Neste texto, falaremos um pouco sobre as práticas que um consagrado a Virgem Maria deve ter, compreendem as práticas exteriores e interiores. Para sermos verdadeiramente escravos da Santíssima Virgem, algumas práticas e virtudes são necessárias em nossas vidas após a consagração. E para isso elaboramos este texto.
Primeiramente vale lembrar que no artigo “Por que me consagrar a Nossa Senhora?” . Neste texto descrevemos a origem, história e falamos sobre a necessidade dessa verdadeira devoção a Santíssima Virgem, e lá poderá encontrar tudo que precisa saber antes de ler o Tratado.
A imitação à Santíssima Virgem
Em primeiro lugar devemos observar que sem imitação não há verdadeira devoção. Muito se engana quem se crê verdadeiro devoto de Maria e se limita a invocá-la, sem cuidar de imitá-la.
Desse modo Imitar Maria significa procurar reproduzir em nós, na medida do possível, a vida santa, o espírito, os sentimentos e as virtudes de que Maria nos deu exemplo.
Assim o intuito da Igreja, ao estabelecer as festas em honra dos santos, não é o de despertar somente um sentimento de admiração estéril por eles, e sim o de animar-nos à prática de suas virtudes, pondo diante de nós os exemplos por eles deixados.
Maria pode servir de modelo para todos, sem exceção: para os grandes e para os pequenos, para os principiantes e para os perfeitos, para os homens e para as mulheres, para os jovens e para os velhos. Isso porque a sua vida foi uma sequência de ações comuns, que Ela soube executar de maneira fora do comum, transformando-as com a pureza da intenção e o ardentíssimo amor de Deus.
A consagração à Santíssima Virgem é um caminho também de imitação, pois serão as suas virtudes o modelo pelo qual o consagrado buscará estreitar o seu caminho com Nosso Senhor.
Vejamos a seguir as 10 práticas de todo consagrado:
Primeira prática do consagrado: Verdadeira entrega
Primeiramente entregar-se inteiramente à Santíssima Virgem, a fim de, por ela, pertencer inteiramente a Jesus Cristo. É preciso dar-Lhe: nosso corpo, com todos os seus membros e sentidos.
Assim como também a nossa alma, com todas as suas potências; nossos bens exteriores, que chamamos fortuna, presentes e futuros; nossos bens interiores e espirituais, que são nossos méritos, nossas virtudes e nossas boas obras passadas, presentes e futuras. Numa palavra, tudo o que temos.
Segunda prática do consagrado: Por Maria, com Maria, em Maria, para Maria
É preciso fazer todas as ações por Maria, quer dizer, em todas
as coisas, obedecer à Santíssima Virgem, e em tudo conduzir-se por seu
espírito, que é o santo espírito de Deus.
Do mesmo modo fazer tudo com Maria, isto é, em todas as coisas olha-la como um modelo acabado de todas as virtudes e perfeições que o Espírito Santo formou em uma pura criatura, e imitá-lo na medida de nossa capacidade.
Dessa forma é preciso fazer todas as ações em Maria, para compreender cabalmente essa prática, é necessário saber que a Santíssima Virgem é o verdadeiro paraíso terrestre do novo Adão, de que o antigo paraíso terrestre é apenas a figura.
Finalmente é preciso fazer tudo para Maria. Porque, desde que nos entregamos completamente a seu serviço, é justo que façamos tudo para ela, como um criado, um servo, um escravo.
Sobre este tema nos aprofundaremos no final do artigo.
Terceira prática do consagrado: Desprezo pelo mundo
Do mesmo modo os fiéis servos de Maria devem desprezar, odiar e fugir do mundo corrompido e servir-se das práticas de desprezo pelo mundo, que assinalamos na primeira parte.
Quarta prática do consagrado: Devoção ao mistério da Encarnação
Devoção especial ao mistério da Encarnação. Terão uma devoção especial pelo mistério da Encarnação do Verbo, a 25 de março 119 , que é o mistério adequado a esta devoção, pois que essa devoção foi inspirada pelo Espírito Santo.
Quinta prática do consagrado: Coroinha da Santíssima Virgem
Recitação da coroinha da Santíssima Virgem, todos os dias de sua vida, sem, entretanto, qualquer constrangimento. Trata-se da coroinha da Santíssima Virgem, composta de três Pais-Nossos e doze Ave-Marias, em honra dos doze privilégios e grandezas da Santíssima Virgem.
Sexta prática do consagrado: Devoção à Ave Maria e ao Rosário
Grande devoção à Ave Maria e ao Rosário. Terão grande devoção ao recitar a Ave Maria, ou a Saudação Angélica. Vale lembrar bem poucos cristãos, mesmo os esclarecidos, conhecem o valor, o mérito, a excelência e a necessidade.
Foi preciso que a Santíssima Virgem aparecesse várias vezes a grandes santos muito doutos, para demonstrar-lhes o mérito dessa pequena oração.
Sétima prática do consagrado: Magnificat
Assim também a recitação do Magnificat para agradecer a Deus pelas graças que concedeu à Santíssima Virgem. Dirão frequentemente o Magnificat, a exemplo da bem-aventurada Maria de Oignies e de muitos outros santos.
Sendo assim é a única oração e a única obra composta por Maria, ou, melhor, que Jesus fez por meio dela. Afinal Eele fala pela boca de sua Mãe Santíssima. É o maior sacrifício de louvor que Deus já recebeu na lei da graça.
Oitava prática do consagrado: cadeias de ferro
Por fim usar pequenas cadeias de ferro, é muito louvável, glorioso e útil àqueles e àquelas que assim demonstrarão ser escravos de Jesus e Maria. Este serve como sinal de sua amorosa escravidão, usar pequenas cadeias de ferro, bentas com uma bênção especial.
Por tanto essas cadeias mostram somos escravos e servos de Jesus Cristo e que renunciamos à escravidão funesta do mundo, do pecado e do demônio. “Vincula peccatorum; in vinculis caritatis”.
As práticas interiores da consagração a Jesus por Maria
As práticas interiores foram resumidas por São Luís Maria na seguinte fórmula: “fazer todas as ações por Maria, com Maria, em Maria e para Maria”. Fazer tudo “por” Maria é para os principiantes; “com” Maria é para os adiantados; e “em” Maria é para os perfeitos. Esta parte da fórmula corresponde aos “três graus clássicos da vida interior: a via purgativa, a via iluminativa e a via unitiva”. Apesar de que no início da consagração não é possível a vivência plena desses três graus, pois são fases da vida espiritual, isso não significa que são totalmente separados e que numa fase não façamos experiências das outras. Independente da fase que vivemos, devemos nos esforçar para crescer de graça em graça e chegar à perfeição. A última parte da fórmula, o fazer as nossas ações “para” Maria, resume praticamente as três anteriores: “por Maria; “com” Maria; “em” Maria. No entanto, ao dizer que fazemos todas as ações “para Maria”, não nos enganemos pensando que ela é o centro ou o fim último desta devoção. Pois, fazemos tudo “para” a Santíssima Virgem, a fim de mais perfeitamente as fazer por Jesus Cristo, com Jesus Cristo, em Jesus e para Jesus”.
Fazer todas as ações “por” Maria
Fazer todas as nossas boas obras “por” Maria significa que devemos obedecer em tudo à Santíssima Virgem, e deixar-nos conduzir em tudo pelo seu espírito, que é o Espírito Santo de Deus. Pois, “aqueles que são conduzidos pelo espírito de Maria são filhos de Maria e, por conseguinte, filhos de Deus”. Para que nos deixemos conduzir pelo espírito de Maria é preciso:
1º – Renunciar ao nosso próprio espírito, às nossas próprias luzes e vontades, antes de fazer qualquer coisa, especialmente antes das orações, da Santa Missa, da comunhão e de nossas boas obras. “Porque as trevas do nosso espírito próprio e a malícia da nossa vontade e obras poriam obstáculo ao santo espírito de Maria, se as seguíssemos, embora nos parecessem boas”;
2º – Entregar-nos ao espírito de Maria para ser movidos e conduzidos do modo que Ela quiser. Temos que nos colocar e nos abandonar nas suas mãos virginais, como um instrumento nas mãos do artista, como uma cítara nas mãos de um bom músico. Para tanto, podemos dizer a Nossa Senhora: “Renuncio a mim mesmo e dou-me a Vós, ó minha querida mãe!”;
3º – “Renovar este mesmo ato de oferecimento e de união, de tempos a tempos, durante a ação ou depois dela”. Quanto mais o repetimos esse ato, mais depressa a nossa alma se santificará e mais depressa chegaremos à união com Jesus Cristo, pois esta segue-se sempre à união com Maria, visto que o espírito de Maria é o espírito de Jesus.
Fazer todas as boas obras “com” Maria
Nós consagrados, devemos fazer todas as ações com Maria. No entanto, para que isso aconteça, nesta fase em que somos privados dos sentidos, é necessário crer que a Virgem Mãe de Deus está sempre presente em nossas vidas. Nessa certeza, devemos voltar o nosso olhar para ela, em todas as nossas ações, como o modelo acabado de toda a virtude e perfeição. Pois, Nossa Senhora “é o modelo formado pelo Espírito Santo numa simples criatura, para nós o imitarmos, na medida das nossas limitadas forças”. Em nossas ações, devemos considerar o modo como Maria faria se estivesse no nosso lugar. Para tanto, examinemos e meditemos algumas das grandes virtudes que a Mãe da Igreja praticou durante a vida:
1ª – A sua Fé viva, pela qual a Virgem de Nazaré acreditou, sem hesitar, no anúncio do Anjo. Fé que Maria manteve fielmente, constantemente, até mesmo na mais completa noite escura, no momento derradeiro de seu Filho, aos pés da Cruz;
2ª – “A sua Humildade profunda, que a fez esconder-se, calar-se, submeter-se a tudo e pôr-se no último lugar”;
3ª – A sua Pureza toda divina, que não houve nem jamais haverá igual sob o Céu.
Além destas, devemos também examinar e meditar a respeito das demais virtudes de Maria, particularmente, a sua obediência cega, a sua contínua oração, a sua mortificação universal, a sua ardente caridade, a sua paciência heroica, a sua doçura angélica e a sua sabedoria divina. Lembremo-nos que a Virgem Maria é a grande e a única Fôrma de Deus, própria para formar imagens de Deus, facilmente e em pouco tempo. Se entrarmos nesta Fôrma e nela nos perdermos, em breve nos transformaremos em Jesus Cristo.
Fazer todos os atos “em” Maria
Precisamos fazer todas as nossas ações em Maria. Entretanto, para bem compreender esta prática, é necessário saber que a Santíssima Virgem, a Nova Eva, é o verdadeiro Paraíso Terrestre do Novo Adão, e que o antigo paraíso não era mais que a sua imagem. “Pois há neste Paraíso Terrestre riquezas, belezas, raridades e doçuras inexplicáveis, que o Novo Adão, Jesus Cristo, aí deixou”. Este Lugar Santo é composto de uma terra virgem e imaculada, da qual foi formado e se alimentou o Novo Adão, sem qualquer nódoa ou mancha, pela ação do Espírito Santo que aí habita. Os Santos Padres, iluminados pelo Espírito de Deus, chamam a Santíssima Virgem Maria de:
1º – Porta Oriental, por onde o grande sacerdote Jesus Cristo entra e sai do mundo. Por Maria, o Filho de Deus entrou pela primeira vez no mundo e por ela também será a Sua segunda vinda;
2º – “Santuário da Divindade, o Repouso da Trindade Santíssima, o Trono de Deus, a Cidade de Deus, o Altar de Deus, o Templo de Deus, o Mundo de Deus”.
Para fazer as nossas ações “em” Maria, precisamos entrar nesse Santuário do Altíssimo, que é a própria Virgem. Todavia, “é difícil a pecadores como nós obter permissão e ter capacidade e luz para entrar neste lugar. Pois é tão alto e tão santo que é guardado, não por um querubim, como o antigo Paraíso Terrestre, mas pelo próprio Espírito Santo, que se tornou seu Senhor absoluto”. Somente por uma graça particular do Espírito Santo, graça que devemos alcançar pela perseverança, poderemos entrar neste Templo Santo.
Fazer tudo “para” Maria
Nós consagrados, devemos fazer todas as ações para Maria. Pois, se nos entregamos totalmente ao seu serviço, é justo que façamos tudo para Ela, como um criado, um servo, um escravo. No entanto, não entregamos todas as nossas boas para a Mãe de Deus como fim último, pois este é Jesus Cristo. Tomamos a Santíssima Virgem como fim próximo, como meio misterioso e fácil para ir ao seu Divino Filho.
Fazer tudo para Maria significa também que, como bons servos e escravos de Nossa Senhora, apoiados na sua proteção, precisamos defender os seus privilégios, quando são disputados, e sustentar a sua glória, quando a atacam. Precisamos “atrair todo o mundo, se for possível, ao seu serviço, e a esta Verdadeira e Sólida Devoção”. Devemos falar e clamar contra os que abusam da devoção a Mãe de Deus para ultrajar o Filho do Altíssimo e, ao mesmo tempo, estabelecer a consagração a Jesus por Maria. Por fim, como recompensa destes pequenos serviços, devemos “pretender apenas a honra de pertencer a tão amável Princesa, a felicidade de sermos por Ela unidos a Jesus, seu Filho, com um laço indissolúvel, no tempo e na eternidade”.