Existem as duas tradições: entenda o que é dito substancialmente por esse dogma fascinante
Uma das dúvidas mais frequentes no tocante ao dogma da Assunção de Nossa Senhora é esta: afinal, ela morreu biologicamente, como todos nós, antes de ser elevada aos Céus, ou não passou pela experiência da morte do corpo?
Vamos tentar entender por partes.
Para começar, o que é um dogma?
Na Igreja Católica, é entendida por “dogma” toda verdade de fé absoluta, definitiva, infalível, irrevogável e inquestionável, revelada por Deus mediante as Sagradas Escrituras ou a Sagrada Tradição, e que, uma vez proclamada como dogma pelo Magistério da Igreja, não pode mais ser revogada nem negada por quem quer que seja: nem sequer pelo Papa ou por um Concílio. Os dogmas, portanto, fazem parte indissociável da doutrina da Igreja.
A respeito de Nossa Senhora, especificamente, há 4 dogmas:
Leia nessa formação especial sobre os 4 Dogmas de Nossa Senhora
O que diz o dogma da Assunção de Maria?
Esta verdade da nossa fé nos afirma que Maria, Mãe de Jesus, foi glorificada em corpo e alma e levada ao Céu ao final da sua vida terrena.
O dogma foi promulgado em 1º de novembro de 1950, mediante a constituição apostólica Munificentissimus Deus, do Papa Pio XII. O documento pontifício afirma, “ex cathedra“:
“A Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial”.
Assunção é a mesma coisa que Ascensão?
Não. A palavra “assunção” quer dizer que Maria “foi assunta”, “foi assumida”, “foi tomada”, “foi levada” por Deus.
Já a palavra “ascensão” refere exclusivamente a Jesus Cristo, pois significa “subida”: Ele ascendeu aos Céus, subiu aos Céus, por Si mesmo, como Deus.
Mas, então: Maria morreu ou não morreu?
O documento pontifício não especifica se Maria morreu do ponto de vista biológico.
A esse respeito, entrevistado pela agência católica ACI Digital, o respeitado exorcista espanhol pe. José Antonio Fortea comenta que a ambiguidade na constituição apostólica é proposital: “Não foi coincidência; foi expressamente desejada“.
O cerne deste dogma, afinal, “é somente a Assunção“: ou seja, o que é declarado como verdade de fé é que Maria foi assunta por Deus aos Céus. Se ela havia morrido previamente, é uma questão secundária que não afeta o dogma em si: não há demérito algum em morrer, dado que faz parte da natureza humana, nem haveria impedimento algum para que Deus poupasse Maria da morte física, dado que é Deus.
De fato, as duas possibilidades eram levadas em conta pela tradição. Os cristãos orientais adotaram preponderantemente a interpretação chamada de “dormição da Virgem Maria“: para eles, Nossa Senhora havia dormido, não morrido, e assim foi assunta sem passar pela morte. Em paralelo, também havia a tradição segundo a qual Nossa Senhora tinha, sim, falecido fisicamente, conforme o fluxo natural da vida terrena.
O pe. Fortea conclui:
“Como não havia unanimidade nesse tema e o que os dogmas expressam é a fé, optaram por deixá-lo ambíguo. A Igreja não se opôs às pessoas que disseram uma coisa nem às que disseram outra, sem chegar nunca a esclarecer o tema”.
São João Paulo II, por exemplo, considerava que Nossa Senhora morreu, sim, antes de ser assunta. Na catequese de 25 de junho de 1997, ele afirmou:
“[O Papa Pio XII] não quis negar o fato da morte; apenas não julgou oportuno afirmar solenemente a morte da Mãe de Deus, como verdade que devesse ser admitida por todos os crentes. Refletindo sobre o destino de Maria e sobre a sua relação com o Filho divino, parece legítimo responder afirmativamente: dado que Cristo morreu, seria difícil afirmar o contrário no que concerne à Mãe”.
A substância da Assunção é descrita assim pelo Catecismo da Igreja Católica, em seu número 966:
“A Assunção da Santíssima Virgem constitui uma participação singular na Ressurreição do seu Filho e uma antecipação da Ressurreição dos demais cristãos”.
Assim sendo, tanto a tradição da dormição quanto a do falecimento coincidem na essência: por especial privilégio de Deus, Nossa Senhora não experimentou a corrupção do seu corpo, tendo sido assunta ao céu em corpo e alma para viver gloriosamente junto com Jesus.
A vida eterna com Deus é oferecida a todos os que forem salvos, mas, em nosso caso, passaremos normalmente pela morte e pela corrupção física do nosso corpo.
Nosso corpo, no entanto, será ressuscitado e tomará uma forma gloriosa, que não sabemos como será: trata-se de uma certeza de fé garantida por Deus, mas, nesta vida, o modo como ela se dará na eternidade permanece envolto no mistério.
Fonte: Aleteia