Dom Wellington Vieira, Bispo de Cristalândia (TO), falou aos jornalistas sobre as discussões do Sínodo a respeito da crise de vocações sacerdotais na região amazônica
Nesta quarta-feira, 16, iniciou-se o segundo ciclo de reuniões dos círculos menores do Sínodo para a Amazônia. Nessa etapa, os grupos linguísticos aprofundam os temas debatidos nas intervenções feitas durante as congregações gerais.
Na sexta-feira, 18, começarão os trabalhos da comissão de redação do Documento Final do Sínodo, que apresentará um projeto de texto para ser debatido ao longo da próxima semana, a última de Assembleia Sinodal.
Durante a coletiva de imprensa desta quarta-feira, o Bispo de Cristalândia (TO), Dom Wellington Tadeu de Queiroz Vieira, apresentou aos jornalistas o conteúdo de sua intervenção feita na Sala do Sínodo, a respeito do tema da falta de sacerdotes na região amazônica.
“Diante do tema do sacerdócio, nós temos ideias divergentes, porque é um tema concreto não só na Amazônia, como em outras partes do mundo. A Europa, por exemplo, tem visto, nos últimos anos, a redução do número de presbíteros”, explicou o Bispo.
Dom Wellington afirmou que os padres sinodais apresentaram diferentes soluções, como a da ordenação de homens casados, os viri probati, questão que teve bastante destaque nos meios de comunicação.
O Bispo reconheceu que, embora não exista um empecilho bíblico ou teológico para que a Igreja tome tal decisão em algum momento da história, ele não vê no celibato a maior causa para a falta de sacerdotes. “Certamente, o maior problema é a nossa incoerência, é a nossa infidelidade, são os escândalos, a falta de santidade que, muitas vezes, por meio dos ministros ordenados, tornam-se um impedimento para que os jovens decidam seguir esse caminho”, afirmou.
PERFUME DE CRISTO
“O Papa tem dito, muitas vezes, que devemos nos aproximar das pessoas e adquirir no nosso ser os ‘cheiro das ovelhas’, o que significa proximidade. Mas sabemos que, muitas vezes, adquirimos o cheiro das ovelhas, mas não passamos a elas o perfume de Cristo, a verdadeira mensagem”, acrescentou Dom Wellington, destacando que, com muita facilidade, os evangelizadores podem se tornar anunciadores de si mesmos, com um comportamento que afasta as pessoas de Jesus.
O Bispo de Cristalândia reconheceu que a Igreja na Amazônia precisa de novos caminhos, mas enfatizou que esses não podem prescindir da necessidade de “um caminho de santidade e de conversão”. “Temos que olhar para a nossa Igreja e, antes de pensar no que os outros devem mudar, temos que pensar no que nós devemos mudar”, disse.
TESTEMUNHO
Nesse sentido, Dom Wellington salientou que o principal instrumento de despertar vocacional é a santidade dos atuais evangelizadores. “Eu tenho a certeza que tendo uma vida santa, não terei falta de ministros ordenados em minha Igreja particular”, garantiu.
“Muitos jovens, com todas as ofertas do mundo contemporâneo, estão perdidos, procurando valores nos quais se apoiar, sedentos de bons exemplos e de santidade. Nós temos a obrigação de oferecer esses valores a eles”, reforçou o Prelado.
VERDADEIRA SANTIDADE
O Bispo salientou, ainda, que existe uma ideia deturpada de santidade, deslocada do mundo, que apenas olha para o céu. Ele destacou que a verdadeira santidade é a “da simplicidade de vida, da abertura ao diálogo, do respeito às diferenças, do inquebrantável anúncio da esperança cristã, da capacidade de se compadecer dos que sofrem, da inegociável decisão de amar; a santidade comprometida com as transformações sociais, sem perder referência ao transcendente”.
“Não posso acreditar que Jesus tenha perdido o seu poder de atração. Na realidade, muitas vezes, temos sido o obstáculo”, completou.
CONSCIÊNCIA MISSIONÁRIA
Outro ponto que Dom Wellington fez referência é o da má distribuição dos presbíteros do ponto de vista territorial. “Temos, sim, falta de sacerdotes, mas isso poderia ser amenizado, se nós tivéssemos uma melhor distribuição”, afirmou, destacando que na própria América Latina, há regiões com grande número de padres.
Para isso, o Bispo afirmou que é preciso haver um espírito missionário para ir para as áreas de fronteira, trabalhando especialmente na formação dos futuros padres a fim de despertar uma maior consciência missionária.