O protestantismo teve início no século XVI e hoje existe sob a forma de milhares de denominações independentes uma das outras.
Lutero era professor em Wittenberg, quando surgiu a questão das indulgências na Alemanha; e já havia a prevenção contra elas por causa de abusos de oficiais eclesiásticos. Lutero insurgiu-se contra o pregador das indulgências, Tetzel, em 31 de outubro de 1517, e afixou na porta da igreja de Wittenbergu, conforme o costume das disputas acadêmicas, uma lista de 95 teses em latim sobre as indulgências.
O surgimento das 95 teses de Lutero
Para Lutero, quando Deus declara o homem justo, não lhe está apagando os pecados, mas apenas resolve não os considerar, cobrindo-os com o manto da justiça ou da santidade de Cristo. Lutero baseava-se especialmente em Rm 1,17: “O justo vive pela fé”; por isso, desprezava a Carta de São Tiago que fala da importância das obras.
Essa doutrina era como que o “Evangelho” de Lutero. Era uma revolução dentro do Cristianismo. Lutero juntou a isso outras teses: a rejeição dos sacramentos, do sacerdócio ministerial, do sacrifício da Missa, da Tradição da Igreja e da hierarquia. Enfim, tudo aquilo que fazia a vida da lgreja católica.
As teses de Lutero espalharam-se rapidamente pela Alemanha e fora dela, chegando até Roma. A Santa Sé mandou o Cardeal Caetano a Augsburgo para ouvir Lutero (12-14/10/1518), mas não conseguiu demovê-lo de suas posições doutrinárias.
A ruptura com a Igreja
O brado de revolta de Lutero encontrou ressonância fácil entre os príncipes da Alemanha, que tinham antigos ressentimentos contra a Santa Sé por questões políticas. Entre os protetores de Lutero, começou a destacar-se o príncipe Frederico, o Sábio, da Saxônia.
Em 1519, houve, em Leipzig, uma famosa disputa pública, na qual Lutero expôs mais claramente sua doutrina: só é verdade religiosa aquilo que se pode provar pela Sagrada Escritura (princípio básico do protestantismo). Ele atacou o primado do Papa e desprezou a Tradição e o Magistério da Igreja. Então, em 1520, no dia 15 de junho, o Papa Leão X publicou a Bula Exsurge, que condenava 41 sentenças de Lutero e o ameaçava de excomunhão, caso não se submetesse dentro de 60 dias. Em dezembro desse mesmo ano, o frade queimou a Bula e um livro de Direito Eclesiástico em praça pública. O Papa excomungou formalmente Lutero em 3 de janeiro de 1521.
Lutero, então, convocou seus compatriotas alemães para se unirem a ele em três obras: o “Manifesto à Nobreza Alemã”, no qual exortava os príncipes a assumir a reforma da Cristandade, constituindo uma Igreja alemã independente; o “Cativeiro da Babilônia”, que considerava os sacramentos, regulamentados pela Igreja, como um cativeiro – só ficariam o batismo e a ceia operando pela fé do sujeito; e “A Liberdade Cristã”, que concebe a igreja como uma comunidade invisível, da qual só fazem parte os que vivem da verdadeira fé.
Em 1521, houve a Dieta de Worms, à qual Lutero compareceu na presença do Imperador Carlos V; recusou retratar-se e foi condenado à morte. Mas Frederico o Sábio escondeu o frade no Castelo de Wartburg, onde ficou dez meses (maio 1521 – março 1522) sob o pseudônimo de “Cavaleiro Jorge”. Começou, então, a tradução da Bíblia para o alemão a partir dos originais; foi completada em 1534. No castelo de Wartburg, Lutero sofreu crises nervosas violentas, que ele considerava como assaltos diabólicos.
Enquanto Lutero estava preso, a agitação crescia em Wittenberg; os clérigos casavam-se; a Missa era substituída pelo rito da Ceia do Senhor, em que se recebiam pão e vinho sem confissão prévia nem jejum eucarístico; as imagens dos santos eram removidas. Em 1525, Lutero casou-se com Catarina de Bora, monja cisterciense apóstata, e teve seus filhos.
Fim da vida de Lutero
Os últimos anos de vida de Lutero foram angustiosos para o reformador: além dos aborrecimentos e das decepções, ele sofria achaques corporais; se alastravam a indisciplina e a procura de interesses particulares nos territórios reformados; os príncipes dominavam as questões religiosas. Lutero depositava suas esperanças num próximo fim de mundo. Em 1543, escreveu ansioso: “Vinde, Senhor Jesus, vinde, que os males ultrapassaram a medida. É preciso que tudo estoure. Amém”. – Finalmente, morreu em 18 de fevereiro de 1546, em sua cidade natal de Eisleben. (D. Estevão Bettencourt)
As ideias e o movimento de Lutero tiveram seus ecos fora da Alemanha. Vários reformadores surgiram, partindo todos do mesmo princípio: a única fonte de fé é a Bíblia (Sola Scriptura), lida independentemente do Magistério da Igreja e da Tradição. Entre esses chefes destacam-se: Ulrico Zwingli (1484-1531), que pregou em Zürich (Suíça) e cujos seguidores sem demora se agregaram ao Calvinismo. Outro reformador notável foi João Calvino, em Genebra.
As ideias reformistas de Lutero não eram novas; ele teve vários precursores que defendiam as mesmas teses em séculos anteriores: John Giclê, na Inglaterra; João Huss, na Polônia; Jerônimo de Praga, Guilherme de Occan e outros.
Há um enorme intervalo histórico entre Jesus Cristo e as dominações protestantes; a seguir vê-se uma relação com as principais particularidades (Denominação, fundado, data e local onde surgiu):
– Igreja Católica: Jesus Cristo, ano 30 – Palestina
– Luterana: Martinho, 1517 – Alemanha
– Episcopal (Anglicana): rei Henrique VIII, 1534 – Inglaterra
– Reformada (Calvinista): João Calvino, 1541 – Suíça
– Menonita: Meamo Simons, 1550 – Holanda
– Presbiteriana: John Knox, 1567 – Escócia
– Congregacional: Robert Browee, 1580 – Inglaterra
– Batista: John Smith, 1604 – Holanda
– Quaker: John Fox, 1604 – EUA
– Metodista: John Wesley, 1739 – Inglaterra
– Mórmons: Joseph Smith, 1830 – EUA
– Exército da Salvação: Willian/Catarina Booth, 1885 – Inglaterra
– Ciência Cristã: Mary Backer, 1675 – EUA
– Pentecostais: Charles Parham, 1900 – EUA
– Testemunha de Jeová: Charles Taze Russel, 1916 – EUA
– Amigos do Homem: Alexandre Freytag, 1920 – Suíça
– Universal do reino de Deus: Edir Macedo, 1977 – Brasil
É muito comum encontrar pessoas que tiveram a graça de nascer em uma família católica, mas que ainda não fizeram uma opção consciente pela sua fé, achando que tanto faz pertencer a Igreja Católica ou a qualquer outra comunidade Cristã, mesmo que seja protestante.
No fim, toda essa doutrina protestante chega a um beco sem saída. Pois, se tudo o que é visível não passa de invenção dos homens, o que dizer das Escrituras que, tendo como autor último o Espírito Santo, têm, no entanto, autores verdadeiramente humanos, de carne e osso? O que dizer das Escrituras, que foram estabelecidas como verdadeiras justamente pela autoridade da Igreja Católica, como diz Santo Agostinho: “Ego vero Evangelio non crederem, nisi me catholicae Ecclesiae commoveret auctoritas – Quanto a mim, não acreditaria no Evangelho se não me movesse a isso a autoridade da Igreja Católica” ? Ora, cortar da árvore do Credo a fé na Igreja é serrar o próprio galho em que se está sentado.
Os protestantes creem que basta recorrer ao texto literal para se chegar à verdadeira interpretação da Bíblia. A experiência histórica comprova que esse método “realista” não funciona: milhares de protestantes ao redor do mundo interpretam de forma diferente as Escrituras. Para aceitar como verdadeiro o livre exame, ter-se-ia que admitir ou que Deus fala várias coisas divergentes entre si – o que não é possível – ou que todos, mesmo com opiniões contrárias, falam a verdade – o que é igualmente impossível. Por isso, o livre exame é muito difícil de se sustentar.
Enquanto eles olham para um Jesus distante e pensam que, quanto mais o tempo passa, menos precisos são seus apontamentos, nós, católicos, ao contrário, à medida que o tempo passa, temos cada vez mais certeza de nossa fé. Porque, ainda que os tempos, os lugares e os estilos mudem, uma só é a Palavra que sai da boca dos santos e doutores da Igreja: Jesus. De fato, nós cremos que a Palavra de Deus não é um livro, mas uma pessoa que “se fez carne e veio morar entre nós”. Cremos também que essa realidade da Encarnação continua na Igreja, que é o Corpo Místico de Cristo e o que garante a interpretação autêntica das Sagradas Escrituras.
Olhando para o organismo vivo da Igreja, para os seus Concílios e Papas, para a vida dos santos e todos os seus ensinamentos, é impossível não dirigir uma imensa ação de graças a Deus, por nos dar a graça de ser como anões no ombro de gigantes. Que alegria é ser católico e saber que não é preciso inventar um novo caminho, mas já existe um, deixado por Cristo e muito bem “pavimentado, iluminado e policiado” pelos santos da Igreja de Deus.
De fato, a verdadeira história da Igreja é feita por esses homens e mulheres que devotaram toda a sua vida à vontade de Deus. Muitos querem estudar a história eclesiástica, mas o fazem a partir das personagens corruptas e pecadoras, que foram justamente as primeiras a trair a Igreja. Ora, qualquer pessoa que se proponha a contar a história da própria família, fá-lo-á narrando os episódios de quem entregou o seu sangue por ela ou contando as histórias dos que a abandonaram? Quem se propõe a conhecer a arquitetura, começa estudando os prédios que caíram ou os que deram certo? Do mesmo modo, não se estuda a história da Igreja senão pela via dos santos e mártires, que entregaram a sua vida por ela
A religião protestante, no entanto, não acredita na santidade. Eles se recusam a crer que um ser humano possa se santificar em vida ou mesmo ser invocado após a sua morte, ignorando que nada, absolutamente, pode nos separar do amor de Cristo.
Uma só é a Igreja de Cristo. Não existem várias, apenas uma. Enquanto os próprios protestantes assumem que as congregações a que pertencem são meras fundações humanas, nós, católicos, cremos firmemente que a Igreja Católica é de instituição divina e que nenhuma das fragilidades e dos pecados dos homens pode macular a sua santidade real, concreta e visível nos Sacramentos e na doutrina e na vida de seus santos. E cremos que esse organismo vivo existe e continuará a existir até o fim dos tempos, porque “as portas do inferno não prevalecerão contra ela”.