Categorias
Vida dos Santos

A santa que afugentou os muçulmanos

FacebookWhatsAppTwitterEmailCopy LinkShare

Um dia, os sarracenos sitiaram Assis e prepararam-se para invadir o convento de Santa Clara. Esta recorreu, então, ao Santíssimo Sacramento, por cuja força os infiéis, tomados de um medo súbito, puseram-se em fuga. Conheça essa e outras histórias da santa que hoje celebramos.

Santa Clara, fundadora da Ordem que leva seu nome, nasceu de pais ricos e piedosos, em Assis, no distrito italiano da Úmbria. Recebeu o nome de Clara, que significa clara ou luminosa, pela seguinte razão: certo dia, enquanto sua mãe, Hortulana, estava ajoelhada diante de um crucifixo, rezando para que Deus a ajudasse na hora do parto, ela ouviu as palavras: “Não tenhas medo. Darás à luz uma luz que iluminará o mundo inteiro.” 

Desde a mais tenra infância, a única alegria de Clara era a oração. Ela dava aos pobres todos os presentes que ganhava dos pais. Desprezava todas as roupas caras e todos os prazeres mundanos. Por baixo dos finos trajes que era obrigada a vestir, usava um grosseiro cilício. Comia tão pouco que parecia manter um contínuo jejum. 

Na mesma época vivia São Francisco, chamado “o Seráfico” por causa de suas grandes virtudes. Clara o visitava com frequência e lhe confiava seu desejo de renunciar ao mundo, consagrar sua virgindade a Deus e levar uma vida perfeita na mais completa pobreza. Vendo que, além de outros dons e graças, ela estava cheia do mais ardente amor a Deus, tinha uma grande inocência de coração e desprezava o mundo, São Francisco a encorajava a perseverar em seu santo propósito e, ao mesmo tempo, testava sua constância. 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Estando suficientemente convencido de que eram inspirados pelo Céu os desejos de Clara, recomendou-lhe sair de casa, o que ela fez no Domingo de Ramos. Dirigiu-se à igreja da Porciúncula, onde cortou o cabelo em sinal de que entraria para a vida religiosa. Despojou-se de todos os ornamentos femininos e, vestida com um traje penitencial, atado à cintura com um cordão, foi colocada por São Francisco num convento beneditino vazio. Tinha então apenas dezoito anos de idade. 

Quando seus pais souberam o que ela tinha feito, dirigiram-se às pressas ao convento a fim de levá-la de volta para casa, declarando que a escolha daquele estado de vida era apenas um capricho infantil, ou resultado da influência de outras pessoas. No entanto, depois de refutar os argumentos deles, Clara fugiu para a igreja e, agarrando-se ao altar com uma das mãos, desnudou com a outra a cabeça raspada e exclamou: “Sabei todos que não desejo outro noivo senão Jesus Cristo. Com plena consciência de minhas ações, eu o escolhi e jamais o deixarei.” Espantados com tal resposta, todos voltaram para casa, admirando a virtude e a piedade da jovem. Clara deu graças a Deus por essa vitória, que fortaleceu ainda mais sua decisão. 

Ela tinha uma irmã mais nova chamada Inês, que, poucos dias depois, também fugiu da casa dos pais e, indo ao encontro de Clara, quis vestir o mesmo hábito e servir a Deus da mesma forma. Santa Clara recebeu-a com alegria, mas, como todos os seus familiares se irritassem bastante por também ela ter entrado num convento, doze deles foram tirá-la à força dos braços da irmã. Enquanto a transportavam, Clara ficou e refugiou-se na oração. Depois, como que inspirada pelo Todo-Poderoso, correu atrás da irmã, chamando-a pelo nome em voz alta. Deus ajudou-a com o seguinte milagre: no meio do caminho, Inês ficou imóvel de repente, como se estivesse enraizada no chão, e ninguém tinha força suficiente para arrancá-la de onde estava. Reconhecendo nesse fato a poderosa mão de Deus, não se opuseram mais a ela, deixaram-na regressar ao convento e foram embora para suas casas. 

“Santa Clara segurando um ostensório com a Eucaristia”, por Frans Leux.

Enquanto isso, São Francisco havia reconstruído a antiga igreja de São Damião e comprado a casa vizinha, onde pôs suas duas primeiras filhas religiosas, Clara e Inês, às quais rapidamente se juntaram outras, desejosas de conformar-se à regra de vida dada a Clara por Francisco. Este foi o início da Ordem das Clarissas, que desde então tem dado ao mundo inúmeros exemplos brilhantes de virtude e santidade, para a salvação de milhares de almas. 

Santa Clara foi nomeada abadessa por São Francisco e desempenhou o cargo por 42 anos com sabedoria e perfeição admiráveis. A mãe e a irmã mais nova de Clara tomaram o hábito e submeteram-se ao seu governo. A santa abadessa impôs à sua Ordem a mais severa pobreza, e quando o próprio Papa lhe ofereceu como dote uma propriedade, humildemente, mas de modo sincero, ela a recusou. Era um luminoso exemplo de pobreza para todas que estavam sob sua responsabilidade. Na austeridade para consigo mesma, inspirava mais admiração do que imitação. O chão ou um feixe de palha lhe serviam de cama; um pedaço de madeira, de travesseiro. Duas vezes por ano, fazia um jejum de quarenta dias a pão e água. Para além disso, não comia nada em três dias da semana, e nos outros comia tão pouco, que chega a ser admirável que conseguisse sobreviver assim. Passava a maior parte da noite em oração, e era tão grande seu desejo de penitência, que São Francisco a obrigava a moderar suas austeridades. 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Cuidava dos doentes com o maior prazer, pois nessa obra de caridade encontrava oportunidade quase constante de mortificar-se e vencer a si mesma. Além de todas as outras virtudes, era particularmente notável por sua devoção ao Santíssimo Sacramento. Em algumas ocasiões, permanecia horas a fio imóvel diante do tabernáculo, e era frequentemente vista em êxtase, tão grande era seu amor pelo Salvador nele escondido. Em todas as provações e perseguições, só procurava consolo em Jesus. O acontecimento descrito a seguir ilustra bem a grandeza das graças que recebeu por causa dessa postura.

Os sarracenos sitiaram Assis e prepararam-se para escalar os muros do convento. Santa Clara, que então estava doente, pediu que a levassem até as portas do mosteiro. Levando um cibório com o Santíssimo Sacramento e prostrando-se junto com todas as suas religiosas, gritou em voz alta: “Senhor, não entregueis nas mãos dos infiéis as almas daqueles que vos reconhecem e vos louvam. Protegei e conservai as vossas servas que remistes com vosso precioso Sangue”. Foi possível ouvir nitidamente uma voz que dizia: “Eu sempre vos protegerei.” O desfecho do episódio provou que se tratava de uma voz do Céu. Os sarracenos, tomados de um medo súbito, puseram-se em fuga; os que já tinham escalado as muralhas ficaram cegos e atiraram-se ao chão. Assim foram protegidas Santa Clara e suas irmãs, e a cidade inteira foi salva da devastação total pela piedade e devoção da santa ao Santíssimo Sacramento. 

Teremos de omitir muitos milagres operados por Deus através de sua serva fiel, a fim de relatar o feliz término de sua vida. 

Ela havia completado sessenta anos de idade, 28 dos quais sofrera de várias enfermidades graves, embora não estivesse confinada à sua cama, ou melhor, ao seu feixe de palha. Era notável sua paciência no sofrimento, e jamais a ouviram queixar-se da gravidade ou duração de sua doença. Contemplar a Paixão de Cristo tornava-lhe fáceis e até agradáveis as suas próprias dores. Um dia ela disse: “Quão breves me parecem as noites, quando as passo contemplando os sofrimentos do Senhor!” Em outra ocasião, exclamou: “Como pode o homem queixar-se quando vê Cristo pendente na Cruz e coberto de sangue?” Tendo sofrido tanto tempo e com tão nobre resignação, viu, finalmente, que sua morte estava próxima. Recebeu o Santíssimo Sacramento e depois exortou todas as suas filhas a não abrandar o zelo de viver na pobreza e na santidade. Quando conversou com seu confessor sobre os méritos da paciência, ela disse: “Enquanto tive a graça de servir a Deus no estado religioso, nenhum cuidado, nenhuma penitência, nenhuma doença me pareceu difícil. Oh, como é reconfortante sofrer por amor a Cristo!” 

Ao aproximar-se a hora de sua morte, viu muitas virgens de vestes brancas indo ao seu encontro, e entre elas uma que superava todas as outras em beleza. Acompanhou-as e foi por elas levada para ver face a face o Todo-Poderoso. Muitos dos que sondaram as profundezas de seu coração disseram que ela morreu mais pelo fervor de seu amor a Deus do que pelos efeitos de sua doença. Morreu santamente em 1253. O grande número de milagres operados após a morte por sua intercessão, bem como as virtudes heroicas que a tornaram tão notável, levaram o Papa Alexandre IV, apenas dois anos depois, a inscrevê-la no número dos santos.

Considerações práticas

I. “Como pode o homem queixar-se quando vê Cristo pendente na Cruz e coberto de sangue?”, perguntava Santa Clara; e dizia também que as noites em que contemplava a Paixão de Nosso Senhor lhe pareciam curtas. Durante suas longas e dolorosas enfermidades, meditava sobre todos os sofrimentos que Jesus suportou para nos salvar e, por este meio, adquiriu tal resignação que não só não pensava em murmurar contra a divina Providência, como também suportava com grande consolação interior seus próprios sofrimentos. 

Observe seu Salvador crucificado e reflita: “O que é o meu sofrimento comparado àquilo que o meu Redentor suportou por amor a mim? Meu Jesus sofreu com paciência, com alegria e até com o desejo de sofrer ainda mais. Então, por que devo ser impaciente e ficar desanimado?” 

Anime-se com tais pensamentos, sobretudo à noite, pois é geralmente nessa hora que os sofrimentos aumentam. Lembre-se da noite amarga que seu Salvador passou na casa de Caifás, maltratado de todas as maneiras possíveis, e peça a graça de suportar com paciência e fortaleza a cruz que lhe foi imposta. Tente fazer isso uma só vez e encontrará grande alívio. São Gregório dizia com razão: “A lembrança dos sofrimentos de Cristo pode nos ajudar a suportar tudo com paciência, por pior que seja [a nossa provação].”

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

II. Além do amor ao Senhor crucificado, Santa Clara tinha uma grande devoção ao Santíssimo Sacramento. Dirigia-se a ele com todas as suas preocupações e nele encontrava força e conforto. 

Por que você não faz o mesmo? Se tivesse vivido na época em que Cristo era visível na terra e soubesse que Ele era verdadeiramente o Salvador, não o teria procurado, cheio de fé e confiança, com todos os seus problemas, pedindo-lhe as graças de que necessitava? Por que não faz isso agora? Aquele que está presente em nossas igrejas sob a forma de pão não é o mesmo que, em tempos passados, curava os doentes e não permitia que ninguém saísse desconsolado de sua presença? 

Sua fé lhe ensina: é o mesmo Jesus. Então, por que não se dirige a Ele com mais confiança? Por que não o procura para obter conforto e ajuda? Você fala tantas vezes das suas necessidades aos homens, que não querem ou não podem ajudá-lo. De que isso lhe serve? Ah! Vá à igreja, abra o seu coração diante do Salvador, mostre a Ele todas as suas angústias, e Ele o confortará. Sempre que estiver triste, ou estiver enfrentando uma adversidade ou tentação, dirija-se a Ele. Use na oração as mesmas palavras de Santa Clara: “Senhor, não entregueis aos demônios a alma de quem acredita em Vós. Protegei e guardai vosso servo, que comprastes com vosso precioso Sangue.” 

Não esqueça estas instruções aqui apresentadas. Siga a admoestação de São Paulo: “Aproximemo-nos confiadamente do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e de encontrar graça, para sermos socorridos em tempo oportuno” (Hb 4, 16). Este trono da graça, você o encontra no Santíssimo Sacramento. Recorra a Ele em todos os seus sofrimentos, e você encontrará conforto e auxílio.

Pe. Franz X. Weninger, S.J.

Tradução: Equipe Christo Nihil Præponere

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
FacebookWhatsAppTwitterEmailCopy LinkShare
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Clique aqui para fazer uma doação