A devoção a Nossa Senhora, sob o título do Bom Remédio (ou dos Remédios, do Remédio), teve origem na Ordem da Santíssima Trindade, que foi herdada do Fundador São João da Matha, morto em Roma em 17 de dezembro de 1213.
Os seus filhos por causa de suas obras árduas e multiformes que iriam enfrentar, necessitavam de uma ajuda poderosa que só a Mãe Celeste podia conceder.
Acolhendo assim a preciosa herança, embelezaram com quadros e altares em honra da Mãe do Bom Remédio todas as próprias igrejas, e de tal forma difundiram a devoção que na batalha naval de Lepanto (1571), quando a sorte da Igreja foi salva do furor e do ódio dos turcos, o generalíssimo Dom João da Áustria quis confiar a si mesmo e a frota à proteção da Mãe do Bom Remédio, como atestam em suas bulas os papas São Pio V – 05 de março de 1572 – e Gregório XIII – 03 de dezembro de 1575.
“Os frades [trinitários], para crescer quotidianamente na santidade e produzir frutos mais abundantes de apostolado, nutrem pela Virgem Maria sentimentos de piedade filial e de verdadeira devoção, e fomentem o seu culto, venerando-a, segundo a antiquíssima tradição da Ordem, sob o título de Bem-aventurada Virgem Maria do Bom Remédio, padroeira principal da nossa Ordem, recitando o rosário e celebrando o Sábado, segundo as rubricas, a Missa votiva e a Liturgia das Horas.” (Constituições dos Frades da Ordem da Santíssima Trindade N° 52).
Origem da Invocação
Conforme a tradição, o terceiro ministro geral da ordem trinitária, frei Guilherme o Escocês (+1222), foi o primeiro a inculcar o culto mariano com este título, apesar de que alguns escritores atribuam ao Fundador da Ordem da Santíssima Trindade, São João da Matha, a origem de tal invocação.
“Do Remédio”, “do Resgate”, ” da Libertação”
Na linguagem medieval, os verbos “redímere” e “remediare” e os substantivos “redémptio” e “remédium”, tinham um significado similar: redimir, resgatar; resgate, remédio (com o sentido de salvação, libertação). Isto explica porque, nos escritos dos séculos XVI-XVII, se dão à padroeira os três títulos: “do Remédio”, “do Resgate”, ” da Libertação”.
A representação mais antiga hoje conservada é uma imagem românica, que pertenceu à primeira casa dos trinitários em Marselha: a Virgem está sentada, com o Menino no braço esquerdo e com a bolsa de dinheiro no direito.
A bolsa alude, como relatam muitos biógrafos, à aparição e ao socorro dado por Nossa Senhora a S. João da Matha quando, em Túnis e em Valência (Espanha), atormentado pelos muçulmanos que exigiam o preço duplicado por escravos já resgatados, sob ameaça de reconduzi-los em prisão, tendo-lhe suplicado fervorosamente como Mãe do Bom Remédio, foi por Ela miraculosamente provido.
Patrona da Ordem dos Trinitários
O Capítulo Geral da Ordem Trinitária de 1230, celebrado em Cerfroid, ratificou a veneração da Virgem Maria como patrona da Ordem. É, sobretudo, a partir do século XV que se desenvolve uma crescente atenção pela Virgem do Bom Remédio (ou do Remédio), a cuja invocação se dedicam igrejas, altares e confrarias, etc.
O Capítulo Geral de 1688 mandou venerar a Virgem como padroeira com o título “do Remédio”, dedicando-lhe em cada convento um altar e celebrando sua festa a 7 de outubro, com sermão e particular solenidade. Em 1921, frei Xavier da Imaculada, Ministro Geral dos Trinitários, proclama o patrocínio da Virgem do Bom Remédio sobre toda a Ordem Trinitária; e este dado se inclui nas Constituições da Ordem de 1933. Com a Carta Apostólica “Sacrarium Trinitatis”, do dia 10 de março de 1961, o papa João XXIII deu caráter oficial na Igreja a este título e patrocínio.
Maria: Modelo, Guia, Mãe
Na Família Trinitária, Maria é vista, por um lado, como modelo e guia de uma vida totalmente consagrada a Trindade; e, por outro, como modelo, guia e mãe providente de um apostolado evangélico orientado aos pobres e aos cristãos perseguidos.
O trinitário a contempla e a abraça em sua condição de “trinitária” perfeita e de mãe “co-rendentora” unida a Cristo.
Ele se confia à sua “mediação” maternal para ser configurado com Cristo trinitário-redentor e entregar-se ao pobre e ao oprimido com o espírito do “Magníficat”.
Santo Agostinho: solícita, atenciosa
“Santo Agostinho afirma, que sendo a Virgem mais santa que todos os santos, é também mais solícita e mais atenciosa que todos eles nas nossas provas.
Então, tu que tens tantas necessidades espirituais e temporais, em casa e na família, aproxima-te desta Senhora que é Mãe do Bom Remédio e dize-lhe: Senhora, vem em meu auxílio; obtém o perdão dos meus pecados, o aumento de minhas virtudes, a saúde na enfermidade, o remédio nas tantas necessidades que tenho em minha vida terrena e sobretudo, Senhora, te peço, assegura-me a salvação eterna e que possa te ver no céu para amar-te mais do que tenho te amado neste mundo”.
Nossa Senhora do Bom Remédio no Brasil
A solenidade de Nossa Senhora do Bom Remédio, Mãe e Padroeira da Família Trinitária, se celebra em toda a Ordem a 8 de outubro. No Brasil, Nossa Senhora do Bom Remédio é mais conhecida com o título de “Nossa Senhora dos Remédios”.
Segundo o livro “Invocações da Virgem Maria no Brasil” de Nilza Botelho Megale, esta invocação, de sabor tipicamente colonial, era muito popular na velha Lusitânia, principalmente nas cidades de Santarém e Lamego.
Foi introduzida em Portugal por religiosos franceses da Ordem da Santíssima Trindade para a redenção dos cativos, que estiveram em Lisboa no início do século XIII.
A Ordem se espalhou pela Europa, de maneira especial pela Península Ibérica (parte da qual era ocupada e dominada pelos muçulmanos) e até o século XVIII já havia libertado 900.000 escravos.
Os frades Trinitários, com suas Confrarias e os devotos, se empenhavam na difusão de suas devoções específicas e assim trouxeram para o Brasil o culto da Virgem dos Remédios, em honra da qual ergueram capelas em várias províncias do Nordeste (Maranhão, Pernambuco e Bahia) e nas regiões barrocas de Minas Gerais .
Ainda hoje se encontram capelas, igrejas, paróquias dedicadas a Nossa Senhora dos Remédios. Contudo, os mais famosos Santuários do Brasil dedicados a esta invocação foram: Paraty, São Paulo e Fernando de Noronha.
Em Paraty, sua primeira igreja foi edificada em 1646 num terreno doado por Maria Jácome de Melo, sob a condição de que fosse dedicada à invocação de Nossa Senhora dos Remédios, da qual era muito devota. Nos fins do século XVIII foi iniciada outra matriz, ainda hoje inacabada, pois não possui as duas torres, que encerra alfaias e imagens de grande valor, como a antiga efígie da Senhora dos Remédios, considerada milagrosa.
Dizem que o templo foi construído com o dinheiro dos piratas, encontrado numa afastada praia do município… Esgotado o tesouro, as obras ficaram paralisadas permanecendo a matriz como se encontra atualmente.
Em São Paulo, a igreja dos Remédios, com seu frontispício de azulejos e cheia de história, estava situada na Praça João Mendes. Era o refúgio dos escravos perseguidos e, nos últimos tempos do Império, o reduto preferido dos abolicionistas. Em 1941 ela foi demolida para o alargamento da praça, conhecida antigamente como Largo dos Remédios.
Dedicada a Nossa Senhora dos Remédios é também a única igreja existente na ilha de Fernando de Noronha, construída em estilo português em 1737, logo depois da expulsão dos franceses que ali permaneceram durante um ano.
Fica perto da sede do governo da Vila dos Remédios.