Hoje é o Dia do Nascituro e, a este respeito, queria compartilhar umas breves anotações:
1. Nos últimos meses, a cultura da morte vem avançando como um cão feroz sobre os países da América Latina. A agenda pela legalização do aborto avançou na Argentina, no Chile, no México e em vários outros países, de modo menos expressivo, mas não menos incisivo.
2. Diante de tal avanço da destruição, não podemos nos limitar a um combate pró-vida apenas “celebrativo” ou “declarativo”, que encare o problema como se tudo fosse apenas uma questão de marcar posição pública em favor da vida, pois os agentes da cultura da morte não avançam por meio de manifestações dessa natureza, mas através de produção intelectual altamente especializada e de pressões políticas muito fortes e abrangentes.
3. Reduzir a questão pró-vida a uma mera posição moral (e até romanticamente moralista) é simplesmente não entender as dimensões do problema. Não podemos cair no engodo de descontextualizá-la da sua intrínseca dimensão política: a cultura da morte progride pela força de ideologias que lhe oferecem um suporte intelectual coerente, um conjunto de militantes articulados e um conjunto de ações políticas muito bem determinadas e protagonizadas por agentes claros. Emprestar a causa pró-vida para ideologias políticas pró-morte é apenas reduzir a pauta da luta contra o aborto a um item secundário, artificial, facultativo e marginal no contexto de uma agenda mais ampla que, na realidade, é subserviente às forças que se valem da ampliação do aborto como sua mola propulsora.
4. Todo pró-vida um dia pensou que o aborto fosse apenas mais um dentre os problemas morais do nosso século, inclusive eu. Aos poucos, fui percebendo que a política pela ampliação do aborto pressupõe uma nova antropologia que reduz o ser humano a uma força impessoal no sistema econômico e que a sua imposição insere toda a história humana numa situação tão dramática quanto imprevisível.
5. Toda oposição ao aborto que não esteja baseada em estudo sério, em um posicionamento político inequívoco e num conjunto de ações muito conscientes, é somente uma oposição inofensiva, daquelas que as fundações que promovem a cultura da morte até desejam, pois cria aquele cenário de um debate aparentemente democrático, que lhes dará o favor da vitória, com o preço de milhões de vidas sacrificadas e de todas as sociedades mundiais deformadas estruturalmente.
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