrem e que têm fome e sede de justiça, em um mundo no qual vige sempre a lei do mais forte. Os perseguidos por causa da justiça e todos quantos são vítimas inocentes da calúnia, da maledicência, da pública ofensa ou do vilipêndio dos manipuladores da opinião pública.

Esses sinais estão em todos os santos que tiveram fé na promessa do Reino dos Céus: a vergonha das violências, dos ultrajes, das torturas e humilhações de que foram alvo, e sobretudo da prova extrema do martírio, da dor física e moral, da aparente derrota do bem e do triunfo dos maus. Os fiéis são convidados a alegrar-se e a exultar com todos esses santos que “passaram à melhor vida”.

Eles são felizes e nos querem felizes! (Homilia Dominical.529: Solenidade de Todos os Santos)

A fé nos assegura, diz são Paulo, de que somos realmente filhos de Deus e herdeiros do reino, mas esta realidade não é plenamente completa em nosso corpo de carne. Vivemos na esperança, e esta se torna certeza em razão do que cremos.

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A origem dessa festa remonta ao século IV. Em Antioquia, celebrava-se no primeiro domingo depois de Pentecostes. No século VII, a data foi fixada em 13 de maio, Dia da Consagração do Panteão a santa Maria dos Mártires. Naquele dia, fazia-se descer da claraboia da grande cúpula uma chuva de rosas vermelhas. Gregório IV removeu a celebração para o dia 1º de novembro, depois da colheita de outono, quando era mais fácil encontrar alimento para os numerosos peregrinos que, depois dos trabalhos do verão, dirigiam-se em peregrinação à Cidade dos Mártires.

Retirado do livro “Os Santos e os Beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente”, Paulinas Editora.

Dia de Todos os Santos e Fiéis Defuntos

Na Solenidade de Todos os Santos, a Igreja celebra a memória daqueles que, voltados inteiramente para o Senhor, deixaram família, bens e pertences para unir-se intimamente com o Pai Celeste. É uma forma de recordar na memória do fiel que, sim, a santidade é possível e permanece sempre nova, sempre atual. Operando na caridade e na graça de Deus, cada cristão pode fazer de sua vida uma auto-estrada para o céu.

UM LUGAR DE PURIFICAÇÃO

Que local misterioso é esse entre a terra e o Céu, cujos “habitantes” pedem veementemente nossa ajuda e também podem nos beneficiar? Carlos Werner Benjumea

Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás em caminho com ele, para não suceder que te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao seu ministro e sejas posto em prisão.

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Em verdade te digo: dali não sairás antes de teres pago o último centavo” (Mt 5, 25-26).

Jesus estava falando aos Apóstolos a respeito das punições que esperam os pecadores após a morte. Antes se referira ao fogo da geena – o Inferno -, uma prisão perpétua, eterna. Mas aqui Ele fala de um cárcere do qual se poderá sair, desde que seja pago o débito, até o último centavo.

Essa prisão temporária, um estado de purificação para os que morrem cristãmente sem terem atingido a perfeição, é o Purgatório. Lugar misterioso, mas onde reina a esperança e os gemidos de dor são entremeados por cânticos de amor a Deus.

Caro leitor, eis um assunto do qual se fala pouco, mas cujo conhecimento é vital para nós e para nossos entes querido s que já partiram desta vida.

Convido-o a repassar comigo diversos aspectos desse importante tema.

A festa de Finados

No dia 2 de novembro, a sagrada Liturgia se lembra de modo especial dos fiéis defuntos. Depois de ter celebrado – no dia anterior, festa de Todos os Santos – os triunfos de seus filhos que já alcançaram a glória do Céu, a Igreja dirige seu maternal desvelo para aqueles que sofrem no Purgatório e clamam com o salmista: “Tirai-me desta prisão, para que possa agradecer ao vosso nome. Os justos virão rodear-me, quando me tiverdes feito este benefício” (Sl 141, 8).

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A gênese dessa celebração está na famosa abadia de Cluny, quando seu quinto Abade, Santo Odilon, instituiu no calendário litúrgico cluniacense a “Festa dos Mortos”, dando especial oportunidade a seus monges de interceder pelos defuntos, ajudando-os a alcançarem a bemaventurança do Céu.

A partir de Cluny, essa comemoração foi-se estendendo entre os fiéis até ser incluída no Calendário Litúrgico da Igreja, tornando- se uma devoção habitual, em todo o mundo católico.

Talvez o leitor, como milhares de outros fiéis, tenha o costume de visitar o cemitério nesse dia, para recordar os familiares e amigos falecidos, e por eles orar. Muitos cristãos, porém, não prestam ouvidos aos apelos de seu coração, que os move a sentir saudades de seus entes queridos e a aliviálos com uma prece. Talvez por falta de cultura religiosa, ou por falta de alguém que as incentive ou oriente, muitas pessoas nem vêem a necessidade de rezar pelas almas dos falecidos.

A inúmeras outras, a existência do Purgatório causa estranheza e antipatia.

Seja como for, tanto por amor às almas que esperam ver-se livres de suas manchas para entrarem no Paraíso, quanto para estimular em nós a caridade para com esses irmãos necessitados, como também para nosso próprio proveito, vejamos o “porquê” e o “para quê” da existência do Purgatório.

Purificação necessária para entrar no Céu

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Sabemos que a Igreja Católica é una. É o que rezamos no Credo.

Entretanto, os membros da Igreja não estão todos aqui, entre nós, mas em lugares diversos, como diz o Concílio Vaticano II. Alguns “peregrinam sobre a terra, outros, passada esta vida, são purificados, outros, finalmente, são glorificados” (Lumen Gentium, 49).

Entre a terra e o Céu não é raro acontecer, no itinerário da alma fiel, um estágio intermediário de purificação. Segundo nos ensina o Catecismo da Igreja Católica, por aí passam “os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão perfeitamente purificados”.

Por isso “passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu” (nº 1030).

Esse estado de purificação nada tem a ver com o castigo dos condenados ao Inferno, pois as almas do Purgatório têm a certeza de haver conquistado o Céu, mesmo que sua entrada ali tenha sido adiada por causa de seus resíduos de pecado.

A primeira epístola aos Coríntios faz referência ao exame a que serão submetidos os cristãos, os quais, havendo recebido a Fé, devem continuar em si a obra de sua santificação. Cada um será examinado no respeitante ao grau de perfeição que atingiu: “Se alguém edifica sobre este fundamento, com ouro, ou com prata, ou com pedras preciosas, com madeira, ou com feno, ou com palha, a obra de cada um aparecerá.

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O dia (do julgamento) demonstrá- lo-á. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém passando de alguma maneira através do fogo” (1Cor 3, 12-15). “Ele será salvo”, diz o Apóstolo, excluindo o fogo do Inferno, no qual ninguém pode ser salvo, e se referindo ao fogo temporário do Purgatório.

Comentando este e outros trechos da Sagrada Escritura, a Tradição da Igreja nos fala do fogo destinado a limpar a alma, como explica São Gregório Magno em seus Diálogos: “Com relação a certas faltas leves, é necessário crer que, antes do Juízo, existe um fogo purificador, como afirma Aquele que é a Verdade, ao dizer que, se alguém pronunciou uma blasfêmia contra o Espírito Santo, essa pessoa não será perdoada nem neste século nem no futuro (Mt 12, 31). Por essa frase, podemos entender que algumas faltas podem ser perdoadas neste século, mas outras no século futuro”.

Por que existe o Purgatório?

Será Deus tão rigoroso a ponto de não tolerar nem mesmo a menor imperfeição, limpando-a com penas severas? Esta pergunta facilmente pode nos vir à mente.

Em primeiro lugar, devemos nos lembrar desta verdade: depois de nossa morte, não seremos julgados segundo nossos próprios critérios, pois “o que o homem vê não é o que importa: o homem vê a face, mas o Senhor olha o coração” (1Sm 16, 7). Estaremos diante de um Juiz sumamente santo e perfeito, e em seu Reino “não entrará nada de profano” (Ap 21, 27). Com efeito, na presença de Deus, de sua Luz puríssima, a alma percebe em si mesma qualquer pequeno defeito, julgando- se, ela mesma, indigna de tal majestade e grandeza. Santa Catarina de Gênova, grande mística do século XV, deixou uma obra muito profunda sobre a realidade do Purgatório e do Inferno.

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Explica ela o seguinte: “Digo mais: no concernente a Deus, vejo que o Paraíso não tem portas e ali pode entrar quem quiser, pois Deus é todo misericórdia e seus braços estão sempre abertos para nos receber na glória; mas a divina Essência é tão pura – infinitamente mais pura do que podemos imaginar – que a alma, vendo nela mesma a menor das imperfeições, prefere atirar-se em mil infernos a aparecer suja na presença da divina Majestade. Sabendo então que o Purgatório está criado para a purificar, ele mesma se joga nele e encontra ali grande misericórdia: a destruição de suas faltas”.

Essas manchas, a serem purificadas na outra vida, o que são? São os restos de apego exagerado às criaturas, ou seja, as imperfeições, e os pecados veniais, bem como a dívida temporal dos pecados mortais já perdoados no Sacramento da Reconciliação.

Tudo isso diminui na alma o amor de Deus.

Por causa dessas afeições desregradas se estabelece um estado de desordem em nosso interior, afastando- nos do Mandamento de amar a Deus sobre todas as coisas.

Essa é a causa pela qual, antes de permitir a uma alma subir até a glória celestial, “a justiça de Deus exige uma pena proporcional que restabeleça a ordem perturbada” (Suma Teológica, Supl. q. 71, a. 1) E a alma se sujeita ao castigo do Purgatório com alegria, em plena conformidade com a vontade do Senhor.

Seu único desejo é ver-se limpa, para poder configurar-se com Cristo.

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As almas nesse estado “purificamse”, diz São Francisco de Sales, “voluntariamente, amorosamente, porque assim Deus o quer” e “porque estão certas de sua salvação, com uma esperança inigualável”.

A pena do Purgatório

As dores infligidas nesse local de purificação são “tão intensas que a menor pena do Purgatório ultrapassa a maior desta vida” (Suma Teológica, Supl., q. 71, a. 2). Mesmo assim, pondera São Francisco de Sales, “o Purgatório é um feliz estado, mais desejável que temível, pois as chamas nele existentes são chamas de amor”.

Mas como entender que esse terrível sofrimento seja transpassado de amor? Na verdade, o maior tormento das almas do Purgatório – a “pena de dano” – é causado precisamente pelo amor. Essa pena consiste no adiamento da visão de Deus. Criado para amar e ser amado, o homem, ao abandonar esta terra, descobre a inefável beleza da Luz Divina e

deseja correr para Ela com todas as suas forças, como o cervo sedento corre em direção à fonte das águas. Contudo, vendo em si o defeito do pecado, fica privado temporariamente daquela presença tão pura.

Afastada, assim, d’Aquele que é a suprema e única felicidade, a alma sente um padecimento incalculável.

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Para nós, que ainda somos peregrinos neste vale de lágrimas, é difícil entender a imensidade dessa dor. Vivemos sem ver a Deus, embora n’Ele creiamos. Somos como cegos de nascimento, pois nunca vimos o Sol de Justiça, que é Deus; embora sintamos seu calor, não podemos fazer idéia de seu resplendor e grandeza.

Entretanto, as almas benditas do Purgatório, logo após terem abandonado o corpo inerte, discerniram a inefável e puríssima beleza de Deus, mas não podem possuí-la imediatamente. Santa Catarina de Gênova usa uma expressiva metáfora para explicar essa dor: “Suponhamos que, no mundo inteiro, exista apenas um pão para matar a fome de todas as criaturas, e que basta olhar para esse pão para ficarem satisfeitas.

Por sua natureza, o homem saudável tem o instinto de se alimentar.

Imaginemos que ele seja capaz de se abster dos alimentos sem morrer, sem perder a força e a saúde, mas aumentando cada vez mais a fome.

Ora, sabendo que só aquele pão pode saciá-lo e que não poderá matar sua fome enquanto não o alcançar, ele sofre sacrifícios insuportáveis, os quais serão tanto maiores quanto mais longe ele estiver do pão”.

Apesar de tudo, as almas do Purgatório têm a certeza de que um dia poderão se saciar de modo pleno com esse Pão da Vida, que é Jesus, nosso amor. E por isso seu sofrimento é em tudo diferente do tormento dos condenados ao Inferno, os quais nunca poderão se aproximar da Mesa do Reino dos Céus.

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Esperança e desespero, eis a diferença fundamental entre esses dois lugares.


Disposição das almas no Purgatório

Por isso, há nas almas do Purgatório um matiz de alegria no meio da dor. De forma brilhante, explica- o o Papa João Paulo II, na alocução de 3 de julho de 1991: “Mesmo que a alma tenha de sujeitar-se, naquela passagem para o Céu, à purificação das últimas escórias, mediante o Purgatório, ela já está cheia de luz, de certeza, de alegria, pois sabe que pertence para sempre ao seu Deus”.

E Santa Catarina de Gênova afirma: “Estou certa de que em nenhum outro lugar, excetuando o Céu, o espírito pode achar uma paz semelhante à das almas do Purgatório”.

Isso ocorre porque a alma se fixa na disposição em que se encontra na hora da morte, ou seja, contra ou a favor de Deus, pois a liberdade humana termina com a morte. E tendo falecido na amizade de Deus, a alma do Purgatório se adapta com docilidade à sua santa vontade. Daí conservar a paz em meio a terríveis sofrimentos. Dos lábios do suavíssimo São Francisco de Sales ouvimos dizer que “entre o último suspiro e a eternidade, há um abismo de misericórdia”.

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Todos acham melhor fazer um esforço para evitá-lo. Outros, porém, sem se oporem aos anteriores, enfrentam o problema com uma ousada confiança no amor misericordioso do Senhor.

Santa Teresa de Jesus, por exemplo, diz com veemência: “Esforcemo- nos, fazendo penitência nesta vida. Como ser á suave a morte de quem a tiver feito por todos os seus pecados, e assim não precisar ir para o Purgatório!” Já sua discípula, Santa Teresinha do Menino Jesus, formula de modo surpreendente sua atitude, se nele caísse: “Se eu for para o Purgatório, ficarei muito contente; farei como os três hebreus na fornalha, caminharei entre as chamas cantando o cântico do amor”.

Uma atitude não contradiz a outra, mas ambas se completam, e, mesmo se tivermos de passar por esse lugar tão doloroso, tenhamos uma confiança sem limites na bondade divina.

De qualquer modo, a Santa Igreja coloca maternalmente à nossa disposição as indulgências, para nos poupar das penas do Purgatório. Mas este tema pode ficar para outro artigo.

Ajudemos as almas benditas

Não devemos pensar só no nosso destino pessoal, mas também nos perguntarmos como podemos ajudar aquelas almas que já estão à espera da libertação. Elas não podem fazer nada por si, pois estão impossibilitadas de alcançar méritos, e dependem de nós. Interceder por elas é uma belíssima e valiosa obra de misericórdia: de certo modo, não há ninguém mais carente do que elas.

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O costume de rezar pelas almas dos falecidos vem do Antigo Testamento.

Também diversos Padres da Igreja promoveram essa prática, como São Cirilo de Jerusalém, São Gregório de Nissa, Santo Ambrósio e Santo Agostinho. No século XIII, o Concílio de Lyon ensinava: “As almas são beneficiadas pelos sufrágios dos fiéis vivos, quer dizer, o sacrifício da Missa, as orações, esmolas e outras obras de piedade, as quais, segundo as leis da Igreja, os fiéis estão acostumados a oferecer uns pelos outros”.

Como é bela a devoção às benditas almas do Purgatório! É agradável a Deus e nos beneficia também, levando-nos à verdadeira dimensão cristã da existência, fazendo-nos viver em contato e comunhão com o sobrenatural, e com o futuro, no sentido mais pleno da palavra. Como essas pobres almas nos ficarão agradecidas ao receber nosso auxílio! Poderão ser nossos parentes, ou até mesmo nossos pais. Poderá ser alguém que não conhecemos, e que nos dará uma afetuosa acolhida na eternidade. No Céu, e enquanto ainda estiverem no Purgatório, elas rezarão por nós, com todo o empenho, pois Deus lhes dá essa possibilidade.

Concluindo, gostaria de fazer ao prezado leitor uma proposta: reze por essas almas necessitadas, ofereça- lhes Missas, dê esmolas por elas, faça sacrifícios e consiga que outras pessoas se tornem devotas fervorosas das almas benditas.
Sabe quem será o maior beneficiado? Você mesmo!

Fontes documentais sobre o Purgatório

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A doutrina católica sobre o Purgatório foi definida em especial no Concílio de Florença (1438-1445) e no de Trento (1545-1563), com base em textos da Escritura (2Mc 12,42-46; 1Cor 3,13-15) e da Tradição, conforme nos ensina o Catecismo da Igreja Católica (n.1030-1031).

A Constituição Dogmática Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II, aborda a questão em seu número 50: “Orações pelos defuntos, culto dos santos”.

Em sua solene profissão de fé intitulada Credo do Povo de Deus, feita em 30 de junho de 1968, o Papa Paulo VI inclui as almas “que se devem ainda purificar no fogo do Purgatório” (n. 28).

O Papa João Paulo II refere- se ao Purgatório em vários documentos: – Mensagem ao Cardeal Penitenciário-Mor de Roma, 20/3/98; – Carta ao Bispo de Autum, Châlon e Mâcon, Abade de Cluny, 2/6/98; – Audiência Geral de 22/7/98; – Audiência Geral de 4/8/99; – Mensagem à Superiora Geral do Instituto das Irmãs Mínimas de Nossa Senhora do Sufrágio, 2/9/2002.

(Revista Arautos do Evangelho, Nov/2006, n. 59, p. 34 a 37)


Do século IV em diante, as Igrejas do Oriente celebravam uma festa comum a todos os mártires da terra. Santo Efrém compôs, para esta circunstância, um hino em que se via que em Edessa aquela festa estava fixada no dia 13 de Maio.

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Na Síria, era celebrada na sexta-feira depois da Páscoa.

Numa homilia sobre os mártires, o grande São João Crisóstomo a ela se refere colocada no primeiro domingo depois de Pentecostes.

A festa dos Mártires de Toda a Terra, com o correr dos tempos, transformou-se na de Todos os Santos, instituída em honra da Bem-aventurada Mãe de Deus, a Virgem Maria, e dos santos mártires, pelo Papa Bonifácio IV, o pontífice Gregório IV, mais tarde, decretou que a festa, já celebrada de diferentes maneiras por diversas Igrejas, seria levada a efeito, com solenidade, em honra de todos os santos, perpetuamente.

A missa de Todos os Santos foi composta acidentalmente, mas é bela: O Introito de Santa Ágata, o Gradual de São Ciríaco, o Ofertório adaptado do de São Miguel alia-se à Alleluia e à Comunhão tirada dos textos evangélicos. O Evangelho é o das Beatitudes.

Quanto à colocação da festa a 1 de novembro, pensa-se quem como em todas as religiões as solenidades eram marcadas pelo ritmo das estações, que o cristianismo não tenha escapado a esta regra.

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Entre os celtas, o 1 de novembro era dia de grandes solenidades. Foi a festa de Todos os Santos instituída para cristianizar as cerimônias tão queridas dos anglo-saxões e dos francos? Roma celebrava-a aos 13 de maio e somente a adotou a 1 de novembro depois que sofreu galicanas influências.

Rapidamente, a festa tornou-se popular, mais ainda quando completada com a comemoração dos fiéis defuntos.


Que bela festa! É como se Todos os Santos e Finados fosse uma só festa. Dum lado, a Igreja militante, sobre a terra, roga à Igreja triunfante do céu, e doutro lado, roga pela Igreja sofredora e paciente do purgatório. E as três Igrejas são uma única Igreja.

A caridade, mais forte do que a morte, uniu-as do céu à terra, e da terra ao purgatório, E é pelo mesmo sacrifício que nós agradecemos a Deus, a glória com a qual cumula os santos do céu, e imploramos a misericórdia para os santos do purgatório, santos ainda não perfeitos.

Tal sacrifício é Jesus mesmo, que santifica, uns e outros, de quem esperamos a graça de nos santificar a nós mesmos. Assim, todos se reúnem em vós, ó Jesus! Somos felizes!

Eu vos saúdo, ó bem-aventurados amigos de Deus, santos de todos os séculos e de todos os lugares do mundo! Regozijamo-nos, e muito, de tão inumerável multidão de santos. Regozijamo-nos da benevolência de Deus, que vos tem no purgatório, misericordioso, e na glória, os que tem no céu: unimo-nos a vós para louvá-lo e bendizê-lo por todo o sempre. Uni-vos vós a nós também: assim podereis obter-nos da misericórdia de Deus a graça de vos imitar. Sabeis, pela experiência, o que somos nós, os homens: fracos, miseráveis, levados ao mal, cercados de perigos por todos os lados. E qual é nosso maior inimigo? Ah., nosso maior inimigo somos nós mesmos! Rezai, pois, pedi por nós, bons e santos irmãos, a fim de que, logo, sejamos como sois; a fim de que, como vós sejamos doces e humildes de coração; a fim de que, como vós, nos conheçamos a nós mesmos; rezai, pedi para que saibamos carregar nossa cruz; para que sigamos o divino Mestre, até que, afinal, todos a vós nos reunamos, para amá-lo e bendizê-lo de todo o coração e para todo o sempre.

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Considerai, ó almas, a grande, imensa profissão de santos que avança através dos séculos, da terra ao céu, que iremos engrossar, se Deus quiser.

O primeiro, aquele que rompe à frente, é o primeiro homem que foi morto sobre a terra – Abel. Abel, que Nosso Senhor mesmo canonizou, dando-lhe o nome de justo, no Evangelho. Foi Abel, a um só tempo, pastor, sacerdote e mártir.

Pastor de ovelhas, oferece-as, como sacerdote, em sacrifício a Deus. Ele, que imolava, foi imolado como mártir, por Caim, seu irmão. Embora morto, fala ainda pelo sangue. Símbolo de Jesus Cristo, é como o porta-cruz da grande procissão. E, do mesmo modo como se faz na procissão de domingo de Ramos, entrará na igreja do céu, quando Jesus Cristo, o sacerdote por excelência, abrir de par em par as portas da cruz, a sua cruz e, pelo sangue, o seu sangue. Símbolo de Jesus Cristo, pelo sacrifício e pela morte, ele o é ainda pelo caráter de ressurreição. Porque Eva nos ensina que Deus lhe deu Seth para ser substituto da primeira sociedade.

Depois de Abel, o primeiro justo, vem-lhe no encalço pai e mãe, nossos primeiros pais. Porque, logo que compreenderam a voz de Deus, Adão e Eva deixaram de ter duro o coração. Esperança, desde então, dos Filhos da mulher, que devia esmagar a cabeça da serpente, fizeram penitência das faltas e obtiveram o perdão. O Espírito Santo diz-nos, ele mesmo, na Escritura, que a Sabedoria, que é Jesus Cristo, que atende duma extremidade à outra com poder e a tudo com doçura dispõe, tira do pecado aquele que foi criado pelo pai do mundo e lhe dá a virtude de dominar todas as coisas.

Tais palavras, tiradas do livro da Sabedoria, são uma como canonização. Ainda hoje, as tradições orientais falam da longa penitência do primeiro homem.

Na ilha de Ceilão há uma alta montanha com o nome de Pico de Adão, onde se pretende que o primeiro homem chorou amargamente a falta através dos séculos, Uma tradição particular dos judeus quer que o velho Adão esteja sepultado em Jerusalém, no lugar mesmo onde o novo Adão reparou o mal das gentes. Afinal, no segundo século da era cristã, um espírito excessivo sustentou que Adão foi condenado, por toda a Igreja pelo erra que cometera.

A santa Escritura mesma, canonizou um dos primeiros ancestrais que vivia ainda: Henoc, pai de Matusalém. O livro dos Gênesis diz-nos: “Henoc caminhou com Deus.”

O apóstolo São Judas dizia dos ímpios que blasfemavam contra o Evangelho: Henoc, o sétimo depois de Adão, dele profetizou, quando disse: Eis que vem o Senhor com os santos para exercer o julgamento de todos os homens, e tomar dentre eles todos os ímpios, ímpios de todas as impiedades e de todas as palavras duras que tais ímpios pecadores contra Ele proferiram.

São Paulo, o Doutor dos Gentios, disse, na Epístola aos hebreus: Pelo mérito da fé, Henoc foi elevado, para que não visse a morte; não mais foi visto, porque Deus o transportou alhures. Presume-se que para o paraíso, para um lugar de delícias, cheio dos frutos da arvora da vida, dos quais se alimenta.

Crê-se, geralmente, que no fim dos séculos, no fim do mundo cristão, Henoc virá como representante do mundo primitivo, com Elias, representante do mundo judaico, prestando testemunho do Cristo contra o inimigo capital.

Outro santo, do qual todos descendemos, aparece na procissão, na grande procissão: Noé, profeta e pregador do mundo antigo, pai e pontífice do mundo novo, que nos salvou do dilúvio por meio da arca, símbolo da Igreja católica. Foi canonizado. Vemo-lo no Gênesis, no livro da Sabedoria, no Eclesiástico, em São Pedro nas duas epístolas e em São Paulo na epístola aos hebreus.

São Pedro chama-o, na segunda epístola, o oitavo pregador da justiça, o que dá a entender que os outros oito ancestrais nossos, antes do dilúvio, pregaram também a justiça e a penitência.

Ao sair da arca, o segundo pai do gênero humano, como sacerdote, e pontífice, a Deus ofereceu um sacrifício – e Deus teve-o por agradável, dando a palavra de não mais amaldiçoar a terra e os homens, que deviam multiplicar-se.

Deus abençoou Noé e os três filhos: abençoou-os e, neles, todo o gênero humano e, neles, nós mesmos. Não só nos abençoou, quando os ancestrais abençoou, senão que fez conosco uma aliança, como com quem quer que eleve e da benção, dá-nos o arco-íris com as doces nuanças.

Há coisa mais consoladora ainda. Os contemporâneos de Noé perderam a vida do corpo no dilúvio: não encontraram, porém, a vida, a salvação da alma? São Pedro diz: “Com efeito, é melhor sofrer se Deus assim quiser, fazendo bem, que fazendo mal porque também Cristo morreu uma vez pelos nossos pecados, ele, justo, pelos injustos, para nos oferecer a Deus, sendo efetivamente morto segundo a carne, mas vivificado pelo Espírito. No qual ele também foi pregar aos espíritos que estavam no cárcere, espíritos que outrora foram incrédulos, quando nos idas de Noé a paciência de Deus estava esperando a sua conversão, enquanto se fabricava a arca.”

Os mais doutos e os mais célebres intérpetres entendem, de comum acordo, que os contemporâneos de Noé não acreditavam nas predições do dilúvio, estribados na paciência de Deus: quando, então, viram a realização das predições, o mar transbordando numa fúria incontida e as chuvas caindo em torrentes, creram e arrependeram-se.

O dilúvio destruiu-lhes os corpos, mas salvou-lhes as almas. Estavam todos detidos nas prisões do purgatório quando Jesus Cristo, morto na carne sobre a cruz, apareceu, no espírito – ou na alma – pregando-lhes, anunciando-lhes a boa-nova; era-lhes o Salvador. Findavam-se-lhes as penas, e, então, com os santos patriarcas, acompanhá-lo-iam na entrada triunfante no céu.

Ah! Quem não louvará a grande, imensa bondade de Deus, todo Ele votado à salvação das almas, para isto se servindo das mais terríveis calamidades, que lhe vem da justiça? Quem não votará a tão bom Pai a mais irrestrita confiança, vendo que os mesmos lhe haviam por tão longo tempo abusado da paciência, não se convertendo senão na última hora, não lhe imploraram em vão a misericórdia?

Atrás de Noé e dos Santos do primeiro mundo, vemos, na grande procissão, Abraão, Isaac, Jacó, Melquisedec, Jó, José, e os demais patriarcas: Moisés, Aarão, Josué, Eleazar, Gedeão, Samuel, Davi, Isaías, Daniel, os outros profetas, os Macabeus e todos os anciãos justos dos quais fala São Paulo aos hebreus, “que, pela fé, conquistaram reinos, consumaram os deveres da justiça e da virtude, receberam o prometido das promessas, fecharam a fauce dos leões, detiveram a violência do fogo, evitaram o fio das espadas, curaram-se de doenças, encheram-se de coragem e de força nos combates, pondo em fuga exércitos estrangeiros; mulheres houve, até, que recuperaram ressuscitados os mortos; uns foram torturados, não querendo o resgate, para alcançarem melhor ressurreição; outros sofreram ludíbrios e açoites e, além disso, cadeias e prisões; foram tentados, foram passados a fio de espada, andaram errantes, cobertos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, angustiados, aflitos; eles, de quem o mundo não era digno, tiveram de andar errando pelos desertos, pelos montes, pelas covas e pelas cavernas.

E todos esses louvados por Deus, com o testemunho prestado `sua fé, não receberam imediatamente o objeto da promessa, tendo deus disposto alguma coisa melhor para nós, a fim de que eles, sem nós, não obtivessem a perfeição da felicidade.

Por isso nós também, cercados por tão grande nuvem de testemunhas, deixando todo o peso que nos detém e o pecado que nos envolve, corramos com paciência na carreira que nos é proposta, pondo os olhos no autor e consumador da fé, Jesus, o qual, tendo-lhe sido proposto gozo, sofreu na cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está sentado à direita do trono de Deus.

Em verdade não vos aproximastes do monte palpável e do fogo ardente, do turbilhão, da obscuridade, da tempestade, do som da trombeta, e daquela voz tão retumbante, que os que ouviram suplicaram não se lhes falasse mais.

Vós, porém, aproximaste-vos do monte Sião e da cidade do Deus vivo, Da Jerusalém celeste e da multidão de muitos milhares de anjos, da igreja dos primogênitos, que estão inscritos o céu, e de Deus, juiz de todos, e dos espíritos dos justos perfeitos, e de Jesus, mediador da nova aliança, e da aspersão daquele sangue que fala melhor que o de Abel. Nestas palavras do Apóstolo vemos o conjunto da procissão, incluindo os anjos que vem atrás. A primeira parte espera que Jesus lhes abra a porta do céu, e, além num angélico cortejo, as criancinhas que por Ele morreram em Belém e nos arredores. Em seguida, lá está a santa Mãe. Ei-la, lindíssima, com os apóstolos, os mártires, as virgens, e a inumerável multidão de santos de todos os clãs, línguas, sexo, estados, de todos os séculos, de todos os países.

Não nos esqueçamos de saudar, na imensa procissão, os santos do país, de nosso tempo, de nosso família, porque não há família cristã que não tenha santos canonizados antecipadamente por Nosso Senhor. Não disse Ele aos apóstolos: Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o reino do céu? E então? Qual a família que não tem um pequenino morto, morto na graça do batismo? Lá estão todos no céu.

Perguntaram os apóstolos a Nosso Senhor: “Mestre, quem será grande no reino dos céus?” Jesus puxando para si uma criancinha, abraçou-a, terna, comovidamente, e respondeu: “Em verdade, em verdade vos digo, que se não vos converterdes nem vos fizerdes como esta criança, não entrareis no reino dos céus. Aquele que se humilhar e se fizer pequeno como uma criança, esse será grande no reino celeste”. Honremos, pois, esses pequenos santos de nossas famílias, esses grandes do eterno reino. Invoquemo-los mesmo, a fim de que nos obtenham a permissão de participar da grande, imensa, procissão. E que, saídos da terra, entremos no céu, na glória de Deus. Assim seja.

Comemoração dos Fiéis Defuntos

Vimos que a Igreja triunfante do céu, a Igreja militante da terra e a Igreja sofredora do purgatório, paciente, nada mais são que uma só e mesma Igreja; que a caridade, mais forte que a morte as uniu do céu à terra, e da terra ao purgatório. São como três partes duma só e mesma procissão de santos, procissão que avança da terra ao céu.

As almas do purgatório participarão daquela procissão um dia. Sim, porque ainda não tem, bem brancas, as vestimentas de festa, a roupa nupcial ainda guarda nódoas, aquelas nódoas que somente o sofrimento limpa.

Vimos, então, como os contemporâneos de Noé, aqueles que não fizeram penitência senão no momento do dilúvio foram encerrados em prisões subterrâneas, até que Jesus Cristo lhes aparecesse, anunciando-lhes a libertação, quando de sua descida aos infernos.

Como os fiéis da Igreja triunfante, os fiéis da Igreja militante e os fiéis da Igreja sofredora e paciente, são membros dum mesmo corpo – que é Jesus Cristo – e tanto uns como outros participam, interessam-se, condoem-se da glória, dos perigos, dos sofrimentos duns e doutros, tal qual os membros do corpo humano. Vejamos um exemplo: o pé está em perigo de saúde ou sofre dores: todos os membros do corpo jazem em comoção. Os olhos olham-no, as mãos protegem-nos, a voz chama por socorro, para afastar o mal ou o perigo. Uma vez afastado o mal, regozijam-se todos os membros.

É o que acontece com o corpo vivo da Igreja universal. E vemos os heróis da Igreja militante, os ilustres Macabeus, assistidos pelos anjos de Deus e pelos santos de Deus, especialmente pelo grande sacerdote Onias e pelo profeta Jeremias, rogar e oferecer sacrifícios por esses irmãos que estavam mortos pela causa de Deus, mas culpados desta ou daquela falta.

No dia seguinte, depois duma vitória, Judas Macabeu e os seus surgiram para retirar os mortos e depositá-los no sepulcro dos antepassados e encontraram sobre as túnicas dos que estavam mortos coisas que haviam sido consagradas aos ídolos de Jamnia, que a lei proibia aos judeus tocar. Foi, pois, manifesto a todos que era por isso que haviam sido mortos. E todos louvaram o justo julgamento do Eterno, que descobre o que está escondido, e suplicaram-lhe que fosse esquecido o pecado cometido.

Judas exortou o povo a que se preservasse do pecado, tendo diante dos olhos o que viera pelo pecado dos que haviam sucumbido. E, depois de ter feito uma coleta, enviou a Jerusalém duas mil dracmas de prata, para que fosse oferecido um sacrifício pelo pecado dos mortos, agindo muito bem, pensando que estava na ressurreição. Porque se não tivesse esperança de que os que vinham de sucumbir ressuscitassem um dia, seria supérfluo e tolo rogar pelos mortos.

Judas, porém, considerava que uma grande misericórdia estava reservada aos que estão adormecidos na piedade. Santo e piedoso pensamento! Foi por isso que ofereceu um sacrifício de expiação pelos defuntos, para que fossem livres dos pecados.

Tais são as palavras e reflexões da Escritura santa, segundo o texto grego, e as mesmas, mais ou menos, no latino.

Nosso Senhor mesmo adverte, bastante claramente, que há um purgatório, quando nos recomenda em São Mateis e São Lucas: “Conciliai-Vos com vossos inimigos (a lei de Deus e a consciência) enquanto estais em caminho para irdes ao príncipe, não seja que este inimigo vos entregue ao juiz, o juiz ao executor, e que sejais metido numa prisão. Em verdade vos digo, dela não saireis, enquanto não pagardes o último óbolo.”

Segundo essas palavras, está bem claro que há uma prisão de Deus, onde se é arrojado por dívidas pras com sua justiça, e donde não se sai – senão quando tudo estiver pago.

Nosso Senhor, em São Mateus, disse-nos ainda: “Todo pecado e blasfêmia será perdoado aos homens, porém, a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada, nem neste século nem no futuro”. Onde se vê que os outros pecados podem ser perdoados neste século e no futuro, como o livro dos Macabeus diz expressamente dos pecados daqueles que estavam mortos pela causa de Deus.

Do mesmo modo, no sacrifício da missa, a santa Igreja de Deus lembra os santos que com Ele reinam no céu, a fim de lhes agradecer pela glória e nos recomendar à sua intercessão. Doutro lado, suplica a deus que se lembre dos servidores e servidoras que nos precederam no outro mundo com a chancela da fé, dignando-se conceder-lhes a estadia no refrigério na luz e na paz.

A crença do purgatório e a oração pelos mortos acham-se em todos os doutores da Igreja, bem como nos ato dos mártires, notadamente nos atos de São Perpétuo, escritos por ele mesmo.

Todos os santos rogaram pelos mortos. Santo Odilon, abade de Cluny, no século XI, tinha um zelo particular pelo que dizia respeito ao refrigério das almas do purgatório. Foi movido pela compaixão, pensando no sofrimento das almas do purgatório que, adiantando-se à Igreja, ordenou se rogasse pelas almas, tendo, destinado para isso um dia especial. Eis como Santo Odilon animou tal instituição, começando pelas terras que lhes estavam afetas ao sacerdócio. (…)

Quanto ao purgatório, nada de certo se sabe. Eis porém, o que se lê nas revelações de Santa Francisca de Roma, revelações que a Igreja autoriza a crer, sem, entretanto, a elas nos obrigar.

Numa visão, a santa foi conduzida do inferno ao purgatório, que, igualmente está dividido em três zonas ou esferas, uma sobre a outra.

Ao entrar, Santa Francisca leu esta inscrição:

Aqui é o purgatório, lugar de esperança, onde se faz um intervalo.

A zona inferior é toda de fogo, diferente do inferno, que é negro e tenebroso. Este do purgatório tem chamas grandes, muito grandes e vermelhas. E as almas. Ali, são iluminadas, interiormente, pela graça. Porque conhecem a verdade, assim como a determinação do tempo.

Aqueles que tem pecado grave são enviados a este fogo pelos anjos, e aí ficam conforme a qualidade dos pecados que cometeram.

A santa dizia que, por cada pecado mortal não expiado, naquele fogo ficaria a alma por sete anos.

Embora nessa zona ou esfera inferior as chamas do fogo envolvam todas as almas, atormentam, todavia, umas mais que as outras, segundo sejam mais graves ou mais leves os pecados.

Fora esse lugar do purgatório, à esquerda, ficam os demônios que fizeram com que aquelas almas cometessem os pecados que agora expiam. Censuram-nas, mas não lhes infligem quaisquer outros tormentos.

Pobres almas! Fá-las sofrer mais, muito mais, a visão desses demônios do que o próprio fogo que as envolve. E, com tal sofrimento, gritam e choram, sem que, neste mundo, consiga alguém fazer uma idéia. Fazem-no, contudo, humildemente, porque sabem que o merecem, que a justiça divina está com a razão. São gritos como que afetuosos, e que lhes trazem certa consolação. Não que sejam afastadas do fogo. Não, a misericórdia de Deus, tocada por aquela resignação, das almas sofredoras, lança-lhes um olhar favorável, olhar que lhes alivia o sofrimento e lhes deixa entrever a glória da bem-aventurança, para onde passarão.

Santa Francisca Romana viu um anjo glorioso conduzir aquele lugar a alma que lhe havia sido confiada, à guarda, e esperar do lado de fora, à direita. É que os sufrágios e as boas obras que os parentes, os amigos, ou quem quer que seja, lhes fazem especialmente por intenção da alma, movidos pela caridade, são apresentados, pelos anjos da guarda, à divina majestade. E os anjos, comunicando às almas o que por elas fazemos nós, aliviam-nas, alegram e confortam. Os sufrágios e as boas obras que fazem os amigos, por caridade, especialmente pelos amigos do purgatório, aproveita principalmente a quem os faz, por causa da caridade. E ganham as almas e ganhamos nós.

As orações, os sufrágios e as esmolas feitos caridosamente pelas almas que já estão na glória, e que já não necessitam, revertem às almas ainda necessitadas, aproveitando a nós também.

E os sufrágios que se fazem às almas que jazem no inferno? Não os aproveita nem uma nem outra – nem as do inferno, nem as do purgatório, mas unicamente a quem os faz.

A zona ou região média do purgatório está dividida em três partes: a primeira, cheia duma neve excessivamente fria; a segunda, de pez fundido, misturado a azeite em ebulição; a terceira, de certos metais fundidos, como ouro e prata, transparentes. Trinta e oito anjos aí recebem as almas que não cometeram pecados tão graves que mereçam a região inferior. Recebem-nas e transportam-nas dum lugar a outro com grande caridade: não lhe são os anjos da guarda, mas outros que, para tal, foram obrigados pela divina misericórdia.

Santa Francisca nada disse, ou não a autorizou a dizê-lo o superior, sobre a mais elevada região do purgatório.

Nos céus, os anjos fiéis tem sua hierarquia: três ordens e nove coros. As almas santas, que sobem da terra, ficam nos coros e nas ordens que Deus lhes indica, segundo os méritos. É uma festa para toda a milícia celeste, mais particularmente para o coro onde a alma santa deverá regozijar-se eternamente em Deus.

O que Santa Francisca viu na bondade de Deus a deixou profundamente impressionada, sem que pudesse falar da alegria que lhe ia no coração. Frequentemente, nos dias de festa, sobretudo depois da comunhão, quando meditava sobre o mistério do dia, o espírito, arrebatado ao céu, via o mesmo mistério celebrado pelos anjos e pelos santos.

Todas as visões que tinha, submetia-as Santa Francisca de Roma à Mãe, Santa Igreja. E, pela mesma mãe, a Igreja, foi Francisca canonizada, sem que nada de repreensível se achasse nas visões que tivera.

Nós, pois, vos saudamos, ó almas que vos purificais nas chamas do purgatório. Compartilhamos as vossas dores, os sofrimentos, principalmente daquela dor imensa e torturante de não poderdes ver a Deus.

Ai de nós! Sem dúvida que há entre vós parentes nossos e amigos: sofrerão, talvez por nossa culpa. Quem dirá que não lhes demos, nesta ou naquela ocasião, motivos de pecar? Falta-lhes pouco tempo para que se tornem inteiramente puras. Que nos acontecerá, a nós que tão pouco velamos por nós mesmos? Almas santas e sofredoras, que Deus nos livre de vos esquecer jamais!

Todos os dias, à missa e às orações, lembrar-nos-emos de vós todas. Lembrai-vos, pois, também de nós. Lembrai-vos, principalmente, quando estiverdes no céu. Como lá vos desejamos ver! Como no céu desejamos ver-nos convosco! Assim seja.

(Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XVIII, p.111 à 118 e 129 à 137)

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