“O acordo entre a Santa Sé e o regime chinês fracassou enormemente em dar a proteção à Igreja na China que se esperava e, na verdade, desde que o acordo foi assinado em 2018, e até mesmo depois de sua renovação no final do ano passado, a situação dos cristãos na China piorou”, afirma Benedict Rogers. Após a prisão do bispo Joseph Weizhu, junto de 10 padres e 13 seminaristas na prefeitura apostólica de Xinxiang, na China, Rogers afirma que a Santa Sé definitivamente “cometeu um erro” ao negociar com o Partido Comunista Chinês e que o acordo foi um fracasso para a proteção dos cristãos.
O acordo visava terminar com a divisão do catolicismo na China entra igreja oficial, controlada pelo Partido Comunista Chinês, e a Igreja clandestina, ligada ao papa e, assim, encerrar a perseguição aos católicos leais a Roma.
Rogers é o fundador da Hong Kong Watch, organização sediada no Reino Unido que monitora direitos humanos, liberdades e o Estado de direito. Ele também é analista sênior para a Ásia Oriental no grupo de direitos humanos Christian Solidarity Worldwide (CSW).
As prisões dos clérigos começou na tarde da sexta-feira, 20 de maio, quando pelo menos 100 policiais cercaram o prédio da fábrica usado como seminário diocesano. Ali foram presos 13 seminaristas e 7 sacerdotes. A fábrica que abrigava o seminário foi fechada e o dono foi preso. Os 13 candidatos ao sacerdócio foram enviados às suas casas e estão proibidos de estudar teologia. Os policiais confiscaram todos os pertences pessoais dos sacerdotes e seminaristas. A prisão do bispo ocorreu no dia seguinte. A agência reportou nesta segunda-feira, 24 de maio, que os clérigos presos em Xinxiang encontram-se em um hotel em Henan onde passam por sessões de reeducação política.
Rogers se converteu ao catolicismo há 5 anos através de sua relação de trabalho e amizade com o cardeal Charles Bo, arcebispo de Yangon em Myanmar, e hoje é um dos maiores peritos sobre liberdade religiosa na Ásia e particularmente na China.
“Embora as intenções da Santa Sé foram sem dúvida boas, o acordo foi definitivamente um erro”, diz ele. “Especialmente no momento em que o regime do Partido Comunista Chinês está intensificando seu ataque à religião especificamente e aos direitos humanos em geral”.
Segundo Rogers, “o Partido Comunista Chinês sempre violou a liberdade religiosa e foi hostil à religião, mas nos últimos anos, sob Xi Jinping, a perseguição aumentou para um nível que é o pior desde a Revolução Cultural. O regime tem destruído cruzes e igrejas, prendido o clero e forçado as igrejas a exibir imagens de Xi Jinping e propaganda do Partido Comunista ao lado de imagens religiosas”.
“Os jovens menores de 18 anos são proibidos de frequentar locais de culto, nas igrejas controladas pelo Estado as câmeras de vigilância registram a presença de todos os fiéis, e o regime está planejando produzir uma nova tradução da Bíblia que distorça e deturpe completamente as Escrituras para fins de propaganda do partido”, informa Rogers.
“Este acordo foi alcançado com um preço muito alto, ou seja, o silêncio do Vaticano sobre a liberdade religiosa e os direitos humanos na China, o que é de partir o coração”, afirmou Rogers.
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Cardeal Bo pede orações
O cardeal Charles Bo, presidente da Federação das Conferências dos Bispos Asiáticos, propôs no último 14 de março que os católicos da Ásia se unam em oração durante toda uma semana em favor dos católicos na China.
O cardeal lembrou a carta do papa emérito Bento XVI aos chineses, na qual estabeleceu o 24 de maio como dia de oração pela Igreja local, e propôs, por sua parte, que na semana de 23 a 30 de maio as Igrejas da Ásia rezem por essa intenção. “Queremos pedir à Virgem de Sheshan para proteger toda a humanidade e a dignidade de cada pessoa que vive na China”, pede Bo.
Atendendo o pedido do cardeal Bo, “foi criada por uma coalizão informal de cristãos leigos de seis continentes que se uniram para facilitar uma resposta ao Chamado Global de Oração do Cardeal Bo para a Igreja e os Povos da China”.
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A Rede Global de Orações pela China acolhe orações de fiéis da Ásia e de todo o mundo pela intenção do Cardeal Bo em favor dos católicos chineses e pode ser visitada em www.GlobalPrayerforChina.org.
Fonte ACI Digital