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“L’Osservatore” responde sobre a nota doutrinal “Mater Populi fidelis”

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Correndo o risco de exagerar com aquele “de Maria nunquam satis“, mas exigido de certa forma pelos acontecimentos, transcrevemos primeiro o texto de um artigo publicado recentemente em “L’Osservatore Romano” (tradução do italiano pelo ChatGPT) Os destaques em negrito são meus.

“Sobre a nota doutrinal “Mater Populi Fidelis”.

O ícone da dissimilaridade

11 de novembro de 2025

por Antonio Staglianò*

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A questão do título “Corredentora”, levantada e esclarecida pela Nota doutrinal Mater Populi fidelis, não é uma simples disputa terminológica. É o sintoma de um fracasso da analogia. A linguagem humana, quando tenta falar de Deus e de sua obra, é obrigada a recorrer à analogia. Mas a analogia autêntica, sobretudo em teologia, não é uma semelhança cômoda; é um caminho na crista de um abismo, onde a dessemelhança é sempre maior do que a semelhança.

O instinto que leva a forjar o termo “Corredentora” é o mesmo que, aplicado de modo ingênuo, constrói uma analogia por semelhança: Maria se assemelha a Cristo na obra da salvação, portanto podemos chamá-la de “co-redentora”. É uma analogia que procura domesticar o mistério, torná-lo compreensível e controlável por meio de um paralelismo. Mas é justamente aqui que a analogia tradicional, se não for “invertida”, trai a si mesma e gera monstros teológicos.

A analogia por semelhança leva instintivamente (isto é, sem controle crítico) ao nascimento do “paralelismo salvífico”. O documento desmonta o título com precisão cirúrgica não porque Maria não coopere, mas porque o termo constrói uma imagem enganosa. A analogia por semelhança opera assim:

a) isola um ponto de contato (tanto Cristo quanto Maria sofreram pela nossa salvação; ambos foram associados ao evento redentivo);

b) estende a semelhança (se Cristo é Redentor, e Maria é semelhante a Ele nessa obra, então pode ser chamada “Corredentora”);

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c) minimiza a dessemelhança (nesse processo, a diferença abissal — Cristo age como Deus e Homem, fonte primeira e autônoma da graça; Maria age como criatura, redimida e transformada, canal derivado e subordinado — é nivelada. A dessemelhança torna-se um apêndice, uma nota de rodapé).


É assim que se constitui, quase instintivamente, um “percurso paralelo da salvação”. O documento alerta precisamente contra isso: “O perigo de obscurecer o papel exclusivo de Jesus Cristo […] não constituiria uma verdadeira honra para a Mãe” (n. 22). A analogia por semelhança, ao falhar em sua missão de guardar o mistério, acaba por criar uma diarquia na qual Maria já não é apenas a primeira dos redimidos, mas quase uma fonte complementar de redenção.

A “Corredentora” torna-se o ponto final de uma analogia mal aplicada.

A Analogia Invertida não nega a semelhança, mas a submete a uma conversão radical. Não parte da semelhança para depois acrescentar as diferenças, mas parte da dessemelhança constitutiva para ler, à sua luz, a única semelhança possível. É uma mudança de perspectiva epocal.

Aplicada ao papel de Maria na salvação, a Analogia Invertida nos pergunta:
a) qual é a dessemelhança absoluta e irrevogável? A unicidade de Cristo como Redentor. Ele é o “único Mediador entre Deus e os homens” (1Tm 2,5). Sua mediação é causal, fontal, hipostática (no sentido da união hipostática). Isso não é uma diferença de grau, mas de natureza. É o dado primário, inegociável;
b) à luz dessa dessemelhança, que tipo de semelhança é possível? A semelhança só pode ser participada, derivada, subordinada e, sobretudo, receptiva. Maria não “faz” algo semelhante ao que Cristo faz a partir de uma posição de paridade ou complementaridade. Ela recebe, de modo único e perfeito, a obra de Cristo e, em virtude dessa plenitude recebida, pode ser associada à sua difusão.

O documento é mestre nessa aplicação. Não diz: “Maria é semelhante a Cristo ao redimir, mas de modo subordinado”. Diz antes: “A única mediação do Redentor não exclui, mas suscita nas criaturas uma cooperação variada, participada de uma única fonte” (n. 28).

A semelhança (cooperação) é consequência e efeito da dessemelhança (única mediação). É uma ação que Cristo, em sua glória, “suscita”.
A semelhança de Maria não está em “redimir com” Ele, mas em ser a criatura moldada pela Redenção de modo tão total que se torna o sinal mais transparente de sua eficácia.


Através dessa lente, muitos trechos do documento revelam nova profundidade:

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A maternidade espiritual como semelhança “invertida”:
O título “Mãe” não é uma analogia fraca, mas a única semelhança possível após afirmar a dessemelhança. Cristo é o Filho Unigênito. Maria é mãe por adoção graciosa (“filha de teu Filho”, como lembra Dante). Sua maternidade para com os crentes não é um paralelismo com a geração eterna do Verbo, mas o fruto último dessa geração no tempo. É uma semelhança que existe somente dentro e por causa da dessemelhança trinitária.

A intercessão não é mediação paralela:
O documento distingue cuidadosamente a intercessão materna de Maria da mediação única de Cristo. A Analogia Invertida nos ajuda a ver isso: a intercessão dos santos (e de modo eminente de Maria) é uma semelhança possível apenas porque existe uma dessemelhança radical. Cristo intercede como Sumo Sacerdote a partir de dentro da Trindade, em virtude de seu sacrifício. Maria intercede como criatura redimida, cuja oração é eficaz não por poder próprio, mas porque “o próprio Cristo desdobra Sua glória em nossa pequenez” (n. 90).
A semelhança (rezar pelos outros) é tornada possível e poderosa somente pela dessemelhança (Ele é o Sacerdote, nós somos o templo).

A “Mediação Participada” é um oxímoro que confirma a regra:
A própria expressão “mediação participada”, usada no documento (n. 28), é um oxímoro que guarda o mistério. Se a mediação é por definição única de Cristo, falar de “mediação participada” é uma forma de dizer: “Existe uma semelhança tão profunda no ser canal de graça que podemos usar a mesma palavra, mas somente lembrando que aqui a dessemelhança é tão enorme que transforma o significado do termo”.
É o ápice da Analogia Invertida: a palavra “mediação” é usada, mas seu significado é invertido e purificado pela dessemelhança que o precede e o fundamenta.


Daqui brotam consequências necessárias para uma devoção purificada. Abandonar “Corredentora” não é uma perda, mas um ganho de profundidade. À luz da Analogia Invertida, Maria deixa de ser um “quase-Cristo” em um perigoso paralelismo salvífico. Torna-se, ao contrário, o Ícone da dessemelhança criatural diante de Deus.

Sua grandeza não está em “fazer” algo semelhante a Deus, mas em ser a criatura que, mais do que qualquer outra, consentiu em ser feita, em ser redimida, em ser preenchida. Seu “Fiat” não é um contrato de colaboração entre iguais, mas o sim total da criatura que se faz terra boa para que o Semeador divino realize sua obra única.
Seu estar aos pés da Cruz não é um “co-imolar-se”, mas o ato de fé mais profundo de uma mãe que, transpassada, acolhe o mistério insondável da Redenção operada somente pelo Filho.

A verdadeira devoção mariana, portanto, não é aquela que multiplica títulos para aproximá-la de Cristo, mas aquela que, contemplando sua incomparável beleza, é remetida com força ainda maior à unicidade absoluta do Salvador. Como recorda o documento, Maria é a Odēgētria, aquela que indica o Caminho. E o Caminho é um só: Jesus Cristo.

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Lida com a chave da Analogia Invertida, Mater Populi fidelis não é um documento restritivo, mas libertador. Ele nos liberta de uma linguagem aprisionada em semelhanças perigosas e nos convida a um salto qualitativo: da busca de paralelismos à contemplação silenciosa de um mistério assimétrico.
Deus não é um ser mais grandioso numa linha de continuidade conosco. É o Outro absoluto, a Fonte de todo ser, cujo agir nos alcança não por semelhança, mas por dom gratuito.
Maria, a “cheia de graça”, é a obra-prima desse dom. Honrá-la não significa elevá-la a um trono ao lado do de Cristo com títulos ambíguos, mas reconhecer nela a realização perfeita da vocação de toda criatura: ser um vaso, transparente e cheio, da única e insondável Misericórdia de Deus — tão diferente de nós.

Da próxima vez que formos tentados a buscar em Maria um reflexo de Cristo baseado na semelhança, lembremo-nos da Analogia Invertida. E, em vez de forçar a linguagem, detenhamos em silêncio diante desta Mulher, cuja grandeza está precisamente em não ser o Redentor, mas sua Discípula mais perfeita, sua obra-prima, e a Mãe que, mostrando-nos sua pequenez glorificada, nos indica o infinito abismo de Amor que é seu Filho.

*Bispo presidente da Pontifícia Academia de Teologia

Fonte: https://www.infocatolica.com/blog/praeclara.php/2511120315-l-osservatore-y-la-virgen?

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