SANTO DO DIA – 12 DE JULHO – SANTOS LUÍS E ZÉLIA MARTIN
“Ele era relojoeiro; ela rendeira: de origem burguesa, santos por eleição. São eles: Luís Martin (1823-1894) e Zélia Guérin (1831-1877) os pais de Teresa do Menino Jesus. É o segundo casal de esposos depois de Luís e Maria Beltrame Quattrocchi, beatificados em 2001 por João Paulo II que é elevado às honras dos altares.
Ambos eram filhos de militares e foram educados num ambiente disciplinado, severo, muito rigoroso e marcado por um certo jansenismo ainda rastejante na França da época. Os dois receberam uma educação de cunho religioso: nos Irmãos das escolas cristãs, Luís; nas Irmãs da adoração perpétua, Zélia. Ao terminar os estudos, no momento de escolher o próprio futuro, Luís orientou-se para a aprendizagem do ofício de relojoeiro, não obstante o exemplo do pai, conhecido oficial do exército napoleónico. Zélia, inicialmente, ajudava a mãe na administração da loja de família. Depois, especializou-se no “ponto de Alençon” na escola que ensina a tecer rendas. Em poucos anos os seus esforços foram premiados: abriu uma modesta fábrica para a produção de rendas e obteve um discreto sucesso.
Ambos nutrem desde a adolescência o desejo de entrar numa comunidade religiosa. Ele experimentou pedir para ser admitido entre os cónegos regulares de Santo Agostinho do hospício do Grande São Bernardo nos Alpes suíços, mas não foi aceite porque não conhecia o latim. Também ela tenta entrar nas Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, mas compreende que não é a sua estrada.
Durante três anos Luís vive em Paris, hóspede de parentes, para aperfeiçoar a sua formação de relojoeiro. Naquele período foi submetido a muitas solicitações por parte do ambiente parisiense impregnado de impulsos revolucionários. Aproximou-se até de uma associação secreta, mas afastou-se imediatamente. Insatisfeito com o clima que se respirava na capital, transferiu-se para Alençon, onde iniciou a sua actividade, conduzindo até à idade de 32 anos um estilo de vida quase ascético.
Entretanto, Zélia, com a receita da sua empresa, manteve toda a família, vendendo rendas para a alta sociedade parisiense. O encontro entre os dois acontece em 1858 na ponte de São Leonardo em Alençon. Ao ver Luís, Zélia percebeu distintamente que ele seria o homem da sua vida.
Após poucos meses de noivado, casam. Conduzem uma vida conjugal no seguimento do Evangelho, ritmada pela missa quotidiana, pela oração pessoal e comunitária, pela confissão frequente, pela participação na vida paroquial. Da sua união nascem nove filhos, quatro dos quais morrem prematuramente. Entre as cinco filhas que sobreviveram, está Teresa, a futura santa, que nasceu em 1873. As recordações da carmelita sobre os seus pais são uma fonte preciosa para compreender a sua santidade. A família Martin educou as suas filhas a tornar-se não só boas cristãs mas também honestas cidadãs. Aos 45 anos Zélia recebe a terrível notícia de que tinha um tumor no seio. Viveu a doença com firme esperança cristã até à morte ocorrida em Agosto de 1877.
Com 54 anos, Luís teve que se ocupar sozinho da família. A primogénita tem 17 anos e a última, Teresa, tem 4 e meio. Então, transferiu-se para Lisieux, onde morava o irmão de Zélia. Deste modo, as filhas receberam os cuidados da tia Celina. Entre os anos de 1882 e 1887 Luís acompanhou as três filhas ao carmelo. O sacrifício maior para ele foi afastar-se de Teresa que entra para as carmelitas com apenas 15 anos. Luís foi atingido por uma enfermidade que o tornou inválido e que o levou à perda das faculdades mentais. Foi internado no sanatório de Caen. Morreu em Julho de 1894″
Conheça mais sobre São Luís e Santa Zélia
São Luís Martin e Santa Zélia Guérin, pais de Santa Teresa de Lisieux, foram o primeiro casal a ser canonizado em uma mesma cerimônia na história da Igreja.
“Os santos esposos (…) viveram o serviço cristão na família, construindo dia após dia um ambiente cheio de fé e amor; e, neste clima, germinaram as vocações das filhas, nomeadamente a de Santa Teresinha do Menino Jesus”, disse o Papa Francisco em 18 de outubro de 2015, durante a Missa canonização.
A família, depois de dezenove anos de matrimônio, ante à crise econômica que afligia a França, querendo garantir o bem-estar e o futuro a seus filhos, encontrou a força para deixar a cidade francesa de Alençon e se mudar para Lisieux.
Luís Martin trabalhou como relojoeiro e joalheiro, e Zélia Guérin como pequena empresária de uma oficina de bordado. Junto com suas cinco filhas, deram seu tempo e seu dinheiro a fim de ajudar os mais necessitados.
Luís Martin nasceu em Bordeaux (França) em 1823 e faleceu em Arnières-sur-Iton (França) em 1894. Enquanto Maria Zélia Guérin nasceu em San Saint-Denis-Sarthon (França) em 1831 e faleceu em Alençon (França), em 1877.
Ambos foram pessoas devotas desde muito jovens. Durante sua juventude e antes de se conhecerem, Maria Zélia queria levar uma vida religiosa no mosteiro das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, enquanto Luís Martin sentia o mesmo desejo de dedicar sua vida a Deus e foi para o mosteiro do Grande São Bernardo.
Nenhum dos dois foi aceito, uma vez que Deus tinha outro plano para eles.
Os jovens se conheceram e o entendimento foi tão rápido que se casaram em 13 de julho de 1858, apenas três meses após seu primeiro encontro.
Levaram uma vida matrimonial exemplar: missa diária, oração pessoal e comunitária, confissão frequente, participação na vida paroquial.
De sua união, nasceram nove filhos, quatro dos quais morreram prematuramente.
Entre as cinco filhas que sobreviveram estava Santa Teresinha, a futura santa padroeira das missões, que é uma fonte preciosa para a compreensão da santidade de seus pais: educavam suas filhas para serem boas cristãs e cidadãs honestas.
Quando sua esposa Zélia morreu em 1877, Luís se viu sozinho para seguir adiante com sua família e suas filhas pequenas. Mudou-se para Lisieux, onde morava o irmão de Zélia; deste modo, a tia Celina pôde cuidar das filhas.
Entre 1882 e 1887, Luís acompanhou três de suas filhas para o Carmelo. O maior sacrifício foi se separar de Teresa, que entrou no Carmelo aos 15 anos e iniciaria seu caminho para a santidade.
No convívio de um lar verdadeiramente cristão, como o da família Martin, a caridade ensinada pelos Evangelhos exala um suave e inigualável perfume.
Cada língua conta em seu acervo cultural uma plêiade de poetas, dos quais pelo menos um dedicou sua inspiração para cantar a beleza e a candura da inocência infantil, dos primeiros e dourados anos de existência, que a todos nós apraz evocar. No idioma português, por exemplo, Casimiro de Abreu explicitou essa nostalgia no seu famoso poema “Meus oito anos”:
Oh! Que saudades que tenho / Da aurora da minha vida, / Da minha infância querida / Que os anos não trazem mais! / (…) / Como são belos os dias / Do despontar da existência! / Respira a alma inocência / Como perfumes a flor.
Na verdade, porém, uma boa parte das doces lembranças da infância deve-se ao fato de ser ela a fase de nossa vida na qual, pequenos e indefesos, entretanto nos sentíamos seguros, pois estávamos bem protegidos pela guarda de um homem que nos parecia um herói, nosso pai, e sob as asas de alguém que tinha algo de anjo e de fada, nossa mãe…
Não são essas, afinal, as primeiras recordações do que é uma família?
Para saber o que significa a ausência desta, basta mencionar a palavra “órfão”, com tudo quanto evoca de melancólico a imagem de uma criança que perdeu, ou nunca sentiu, a ternura de um pai ou de uma mãe.
Além disso, para nós católicos, o conceito de família transpõe os limites do mero e natural amor humano. Elevada ao patamar sobrenatural pelo sacramento do Matrimônio, ela é o primeiro “catecismo” onde as almas batizadas sorvem os influxos fundamentais da vida espiritual, e no convívio de um lar verdadeiramente cristão a caridade ensinada pelos Evangelhos exala um suave e inigualável perfume.
Pais santos, que pedem a Deus filhos santos
Mas, por que comentar este assunto só em teoria, quando podemos nos deleitar com a história de uma família real, e próxima aos nossos dias?
Vamos percorrer as encantadoras ruas de uma cidadezinha francesa, em fins do século XIX. Detendo-nos diante de uma bela casa algo parecida com um pequeno palácio e cometendo a indiscrição de olhar pela janela, veremos uma delicada jovenzinha a escrever. Seu nome é Paulina Martin e sua carta será publicada em diversos livros. Vejamos o comentário que ela faz a respeito de seus próprios pais: “Eu sempre os considerei como santos. Estávamos penetradas de respeito e admiração por eles. Por vezes perguntava-me a mim mesma se poderia haver outros semelhantes a eles sobre a terra”.
E qual era o pensamento desses pais a respeito de suas cinco filhas? Quais eram seus planos em relação a elas? Vejamos o eloqüente e terno testemunho da mãe, numa carta por ela escrita à sua filha Paulina, mencionada acima: “Este ano hei de ir (no dia 8 de dezembro), bem cedinho, ter com a Santíssima Virgem. Quero ser a primeira a chegar. Não Lhe pedirei mais filhinhas; rogar-Lhe-ei somente que faça santas as que me deu, e que eu não lhes fique muito atrás; mas é necessário que elas sejam bem melhores do que eu”.
Esses dois curtos trechos de cartas já nos permitem entrever o suave e virtuoso relacionamento reinante nessa boa família.
Prodigioso zelo para proteger a inocência das filhas
Ajudado pelas imagens que ilustram estas páginas, o leitor já terá facilmente identificado o ambiente familiar ao qual nos estamos referindo: aquele em que nasceu, cresceu e se formou Santa Teresinha do Menino Jesus, padroeira das missões e doutora da Igreja.
Com efeito, do casamento de Luís Martin e Zélia Guérin – 13 de julho de 1858 – floresceram nove lírios de alva inocência. Quatro deles, o Senhor os colheu na tenra infância, os outros cinco haveriam de ser transplantados ao silencioso e recolhido ambiente religioso para ali destilar os mais intensos perfumes de virtude. Entre esses, a jovem santa, consagrada a Deus aos 15 anos, como carmelita descalça.
“Abri as Escrituras e ali vereis que, quando os pais foram santos, também o foram os filhos”. Bem se aplica à Família Martin esta sábia sentença do Santo Cura D´Ars. Assim sucedeu com esse virtuoso casal, cujas heróicas virtudes a Igreja já reconheceu oficialmente, e que caminha para a glória dos altares: adornaram o firmamento da Igreja com luminosas e cândidas estrelas. Com um prodigioso zelo, Luís e Zélia custodiavam a inocência de suas cinco filhas – Maria Luísa, Paulina, Leônia, Celina e Teresinha – mantendo sempre no lar um ambiente intensamente cristão.
O exemplo dos pais é insubstituível na educação dos filhos
Sirva de exemplo um trecho das memórias de Paulina (mais tarde Madre Inês de Jesus, religiosa carmelita como Teresa). Conta-nos ela, enternecida, a respeito de sua querida mãe:
“Quando pequenina, mamãe punha- me sobre seus joelhos e contava-me histórias da vida dos Santos. Certa vez, disse-me que no Céu somente as virgens seguiriam por toda parte Jesus, sob a forma de Cordeiro sem mancha; seriam coroadas de rosas brancas e cantariam um cântico que outros não poderiam cantar. Eu lhe disse, então, que haveria de ser virgem, com uma bela coroa branca, e perguntei-lhe de qual cor seria a sua, pois ela me fizera notar que as pessoas casadas não teriam coroa branca. Respondeu-me que seria, sem dúvida, uma coroa de rosas vermelhas.”
A respeito do Sr. Luís Martin, podemos recolher abundantes testemunhos de sua “rainhazinha”, como ele chamava a encantadora Teresa, a quem amava com especial ternura por ser a mais nova, órfã de mãe já nos primeiros anos de infância. Na verdade, Teresinha aprendeu a amar a Igreja sentada no colo de seu “rei”. Conta-nos ela em suas memórias, a “História de uma Alma”, seus encantos com seu amado pai:
Aos domingos, na Missa, “quando o pregador falava de Santa Teresa, papai inclinava-se para mim, dizendo baixinh o: ‘Escuta, minha rainhazinha, ele fala de tua santa padroeira´. Eu escutava, com efeito, mas olhava mais vezes para papai que para o pregador. Sua bela fisionomia dizia-me tantas coisas! Por vezes, seus olhos se enchiam de lágrimas, as quais ele em vão se esforçava por reter; não parecia mais ser da terra, de tal modo sua alma gostava de mergulhar nas verdades eternas.”
Bem sabia o Sr. Martin que o exemplo vivo dos pais é insubstituível na educação dos filhos nas vias da santificação. Estimular o amor a Deus, a freqüência aos Sacramentos, a proximidade espiritual com a Igreja, é um meio pelo qual os progenitores exercem sobre a prole seu sacerdócio real, recebido no Batismo. Desta sorte, deitam fundo no coração dos filhos a vivência da espiritualidade cristã, gravando em suas almas uma marca que nem o tempo nem as circunstâncias da vida poderão apagar.
Uma verdadeira obra de ourivesaria
Santa Teresinha recorda, comovida, a nobre alma de seu pai e o carinho com que ele a envolveu, depois da partida de sua mãe para o Céu:
“Após a morte de mamãe, meu bom caráter mudou completamente, tornei-me sensível ao excesso. Um olhar bastava para desfazer-me em lágrimas. Entretanto, o coração terno de Papai unia ao amor que ele já possuía um amor verdadeiramente maternal! (…) Aos domingos, como me era doce sentar- me com Celina sobre os joelhos de Papai! Ele cantava com sua bela voz cânticos que enchiam a alma de pensamentos profundos, ou então, embalando- nos docemente, recitava poesias impregnadas das verdades eternas. Em seguida, subíamos para fazer a oração em comum e a Rainhazinha ficava só junto com seu Rei; bastava olhá-lo para saber como rezam os santos.”
Neste ambiente de sublime candura, a pequena Teresa foi sendo preparada para a elevada missão para a qual havia sido escolhida pela Providência. Ela e suas quatro irmãs, todas consagradas a Deus, foram pedras preciosas cuidadosamente buriladas no atelier familiar dos Martin.
Descobrir os pequenos defeitos dos filhos e os ir corrigindo, estimular suas boas aspirações de alma, em suma, ensinar com empenho, delicadeza e tato o caminho da perfeição – é esta a verdadeira obra de ourivesaria digna de pais cristãos. Nos “Manuscritos Autobiográficos”, Santa Teresinha dá testemunho de como sua querida mãe e seu “Rei” tiveram essa especial dedicação por sua alma: “Com uma natureza como a minha, se tivesse sido educada por pais sem virtudes, ter-me-ia tornado bem má, talvez me perdendo. Mas Jesus velava por mim, Ele queria que tudo revertesse em meu bem, mesmo os meus defeitos, os quais, cedo reprimidos, me serviriam para adiantar-me na perfeição”.
Estas palavras repassadas de gratidão e humildade, e escritas por uma santa tão singular, não deixam dúvida de quanto seus pais foram exemplares e exímios na tarefa de brunir o precioso brilhante que era a alma de sua filha. E que belo fruto alcançaram!
Um estímulo a todas as famílias do mundo
Edificados por um tão claro exemplo como o da família Martin, esperamos que todos os lares aos quais chegue esta pequena resenha possam deleitar-se com sua leitura e deixar-se envolver por este suave aroma do amor familiar cristão.
Seguir o caminho trilhado por Luís e Zélia Martin, longe de ser algo impossível, está ao alcance de todos os casais que queiram abrirse à luz da Igreja e à mensagem de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Que o exemplo do casal Martin e suas filhas sirva de estímulo às famílias do mundo, para que abram seus ouvidos ao palpitar da Igreja, em especial às palavras do Vigário de Cristo na terra, ponham mãos à obra e saibam dar o testemunho da grande alegria e felicidade de viver em família com Cristo e Maria. ²
(Revista Arautos do Evangelho, Agosto/2006, n. 56, p. 36 à 38)