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Vida na Graça

Estamos obrigados a amar os nossos inimigos?

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Sempre ao falarmos sobre os pecados graves, isto é, aqueles que nos tiram da graça de Deus, logo pensamos nos pecados contra a pureza, no descumprimento dos preceitos e na maioria das vezes esquecemo-nos que o maior dos mandamentos é o amor a Deus, ao próximo e a nós mesmos.

Mas no que consiste este amor? Atos interiores de benevolência e compaixão? Preces e súplicas por aqueles que amamos e também por aqueles que nos querem mal? Temos nós o direito de demonstrar mais estima e amor aqueles que nos querem bem e, de certa forma, ser menos benevolentes aos que nós querem mal?

Santo Afonso Maria de Ligório responde:

É certo que os inimigos devem de algum modo ser amados, já que são próximos. É a sentença de Santo Tomás e, com ele, comumente a de todos. Mas pergunta-se sobre o modo, e se pode-se ter ódio do inimigo. Respondo primeiro que qualquer homem, pelo menos o particular, é obrigado a exibir ao próximo, mesmo ao inimigo, sinais comuns de amor e benefício, por preceito. É obrigado a exibir sinais especiais, porém, apenas por conselho, a não ser que, de outra origem, surja uma razão de obrigação. Esta é a sentença comum que, com Laymann, procede de Santo Tomás. Digo sinais comuns, que são aqueles que, segundo Caetano, são devidos por um cristão a qualquer outro cristão em geral, a um cidadão por outro cidadão, a um parente por outro parente.

E consiste em pecado mortal negar estes benefícios aos nossos inimigos?

Negar estes sinais significa vingar uma injúria, o que não é lícito para nenhum particular.

E se não fazemos isso por amor desinteressado, por gratidão a Deus e reconhecimento de nossas misérias, afirma o Santo Doutor que tal gesto seria uma declaração externa de ódio:

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Digo também, a não ser que de outra origem surja uma razão de obrigação, a qual seria, por exemplo, o temor do escândalo devido à omissão, a esperança da salvação do inimigo, uma necessidade temporal ou espiritual, a deprecação da culpa e a exibição de sinais especiais de amor. A razão é que, nestes casos, a negligência destes sinais especiais seria uma declaração externa de ódio.

Sobre as orações, convivência e benevolência acrescenta Afonso:

Não é lícito também excluir o inimigo das orações comuns, por exemplo, a oração do Pai Nosso, e aquelas que são instituídas em favor da comunidade, nem das esmolas comuns, das respostas às saudações, das respostas às perguntas, da venda das mercadorias expostas, porque todas estas coisas são sinais comuns de amor. Por isto agir contra isto, como por exemplo, convidar todos os parentes, ou todos os conhecidos das vizinhanças ou do colégio e saudá-los como de costume, excluindo somente ao inimigo, é regularmente em seu gênero pecado mortal.

Instruídos claramente pelo Santo Doutor Afonso de Ligório, examinemos nossa consciência e, antes da próxima comunhão, procuremos nos reconciliar com nossos próximos para dar o amor que devemos a eles, consequentemente amando a Deus que, por grande amor por nós, nós oferece seu perdão mesmo que o traíamos milhares de vezes.

Fonte: Teologia Moral, Livro II, Tratado III, Capítulo II, Dúvida II, Santo Afonso de Ligório.

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