O papa Francisco está preocupado com o uso de sobrepelizes rendadas e barretes por padres da Sícilia, um sinal, para ele, de pouca implementação das decisões do Concílio Vaticano II. “Falo claramente: caríssimos, ainda a sobrepeliz, o barrete…, mas onde estamos? Sessenta anos depois do Concílio! Um pouco de atualização inclusive na arte litúrgica, na ‘moda’ litúrgica”, disse o papa Francisco hoje (9) ao receber bispos e padres da Sicília no Vaticano.
“Eu não gostaria de terminar sem mencionar algo que me preocupa, que me preocupa muito. Eu me pergunto: como vai a reforma começada pelo Concílio? Como vai entre vocês? A piedade popular é uma grande riqueza e devemos preservá-la, acompanhá-la para que não se perca. Também devemos educá-la. A este respeito, leiam o número 48 da Evangelii nuntiandi, que tem plena vigência o que são Paulo VI nos disse sobre a piedade popular: libertá-la de todo gesto supersticioso e pegar a substância que tem dentro”, disse o papa.
“Sim, tudo bem às vezes trazer um pouco da renda da avó. É para homenagear a avó, não é? Vocês entenderam tudo, não é mesmo? É bom homenagear a avó, mas é melhor celebrar a mãe, a santa mãe Igreja, e como a mãe Igreja quer ser celebrada. E que a insularidade não impeça a verdadeira reforma litúrgica que o Concílio propôs. E não permaneçam imóveis”.
O papa também sugeriu que os padres prestassem atenção ao pregar homilias porque “as pessoas querem substância. Um pensamento, um sentimento e uma imagem, e elas carregam isso durante toda a semana”.
“Não sei como os padres sicilianos pregam, se pregam como sugerido na Evangelii gaudium ou se pregam de tal forma que as pessoas saem para fumar um cigarro e depois voltam…. Esses sermões no qual falam de tudo e de nada. Tenham em mente que após oito minutos a atenção diminui, e as pessoas querem substância. Um pensamento, um sentimento e uma imagem, e elas carregam isso durante toda a semana”, concluiu o papa.
Seguem abaixo dois textos dos sites Salvem a Liturgia e Direto da Sacristia.
Pastoral do Pano!
Por Verbum Abbreviatum
Espalhou-se pelas sacristias paroquiais um novo jargão eclesiástico, possuindo como finalidade definir um tipo muito “característico” de seminarista, era criada assim a “pastoral do pano” e obviamente os “seminaristas do pano”.
Usando de uma perspectiva caricata certos padres demonstrando aversão pela atual atitude religiosa dos pretendentes ao sacerdócio, que não possuem mais valores morais ou utopias sociais, mas preocupam-se com rendas encontradas na “25 de março” (rua comercial em São Paulo) e os mais novos modelitos eclesiásticos que circulam pelo bairro de Santa Cecília. (emitimos o nome da famosa grife paulistana para não sofrermos as penas legais por uso impróprio)
Infelizmente, as duas posturas possuem bases muito sólidas e exageros mais que notórios. Qual seria em sã consciência o padre que perderia metade de seu dia escolhendo bordados, alamares, tecidos italianos ou forros canadenses? Alguém com uma clara percepção de que o centro de toda a liturgia é ele, quem deve brilhar é ele e como ele não pode sair por aí desfilando uma Channel no braço ele coloca uma renda carregada de frustrações por baixo da casula altamente bordada.
Esperem caros leitores do SL! Minha senha não foi roubada e quem escreve não é um adorador de Boff encerrado em alguma taberna marxista por esse mundo afora. Quem escreve é alguém que diante de extremos mais que desnecessários sente-se incomodado e impelido a soltar algumas palavras.
Qual seria o sacerdote que em pleno uso de suas faculdades usaria durante três meses a mesma túnica, sempre suja e já com aquele cheiro muito bem definido ou ainda aquela estola com todas as cores litúrgicas e ao mesmo tempo sem ter nada de litúrgica? Quem usaria em todas as Santas Missas as mesmas alfaias ou jamais teria em seu armário uma casula? (visto que no Brasil sempre faz calor! Alguém me explica o frio de São Paulo então!)
Explico onde quero chegar caro (a) leitor (a), a linha que separa a Pastoral do Pano e a Heresia do Desleixo é muito tênue e translúcida, sendo facilmente ultrapassada por quem quer que seja. Aqueles que acusam a existência de uma escrupulosa preocupação na Pastoral do Pano, podem estar nadando a braços largos na Heresia do Desleixo e por sua vez aqueles que indicam com voz clara a falta de rendas e brocados dourados em certos sacerdotes praticantes da Heresia do Desleixo, podem do mesmo modo, estar de braços dados com a vaidosa Pastoral do Pano.
Não venho trazer o mapa de onde se encontra o Santo Graal e muito menos o endereço da famosa grife eclesiástica, venho expor da maneira mais clara possível (e espero não desrespeitar os leitores) a dor que me atinge ao ver como é raro ver uma situação onde o “bom” das duas situações esteja em harmônica consonância. Comum é ver seminaristas que gastam centenas em alvas sempre mais brocadas e bordadas, cíngulos sempre mais brilhantes e caros, batinas para cada estação do ano e não possuem sequer uma Bíblia para estudo ou um livro de espiritualidade que os acompanhe.
Muito menos raro é ver padres e seminaristas “sociais” com livros e livros espalhados por onde passam (livros nem sempre bons), discursos sociais lançados durante o café da manhã ou quem sabe durante o intervalo das aulas, e durante uma Santa Missa aparecem com uma túnica amassada, amarelada e o pior de tudo, fétida. Desejam a igualdade e mal conseguem respeitar a igualdade de narinas que o bom Deus deu a cada ser humano.
Triste ver um grupo discutindo sobre paramentos caros e todo o resto e quando questionados sobre alguma parte doutrinária ou ensinamento espiritual, sobre partes da Sagrada Escritura, mais que rapidamente mudam de assunto! Ou aqueles outros sociólogos de porta de Igreja, quando perguntados sobre qualquer coisa referente ao culto, lançam a pergunta para o grupo precedente, (que obviamente bem longe se encontra)
Tarefa nossa é demonstrar que barretes não escondem cabeças vazias e caridade com o próximo sofredor não implica em permanecer sujo durante a Santa Missa. Queremos o que a Igreja tem para nos dar e não o que as misérias humanas insistem em dispensar a bel-prazer, nossa geração quer ser como foram os verdadeiros santos, o piedoso São Felipe Neri que não deixava de fazer caridade para não sujar a batina, São Francisco de Assis que fazia caridade e não se via impedido de usar o hábito.
A ausência de utopias que nos acusam é divertidamente ilógica, ela está impressa nos mais belos vitrais, nas mais belas colunas góticas, nas ogivas que protegem a assembléia, nos santos paramentos que esperam por quem os use em vitrines de museus, nos mosteiros convertidos em hotéis de luxo, nas Igrejas vendidas para supermercados, nos padres esquecidos em asilos, nas verdadeiras obras de caridade que estão esquecidas, na misericórdia vivida plenamente e descrita nas mais simples hagiografias.
“Quem tem olhos veja”.
Mostrar que o zelo pela Sagrada Liturgia não acaba em si, mostrar que o “sofrido povo de Deus” tem direito ao belo e digno é mais que necessário. Casulas realmente não enchem barrigas, mas piquetes também não glorificam ao Deus Eterno.
Muito além do “pano”
A importância espiritual dos paramentos e insígnias além de sua estética
Queixa-se de que, ao entrar no coro para a salmodia, ao dirigir-se para celebrar a missa, logo mil pensamentos lhe assaltam a mente e o distraem de Deus. Mas, antes de ir ao coro ou à missa, que fez na sacristia, como se preparou, que meios escolheu e empregou para fixar a atenção?
(Sermão proferido no último sínodo por São Carlos Borromeu)
Feliz e evidentemente, estamos vivendo em outro tempo. Embora ainda vivo, o pensamento de uma fé socialmente instrumentalizada e, com isso, desprovida em grande parte de seu caráter transcendental, perde sua força depois de décadas determinando o que era bom ou não para os fiéis e, pior, para as vocações sacerdotais e religiosas. Não obstante o empenho de tantos homens, e o fato disto ser também o resultado do enfado de anos de um relativismo com poucas exceções, o pontificado do Papa Bento XVI foi um impulso e vigor ao novo movimento litúrgico que hoje testemunhamos.
Mas ainda não podemos nos dar por satisfeitos. Há – diríamos – outras linhas nascidas ou influenciadas por esses novos tempos que, embora tenham um ou mais pontos em comum, divergem entre si em aspectos cruciais: há quem execute as rubricas apenas por ritualismo (fazer em virtude da lei litúrgica somente); também há quem só deseje se vangloriar por meio da beleza litúrgica, usurpando o lugar de Nosso Senhor, e, por fim, há quem faz da Liturgia apenas um mero barroquismo, sem que dela se colham bons e grandes frutos, como é possível quando se desvia de seus propósitos: louvor, adoração, expiação dos pecados e ação de graças.
Particularmente, não concordamos com o reprovável termo “panos” para se referir aos paramentos litúrgicos, que denota um pauperismo em significado e nunca deveria ser relacionado às alfaias, mas se tornou usual devido à vulgaridade com que é usado. Mas, há quem o use para demonstrar seu desprezo pelas vestes sacras, como quem afirma que não passam de “panos”, sem significado, sem importância, sem ser meio catequético pelo uso aos fiéis e até mesmo a quem os usa.
Em julho de 2009, o “Salvem a Liturgia!” publicou um artigo muito claro e sincero sobre a chamada “Pastoral do Pano”, falando sobre frágil linha que separa os vaidosos e superficiais que se aproveitam da Liturgia como um lugar de maravilhas para o seu ego e os que a desprezam quase que totalmente – só restando as fórmulas que recitam e os gestos que executam para a válida dos sacramentos que celebram.
Mais lamentável e – ao mesmo tempo – ridícula ainda é a justificativa daqueles que, falando de seu gosto litúrgico “sóbrio” e “centrado”, ridicularizam os paramentos que fazem uso de rendas e decorações florais. Acreditar em fúteis argumentos como estes e outros é o mesmo que deixar de usar paramentos róseos unicamente pela moderna e imperfeita ligação entre esta cor e o seu uso exclusivo pelas mulheres.
Como forma de defesa à importância dos paramentos mas também para refutar quem os despreza, apresentamos a seguir as orações que acompanham a paramentação das vestes episcopais e sacerdotais (estas estão todas inclusas naquelas, mas aquelas superam em número a estas, de modo que, obviamente, os sacerdotes não se paramentam como bispos). A reforma litúrgica do Vaticano II, embora tenha excluído a obrigatoriedade de a vestição dos paramentos ser acompanhada de cada respectiva oração, não proibiu no Missal de Paulo VI o fato de rezar mais especificamente enquanto se paramenta.
Portanto, as oração a seguir são do rito antigo: o problema não é não ter a sensibilidade litúrgica (como se refere Bento XVI) do usus antiquior, mas reprová-la e desprezar os bens que sobrevêm dela quando é virtuosamente vivida, tal como acontece àqueles que de reta intenção são liturgicamente sensíveis a outras espiritualidades.
Enfim, na reflexão sobre as orações que acompanha a vestição de cada paramento, veremos que há por trás algo de espiritual muito maior e mais importante do que a aparente ostentação ou luxo de quem só assim interpreta:
As cáligas eram os calçados dos militares romanos e símbolo da expansão do Império, feitas de couro e algumas vezes até mesmo os escravos as calçavam; mas, usualmente, eram do vestuário dos legionários até os centuriões. A Igreja preservou o modelo, embora decorado: botas que chegam até a metade das pernas e que é fechada por fios atados.
Ao chegar à sacristia, o Bispo se desfaz dos seus sapatos civis e enquanto as calça, diz: Calçai, Senhor, os meus pés na preparação do Evangelho da paz e protegei-me à sombra de Vossas asas.
Depondo a mozzetta: Livrai-me, Senhor, do homem velho com as suas obras e costumes, e revesti-me do homem novo, criado segundo Deus na justiça e santidade da verdade.
Lavando as mãos: Dai, Senhor, força às minhas mãos para lavar toda a iniquidade, e poder para servir-Vos sem culpa no corpo e na alma.
O amito aparece no século VIII para cobrir a cabeça e pescoço do Celebrante e ministros sagrados, e, passando debaixo dos braços, talvez para apertar a alva ao peito, sobre a qual se veste. Quando no século X apareceu o barrete, o amito passou a cobrir unicamente o pescoço. Contudo, em [ritos de] certas ordens religiosas (que, na maioria, não tem barrete), conserva o uso primitivo do capuz. Usa-se por baixo todas as vezes que esta se vestir. Também se põe imediatamente sobre o roquete ou sobrepeliz todas as vezes que se deva vestir, sem a alva, a dalmática, pluvial ou casula, como para assistir ao Bispo na Missa e Vésperas Pontificais.
Com o amito: Ponde, Senhor, sobre a minha cabeça o capacete da salvação para rejeitar todas as tentações do diabo e armadilhas do inimigo.
A alva era a túnica interior que todos os romanos usavam no século VI. Deve ser trazida nas Missas, nas Procissões solenes e nas Exposições solenes do Santíssimo Sacramento.
Enquanto veste a alva: Purificai-me, Senhor, e limpai meu coração, para que como aqueles que lavaram as suas vestes no sangue do Cordeiro, possa eu desfrutar de alegrias eternas.
O cíngulo passou a apertar aos rins a alva depois do século VIII. Deve ser branco ou da cor dos paramentos.
Enquanto se cinge com o cíngulo: Cingi-me, Senhor, com o cíngulo da fé e da virtude da castidade, e apagai de meus membros o ardor da concupiscência, para permanecer sempre em mim a força da castidade.
A cruz peitoral, cujo costume é de carregar relíquias dos Mártires, tem forma latina e seu uso foi herdado dos primeiros cristãos.
Depois de beijar a cruz peitoral e recebê-la: Senhor Jesus Cristo, dignai-Vos proteger-me de todas as ciladas do inimigo com o sinal santíssimo de Vossa Cruz, e dignai-Vos conceder a mim, Vosso indigno servo, que assim como levo em meu peito esta Santa Cruz com todos os Vossos Santos, sempre tenha em minha mente a memória da Paixão e as vitórias dos Mártires.
A estola era, segundo Batiffol, era uma peça de tecido de linha, terminada com franjas, da qual os homens se serviam para resguardar o pescoço do frio. Era aberta por diante e ornada duma orla de bordado precioso, que dava a volta ao pescoço e descia até os pés. Depois de adotada no vestuário litúrgico, como insígnia de dignidade (nas liturgias oriental, visigótica e galicana no século VI, e na liturgia romana no século IX), para poder ser revestida por baixo da dalmática e da casula, a estola perdeu a sua parte mais importante – a túnica, e conservou apenas o bordado (orarium). Deve ter uma cruz grega no meio e nas duas extremidades. Os sacerdotes usavam-na cruzada ao peito debaixo da casula já que a cruz peitoral era (e continua sendo reservada aos Bispos); contudo, a usavam pendendo paralelamente ao peito, tal como os Bispos, quando sobre a sobrepeliz.
Ao vestir a estola: Dai-me, Senhor, a estola da imortalidade que perdi com a desobediência de meus pais, e ainda quando dos Vossos sagrados Mistérios me aproximo sem ser digno, com este ornamento eu mereça a alegria eterna.
A tunicela era um vestido comprido, estreito, com ou sem mangas, que os personagens oficiais de Roma, no século V, traziam debaixo da poenula (da qual derivou a casula litúrgica) ou da toga.
Ao vestir a tunicela: Que o Senhor me revista com a túnica do gozo e as vestes da alegria.
A dalmática, a princípio vestido de escravos ou vestido interior, foi no século II adotada como vestido exterior. Vestia-se por cima da túnica inferior e por baixo da poenula ou da toga. Desde o fim do século V, foi adotada pelo Papa como insígnia própria e depois concedida por ele como distinção honorífica aos bispos e presbíteros da Igreja Romana e mais tarde aos de outras Igrejas. Todavia, este privilégio foi-se estendendo aos diáconos das diversas Igrejas. Hoje só o Bispo nas Missas pontificais se conserva fiel ao costume – antigamente comum também aos sacerdotes, de vestir a tunicela e a dalmática por baixo da casula. De resto, por um desejo de simetria – pouco respeitador da tradição e das regras litúrgicas -, a tunicela e a dalmática acabaram por se tornar iguais, indistinguíveis. Contudo, alguns modelos se preocupam em dar à dalmática duas faixas horizontais (segmentae) que unem as duas verticais (claves). A tunicela permaneceria, portanto, com duas verticais e só uma horizontal.
Ao vestir a dalmática: Revesti-me, Senhor, com a veste da salvação e da alegria, e rodeai-me com a dalmática da justiça.
As luvas (chirotecas) são de seda, da cor litúrgica e com bordados nas costas – uma insígnia de distinção, em uso desde a época carolíngia. O Bispo usa-as até o ofertório, exceto na Sexta-feira Santa e na Missa dos Defuntos.
Ao calçar as chirotecas: Envolvei, Senhor, minhas mãos com a pureza do Homem novo que desceu do céu, para que, como seu amado Jacó, que com as mãos cobertas com pele de cabra, pediu a bênção paterna, uma vez oferecidas a seu pai comida e bebida muito agradáveis, também a oferenda da salvação doada por nossas mãos mereça a bênção da Vossa graça. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, que em semelhança pela carne pecadora, ofereceu a Si mesmo por nós.
A casula era primitivamente um manto de lã ou de couro, em forma de saco ou de sino, destinada nas viagens a resguardar do mau tempo. Era a poenula, adotada pelos romanos no século II. Tinha só uma abertura por onde se passava a cabeça, e, caindo dos ombros até aos pés, envolvia todo o corpo, simulando assim uma pequena casa (casula). Ampla e majestosa, flutuava ao mais ligeiro movimento do corpo, o que lhe fez dar o nome de planeta (do grego, andar errante). No século VI, o povo abandonou este vestido, mas o clero continuou a usá-la. Pouco a pouco, os membros da Hierarquia inferior renunciaram a um ornamento tão caro, que ficou reservado aos presbíteros e aos bispos. A sua forma variou bastante a partir do século XIII, devido a sucessivas reduções que, sob pretexto de facilitar os movimentos do Celebrante, transformaram a ampla, ágil e majestosa planeta na inestética, desgraciosa e pesada casula cujo modelo conhecemos. Há o costume de tirá-la quando o sacerdote prega do púlpito, porque no rito antigo o sermão não é considerado parte propriamente integrante da Missa, logo, não é necessária a casula como paramento para tal. O costume de suspender a parte da casula que cai das costas do Celebrante durante as Elevações, antes do significado teológico, tem o sentido prático de ajuda no trato do paramento originado quando este era mais amplo.
Ao vestir a casula: Senhor, que dissestes “Meu jugo é suave e o meu fardo é leve”, concedei-me que eu o leve de tal modo que possa obter a sua graça.
A mitra primitivamente era uma touca branca, de forma alongada, mais ou menos cônica e sem nenhum ornato. No século XII, em Roma, toma a forma duma coroa (regnum), e vai sofrendo depois, no decorrer dos séculos, várias modificações. O mais antigo documento da sua concessão aos Bispos data do século XI. Segundo Tomás de Aquino, as duas pontas que formam a mitra significam o Antigo e o Novo Testamentos; as ínfulas, que descem sobre as espáduas, expressam o resplendor que saía da cabeça de Moisés após ter a visão de Deus, o brilho da sabedoria dada aos bons pastores, como prometido ao profeta Jeremias (3, 15). Há dois bons e detalhados artigos sobre ela: um no Salvem a Liturgia! e na Wikipedia.
Ao impor a mitra: Imponde, Senhor, em minha cabeça a mitra e o capacete da salvação, para que não caia nas ciladas do antigo inimigo e de todos os demais adversários.
O anel deve ter uma pedra preciosa respectiva à dignidade do Prelado. No caso dos Bispos, é o símbolo da união com a sua Igreja. Segundo alguns, é diferente do anel com que os antigos Bispos selavam as suas cartas, tal como acontece ao Papa com o Anel do Pescador.
Ao impor o anel: Adornai, Senhor, os dedos do meu coração e de meu corpo, e envolvei-me sete vezes com o Espírito santificador.
O manípulo, como o seu nome indica (mappula, sudarium), era o lenço de cerimônia que fazia parte do vestido do aparato dos romanos. Servia para cobrir o rosto, limpar o suor, transmitir ordens, dar o sinal do princípio dos jogos, aclamar os vencedores. O presidente da assembleia litúrgica adotou-o, e os ministros imitaram-no. Apesar de simples adorno hoje, a oração que acompanha a sua paramentação o enche de significado espiritual.
Ao vestir o manípulo: Fazei, Senhor, que eu mereça levar o manípulo com espírito humilde, para que com alegria tenha eu parte entre os Santos.
Não há oração que o Bispo reze enquanto recebe o báculo e se destina à procissão de ingresso.
É possível ver, primeiramente pelo significado de cada peça e depois pela oração que acompanha a paramentação de cada uma, que nada na Liturgia é sem sentido. É evidente que os frutos espirituais da celebração dos Sacramentos dependem da vida do ministro, contudo, é inegável que os sinais (sonoros, visuais e sensíveis) da Liturgia muito ajudam na espiritualidade do ministro ordenado que os valoriza quando celebra os Sacramentos. Imagine-se, portanto, um sacerdote que unicamente tira seus paramentos do armário e não recita nenhuma oração (nem de paramentação nem aquelas contidas até no Missal de Paulo VI como fórmulas de intenção para a celebração da Missa). Agora, imagine-se um sacerdote que se prepara adequadamente: em estado de graça (requisito para a liceidade do sacramento), rezando a intenção do que celebrará e preparando o espírito pelas belíssimas, explicantes e profundas orações de paramentação… Qual deles colherá mais frutos de seu ministério?
Por isso, dizemos: a beleza da Liturgia ensina e santifica quem a vive com reta intenção.
Sobre o uso do barrete na Liturgia
Com o solidéu, a mitra e o capuz dos hábitos religiosos, o barrete está entre os chapéus eclesiásticos com uso dentro ou fora da Liturgia ou em ambas as ocasiões.
O barrete surgiu no século X, quando no rito romano o amito deixou de ser usado sobre o cabeça e permaneceu apenas sobre os ombros, como é atualmente. Primeiro teve a forma do solidéu, conforme conhecemos, que se tornou outra peça do vestuário eclesiástico. Depois adquiriu a forma de cubo, tal como o chapéu usado pelos juízes romanos, no exercício de sua função, como demonstração da autoridade.
A sua cor depende da hierarquia de quem o usa: preto para seminaristas, diáconos e padres; violáceo para os bispos; vermelho para os cardeais; branco para o Papa, embora esteja em desuso há séculos, e para os cônegos premonstratenses. O Instituto Cristo Rei e Sumo Sacerdote tem barrete de cor azul, algo único na Igreja, devido à sua ligação com São Francisco de Sales, que é representado de vestes naquela cor. Tem três palas levantadas, que se unem numa borla de seda; o lado sem aba fica voltado para a orelha esquerda, de modo que a mão direita de quem o usa o alcance e com ela o retire. Para os seminaristas, diáconos, padres e cônegos a borla do barrete é de cor preta; para os padres monsenhores de Sua Santidade e Prelados de Sua Santidade e para os bispos a borla é de cor violácea; para os padres monsenhores Protonotários Apostólicos a borla é cor vermelha; o barrete branco dos cônegos premonstratenses e do Papa e o barrete vermelhos dos Cardeais não têm borla, mas em seu lugar um curto cordão, como o do solidéu. O acima mencionado Instituto Cristo Rei tem barrete com borla de cor azul para todos os membros.
Os eclesiásticos com título de Doutor podem usar, fora da Liturgia, o barrete com quatro palas.
Indicações comuns para um presbítero durante a Missa segundo a forma ordinária do rito
O uso do barrete não é igual à mitra, com a mesma dignidade e os mesmos detalhes. Vejam:
1. Após paramentar-se e rezar, cobre-se com o barrete e faz inclinação da cabeça ao crucifixo.
2. Quando chegar ao mais baixo degrau do altar para, descobre-se pegando o barrete com a mão direita na aba sobre a sua orelha direita, entrega-o ao ministro que o ajuda e faz inclinação profunda do corpo ao altar ou, se o sacrário estiver no altar, faz genuflexão sem soltar as mãos postas.
Mantém-se com a cabeça descoberta mesmo se tiver que aspergir a assembleia durante o ato penitencial, aos domingos e em outras ocasiões prescritas para isso.
. Quando sentar-se para a Liturgia da Palavra, o ministro lhe dá o barrete e com ele se cobre.
4. Durante o canto de aclamação ao Evangelho, levanta-se, mesmo se tiver que colocar incenso no turíbulo (Instrução Geral do Missal Romano, n. 131). Retira o barrete antes de rezar a oração Purificai os meus lábios ou de abençoar, se houver, o Diácono ou, também se houver, o concelebrante ir proclamar o Evangelho.
5. Após a proclamação do Evangelho, se faz ou não a homilia, cobre-se com o barrete.
6. Descobre a cabeça após a homilia e assim continua até depois de beijar o altar, ao fim da Missa: depois de abençoar o povo, recebe do ministro o barrete e o mantém à altura do peito, dirige-se ao altar, beija-o e só depois cobre-se, enquanto volta para a sacristia.
Outros eclesiásticos e o uso do barrete
Concelebrantes, bispos, outros padres, diáconos e seminaristas também podem usar o seu barrete: se participam das procissões inicial e final, cobrem a cabeça, e sempre que estiverem sentados.
O Bispo pode usar o barrete e o solidéu em missas de dias de semanas, nos quais não é obrigatório o uso da mitra. Assim, também ele faz as mesmas ações que um presbítero com o barrete, diferentes das ações com a mitra.